terça-feira, 30 de abril de 2013
Estado Assassino: Israel mata palestino na Faixa de Gaza e rompe cessar-fogo com Hamas - por Opera Mundi
Israel mata palestino na Faixa de Gaza e rompe cessar-fogo com Hamas
Partes haviam se comprometido a não realizar mais atentados seletivos após ofensiva militar israelense em novembro
A Força Aérea de Israel efetuou um "ataque seletivo" na Faixa de Gaza, matando um palestino. Um porta-voz militar israelita disse nesta terça-feira (30/04) que o ataque ocorreu há dez dias e o alvo estava sob acusação de ser "terrorista de alto nível".
Com os disparos, Israel rompeu o acordo de cessar-fogo assinado com o Hamas em novembro do ano passado. Na ocasião, as duas partes se comprometeram a não realizar mais atentados seletivos após oito dias de ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza.
Segundo informações da agência AFP, o homem morto, um salafita, foi o coordenador de um ataque em Eilat, o centro turístico de Israel no Mar Morto, no dia 17 de Abril.
Com os disparos, Israel rompeu o acordo de cessar-fogo assinado com o Hamas em novembro do ano passado. Na ocasião, as duas partes se comprometeram a não realizar mais atentados seletivos após oito dias de ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza.
Segundo informações da agência AFP, o homem morto, um salafita, foi o coordenador de um ataque em Eilat, o centro turístico de Israel no Mar Morto, no dia 17 de Abril.
Palestinos carregam o corpo de suspeito morto pelas forças armadas israelenses na Faixa de Gaza
Segundo o jornal português Público, um grupo denominado Conselho da Shura e dos Mujahedines reivindicou o ataque, que teria sido em retaliação pela morte, devido a cancro, do preso palestiniano Maysan Abu Hamdiyeh. Detido em uma prisão israelense, ele não teve acesso a tratamento.
Segundo o jornal português Público, um grupo denominado Conselho da Shura e dos Mujahedines reivindicou o ataque, que teria sido em retaliação pela morte, devido a cancro, do preso palestiniano Maysan Abu Hamdiyeh. Detido em uma prisão israelense, ele não teve acesso a tratamento.
Na segunda-feira (30/04), o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu retaliar caso o país seja atacado. "Não permitiremos que os cidadãos sejam prejudicados. Se os ataques vindos de Gaza continuarem, a nossa resposta será muito mais dura", confirmou em pronunciamento público.
A tensão voltou a crescer na região no últimos dias devido a diversos episódios de violência. Um israelense de 32 anos foi morto a facadas por um palestino, em Tapuach, na Cisjordânia. Em Jerusalém, um palestinofoi apunhalado por um judeu ortodoxo no bairro de Mea Sherarim.
A tensão voltou a crescer na região no últimos dias devido a diversos episódios de violência. Um israelense de 32 anos foi morto a facadas por um palestino, em Tapuach, na Cisjordânia. Em Jerusalém, um palestinofoi apunhalado por um judeu ortodoxo no bairro de Mea Sherarim.
domingo, 28 de abril de 2013
Quase metade da população de Nova York está próxima da linha de pobreza, segundo pesquisa...
Quase metade da população de Nova York está próxima da linha de pobreza, segundo pesquisa
Número ainda pode aumentar com corte de benefícios sociais anunciado pelo governo em março
Quase metade dos moradores de Nova York, cidade mais populosa dos Estados Unidos, vive próxima da linha da pobreza. A informação foi divulgada na semana passada pelo centro oficial de pesquisa da prefeitura nova-iorquina, com base em dados e indicativos sociais coletados durante os anos de 2005 e 2011.
Leia a íntegra da pesquisa aqui.
Os dirigentes de Nova York classificam como pobre uma família composta por, no mínimo, dois adultos e dois dependentes cuja renda chegue até 30.949 dólares por ano. O levantamento revela que 46% da população da cidade – estimada em 8,175 milhões de habitantes – vive abaixo ou próxima desse valor.
O custo de vida em Nova York é considerado alto comparado a outras cidades dos Estados Unidos, fato que ajuda explicar a razão de tantas pessoas estarem próximas da linha da pobreza.
A pesquisa, conduzida por Mark Levitan, foi feita a partir de uma amostra de 25 mil domicílios. Os índices mostram que a pobreza aumentou em três dos cinco distritos da cidade: Brooklyn (1,6%), Queens (4,8%) e Staten Island (3,9%).
Embora a taxa de desemprego tenha diminuído em 2011 em relação ao ano anterior, o estudo também revela que "a renda das famílias economicamente vulneráveis não aumentou. No entanto, os impactos da recessão econômica sobre a população diminuíram".
No texto de conclusão da pesquisa, Levitan faz um alerta sobre as medidas de austeridade fiscal anunciadas pelo governo em março. Cerca de 750 mil pessoas, em especial mulheres e crianças, não terão acesso aos benefícios sociais - como vale alimentação para pobres e assistência médica -, cortados no orçamento oficial dos EUA deste ano. Assim, afirma o estudo, o número de 46% “pode aumentar consideravelmente”.
Leia a íntegra da pesquisa aqui.
Os dirigentes de Nova York classificam como pobre uma família composta por, no mínimo, dois adultos e dois dependentes cuja renda chegue até 30.949 dólares por ano. O levantamento revela que 46% da população da cidade – estimada em 8,175 milhões de habitantes – vive abaixo ou próxima desse valor.
O custo de vida em Nova York é considerado alto comparado a outras cidades dos Estados Unidos, fato que ajuda explicar a razão de tantas pessoas estarem próximas da linha da pobreza.
A pesquisa, conduzida por Mark Levitan, foi feita a partir de uma amostra de 25 mil domicílios. Os índices mostram que a pobreza aumentou em três dos cinco distritos da cidade: Brooklyn (1,6%), Queens (4,8%) e Staten Island (3,9%).
Embora a taxa de desemprego tenha diminuído em 2011 em relação ao ano anterior, o estudo também revela que "a renda das famílias economicamente vulneráveis não aumentou. No entanto, os impactos da recessão econômica sobre a população diminuíram".
No texto de conclusão da pesquisa, Levitan faz um alerta sobre as medidas de austeridade fiscal anunciadas pelo governo em março. Cerca de 750 mil pessoas, em especial mulheres e crianças, não terão acesso aos benefícios sociais - como vale alimentação para pobres e assistência médica -, cortados no orçamento oficial dos EUA deste ano. Assim, afirma o estudo, o número de 46% “pode aumentar consideravelmente”.
As informações sobre pobreza reveladas pela pesquisa reacendem o debate acerca da desigualdade social em Nova York. Segundo a informação Coalizão Contra a Fome , a renda dos bilionários da cidade cresceu 11 bilhões de dólares no último ano, o que equivale “à saída de quatro milhões de pessoas da linha da pobreza”.
No começo deste mês, Barack Obama, apresentou seu projeto orçamentário para o ano fiscal de 2014, que contempla uma redução dos gastos em programas sociais e uma alta de impostos para os mais ricos.
A meta do projeto para o ano fiscal de 2014 - que vai de outubro de 2013 a setembro de 2014 - é conseguir uma redução do déficit público em 1,8 trilhão de dólares na próxima década, segundo a Casa Branca.
Além disso, outro objetivo é que o déficit para esse ano, que de acordo com previsões chegará a 5,5% do PIB (Produto Interno Bruto), se reduza para 4,4% em 2014 e 2,8% em 2016.
Com o objetivo de conseguir um acordo com os republicanos, a oferta de Obama inclui um corte de 400 bilhões de dólares no programa de saúde para idosos e aposentados conhecido como Medicare.
No começo deste mês, Barack Obama, apresentou seu projeto orçamentário para o ano fiscal de 2014, que contempla uma redução dos gastos em programas sociais e uma alta de impostos para os mais ricos.
A meta do projeto para o ano fiscal de 2014 - que vai de outubro de 2013 a setembro de 2014 - é conseguir uma redução do déficit público em 1,8 trilhão de dólares na próxima década, segundo a Casa Branca.
Além disso, outro objetivo é que o déficit para esse ano, que de acordo com previsões chegará a 5,5% do PIB (Produto Interno Bruto), se reduza para 4,4% em 2014 e 2,8% em 2016.
Com o objetivo de conseguir um acordo com os republicanos, a oferta de Obama inclui um corte de 400 bilhões de dólares no programa de saúde para idosos e aposentados conhecido como Medicare.
quarta-feira, 24 de abril de 2013
Como era tranquilo mover fábricas... por Immanuel Wallerstein
Como era tranquilo mover fábricas...
Linfen, na região mineiro-industrial de Linfen, centro da China. Também aqui, crescem as pressões por salários, direitos sociais e ar puro…
Por séculos, capitalismo espalhou indústrias, trabalho assalariado e poluição pelo mundo, fugindo de salários altos. Esta ciranda está no fim
Desde que existe uma economia mundial capitalista, um dos mecanismos essenciais para que seu funcionamento tenha sido bem-sucedido foi a relocalização industrial. Após um período de acumulação significava de capital, nos ramos industriais mais dinâmicos (normalmente por volta de 25 anos), o nível de lucro costumava cair, tanto por causa do enfraquecimento do quase-monopólio desse ramo principal quanto por conta do crescimento dos custos de trabalho, devidos a diversas formas de ação dos sindicatos.
Quando isso acontecia, a solução para a industria era relocalizar-se. Significa que o local da produção era transferido para alguma outra parte do sistema mundial, que tinha “níveis de salário historicamente mais baixos”. Na verdade, os capitalistas que controlavam as principais indústrias estavam trocando custos de transporte maiores por custos de trabalho reduzidos. Isso mantinha uma receita significativa para eles — embora menor que no primeiro período, quando ainda mantinham um quase-monopólio.
