A miragem
mexicana
Comunidades
indígenas, entre as mais afetadas pela pobreza absoluta. No México, ela
aumentou para 51,3% na última década, quando caíram fortemente os salários
Elogio a
modelo liberal mexicano é ideológico e cego. Resultados sociais e econômicos
são muito piores que no Brasil “intervencionista”
Poucas
pessoas inteligentes – fora da Inglaterra – ainda prestam atenção nas notícias
da monarquia inglesa e da sua família real, em pleno século XXI. Mas o mesmo
não se pode dizer da City, centro financeiro de Londres, e dos seus dois
principais órgãos de imprensa e divulgação – o Financial Times, e o The
Economist – que seguem tendo importância decisiva na formação das opiniões e
dos consensos ideológicos entre as elites liberais e conservadoras do mundo. A
escolha dos seus temas e o uso de sua linguagem nunca é casual. Como no caso
recente do seu entusiasmo pelo México e seu modelo de desenvolvimento liberal –
e seu ataque, cada vez mais estridente, ao “intervencionismo” da economia
brasileira. Uma tomada de posição compreensível do ponto de vista ideológico,
mas que não vem sendo confirmada pelos fatos.
Em 1994, o
México assinou o Tratado de Livre Comercio da América do Norte (Nafta), junto
com os EUA e Canadá. Nos últimos 20 anos, tem sido absolutamente fiel ao livre-cambismo,
incluindo sua adesão a Aliança do Pacífico, e à inciativa norte-americana da
Parceria Trans-Pacífica – TPP. Por outro lado, nesse mesmo período, o México
praticou uma política macroeconômica e financeira rigorosamente ortodoxa – em
particular na última década – mantendo inflação baixa, cambio flexível, taxas
de juros moderadas e amplo acesso ao crédito. Mesmo assim, depois de duas
décadas, o balanço dessa experiência ultraliberal deixa muito a desejar1.
Como era de
prever o comercio exterior do país cresceu significativamente no período e
passou – em termos absolutos – de 60 bilhões de dólares, em 1994, para US$ 400
bi, em 2013. Mas nesse mesmo período, a economia mexicana teve um crescimento
médio anual pífio, de 2,6%, sendo o crescimento per capita de apenas 1,2%. O
emprego industrial cresceu de forma setorial e vegetativa, e mesmo nas
“maquiladoras”, foi de apenas 20% – algo em torno de 700 mil novos postos de
trabalho. A participação dos salários permaneceu em trono de 29% da renda
nacional, e a pobreza absoluta da população mexicana aumentou
significativamente. Por fim, ao contrário do que havia sido previsto, a
economia mexicana não se integrou nas “cadeias globais de produção”. A
produtividade média da economia praticamente só cresceu de forma segmentada e
vegetativa, e o “investimento direto estrangeiro” (o principal “prêmio”
anunciado em troca da abertura da economia) não teve nenhuma alteração
significativa.
Esse
balanço fica ainda mais decepcionante quando se compara o desempenho do “modelo
mexicano”, com o “modelo intervencionista” da economia brasileira, no período
entre 2003 e 2012. Segundo dados publicados pelo Banco Mundial2, e pelos Ministérios do Trabalho dos
dois países, os números e as diferenças são realmente chocantes. Nesse período,
a crescimento médio anual do PIB brasileiro, foi de 4,21%; o do México, de
2,92%. O crescimento total a economia brasileira foi de 42,17%; o do México, de
29,29%. As exportações brasileiras cresceram a uma taxa anual de 6,59%; as do
México, a uma taxa de 5,35%. O crescimento total das exportações brasileiras
foi de 65,95%; o do México, de 53,35%. As importações brasileiras cresceram a
uma taxa média anual de 17,33%; as do México, a 6,75%. O crescimento total das
importações no Brasil foi de 173,32%; no México, de apenas 67,54%.
Por outro
lado, a renda per capita brasileira cresceu a uma taxa anual de 2,84% e a do
México, 1,42%. O crescimento total da renda no Brasil foi de 28,4%, e no México
foi de 14,26%. E a participação dos salários na renda chegou a 45% , no Brasil,
contra 29% no México. Nesse mesmo período, o Brasil criou 16 milhões de novos
empregos formais, e o México 3,5 milhões; e a pobreza absoluta foi reduzida a
15,9%, no Brasil, e aumentou para 51,3%, no México. Por fim, (pasme-se), entre
2002 e 2012, o “investimento direto estrangeiro” cresceu, no Brasil, de US$
16,59 bilhões, para US$ 76,11 bilhões de dólares. No México, caiu de US$ 23,932
bilhões, em 2002, para U$ 15,455 bilhões, em 2012! Só para encerrar a
comparação, em 2103 a economia brasileira cresceu 2,3%, (uma das maiores taxas
entre as grandes economias do mundo), enquanto a economia mexicana cresceu
1,1%.
Fluxos de
Investimento Direto Externo (em dólares)
Clique para
ver maior. Fonte: International Monetary Fund. Disponível em:
http://data.worldbank.org/indicator/BX.KLT.DINV.CD.WD/countries/BR-MX?display=graph
em 27/04/2014
Isto posto,
o elogio do México deve ser considerado um caso de má fé, fundamentalismo
ideológico, ou estratégia internacional? As três coisas ao mesmo tempo. Mas o
que importa é o que dizem os números, e a conclusão é uma só: na última década,
o “modelo mexicano” de abertura liberal, integração com os EUA, e livre
comércio teve um desempenho extraordinariamente pior do que o “modelo
intervencionista”, “heterodoxo” e “fechado” (segundo Financial Times e The
Economist) da economia brasileira, junto com seu projeto de integração do
Mercosul.
–
1Vide artigo do ex-ministro de relações exteriores do México, Jorge Castañeda: “NAFTA´s mixed record”, publicado no numero da Revista Foreign Affairs,. de janeiro/fevereiro de 2014.
1Vide artigo do ex-ministro de relações exteriores do México, Jorge Castañeda: “NAFTA´s mixed record”, publicado no numero da Revista Foreign Affairs,. de janeiro/fevereiro de 2014.
Fonte: http://outraspalavras.net/
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