Para Chomsky, aqui se articula o terror mundial!!!
Intelectual dissidente analisa campanhas de sabotagem
deflagradas pelos EUA contra Angola, Cuba e Nicarágua. E alerta: Washington
continua a desestabilizar adversários
“É oficial: os EUA
são o maior Estado terrorista do mundo e se orgulham disso”.
Essa deveria ter sido a manchete da notícia principal do New
York Times no dia 15 de outubro, que foi polidamente intitulada “Os Estudos da
CIA sobre ajuda secreta alimentam ceticismo sobre a ajuda aos rebeldes sírios”.
O artigo relata uma revisão da CIA sobre as operações secretas dos EUA para
determinar sua efetividade. A Casa Branca concluiu que infelizmente os sucessos
foram tão raros que é necessário repensar essa política.
O texto cita o Presidente Barack Obama, dizendo que ele
solicitou à CIA que conduzisse a revisão para encontrar casos de
“financiamentos e fornecimento de armas para grupos insurgentes em um país que
realmente tenham funcionado. E eles não encontraram muitos”. Por
isso, Obama reluta em manter tais esforços.
O primeiro parágrafo do artigo do Times cita três
grandes exemplos de “ajuda secreta”: Angola, Nicarágua e Cuba. Na verdade, cada
um desses casos foi uma grande operação terrorista conduzida pelos EUA. Angola
foi invadida pela África do Sul, que, segundo Washington, defendia-se de um dos
“maiores grupos terroristas” do mundo – o Congresso Nacional Africano, de
Nelson Mandela.
Na época, o governo Reagan estava praticamente sozinho no
seu apoio ao regime do apartheid, inclusive violando sanções do congresso para
aumentar o comércio com seu aliado sul africano. Washington juntou-se à África
do Sul para prover apoio crucial ao exército terrorista da Unita, chefiada por
Jonas Savimbi, em Angola. Continuou a fazê-lo mesmo depois de Savimbi ser
completamente derrotado em eleições livres cuidadosamente monitoradas, e da
África do Sul retirar seu apoio. Savimbi era um “monstro cuja sede de poder
trouxe uma miséria apavorante ao seu povo”, nas palavras de Marrack Goulding,
embaixador britânico em Angola.
As consequências foram horrendas. Um inquérito de 1989 da
ONU estimou que os atos hostis praticados por sul-africanos provocaram 1,5
milhão de mortes nos países vizinhos, sem contar o que estava acontecendo
internamente na África do Sul. Ao fim, forças cubanas contra-atacaram os
agressores sul-africanos e os compeliram a se retirar da Namíbia, ilegalmente
ocupada. Apenas os EUA continuaram a apoiar o monstro Savimbi.
Em Cuba, após a invasão frustrada da Baía dos Porcos em
1961, o Presidente John F. Kennedy lançou uma campanha assassina e destrutiva
para levar “os terrores da terra” à ilha – nas palavras de um íntimo
aliado de Kennedy, o historiador Arthur Schlesinger, em sua biografia
semi-oficial de Robert Kennedy, a quem foi atribuída a responsabilidade pela
guerra terrorista.
As atrocidades contra Cuba foram severas. Os planos eram de
que o terrorismo culminasse em uma rebelião em outubro de 1962, que levaria a
uma invasão estadunidense. Agora, estudos acadêmicos reconhecem que essa
foi uma das razões pelas quais o primeiro-ministro russo Nikita Khruschev
colocou mísseis em Cuba, iniciando uma crise que ficou perigosamente próxima de
uma guerra nuclear. O secretário de Defesa dos EUA, Robert McNamara
posteriormente admitiu que, se fosse uma liderança cubana na época, “teria
esperado uma invasão dos EUA”.