O motivo pelo qual os custos de trabalho diminuíam é que a nova fábrica, relocalizada, recrutava trabalhadores de áreas rurais, com menor envolvimento no mercado econômico. Para estes trabalhadores rurais, a oportunidade de trabalhar nas indústrias deslocadas oferecia um aumento na renda real. Ao mesmo tempo, para os donos da indústria, estes trabalhadores estavam sendo menos remunerados que aqueles que trabalhavam na localização anterior. Isso é o que chamamos de uma solução na qual todos ganham.
O problema com essa saída aparentemente maravilhosa é que ela nunca é duradoura. Depois de mais ou menos outros 25 anos, os trabalhadores na nova localização iniciam nova ação sindical, e o custo de seu trabalho começa a subir. Quando subiu o bastante, os donos da indústria relocalizada têm apenas uma solução real — deslocar-se novamente. Enquanto isso, novas indústrias dinâmicas são construídas em zonas que já haviam acumulado riqueza. Assim, tem havido um constante movimento de indústrias de todos os tipos. Quase-monopólios atrás de quase-monopólios! Indústrias relocalizadas atrás de indústrias relocalizadas!
Isso foi um segredo do ajuste capitalista a um longo processo de constante mudança das circunstâncias. Este sistema complexo tem, no entanto, dependido de um elemento estrutural — a possibilidade de encontrar novas áreas “virgens” para realocação. Essas áreas intocadas são as zonas rurais que estavam relativamente afastadas da economia de mercado global.
Contudo, ao longo dos últimos 500 anos, estamos “gastando” tais áreas. Isso pode ser medido, de modo simples, pela desruralização, da população mundial. Hoje, tais áreas estão reduzidas a uma parte minoritária da superfície terrestre, e parece certo que até 2050, elas serão uma minoria muito muito reduzida.
Para compreender as consequências de tal desruralização massiva, basta olhar para um artigo no New York Times de 9 de abril. Seu título de capa é “Olá, Camboja”. O texto descreve a “migração”, para o Camboja, de fábricas que estão fugindo da China por causa do aumento do nível dos salários no país — que, antes, recebia as tais fábricas relocalizadas. Agora, continua o artigo, “as multinacionais estão percebendo que podem fugir do aumento de salários na China, mas não podem esconder-se de verdade”.
O problema, para as multinacionais, é que a incrível expansão dos meios de comunicação causou o fim da situação “boa para todos”. Trabalhadores de Camboja estão iniciando ações sindicais em apenas alguns anos, não mais 25. Fazem greves e pressionam por salários mais altos e benefícios mais amplos. Isso, é claro, reduz a vantagem para as multinacionais moverem-se para o Cambodja, Mianmar, Vietnã ou as Filipinas. Parece agora que os lucros obtidos pela mudança da China não são mais tão bons…
O artigo nota que “algumas indústrias relocalizaram-se de qualquer maneira, a pedido dos compradores ocidentais, que temem depender de um único país”. A conclusão de um consultor de produção: existem riscos em mudar-se para Cambodia, mas “há um risco em continuar na China, também”. De qualquer maneira, existe algum outro lugar para uma indústria relocalizada correr? Ou Camboja é o fim da linha?
O ponto de partida é a combinação entre entre a crescente desruralização e a rapidez com a qual os trabalhadores descobrem que seus salários são relativamente baixos e começam a tomar ações sindicais. Estes dois fenômenos resultaram em um contínuo crescimento nos níveis do pagamento dos trabalhadores menos hábeis e, em seguida, numa pressão negativa mundial sobre as possibilidades de acumular capital. Não são boas notícias para as grandes multinacionais.
Todo este cenário compõe um dos elementos da crise estrutural do sistema-mundo moderno. Estamos vivendo uma combinação de pressões crescentes por redução de direitos, entre os 99%, com um sistema capitalista que já não é tão lucrativo para os capitalistas. Essa combinação sugere que o capitalismo como sistema mundial está em declínio.
Ambos os lados estão em busca de alternativas – de sentido distinto, é claro. Vamos enfrentar coletivamente uma “escolha”, nas próximas décadas. Uma possibilidade é um novo sistema não-capitalista que replique (e talvez piores) as três características essenciais do capitalismo – hierarquia, exploração e polarização. Outra hipótese é um novo sistema, relativamente democrático e relativamente igualitário. Este último, devemos sublinhar, nunca existiu na história do mundo. Mas é possível.
De qualquer forma, o Camboja não é o futuro do sistema mundial moderno. Expressa, muito mais, os últimos vestígios de um mecanismo que já não desempenha seu papel em salvar o capitalismo.
Immanuel Wallerstein é um dos intelectuais de maior projeção internacional na atualidade. Seus estudos e análises abrangem temas sociólogicos, históricos, políticos, econômicos e das relações internacionais. É professor na Universidade de Yale e autor de dezenas de livros. Mantém um site. Seus textos traduzidos publicados por Outras Palavras podem ser lidos aqui
Tradução: Gabriela Leite
Ramonet: quarto poder virou oligopólio. É hora do quinto poder – por Marco Aurélio Weissheimer
Ramonet: quarto poder virou oligopólio. É hora do quinto poder
Livro "Mídia, poder e contrapoder: da concentração monopólica à democratização da informação" (Boitempo), que reúne artigos de Ignacio Ramonet, Dênis de Moraes e Pascual Serrano, faz uma reflexão crítica sobre o poder da mídia hoje. Para o editor da versão espanhola do Le Monde Diplomatique, a cumplicidade do quarto poder com os poderes domindantes representa um grave problema para a democracia e exige da cidadania a construção de um quinto poder, na forma de um jornalismo crítico e colaborativo.
“A cumplicidade do quarto poder com os poderes dominantes faz com ele deixe de funcionar como tal, o que representa um grave problema para a democracia, pois não é possível concebê-la sem o autêntico contrapoder da opinião pública. (...) Minha proposta é que todos nós participemos da criação de um quinto poder, que se expressaria mediante a crítica ao funcionamento dos meios de comunicação, papel que antes cabia ao quarto poder”.
O diagnóstico e a proposta são do jornalista Ignacio Ramonet, diretor da edição espanhola do Le Monde Diplomatique, no artigo “A explosão do jornalismo na era digital”, que integra o livro “Mídia, poder e contrapoder: da concentração monopólica à democratização da informação” (Boitempo Editorial), que reúne textos do próprio Ramonet e dos jornalistas Dênis de Moraes e Pascual Serrano.
Com lançamento previsto para maio, o livro organizado por Dênis de Moraes nasceu a partir de um debate que reuniu os três autores no Rio de Janeiro, em 2011. A obra reúne sete textos que procuram fazer uma reflexão crítica sobre o poder da mídia hoje, a cultura tecnológica, a comunicação globalizada, práticas de jornalismo contra-hegemônico e políticas públicas de democratização da comunicação na América Latina.
Para Ramonet, questionar a forma como a mídia expressa a realidade hoje tornou-se praticamente um dever de um cidadão mais ou menos ativo em uma sociedade democrática. Essa função crítica, defende, consiste em expor a falácia da suposta neutralidade da informação. Isso implica, diz Ramonet, “revelar a quem pertence essa informação, quem ela está ajudando, em que medida é expressão dos grupos privados que são seus proprietários”.
Essa é, acrescenta, uma maneira de se dizer para quem os meios de comunicação estão trabalhando. “Isso é criar um quinto poder”, resume.
Diante da crescente transformação dos meios de comunicação em grandes conglomerados comprometidos com os interesses econômicos de grupos privados, o jornalismo vai perdendo sua função pública e exigindo a sua própria reinvenção como atividade narrativa. Para os autores, é preciso investir na produção de um jornalismo crítico e colaborativo, um contrapoder na produção e na difusão de informação.
Para Pascual Serrano, diretor do portal Rebelión, de Madri, o debate sobre liberdade de imprensa posiciona-se hoje em meio a um contexto de coronelismo eletrônico e de hegemonia do capital financeiro, mas também das possibilidades de produção que confrontam essa lógica dominante. A retórica em defesa da liberdade de expressão, empregada hoje pelos grandes empresários da comunicação e seus funcionários, defendem os autores, dissimula a intenção de fazer prevalecer a liberdade de empresa sobre as aspirações coletivas e a perda da credibilidade da imprensa.
O diagnóstico e a proposta são do jornalista Ignacio Ramonet, diretor da edição espanhola do Le Monde Diplomatique, no artigo “A explosão do jornalismo na era digital”, que integra o livro “Mídia, poder e contrapoder: da concentração monopólica à democratização da informação” (Boitempo Editorial), que reúne textos do próprio Ramonet e dos jornalistas Dênis de Moraes e Pascual Serrano.
Com lançamento previsto para maio, o livro organizado por Dênis de Moraes nasceu a partir de um debate que reuniu os três autores no Rio de Janeiro, em 2011. A obra reúne sete textos que procuram fazer uma reflexão crítica sobre o poder da mídia hoje, a cultura tecnológica, a comunicação globalizada, práticas de jornalismo contra-hegemônico e políticas públicas de democratização da comunicação na América Latina.
Para Ramonet, questionar a forma como a mídia expressa a realidade hoje tornou-se praticamente um dever de um cidadão mais ou menos ativo em uma sociedade democrática. Essa função crítica, defende, consiste em expor a falácia da suposta neutralidade da informação. Isso implica, diz Ramonet, “revelar a quem pertence essa informação, quem ela está ajudando, em que medida é expressão dos grupos privados que são seus proprietários”.
Essa é, acrescenta, uma maneira de se dizer para quem os meios de comunicação estão trabalhando. “Isso é criar um quinto poder”, resume.
