Metrô-SP: mais um passo para o caos
Dias após
grande transtorno, trem abre portas em movimento. Empresa prefere não
investigar. Problema volta a envolver consórcio acusado de cartel
Em mais uma
falha considerada “grave” por funcionários, um trem que opera na Linha
3-Vermelha do Metrô de São Paulo abriu portas em movimento por volta das 13h40
do último sábado (8). A informação foi repassada por metroviários que atuaram
na ocorrência, e que preferem não se identificar para evitar represálias.
A
composição conhecida como K24, pertencente à frota K, se aproximava da estação
Palmeiras-Barra Funda, na zona oeste da capital, quando uma das portas do sexto
carro abriu-se e fechou-se sozinha, inesperadamente e sem comando da cabine. O
condutor percebeu a pane e aplicou freios de emergência, trafegando em
velocidade reduzida até a plataforma.
Quando o
trem parou e as portas se abriram para o desembarque de passageiros, uma
usuária que havia presenciado o defeito procurou um funcionário do Metrô para
questioná-lo sobre o que vira: “É normal que as portas se abram dentro do
túnel?”Ao reconhecer a natureza da falha, o metroviário entrou imediatamente em
contato com o Centro de Controle Operacional (CCO) e pediu que a direção
registrasse o incidente como uma ocorrência grave. Assim, o problema poderia
ser investigado pela Comissão Permanente de Segurança (Copese), que, como o
próprio nome sugere, se dedica a problemas que colocam o sistema em risco. Não
foi o que aconteceu.
Apesar da
solicitação do metroviário, o CCO tratou o episódio como uma falha comum,
apenas. Como resultado, o trem K24 continuou em circulação. “Abertura de portas
em movimento é uma das falhas mais preocupantes do sistema metroviário”,
explica um funcionário. “É grave principalmente para os usuários. Se houver
gente encostada na porta, ela pode cair na via, ser atropelada ou eletrocutada.
São vários os riscos.”
A
composição que apresentou problemas no final de semana faz parte da frota K,
recentemente reformada pelo consórcio MTTrens. O pool é encabeçado
pela TTrans, com sede no Rio de Janeiro, uma das empresas acusadas de formação
de cartel para burlar a concorrência em editais de fornecimento de trens e
ampliação da malha metroferroviária paulista.
De acordo
com as denúncias da Siemens, uma das empresas envolvidas na fraude, membros da
administração do PSDB nos governo Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra
teriam participado do conluio. Promotores que apuram o caso estimam que o
esquema tenha lesado os cofres públicos em aproximadamente R$ 900 milhões.
Foi uma
composição da frota K, conhecida como K07, que entrou em pane na última
terça-feira (4), na estação Sé, dando início a uma sequência de falhas que
paralisou a Linha 3 Vermelha por cinco horas no horário de pico da noite.
Também foi o K07 que descarrilou em agosto passado. Entre 10 de outubro e 9 de
novembro, o mesmo trem apresentou mais de 300 falhas.
Procurado,
o Metrô evitou confirmar a falha do último sábado (8) até a publicação do
texto. A RBA veicula há seis meses denúncias de problemas na frota K
e outros trens adquiridos recentemente pelo sistema. A empresa jamais desmentiu
as acusações – pelo contrário, confirmou parte delas e simplesmente ignorou as
demais.
Na semana
passada, em vez de responder se panes efetivamente voltaram a ocorrer dois dias
depois do caos de terça-feira (4), o Metrô preferiu comentar outro assunto.
“Quando se fala em uma falha de porta, é preciso considerar que, todos os dias,
são feitos 3 milhões de aberturas e fechamentos de portas. São mais de 4.500
viagens diárias, o que corresponde a 70 mil km. Em média, 4,6 milhões de
passageiros utilizam o metrô nos dias úteis.”
Na semana
passada, o secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes,
ironizou as denúncias contra a frota K, dizendo que o Sindicato dos
Metroviários padece de “fobia” em relação aos trens recordistas em panes. “É
alguma coisa precisa ser explicada talvez até no campo da psicologia”,
alfinetou. “O que me causa mais espanto é que o metroviário representado por
esse sindicato, ao invés de colaborar, quer jogar a população contra a própria
instituição de 40 anos.”
Fonte: http://outraspalavras.net/
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