Os ataques terroristas americanos a Cuba continuaram por
mais de 30 anos. O custo disso aos cubanos foi, é claro, muito grave. A
contagem de vítimas, dificilmente vista nos EUA, foi relatada em detalhes pela
primeira vez em um estudo do canadense Keith Bolender, “Vozes do Outro Lado:
Uma História Oral do Terrorismo Contra Cuba”, em 2010.
O preço em vidas de uma longa guerra terrorista foi ampliado
por um embargo esmagador, que continua até hoje, a despeito do resto do mundo.
Em 28 de outubro, a ONU, pela 23ª vez, endossou a “necessidade de dar um fim ao
bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos contra
Cuba”. A votação foi de 188 a 2 (EUA e Israel) com três abstenções, das
dependências dos EUA nas Ilhas do Pacífico.
Existe hoje alguma oposição ao embargo em lugares
importantes dos EUA, relata o ABC News, por que ele “não é mais útil” (citando
o novo livro de Hillary Clinton, Hard Choices). O estudioso francês Salim
Lamrani revisa os amargos custos aos cubanos em seu livro de 2013, A
Guerra Econômica Contra Cuba.
Quase não é necessário mencionar Nicarágua. A guerra
terrorista do presidente Ronald Reagan foi condenada pela Corte Internacional,
que ordenou que os EUA encerrassem seu “uso de força ilícito” e pagassem
reparações substantivas.
Washington respondeu aprofundando a guerra e vetando
resolução do Conselho de Segurança da ONU de 1986, que chamava todos os Estados
– significando os EUA – a observarem a lei internacional.
Outro exemplo de terrorismo foi lembrado em 16 de novembro,
data do 25º aniversário do assassinato de seis padres jesuítas em São Salvador
por uma unidade terrorista do exército salvadorenho, armada e treinada pelos
EUA. Sob as ordens do alto comando militar, os soldados invadiram a
Universidade Católica para assassinar os padres e qualquer testemunha –
incluindo uma governanta e sua filha.
O evento marcou o fim das guerras terroristas dos EUA
na América Central nos anos 80. Mas seus efeitos ainda estão nas primeiras
páginas de hoje, nos relatos sobre a fuga de “imigrantes ilegais” — uma medida
das consequências dessa carnificina. No entanto, eles são deportados dos EUA
para sobreviverem, se puderem, nas ruínas dos seus países de origem.
Washington também emerge como o campeão mundial em gerar
terror. O ex-analista da CIA Paul Pillar alerta que “o impacto gerador de
ressentimentos dos EUA atinge” a Síria, onde talvez induza, no futuro, as
organizações do Jihad Jabhat al-Nusra e o Estado Islâmico a “reparar suas
falhas no ano passado e fazer campanha em conjunto contra a intervenção
dos EUA, pintando-a como uma guerra contra o Islã”.
Essa é uma consequência já familiar das operações dos EUA,
que ajudaram a espalhar o jihadismo — antes restrito a um reduto do
Afeganistão, — para grande parte do mundo.
A manifestação do jihadismo mais alarmante hoje é o Estado
Islâmico, ou ISIS, que estabeleceu seu califado assassino em grandes áreas do
Iraque e da Síria.
“Penso que os Estados Unidos são um dos criadores chave
dessa organização”, relata o ex-analista da CIA, Graham Fuller, comentarista
destacado sobre assuntos na região. “Os Estados Unidos não planejaram a
formação do ISIS”, acrescenta “mas suas intervenções destrutivas no Oriente
Médio e a guerra do Iraque foram as causas básicas do nascimento do ISIS”.
A isso nós podemos incluir a maior campanha terrorista do
mundo: o projeto global de assassinato de “terroristas” de Obama. O “impacto
gerador de ressentimento” desses drones e ataques de forças especiais deveriam
ser conhecidos demais para requerer mais comentários. Esse é um registro a ser
contemplado com certo pavor.
Tradução: Mariana Bercht
Fonte: http://outraspalavras.net/destaques/para-chomsky-aqui-se-articula-o-terror-mundial/
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