Diante da crescente transformação dos meios de comunicação em grandes conglomerados comprometidos com os interesses econômicos de grupos privados, o jornalismo vai perdendo sua função pública e exigindo a sua própria reinvenção como atividade narrativa. Para os autores, é preciso investir na produção de um jornalismo crítico e colaborativo, um contrapoder na produção e na difusão de informação.
Para Pascual Serrano, diretor do portal Rebelión, de Madri, o debate sobre liberdade de imprensa posiciona-se hoje em meio a um contexto de coronelismo eletrônico e de hegemonia do capital financeiro, mas também das possibilidades de produção que confrontam essa lógica dominante. A retórica em defesa da liberdade de expressão, empregada hoje pelos grandes empresários da comunicação e seus funcionários, defendem os autores, dissimula a intenção de fazer prevalecer a liberdade de empresa sobre as aspirações coletivas e a perda da credibilidade da imprensa.
Fotos: Divulgação
segunda-feira, 22 de abril de 2013
Moda cruel: Indústria de peles faz apelo ambiental sem nenhuma ética – por Patricia Tai
Moda cruel: Indústria de peles faz apelo ambiental sem nenhuma ética
Foto: Divulgação
A demanda por peles, sobretudo na China, mas também em muitos outros países, tem revivido a indústria de peles no mundo. Por conta disso, a ONG Born Free USA tem feito um esforço extra para aumentar a conscientização pública sobre os horrores deste mercado.
De acordo com reportagem da Care2, dados mais recentes mostram que os preços das peles mais que dobraram entre 2008 e 2011, onde alcançaram valores recordes. Autoridades estimam que fazendeiros produtores de peles venderam mais de 260 milhões de dólares em peles de vison para a Coréia do Sul e para a China, só no ano passado.
A indústria de peles tem promovido seus produtos utilizando termos como “ambientalmente amigável” e “recursos renováveis”, como se estivessem falando de minerais, mas não estão. Eles estão falando sobre comercialização de partes de corpos de criaturas sencientes, que são mantidos em gaiolas apertadas durante suas vidas miseráveis, antes de serem mortos por gás ou eletrocussão, para suprir desejos frívolos de uma sociedade que simplesmente não precisa disso.
Estes animais são deixados sem ter para onde correr, nenhum lugar para se esconder e se proteger, sem meios de se envolver em quaisquer comportamentos naturais de suas espécies. Para terem suas peles extraídas, como se sabe largamente mas sempre é bom lembrar, eles são esfolados ainda vivos.
Um dos grandes problemas nos Estados Unidos, segundo a Born Free, é que os animais criados em fazendas para extração de peles não são considerados animais selvagens mas, por outro lado, também não são classificados como animais domésticos. De acordo com pesquisa conduzida pela ONG, as agências estaduais de vida selvagem querem passar a responsabilidade por esses animais às agências de agricultura, enquanto estas não a assumem. No final, estes animais são deixados sem proteção da Lei de “Bem-Estar Animal” e de “Abate Humanitário”, e ficam desprovidos da maioria das leis estaduais anti-crueldade. Também não há regras quanto a forma como estes animais devem ser alojados ou tratados. Em resumo, eles são criados totalmente sem direitos.
Cabe aqui um parêntese importante, o que torna a questão mais grave: as leis citadas acima – Animal Welfare Act (Lei de “Bem-Estar” Animal) e Humane Slaughter Act (Lei de “Abate Humanitário”), segundo a visão abolicionista, já são falácias por si só, pois não representam um respeito ao direito animal de forma alguma. Pela comprovação dos fatos, elas simplesmente encobrem a crueldade pela qual passam os animais explorados para consumo humano. Mas os animais criados para extração de peles sequer são protegidos por estas limitadas e fracas leis.
Outra coisa que facilita o mercado de peles é que a maioria dos estados americanos onde funcionam fazendas de peles não têm leis que exijam licença para operar. Em poucos estados onde o Departamento de Agricultura tem autoridade, não há regulamentações em vigor, exceto em Nova Iorque, que não permite que animais sejam mortos por eletrocussão. Mas mesmo lá, não há fiscalização federal ou estadual.
Embora existam normas ambientais quando se trata de eliminação de resíduos e carcaça de animais, ainda nesse campo há problemas. Apenas neste mês, duas fazendas de peles de Washington foram multadas em 48 mil dólares por água contaminada com ração e fezes em rios que são considerados importantes para a desova de salmão e são o lar de duas espécies de trutas que são listadas como ameaçadas. O proprietário das duas fazendas é reincidente, pois já foi multado anteriormente há alguns anos, pela mesma infração.
Enquanto alguns estilistas e varejistas continuam a apoiar a indústria de peles, outros prometeram abster-se e houve algumas vitórias recentes. Os Países Baixos – que eram os maiores produtores europeus de pele de vison – juntaram-se a países que proibiram a produção de peles por razões éticas, incluindo a Áustria, o Reino Unido e a Croácia. Nos EUA, a cidade de West Hollywood proibiu com sucesso os produtos feitos de pele, e na última New York Fashion Week foi feita a estréia de uma empresa de moda vegana independente, conforme publicado recentemente pela Anda. Mas ainda há muito para se conquistar no que diz respeito à consciência humana mundial quanto ao uso de peles.
“A indústria de peles e seus apologistas querem nos fazer crer que a indústria de peles é humana e ambientalmente amigável, e altamente regulamentada. Nada poderia estar mais longe da verdade”, disse Monica Engebretson, associada sênior do programa com a Born Free EUA. “Consumidores conscientes e designers não devem comprar essa mensagem. É hora dos EUA corresponderem ao progresso internacional sobre esta importante questão e proibirem as fazendas de peles”, acrescenta Monica.
Fonte: http://www.anda.jor.br
domingo, 21 de abril de 2013
Fascismo cristão quer desmantelar iluminismo - por Chris Hedges (*)
Fascismo cristão quer desmantelar iluminismo.
Dezenas de milhões de cidadãos estadunidenses, reunidos em um movimento difuso e rebelde conhecido como a direita cristã, começam a desmantelar o rigor científico e intelectual do Iluminismo. Eles estão a criar um Estado teocrático, baseado na lei bíblica, e buscam aniquilar a todos aqueles que definem como inimigos. Esse movimento, que vai cada vez mais se aproximando ao fascismo tradicional, procura forçar um mundo recalcitrante à submissão ante uma América imperial. Ele defende a erradicação dos “desviantes sociais”, a começar pelos homossexuais, e avança sobre os imigrantes, os humanistas seculares, feministas, judeus, muçulmanos e aqueles que rejeitam como "cristãos nominais", como são denominados os fiéis que não aceitam a sua interpretação pervertida e herética da Bíblia. Os que se opõem a este movimento de massas são condenados por constituírem uma ameaça à saúde e higiene do país e da família. Todos devem ser expurgados.
Os seguidores das religiões desviantes, do judaísmo ao islamismo, deverão ser convertidos ou reprimidos. Os meios de comunicação desviantes, as escolas públicas desviantes, a desviante indústria do entretenimento, os desviantes governos e judiciários seculares e humanistas e as igrejas desviantes serão enquadradas, ou fechadas. Haverá uma promoção implacável de "valores cristãos", que já ocorre nas cadeias de rádios e televisões cristãs e nas escolas cristãs, com informações e fatos sendo substituídos por formas abertas de doutrinação. A marcha em direção a essa terrível distopia já começou. Isso está acontecendo nas ruas do Arizona, nos canais de notícias a cabo, nos comícios do Tea Party, nas escolas públicas texanas, entre membros de milícias e no interior de um Partido Republicano que está sendo açambarcado por estes lunáticos.
Elizabeth Dilling, que escreveu "The Red Network" (A Rede Vermelha) e foi simpatizante do nazismo, é leitura recomendada por apresentadores de TV trash-talk como Glenn Beck. Thomas Jefferson, que favoreceu a separação entre igreja e estado, é ignorado nas escolas cristãs e em breve será ignorado nos livros das escolas públicas do Texas. A direita cristã passou a saudar a contribuição "significativa" da Confederação sulista [que reunia os estados separatistas durante a Guerra Civil]. O senador Joseph McCarthy, que comandou a caça às bruxas anticomunista na década de 1950, foi reabilitado, e o conflito entre Israel e a Palestina é definido como parte da luta mundial contra o terror islâmico. Leis semelhantes às recém-aprovadas Jim Crow [conjunto de leis que definiam a segregação racial nos EUA] do Arizona estão em discussão em 17 outros estados do país.
A ascensão do fascismo cristão, que temos ignorado por nossa conta e risco, é alimentada por uma classe dirigente liberal[1] ineficaz e falida, que tem se mostrado incapaz de reverter o desemprego crescente, proteger-nos dos especuladores da Wall Street, ou salvar a nossa desafortunada classe trabalhadora das retomadas de casas hipotecadas, da falência pessoal e da miséria. A classe dirigente revelou-se inútil na luta contra o maior desastre ambiental da nossa história, incapaz de encerrar caras e inúteis guerras imperiais ou de parar a pilhagem do país por suas empresas. A covardia dessa classe dirigente e os valores que ela representa acabaram por se tornar injuriados e odiados.
Os democratas se recusaram a revogar as graves violações ao direito internacional e nacional transformadas em lei pela administração Bush. Isto significa que, quando o fascismo cristão ascender ao poder, terá à disposição as ferramentas legais para espionar, capturar, negar habeas corpus e torturar ou assassinar cidadãos estadunidenses, como faz o governo Obama.
