4º grande ato: Haddad não revoga, MP não suspende, Alckmin solta a polícia nos manifestantes
Forte repressão policial marcou o ato desta quinta-feira; ainda na saída do metrô manifestantes eram detidos por “porte de vinagre”. Por Passa Palavra
Ainda no início da tarde desta quinta-feira (13 de junho) chegaram os primeiro boatos, depois confirmados, de que a Polícia Militar em São Paulo havia evacuado o Teatro Municipal para usá-lo como base. Pouco depois das cinco horas da tarde, estações de metrô comumente lotadas nos horários de pico, como a Anhangabaú, ao lado do Teatro, foram sumariamente fechadas. “Devido ao excesso de pessoas nessa plataforma, a estação será fechada”, uma voz avisava. Nas saídas, policiais revistavam as pessoas, e manifestantes passaram a ser detidos por “porte de vinagre”, produto essencial para aliviar o efeito do gás lacrimogêneo. A concentração do ato começava e já havia cerca de 30 detidos. Havia ainda uma expectativa no ar, do Ministério Público suspender o aumento por 45 dias, o que não ocorreu.
Apesar de todo clima e da operação de terror instaurados pela polícia, cerca de 20.000 manifestantes se concentraram em frente ao Teatro Municipal para dar início ao quarto grande ato contra o aumento da tarifa. A manifestação começou com um clima bastante contagiante e animado. A enorme concentração de pessoas dava mostras de que, mesmo com todo aparato bélico e midiático montado para sufocar a mobilização, a repressão pura tem resultado na multiplicação do número de protestantes.
Como nos outros atos, a pontualidade foi mantida e a concentração, que estava marcada para as cinco da tarde, começou a seguir em direção à rua da Consolação pouco antes das seis horas. Na manifestação, ficou ainda mais evidente que está sendo tática da polícia provocar o confronto com os manifestantes, gerando dispersão e correria desordenada, o que facilita inclusive os atos de depredação. Desta vez, a marcha de milhares de pessoas saiu tranquilamente do entorno da Praça da República e começou a subir a rua da Consolação. Havia entre os organizadores do ato a completa disposição em negociar o trajeto do protesto, desviar-se da avenida Paulista e evitar um confronto a qualquer custo. No entanto, na esquina da rua Maria Antônia com a rua Consolação, um destaque da tropa decidiu atirar à queima-roupa e lançar bombas sobre os manifestantes. Grande parte se encurralou num posto de gasolina e, mesmo com todo o risco que isso representava, a polícia continuou a atirar. Alguns manifestantes gritavam “sem violência” e outros tentaram levantar os braços, mas não conseguiram impedir a ofensiva policial.
Daí para a frente, o que se seguiu foi um teatro em que a Secretaria de Segurança Pública desfilou seu aparato repressivo: cavalaria, ônibus do choque, motoqueiros e centenas de policiais da tropa de choque. Os manifestantes receberam chuva de balas de borracha e bombas na Praça Roosevelt, encurralando-se para entrar nas ruas que a ligam à Avenida Paulista, na região de Cerqueira Cesar. A manifestação então se dividiu pelas ruas Augusta, Frei Caneca e paralelas, ainda que na Consolação havia focos de repressão. Em todas elas a polícia, agora com a cavalaria, bloqueava o acesso à Paulista, mas deixava os manifestantes sem a possibilidade de evacuar, mesmo se quisessem. Nem mesmo os carros eram poupados pela ação policial; quem estava parado no transito recebia as bombas do mesmo jeito. Ainda há relatos de bombas de gás lacrimogêneo sendo atiradas pela Polícia nas universidades PUC, Mackenzie e Cásper Libero.
Algum tempo depois, os conflitos provocados pela polícia se espalharam por toda a região. Houve focos de confronto na própria rua da Consolação, na Avenida Paulista, na Augusta, na Nove de Julho, na Brigadeiro Luis Antônio, na avenida Angélica e em ruas próximas ao estádio do Pacaembú. Hoje, sem ironia, é possível dizer que foi a polícia quem parou a cidade para desfilar sem critério e responsabilidade todo o seu potencial repressivo. Mesmo muitos repórteres e fotógrafos da grande imprensa sofreram com o desfile policial; sobraram bombas, gás e prisões por porte de vinagre para muitos deles. Dois jornalistas da Folha de São Paulo, inclusive, foram atingidos com tiro de bala de borracha, um no rosto e outra no olho, sendo levados às pressas ao hospital.
Até à madrugada, calculava-se que 192 pessoas tivessem sido detidas. Durante o protesto era facilmente visível a grande quantidade de policiais infiltrados na manifestação, portando câmeras e filmadoras. E após a dispersão, a polícia militar invadiu restaurantes, bares e a estação Paulista do metrô para revistar manifestantes.
Há muitas notícias de manifestantes feridos ou que sofreram agressões gratuitas e em grande medida foram socorridos pelo posto médico montado por apoiadores no centro e, posteriormente, na Paulista. Dessa vez, muitos moradores da região não puderam deixar de ver bombas sendo explodidas em ruas vazias a troco de nada. Além disso, há depoimentos de moradores que viram policiais incendiando lixo em ruas paralelas e também o vídeo de um policial quebrando o vidro de uma viatura.
Prefeitura não quer diálogo
O tempo passa, a mobilização cresce, São Paulo para e o prefeito Fernando Haddad, que se arvorou como um homem de diálogo, nega-se a estabelecer qualquer tipo de negociação. O prefeito recusou-se a discutir mesmo após sinalização de diálogo realizada pelo Movimento, quando ignorou a proposta conciliatória do Ministério Público de suspender o aumento da tarifa por 45 dias. E lança mão do discurso fajuto de que o aumento foi feito abaixo do índice de inflação, escondendo que, se fosse este um critério a ser adotado seriamente, o preço da passagem não deveria ultrapassar os R$2,16, conforme os dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor).
Seguir lutando
O próximo grande ato está marcado para dia 17, segunda-feira, no Largo da Batata, em Pinheiros. As manifestações não dão sinais de que vão cessar ou esvaziar, pelo contrário, a mobilização tem aumentado a cada ato,. Os custos políticos da não revogação do aumento podem condenar não só o futuro de uma disputa eleitoral para o governo em 2014, mas, principalmente, o rompimento definitivo de um período histórico da ligação do PT com os movimentos sociais. Esses poderão ser os 20 centavos mais caros da vida de Haddad e do próprio PT.
Fonte: http://passapalavra.info/
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