As pessoas que vivem no mundo real muitas vezes imaginam que essa massa de descontentes é constituída por bufões e imbecis. Eles não levam a sério aqueles que, como Beck, cultivam seus desejos primitivos de vingança, nova glória e de renovação moral. Os críticos do movimento continuam a empregar as ferramentas da razão, da pesquisa e dos fatos para contestar os absurdos propagados pelos criacionistas, que crêem que boiarão pelados no céu quando Jesus retornar à Terra. O pensamento mágico, a interpretação flagrantemente distorcida da Bíblia, as contradições abundantes em seu conjunto de crenças e a pseudociência ridícula são, no entanto, impermeáveis à razão. Não podemos convencer aqueles que se engajam nesse movimento a despertar. Nós é que estamos a dormir.
Aqueles que abraçam este movimento veem a vida como uma batalha épica contra as forças do mal e do satanismo. O mundo é em preto-e-branco. Eles precisam ver-se, mesmo que imaginariamente, como vítimas cercadas por bandos sombrios e sinistros empenhados na sua destruição. Eles precisam crer que conhecem a vontade de Deus e podem cumpri-la, principalmente através da violência. Eles precisam santificar sua raiva, uma raiva que está no cerne da ideologia. Eles buscam a dominação cultural e política total. Eles estão usando o espaço que a sociedade lhes oferece para destruí-la. Estes movimentos trabalham dentro das regras estritas do Estado secular porque não têm escolha. A intolerância que promovem é suavizada em público por seus operadores mais sagazes. Uma vez que reúnam energia suficiente, e eles estão a trabalhar duramente para obtê-la, tal cooperação desaparecerá. Em seus templos, fica evidente a ideia de construção de uma nação cristã baseada em controle total sobre os indivíduos e na recusa a permitir que qualquer dissidência se manifeste explicitamente. Estes pastores criaram, dentro de suas igrejas, pequenos feudos despóticos, e buscam replicar essas pequenas tiranias em uma escala maior.
Muitas dessas dezenas de milhões de pessoas que hoje se encontram na direita cristã vivem no limite da pobreza. A Bíblia, interpretada por pastores cuja conexão direta com Deus os coloca à prova de questionamentos, é o seu manual para a vida diária. A rigidez e simplicidade de suas crenças são armas potentes na luta contra seus próprios demônios e no combate diário pela sobrevivência. O mundo real, no qual Satanás, os milagres, o destino, os anjos e a magia não existem, golpeia-os como a troncos de árvore em um rio. Leva seus empregos e destroi o seu futuro. Este mundo apodreceu as suas comunidades e inundou as suas vidas com álcool, drogas, violência física, privação e desespero. E então eles descobriram que Deus tem um plano para eles. Deus vai salvá-los. Deus intervirá em suas vidas para promovê-los e protegê-los. A distância emocional que separa o mundo real do mundo da fantasia cristã é imensa. E as forças seculares e racionais, aquelas que falam a língua dos fatos e dados, são odiadas e temidas, em última instância, porque puxam os fiéis de volta para a “cultura da morte” que quase os destruiu.
Há contradições selvagens neste sistema de crenças. A independência pessoal é exaltada ao lado de uma subserviência abjeta aos líderes que afirmam falar por Deus. O movimento diz que defende a santidade de vida e defende a pena de morte, o militarismo, a “guerra justa” e o genocídio. Ele fala de amor e promove o medo da condenação e o ódio. Há uma dissonância cognitiva aterrorizante em cada palavra que proferem.
O movimento é, para muitos, um salva-vidas emocional. É tudo o que os une. Mas a ideologia, que rege e ordena suas vidas, é impiedosa. Aqueles que dela se desviam, como "apóstatas" que deixam as organizações da igreja, são marcados como heréticos e submetidos a pequenas inquisições, que surgem como conseqüência natural de movimentos messiânicos. Se o fascismo cristão vier a conquistar os poderes republicanos, as pequenas inquisições pouco a pouco se tornarão grandes.
O culto da masculinidade permeia o movimento. Os crentes são levados a pensar que o feminismo e homossexualidade tornaram o homem estadunidense física e espiritualmente impotente. Jesus, para a direita cristã, é um vigoroso homem de ação, que expulsa demônios, luta contra o Anticristo, ataca hipócritas e castiga os corruptos. Este culto da masculinidade, com sua glorificação da violência, é profundamente atraente para aqueles que se sentem impotentes e humilhados. Ele transmite a raiva que levou muitas pessoas para os braços do movimento. Ele os incita a chicotear aqueles que, dizem, procuram destruí-los. A paranóia sobre o mundo exterior é alimentada através de bizarras teorias da conspiração, muitas delas defendidas em livros como o de Pat Robertson, “The New World Order", uma tirada xenófoba que inclui ataques contra os liberais e as instituições democráticas.
A obsessão com a violência permeia os romances populares como o escrito por Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins. Em seu apocalíptico “Glorious Appearing” (Glorioso Aparecimento), baseado na interpretação própria de LaHaye das profecias bíblicas sobre o Segundo Advento, Cristo volta e estripa a carne de milhões de não-crentes com o som de sua voz. Há descrições longas de horror e sangue, de como “as palavras do Senhor haviam superaquecido seu sangue, fazendo com que estourassem suas veias e pele. Olhos se desintegraram. Línguas derreteram. A carne se dissolveu.” A série Left Behind (Deixados para Trás), à qual pertence este romance, é a mais vendida para adultos no país.
A violência deve ser usada para purificar o mundo. Os fascistas cristãos são chamados a um permanente estado de guerra. “Qualquer ensinamento de paz antes do retorno [de Cristo] é uma heresia...” diz o televangelista James Robinson.
Os desastres naturais, ataques terroristas, a instabilidade em Israel e até mesmo as guerras no Iraque e no Afeganistão são vistos como indícios gloriosos. Os fiéis insistem que a guerra no Iraque está prevista no nono capítulo do Apocalipse, onde quatro anjos “que estão presos no grande rio Eufrates serão libertados, para matar a terça parte dos homens.” A marcha é inevitável e irreversível e exige que todos estejam prontos para lutar, matar e talvez morrer. A guerra mundial, até mesmo nuclear, não é para ser temida, mas sim celebrada como precursora do Segundo Advento. À frente dos exércitos vingadores virá um bravo e violento Messias que condenará centenas de milhões de apóstatas a uma morte terrível e horripilante.
A direita cristã, enquanto abraça o primitivismo, procura legitimar suas mitologias absurdas nos marcos do direito e da ciência. Seus membros o fazem, a despeito de suas idéias retrógradas, porque se constituem em movimento totalitário distintamente moderno. Eles tratam de cooptar os pilares do Iluminismo, a fim de aboli-lo. O criacionismo, ou o “projeto inteligente”, assim como a eugenia para os nazistas ou a “ciência” soviética de Stalin, deve ser introduzido no mainstream como uma disciplina científica válida – daí, portanto, a reescrita dos livros didáticos. A direita cristã defende-se no jargão jurídico-científico da modernidade. Fatos e opiniões, a partir do momento em que são utilizados “cientificamente” para apoiar o irracional, tornam-se intercambiáveis. A realidade não é mais baseada na coleta de fatos e provas, e sim, baseada em ideologia. Fatos são alterados. Mentiras se tornam verdades. Hannah Arendt chamou a isso “relativismo niilista”, embora uma definição mais adequada pudesse ser “insanidade coletiva”.
A direita cristã tem, assim, o seu próprio corpo de “cientistas” criacionistas que usam a linguagem da ciência para promover a anticiência. Ela lutou, com sucesso, para ter seus livros criacionistas vendidos em livrarias como a do parque nacional do Grand Canyon e ensinados nas escolas públicas de estados como Texas, Louisiana e Arkansas. O criacionismo molda a visão de centenas de milhares de estudantes nas escolas e faculdades cristãs. Esta pseudociência alega ter provado que todas as espécies animais, ou pelo menos seus progenitores, couberam na arca de Noé. Contesta as pesquisas sobre a AIDS e a prevenção da gravidez. Ela corrompe e desacredita as disciplinas de biologia, astronomia, geologia, paleontologia e física.
No momento em que os criacionistas podem argumentar em pé de igualdade com geólogos, afirmando que o Grand Canyon não foi criado há 6.000.000.000 de anos, e sim há 6.000 pela grande enchente que ergueu a arca de Noé, estamos perdidos. A aceitação da mitologia como uma alternativa legítima à realidade é um duro golpe para o Estado racional e secular. A destruição dos sistemas de crença racional e empiricamente fundamentados é essencial para a criação de todas as ideologias totalitárias. A certeza, para aqueles que não podem lidar com as incertezas da vida, é um dos apelos mais poderosos do movimento. A desapaixonada curiosidade intelectual, com suas correções constantes e sua eterna procura de provas, é uma ameaça às certezas. Por isso, a incerteza deve ser abolida.
“O que convence as massas não são fatos”, Arendt escreveu nas “Origens do Totalitarismo”, “nem sequer a invenção dos mesmos, mas apenas a coerência do sistema de que presumivelmente fazem parte. A repetição, com sua importância um pouco exagerada devido à crença difundida na capacidade inferior das massas de compreender e lembrar, é importante porque as convence de que há uma consistência ao longo do tempo”.
Santo Agostinho definiu a graça do amor como Volo ut sis – Desejo que sejas. Há – escreveu – uma afirmação do mistério do outro nas relações baseadas no amor, uma afirmação de diferenças inexplicáveis e insondáveis. As relações baseadas no amor reconhecem que os outros têm o direito à existência. Essas relações aceitam a sacralidade da diferença. Esta aceitação significa que nenhum indivíduo ou sistema de crenças apreende ou defende uma verdade absoluta. Todos se esforçam, cada um à sua maneira, uns fora dos sistemas religiosos e outros dentro deles, para interpretar o mistério e a transcendência.
A sacralidade do outro é um anátema para os cristãos de direita, que não reconhecem a legitimidade de outras formas de ser e de pensar. Caso se reconheça que outros sistemas de crenças, inclusive o ateísmo, têm uma validade moral, a infalibilidade da doutrina do movimento, que constitui o seu principal apelo, é destruída. Não pode haver formas alternativas de pensar ou de ser. Todas as alternativas devem ser esmagadas.
Debates teológicos, ideológicos e políticos são inúteis com a direita cristã. Ela não responde a um diálogo. É impermeável ao pensamento racional e à discussão. As tentativas ingênuas de aplacar um movimento voltado à nossa destruição, através de provas de que nós, também, temos "valores", só reforça a sua legitimidade e a nossa própria fraqueza. Se não temos o direito de ser, se nossa existência não é legítima aos olhos de Deus, não pode haver diálogo. A esta altura, trata-se de uma luta pela sobrevivência.
As pessoas arregimentadas para o fascismo cristão lutam desesperadamente para sobreviver em um ambiente cada vez mais hostil aos seus olhos. Nós falhamos e estamos em dívida para com eles e não o contrário: esta é sua resposta. As perdas financeiras, o enfrentamento da violência doméstica e sexual, a luta contra os vícios, a pobreza e o desespero que muitas delas têm de suportar são trágicas, dolorosas e reais. Elas têm direito à sua raiva e alienação. Mas elas também estão sendo usadas e manipuladas por forças que buscam desmantelar o que resta da nossa democracia e eliminar o pluralismo que um dia foi um marco da nossa sociedade.
A faísca que poderá atear as chamas deste movimento pode estar adormecida nas mãos de uma pequena célula terrorista islâmica. Pode estar nas mãos de gananciosos especuladores de Wall Street que jogam com dinheiro do contribuinte no elaborado sistema global do capitalismo de cassino. O próximo ataque catastrófico, ou o colapso econômico seguinte, podem ser o nosso incêndio do Reichstag[2]. Pode vir a ser a desculpa empregada por essas forças totalitárias, este fascismo cristão, para extinguir o que resta da nossa sociedade aberta.
Não nos deixemos ficar humildemente aos portões da cidade, esperando que os bárbaros apareçam. Eles já estão chegando. Eles estão indo tranquilamente para sua Belém. Deitemos fora nossa complacência e nosso cinismo. Desafiemos abertamente o establishment liberal, que não irá nos salvar, para exigir e lutar por reparações econômicas para a nossa classe trabalhadora. Vamos reintegrar esses despossuídos em nossa economia. Vamos dar-lhes uma esperança real para o futuro. O tempo está se esgotando. Se não agirmos, os fascistas estadunidenses, empunhando cruzes cristãs, agitando bandeiras nacionais e orquestrando corais do Juramento à Bandeira[3], usarão essa raiva para nos destruir a todos.
(*) Chris Hedges é formado na escola teológica de Harvard e foi, por quase vinte anos, correspondente estrangeiro para o New York Times. É autor de vários livros, entre estes War Is A Force That Gives Us Meaning, What Every Person Should Know About War, e American Fascists: The Christian Right and the War on America. Seu livro mais recente é Empire of Illusion: The End of Literacy and the Triumph of Spectacle.
Notas:
[1] Nos EUA, o termo “liberal” corresponde à definição dada, aqui, a “social-democrata”.
[2] Episódio que precipitou a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha.
[3] Em inglês, Pledge of Allegiance. Trata-se da cerimônia de juramento de fidelidade ao país e à bandeira dos EUA.]
Fonte: http://www.novae.inf.br/
Matemáticos revelam rede capitalista que domina o mundo - New Scientist
Matemáticos revelam rede capitalista que domina o mundo
Republicamos esta reportagem veiculada em 2011 por sugestão de um de nossos leitores, acompanhada de uma nota da redação. Trata-se de uma análise sobre as relações entre 43.000 empresas transnacionais que conclui que um pequeno número delas - sobretudo bancos - tem um poder desproporcionalmente elevado sobre a economia global.
Nota da Redação
Por indicação do leitor Pedro, cujo comentário segue abaixo, republicamos esta reportagem indicada por ele – a qual, aliás, à época da publicação aqui em Carta Maior, teve muita repercussão. Ao nosso leitor Pedro, agradecemos a lembrança e esclarecemos que nem sempre é possível enfrentar os temas da forma que gostaríamos, tendo em vista a conjuntura que somos obrigados a acompanhar no dia-a-dia.
Caminhamos no fio da navalha, tendo de cada lado desse fio abismos profundos e, portanto, perigosos. De um lado, a grande mídia que está sempre a serviço do capital financeiro internacional. De outro lado, um governo fragilizado pela obrigatória composição política, necessária para a governabilidade.
Nesses termos, Carta Maior procura trazer a seus leitores o que há de melhor no mundo colonizador, desenvolvido, hoje às voltas com bestiais incertezas, tanto no primeiro como no segundo império, mostrando os erros que cometeram e buscando a solução de suas respectivas crises.
Não há como fazer perguntas "revolucionárias" a um conservador. Temos, sim, que arrancar deles as contradições que vicejam no capitalismo. Também não estamos buscando soluções para resolver os problemas do capitalismo. Nos cabe, sim, demonstrar os erros que eles cometeram e que repetem a todo momento, para poder combater o pensamento conservador aqui no Brasil, espelhado pela grande imprensa, em favor das elites, em favor do capital financeiro nacional e internacional, em favor da concentração de capital, cada vez mais radicalizada.
Lamentavelmente não existe um modelo político que possamos "copiar" como solução. O Brasil é um país capitalista, por opção do povo brasileiro. As pesquisas de opinião que vêm sendo reveladas cotidianamente são a prova disso. O povo brasileiro está contente com a vida que está levando e vai querer mais, à medida que suas conquistas se cristalizarem.
O espaço das esquerdas ficou muito estreito, quase relegado à periferia das sociedades, principalmente quando os países alcançam o desenvolvimento e conquistas sociais, como no Brasil, onde milhões deixaram a linha da miséria e passaram para outro patamar – que não é o da classe média, ou da classe "C", tão decantada pela mídia, mas um outro patamar, que está sendo capaz de sustentar um governo progressista, cheio de defeitos e algumas virtudes, como é o da presidenta Dilma Rousseff.
Comentário do leitor Pedro à reportagem ‘Economia mundial ainda enfrenta campo minado’, de Marcelo Justo:
As perguntas do entrevistador e as respostas do entrevistado são de natureza conservadora. Segundo o que caracteriza a ambos, parece que uma boa política econômica resolveria os problemas do capitalismo. Segundo o que penso, nem os capitalistas são capazes mais de salvar o capitalismo da bancarrota. Penso que a questão do momento é a radicalidade da concentração capitalista que atingiu níveis revolucionários. Recomendo a ambos ler: Matemáticos revelam rede capitalista que domina o mundo Da New Scientist - 22/10/2011 - que a própria Carta Maior publicou na época.
Por indicação do leitor Pedro, cujo comentário segue abaixo, republicamos esta reportagem indicada por ele – a qual, aliás, à época da publicação aqui em Carta Maior, teve muita repercussão. Ao nosso leitor Pedro, agradecemos a lembrança e esclarecemos que nem sempre é possível enfrentar os temas da forma que gostaríamos, tendo em vista a conjuntura que somos obrigados a acompanhar no dia-a-dia.
Caminhamos no fio da navalha, tendo de cada lado desse fio abismos profundos e, portanto, perigosos. De um lado, a grande mídia que está sempre a serviço do capital financeiro internacional. De outro lado, um governo fragilizado pela obrigatória composição política, necessária para a governabilidade.
Nesses termos, Carta Maior procura trazer a seus leitores o que há de melhor no mundo colonizador, desenvolvido, hoje às voltas com bestiais incertezas, tanto no primeiro como no segundo império, mostrando os erros que cometeram e buscando a solução de suas respectivas crises.
Não há como fazer perguntas "revolucionárias" a um conservador. Temos, sim, que arrancar deles as contradições que vicejam no capitalismo. Também não estamos buscando soluções para resolver os problemas do capitalismo. Nos cabe, sim, demonstrar os erros que eles cometeram e que repetem a todo momento, para poder combater o pensamento conservador aqui no Brasil, espelhado pela grande imprensa, em favor das elites, em favor do capital financeiro nacional e internacional, em favor da concentração de capital, cada vez mais radicalizada.
Lamentavelmente não existe um modelo político que possamos "copiar" como solução. O Brasil é um país capitalista, por opção do povo brasileiro. As pesquisas de opinião que vêm sendo reveladas cotidianamente são a prova disso. O povo brasileiro está contente com a vida que está levando e vai querer mais, à medida que suas conquistas se cristalizarem.
O espaço das esquerdas ficou muito estreito, quase relegado à periferia das sociedades, principalmente quando os países alcançam o desenvolvimento e conquistas sociais, como no Brasil, onde milhões deixaram a linha da miséria e passaram para outro patamar – que não é o da classe média, ou da classe "C", tão decantada pela mídia, mas um outro patamar, que está sendo capaz de sustentar um governo progressista, cheio de defeitos e algumas virtudes, como é o da presidenta Dilma Rousseff.
Comentário do leitor Pedro à reportagem ‘Economia mundial ainda enfrenta campo minado’, de Marcelo Justo:
As perguntas do entrevistador e as respostas do entrevistado são de natureza conservadora. Segundo o que caracteriza a ambos, parece que uma boa política econômica resolveria os problemas do capitalismo. Segundo o que penso, nem os capitalistas são capazes mais de salvar o capitalismo da bancarrota. Penso que a questão do momento é a radicalidade da concentração capitalista que atingiu níveis revolucionários. Recomendo a ambos ler: Matemáticos revelam rede capitalista que domina o mundo Da New Scientist - 22/10/2011 - que a própria Carta Maior publicou na época.
Nota introdutória publicada por Ladislau Dowbor em sua página:
The Network of Global Corporate Control - S. Vitali, J. Glattfelder eS. Battistoni - Sept. 2011
The Network of Global Corporate Control - S. Vitali, J. Glattfelder eS. Battistoni - Sept. 2011
Um estudo de grande importância, mostra pela primeira vez de forma tão abrangente como se estrutura o poder global das empresas transnacionais. Frente à crise mundial, este trabalho constitui uma grande ajuda, pois mostra a densidade das participações cruzadas entre as empresas, que permite que um núcleo muito pequeno (na ordem de centenas) exerça imenso controle. Por outro lado, os interesses estão tão entrelaçados que os desequilíbrios se propagam instantaneamente, representando risco sistêmico.
Fica assim claro como se propagou (efeito dominó) a crise financeira, já que a maioria destas mega-empresas está na área da intermediação financeira. A visão do poder político das ETN (Empresas Trans-Nacionais) adquire também uma base muito mais firme, ao se constatar que na cadeia de empresas que controlam empresas que por sua vez controlam outras empresas, o que todos "sentimos" ao ver os comportamentos da mega-empresas torna-se cientificamente evidente. O artigo tem 9 páginas, e 25 de anexos metodológicos. Está disponível online gratuitamente, no sistemaarxiv.org
Um excelente pequeno resumo das principais implicações pode ser encontrado no New Scientist de 22/10/2011 (e está publicado a seguir).
(*) O gráfico em forma de globo mostra as interconexões entre o grupo de 1.318 empresas transnacionais que formam o núcleo da economia mundial. O tamanho de cada ponto representa o tamanho da receita de cada uma
A rede capitalista que domina o mundo
Conforme os protestos contra o capitalismo se espalham pelo mundo, os manifestantes vão ganhando novos argumentos.
Uma análise das relações entre 43.000 empresas transnacionais concluiu que um pequeno número delas - sobretudo bancos - tem um poder desproporcionalmente elevado sobre a economia global.
A conclusão é de três pesquisadores da área de sistemas complexos do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça
Este é o primeiro estudo que vai além das ideologias e identifica empiricamente essa rede de poder global.
"A realidade é complexa demais, nós temos que ir além dos dogmas, sejam eles das teorias da conspiração ou do livre mercado," afirmou James Glattfelder, um dos autores do trabalho. "Nossa análise é baseada na realidade."
Rede de controle econômico mundial
A análise usa a mesma matemática empregada há décadas para criar modelos dos sistemas naturais e para a construção de simuladores dos mais diversos tipos. Agora ela foi usada para estudar dados corporativos disponíveis mundialmente.
O resultado é um mapa que traça a rede de controle entre as grandes empresas transnacionais em nível global.
Estudos anteriores já haviam identificado que algumas poucas empresas controlam grandes porções da economia, mas esses estudos incluíam um número limitado de empresas e não levavam em conta os controles indiretos de propriedade, não podendo, portanto, ser usados para dizer como a rede de controle econômico poderia afetar a economia mundial - tornando-a mais ou menos instável, por exemplo.
O novo estudo pode falar sobre isso com a autoridade de quem analisou uma base de dados com 37 milhões de empresas e investidores.
A análise identificou 43.060 grandes empresas transnacionais e traçou as conexões de controle acionário entre elas, construindo um modelo de poder econômico em escala mundial.
Poder econômico mundial
Refinando ainda mais os dados, o modelo final revelou um núcleo central de 1.318 grandes empresas com laços com duas ou mais outras empresas - na média, cada uma delas tem 20 conexões com outras empresas.
Mais do que isso, embora este núcleo central de poder econômico concentre apenas 20% das receitas globais de venda, as 1.318 empresas em conjunto detêm a maioria das ações das principais empresas do mundo - as chamadas blue chips nos mercados de ações.
Em outras palavras, elas detêm um controle sobre a economia real que atinge 60% de todas as vendas realizadas no mundo todo.
E isso não é tudo.
Super-entidade econômica
Quando os cientistas desfizeram o emaranhado dessa rede de propriedades cruzadas, eles identificaram uma "super-entidade" de 147 empresas intimamente inter-relacionadas que controla 40% da riqueza total daquele primeiro núcleo central de 1.318 empresas.
"Na verdade, menos de 1% das companhias controla 40% da rede inteira," diz Glattfelder.
E a maioria delas são bancos.
Os pesquisadores afirmam em seu estudo que a concentração de poder em si não é boa e nem ruim, mas essa interconexão pode ser.
Como o mundo viu durante a crise de 2008, essas redes são muito instáveis: basta que um dos nós tenha um problema sério para que o problema se propague automaticamente por toda a rede, levando consigo a economia mundial como um todo.
Eles ponderam, contudo, que essa super-entidade pode não ser o resultado de uma conspiração - 147 empresas seria um número grande demais para sustentar um conluio qualquer.
A questão real, colocam eles, é saber se esse núcleo global de poder econômico pode exercer um poder político centralizado intencionalmente.
Eles suspeitam que as empresas podem até competir entre si no mercado, mas agem em conjunto no interesse comum - e um dos maiores interesses seria resistir a mudanças na própria rede.
As 50 primeiras das 147 empresas transnacionais super conectadas
Barclays plc
Capital Group Companies Inc
FMR Corporation
AXA
State Street Corporation
JP Morgan Chase & Co
Legal & General Group plc
Vanguard Group Inc
UBS AG
Merrill Lynch & Co Inc
Wellington Management Co LLP
Deutsche Bank AG
Franklin Resources Inc
Credit Suisse Group
Walton Enterprises LLC
Bank of New York Mellon Corp
Natixis
Goldman Sachs Group Inc
T Rowe Price Group Inc
Legg Mason Inc
Morgan Stanley
Mitsubishi UFJ Financial Group Inc
Northern Trust Corporation
Société Générale
Bank of America Corporation
Lloyds TSB Group plc
Invesco plc
Allianz SE 29. TIAA
Old Mutual Public Limited Company
Aviva plc
Schroders plc
Dodge & Cox
Lehman Brothers Holdings Inc*
Sun Life Financial Inc
Standard Life plc
CNCE
Nomura Holdings Inc
The Depository Trust Company
Massachusetts Mutual Life Insurance
ING Groep NV
Brandes Investment Partners LP
Unicredito Italiano SPA
Deposit Insurance Corporation of Japan
Vereniging Aegon
BNP Paribas
Affiliated Managers Group Inc
Resona Holdings Inc
Capital Group International Inc
China Petrochemical Group Company
Fica assim claro como se propagou (efeito dominó) a crise financeira, já que a maioria destas mega-empresas está na área da intermediação financeira. A visão do poder político das ETN (Empresas Trans-Nacionais) adquire também uma base muito mais firme, ao se constatar que na cadeia de empresas que controlam empresas que por sua vez controlam outras empresas, o que todos "sentimos" ao ver os comportamentos da mega-empresas torna-se cientificamente evidente. O artigo tem 9 páginas, e 25 de anexos metodológicos. Está disponível online gratuitamente, no sistemaarxiv.org
Um excelente pequeno resumo das principais implicações pode ser encontrado no New Scientist de 22/10/2011 (e está publicado a seguir).
(*) O gráfico em forma de globo mostra as interconexões entre o grupo de 1.318 empresas transnacionais que formam o núcleo da economia mundial. O tamanho de cada ponto representa o tamanho da receita de cada uma
A rede capitalista que domina o mundo
Conforme os protestos contra o capitalismo se espalham pelo mundo, os manifestantes vão ganhando novos argumentos.
Uma análise das relações entre 43.000 empresas transnacionais concluiu que um pequeno número delas - sobretudo bancos - tem um poder desproporcionalmente elevado sobre a economia global.
A conclusão é de três pesquisadores da área de sistemas complexos do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça
Este é o primeiro estudo que vai além das ideologias e identifica empiricamente essa rede de poder global.
"A realidade é complexa demais, nós temos que ir além dos dogmas, sejam eles das teorias da conspiração ou do livre mercado," afirmou James Glattfelder, um dos autores do trabalho. "Nossa análise é baseada na realidade."
Rede de controle econômico mundial
A análise usa a mesma matemática empregada há décadas para criar modelos dos sistemas naturais e para a construção de simuladores dos mais diversos tipos. Agora ela foi usada para estudar dados corporativos disponíveis mundialmente.
O resultado é um mapa que traça a rede de controle entre as grandes empresas transnacionais em nível global.
Estudos anteriores já haviam identificado que algumas poucas empresas controlam grandes porções da economia, mas esses estudos incluíam um número limitado de empresas e não levavam em conta os controles indiretos de propriedade, não podendo, portanto, ser usados para dizer como a rede de controle econômico poderia afetar a economia mundial - tornando-a mais ou menos instável, por exemplo.
O novo estudo pode falar sobre isso com a autoridade de quem analisou uma base de dados com 37 milhões de empresas e investidores.
A análise identificou 43.060 grandes empresas transnacionais e traçou as conexões de controle acionário entre elas, construindo um modelo de poder econômico em escala mundial.
Poder econômico mundial
Refinando ainda mais os dados, o modelo final revelou um núcleo central de 1.318 grandes empresas com laços com duas ou mais outras empresas - na média, cada uma delas tem 20 conexões com outras empresas.
Mais do que isso, embora este núcleo central de poder econômico concentre apenas 20% das receitas globais de venda, as 1.318 empresas em conjunto detêm a maioria das ações das principais empresas do mundo - as chamadas blue chips nos mercados de ações.
Em outras palavras, elas detêm um controle sobre a economia real que atinge 60% de todas as vendas realizadas no mundo todo.
E isso não é tudo.
Super-entidade econômica
Quando os cientistas desfizeram o emaranhado dessa rede de propriedades cruzadas, eles identificaram uma "super-entidade" de 147 empresas intimamente inter-relacionadas que controla 40% da riqueza total daquele primeiro núcleo central de 1.318 empresas.
"Na verdade, menos de 1% das companhias controla 40% da rede inteira," diz Glattfelder.
E a maioria delas são bancos.
Os pesquisadores afirmam em seu estudo que a concentração de poder em si não é boa e nem ruim, mas essa interconexão pode ser.
Como o mundo viu durante a crise de 2008, essas redes são muito instáveis: basta que um dos nós tenha um problema sério para que o problema se propague automaticamente por toda a rede, levando consigo a economia mundial como um todo.
Eles ponderam, contudo, que essa super-entidade pode não ser o resultado de uma conspiração - 147 empresas seria um número grande demais para sustentar um conluio qualquer.
A questão real, colocam eles, é saber se esse núcleo global de poder econômico pode exercer um poder político centralizado intencionalmente.
Eles suspeitam que as empresas podem até competir entre si no mercado, mas agem em conjunto no interesse comum - e um dos maiores interesses seria resistir a mudanças na própria rede.
As 50 primeiras das 147 empresas transnacionais super conectadas
Barclays plc
Capital Group Companies Inc
FMR Corporation
AXA
State Street Corporation
JP Morgan Chase & Co
Legal & General Group plc
Vanguard Group Inc
UBS AG
Merrill Lynch & Co Inc
Wellington Management Co LLP
Deutsche Bank AG
Franklin Resources Inc
Credit Suisse Group
Walton Enterprises LLC
Bank of New York Mellon Corp
Natixis
Goldman Sachs Group Inc
T Rowe Price Group Inc
Legg Mason Inc
Morgan Stanley
Mitsubishi UFJ Financial Group Inc
Northern Trust Corporation
Société Générale
Bank of America Corporation
Lloyds TSB Group plc
Invesco plc
Allianz SE 29. TIAA
Old Mutual Public Limited Company
Aviva plc
Schroders plc
Dodge & Cox
Lehman Brothers Holdings Inc*
Sun Life Financial Inc
Standard Life plc
CNCE
Nomura Holdings Inc
The Depository Trust Company
Massachusetts Mutual Life Insurance
ING Groep NV
Brandes Investment Partners LP
Unicredito Italiano SPA
Deposit Insurance Corporation of Japan
Vereniging Aegon
BNP Paribas
Affiliated Managers Group Inc
Resona Holdings Inc
Capital Group International Inc
China Petrochemical Group Company
Fonte: http://www.cartamaior.com.br
terça-feira, 16 de abril de 2013
Conexões perigosas: a vigilância oculta na grande rede - Por Coryntho Baldez
Conexões perigosas: a vigilância oculta na grande rede
As grandes corporações privadas que atuam na internet, como Google e Facebook, não apenas usam o enorme volume de dados que possuem sobre os usuários como fonte de renda. Elas são capazes, hoje, de exercer um refinado controle ético e político sobre os indivíduos, de acordo com Marcos Dantas, professor titular da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ.
“Essas corporações detêm informações cotidianas sobre nossos hábitos e gostos, nível educacional, opção política e religiosa, que o próprio Estado não tem”, alerta Dantas, que ministra as disciplinas “Sistemas e Tecnologias de Comunicação” e “Economia Política da Comunicação”.
Nesta entrevista, o docente afirma ainda que cerca de 70% das comunicações da internet no mundo estão nas mãos de uma única empresa norte-americana: a Level Three. E, segundo ele, quem financia a construção da imensa infraestrutura física necessária para a internet funcionar – “o mundo virtual é mera ideologia” – é o capital financeiro.
Marcos Dantas não acredita que o movimento Cypherpunks, liderado por Julian Assange e que defende a criptografia como meio de preservar os direitos civis das pessoas e a soberania dos povos, seja uma solução para democratizar a internet. Para isso, em sua opinião, será preciso um amplo processo de mobilização política que coloque em xeque o poder das grandes corporações de controlar a rede.
UFRJ Plural – Muitos dos que defendem e ajudam a construir uma internet livre, como Julian Assange, o criador do WikiLeaks, temem que ela se transforme em centro de vigilância dos cidadãos por parte de Estados imperiais. Qual a sua avaliação sobre isso?
Marcos Dantas – Acho que é uma preocupação importante, lúcida e necessária. Mas, sob esse aspecto, também há controle da vida do cidadão por parte das grandes corporações capitalistas. Não é só o Estado que preocupa. Diria até que é menos o Estado que preocupa. Isto porque, se o Estado é democrático, ele também pode ser vigiado pelos cidadãos. As grandes corporações privadas não. As pessoas não sabem o que é feito com os seus dados. E as organizações privadas não somente controlam e fazem dessas informações uma fonte de muito dinheiro, mas também podem exercer um controle ético e político sobre os indivíduos. E, eventualmente, ser fonte de informação para o próprio Estado.
UFRJ Plural – A política de privacidade do Google tem sido alvo de várias críticas. No início deste mês, inclusive, alguns governos da Europa decidiram investigá-la mais a fundo. Por quê?
Marcos Dantas – Eles temem exatamente que corporações como o Google, o Facebook, a Microsoft e a Apple substituam o Estado no controle do cidadão. E passem a deter informações e orientar as práticas das pessoas em função dos interesses delas, e não dos interesses públicos. Essas corporações não são públicas e, hoje, são detentoras de enorme quantidade de informações cotidianas de todos nós, de hábitos e gostos, que o próprio Estado não possui. Elas têm informações até sobre a nossa saúde, o nosso nível educacional, as nossas opções políticas, religiosas, que o Estado não tem. Com isso, passam a ter o poder de orientar a vida dos cidadãos.
UFRJ Plural – Os usuários do Google e das redes de relacionamento, especialmente o Facebook, têm alguma ideia do uso de suas informações privadas para obtenção de lucro, à sua revelia?
Marcos Dantas – Nenhuma. Vou contar um caso pessoal que estou vivendo neste exato momento. Há alguns dias, comprei um smartphone mais moderno. E acabo de descobrir que, se eu quiser fazer uma transferência de um arquivo de números telefônicos que está no meu computador para o aparelho, tenho que jogá-lo numa nuvem controlada pela Microsoft. O atendente da loja afirmou que só é possível fazer essa transferência dessa maneira. Ora, não vou dar as minhas informações privadas e meus contatos para a Microsoft. Fui muito claro. Disse que não faço nada na nuvem. Eu vivo na Terra, e não nas nuvens. Então, não vou transferir meus dados para a Microsoft.
UFRJ Plural – Isso ocorre em qualquer sistema operacional?
Marcos Dantas – Comprei um com windows phone [sistema operacional móvel desenvolvido pela Microsoft], da marca Nokia. Mas com o sistema android acontece o mesmo. Quando alguém compra um smartphone, a primeira coisa que faz é se conectar à internet. Abrir um endereço no Google, se for android, ou então na Microsoft, se for o windows phone. A partir daí, toda transação que se fizer pelo smartphone, seja baixar um dado ou marcar uma agenda, vai passar pelos servidores de uma dessas duas corporações. Por exemplo, se eu marcasse no aparelho a agenda da entrevista que estamos realizando, ela ficaria reigstrada na Microsoft. Ou seja, o meu cotidiano é controlado. Quando as pessoas usam o smartphone para qualquer tipo de transação, não têm a menor consciência de que estão fazendo um trabalho de graça para essas empresas. É a mais-valia mais absoluta que existe no mundo, um traballho gratuito para enriquecer o Bill Gates. E também um repasse de informações poderosas para que essas organizações possam controlar o mundo.
UFRJ Plural – Mas não há o risco de essas informações migrarem para Estados de caráter imperial para que se faça uma vigilância política sobre os cidadãos?
Marcos Dantas – Não tenho nenhuma dúvida de que, na história dos Estados Unidos, as grandes corporações, ao longo de todas as épocas, desde os tempos da famosa Standard Oil, sempre foram instrumentos da política imperial norte-americana. E vice-versa, ou seja, o Estado abria caminho para a expansão de suas grandes empresas. As novas corporações norte-americanas, como o Google e a Microsoft, se já não são, serão instrumentos do poder imperial, numa perfeita simbiose.
UFRJ Plural – Existem na rede iniciativas com potencial libertário, como o WikiLeaks, e também sites e blogueiros que fazem circular informações omitidas na mídia tradicional. Essas iniciativas ainda não são capazes de contrabalançar a influência que o grande capital exerce sobre a internet?
Marcos Dantas – Não, porque se baseiam em princípios, na minha avaliação, equivocados. Elas não colocam a crítica ao capital como fundamento das suas propostas. Se isso não acontecer, essas inciativas permanecerão no plano do idealismo. Obviamente, permitem chamar a atenção e alertar a sociedade de que outro mundo é possível, o que é um aspecto positivo. Mas elas não colocam em questão o cerne do problema, o fato de que quem alimenta essa engrenagem são as relações capitalistas de produção e o capital.
UFRJ Plural – A Primavera Árabe é apontada como exemplo de que a internet também pode estar a serviço de movimentos democráticos de massa, de um novo modo de fazer política. Qual a sua avaliação sobre isso?
Marcos Dantas – Na verdade, superestimaram essas tecnologias. Elas foram usadas como meio de comunicação e, dessa forma, são extremamente eficientes. Em vez de eu pegar o telefone para convocar alguém para uma reunião, posso usar o Twitter ou o Facebook, e fazer isso com muito mais velocidade. Mas as grandes manifestações não são espontâneas. Vou dar um exemplo de uma época em que a internet não existia. Em 1968, mataram um estudante no Rio de Janeiro, o Edson Luís, e uma semana depois 100 mil pessoas estavam nas ruas protestando contra a ditadura militar. Mas esse fato foi apenas o estopim que gerou uma mobilização extraordinária. Antes já havia um processo de debate político acumulado entre jovens universitários, além de partidos políticos clandestinos atuantes. Se, por hipótese, os debates e reuniões que se faziam para discutir ações de resistência tivessem sido feitos em redes de amigos de Facebook, a polícia bateria em cima nos primeiros encontros. Outro exemplo foi quando o Collor estava sofrendo o processo de impeachment e convocou o povo a usar verde e amarelo. Como já havia uma mobilização contra o governo, os brasileiros usaram o preto como forma de protesto, numa manifestação nacional que não precisou de Twitter ou Facebook para acontecer. E na Primavera Árabe um dos líderes das mobilizações no Egito era um executivo do Google. Isso já diz tudo.
UFRJ Plural – Pode-se considerar preocupante o fato de todas as comunicações via internet da América Latina para a Europa ou a Ásia passarem pelos Estados Unidos?
Marcos Dantas – Pior do que isso. Cerca de 70% das comunicações da internet no mundo estão nas mãos de uma única empresa norte-americana, chamada Level Three.
UFRJ Plural – E como isso funciona?
Marcos Dantas – A rigor, para que a internet funcione, é preciso uma imensa estrutura física. O mundo virtual é mera ideologia. São necessários cabos, satélites, torres, servidores espalhados pelo mundo. É uma estrutura caríssima. Fazer um blog é barato, basta dispor de tempo, mas não seria possível sem essa estrutura física, que requer bilhões de dólares de capital. Como ela é muito cara, poucas organizações no mundo podem fazer os investimentos necessários para construí-la e operá-la. Ou o Estado constrói esse tipo de estrutura, e hoje em dia ele não faz mais isso, ou grandes corporações financeiras o fazem. E é exatamente o capital financeiro que está por trás da Level Three, da AT&T, da British Telecom ou da Telefônica. Basicamente, as estruturas de comunicação servem ao capital financeiro nas transferências de fundos ao redor dos mercados mundiais.
UFRJ Plural – Essas redes passam, então, pelo centro de poder do capital financeiro?
Marcos Dantas – Sim, e obviamente pelos centros de poder militar também. Como acontece desde o tempo da telegrafia, essa infraestrutura tem sempre, acima do Equador, uma direção horizontal, ou seja, Estados Unidos, Europa e, cada vez mais, o Japão. E no sul tem uma direção sul-norte, da América do Sul para os Estados Unidos e para a Europa. Então, é claro que, se houver uma série crise internacional, essa configuração pode pesar na balança. Se o Brasil quiser fazer hoje uma comunicação com a África, terá que, necessariamente, passar pela Europa.
UFRJ Plural – Julian Assange afirma que a China está oferecendo a alguns países da África a construção de infraestrutura de backbones de acesso à internet em troca de grandes contratos comerciais. E aponta isso como a possibilidade de se configurar um novo colonialismo no século XXI. Como você avalia essa questão?
Marcos Dantas – Da mesma maneira que, no século XIX, os ingleses construíram ferrovias no Brasil e na Argentina. No Brasil, em São Paulo, para escoar café. E na Argentina, em Buenos Aires, para escoar carne. Na Índia, construíram uma malha ferroviária importante porque precisavam dela para movimentar o seu exército, porque lá a briga era dura. Portanto, os meios de comunicação sempre foram instrumentos fundamentais na geopolítica do poder. E a China está hoje construindo uma alternativa de poder geopolítico aos Estados Unidos, olhando os seus interesses muito bem olhados. Está sabendo por onde pode se expandir, e com muita inteligência.
UFRJ Plural – Por quê?
Marcos Dantas – Porque a África é um continente que foi completamente abandonado pelo Ocidente, depois de ter sido espoliada até dizer chega. É um estorvo para o grande capital o que fazer com aquela região. Quando eles estão se matando em alguma guerra e os humanistas pedem intervenção para evitar um genocídio, qual é a reação do grande capital e de seus governos? Deixa se matarem! É o que acontece a todo instante nos mais variados lugares da África. Só intervieram no Mali porque lá tem urânio, matéria-prima que interessa à França porque 70% da energia do país é nuclear. Então, a China, com a velha estratégia de avançar pelo elo mais fraco, está se expandindo na África a fim de construir cabeças de ponte para um projeto estratégico de longo prazo.
UFRJ Plural – Há um controle subterrâneo, invisível, da grande rede. Mas existem tentativas de oficializar o controle do próprio conteúdo produzido na internet. É o caso de duas legislações que estavam sendo discutidas no Congresso norte-americano, a Sopa (Lei de Combate à Pirataria On-line) e a Pipa (Lei de Prevenção a Ameaças On-line à Criatividade Econômica e ao Roubo da Propriedade Intelectual). Por que essas iniciativas ainda não vingaram?
Marcos Dantas – Em que pese meus amigos ciberativistas acharem que tem a ver com a luta deles, que eu compartilho e considero importante, a razão é outra. O fato é que o grande capital ainda não entrou em acordo sobre como fazer essa regulamentação. E a Sopa evidenciou isso muito bem. De um lado estava Hollywood e, do outro, o Google. Faltam ainda determinados acertos políticos e jurídicos entre as grandes corporações capitalistas para essas legislações vingarem.
UFRJ Plural – E que divergências são essas?
Marcos Dantas – A questão mais importante para o capital hoje não é a terra, mas o direito intelectual. É a patente, a marca, o direito autoral. O capital, hoje, se move em cima de um tipo de valor que não é mercadoria, ou seja, não é algo apropriável e cambiável. Quando o padeiro vende meia dúzia de pães, a cesta dele ficou com menos seis unidades de pães. E o caixa do padeiro aumentou com o dinheiro usado para comprar os pães, fruto do trabalho da pessoa que os adquiriu. Tem-se aí uma troca real, uma troca de equivalentes. Quando a indústria cinematográfica coloca um filme no mercado, não fica com menos filmes na sua estante. Há uma capacidade infinita de reproduzi-lo. Aqui não há troca, mas um licenciamento. Então, é preciso criar regimes para assegurar que aquelas pessoas que vejam o filme não possam replicá-lo a custo zero. Esse regime, em princípio, é o reconhecimento do direito autoral.
UFRJ Plural – E para garanti-lo é necessária uma série de controles?
Marcos Dantas – Sim. Como o reconhecimento do direito autoral, em si, não assegura que as pessoas não “pirateiem”, criam-se estruturas físicas para isso, como o DRM [dispositivo para restringir a difusão e duplicação de cópias de conteúdos digitais]. Outro tipo de controle é o acesso a conteúdo por meio de pagamento, como é o caso de TVs por assinatura ou dos novos sistemas de smartphones. São estruturas criadas para garantir que as pessoas somente tenham acesso a uma música ou a um filme se tiverem um determinado terminal conectado a uma rede paga. Esse tipo de comercialização em que se baseia a rentabilidade de Hollywood e outras indústrias culturais ainda não conseguiu se adequar, por inteiro, ao outro modelo de negócios que vem sendo proposto pelo Google, pela Apple, enfim, pelas empresas que já nasceram no sistema reticular, ou seja, no sistema em rede.
UFRJ Plural – Fale mais sobre esse novo modelo.
Marcos Dantas – A rentabilidade desse modelo de negócios que o Google vem tentando construir está totalmente calcada na informação e na negociação dessa informação. É um modelo que defende a liberação das práticas sociais, ou seja, as pessoas podem fazer o que bem entenderem na rede. Mas, como falamos no início, toda essa movimentação está sendo monitorada, manipulada, tratada por algoritmos poderosos, com o objetivo de vender informação.
UFRJ Plural – E essas legislações que preveem o bloqueio de sites acusados de desrespeitar o direito autoral podem ir contra esse modelo?
Marcos Dantas – Exatamente isso. O Google está propondo uma alternativa. Vou dar um exemplo. Se todo mundo vai ter um smartphone, ele deve estar ligado a uma loja, seja iTunes, Nokia ou Samsung. Da mesma forma, o tocador Blu-ray também deve estar ligado a uma loja. No momento em que todo mundo estiver na rede, aí será possível construir esse pacto.
UFRJ Plural – O movimento Cypherpunks defende a criptografia como forma de preservar os direitos civis das pessoas e também a soberania e a autodeterminação dos povos. Como você avalia essa proposta?
Marcos Dantas – Pode ser uma alternativa interessante, mas, como já ensinava Norbert Wiener, código é uma questão de tempo para quebrar. Primeiro, é algo que exige um investimento técnico, uma organização que trabalhe a criptografia. Os grandes Estados nacionais trabalham com isso, em função de interesses estratégicos. Mas os Estados Unidos, neste momento, demonstram grande preocupação porque dizem que estão sofrendo ataques de ciberinvasores. E dificilmente haverá um país mais criptografado do que os Estados Unidos. Então, não sei se essa é a questão.
UFRJ Plural – E qual é a questão?
Marcos Dantas – Acho que deveríamos passar por um processo político que colocasse em questão o poder das grandes corporações de controlar a grande rede e, a partir daí, controlar a vida dos cidadãos.
(*) Entrevista veiculada na edição de 15 de abril do UFRJ Plural, boletim eletrônico da Coordenadoria de Comunicação da UFRJ.
Fonte: http://www.fazendomedia.com
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