Batalha no centro: primeiro grande ato contra a tarifa em São Paulo
Esta foi uma das maiores manifestações realizadas pelo movimento e uma das mais contundentes. Por Passa Palavra
É difícil calcular quantas pessoas estiveram presente no primeiro grande ato contra o aumento das tarifas do transporte público de São Paulo. Mas estima-se que mais de cinco mil manifestantes atenderam ao chamado do Movimento Passe Livre (MPL), ocuparam as ruas do centro da cidade e bloquearam durante várias horas as principais vias da região. Sem dúvida, é possível dizer que esta foi uma das maiores manifestações realizadas pelo Movimento e uma dos mais contundentes.
Como estava combinado, por volta das 17h, centenas de manifestantes já lotavam as escadarias do Teatro Municipal, aquecendo-se com a Fanfarra do M.A.L. (Movimento Autônomo Libertário) e palavras de ordem. Após a concentração, o protesto seguiu para a frente da Prefeitura, onde foram entoadas gritos ao prefeito Fernando Haddad.
— Ei, Haddad, que papelão! Abraça o Maluf e aumenta o busão.
Em seguida, as principais avenidas da cidade foram tomadas. A manifestação passou pela Praça do Patriarca, desceu a Rua São Bento e contornou pelo Vale do Anhangabaú. Do Vale era possível ver uma enorme faixa preparada pelo movimento do Viaduto do Chá: “Se a tarifa não baixar, a cidade vai parar”.
Foi então que se iniciaram os momentos mais tensos da manifestação. Eram quase sete da noite quando ato tomou de assalto a Avenida 23 de Maio, uma das principais vias radiais, que liga o centro da cidade à zona Sul. A ação foi inesperada e por essa razão demorou para que a Polícia Militar adotasse uma estratégia eficiente para dispersar os manifestantes. Neste momento, as catracas alegóricas, feitas de madeira e pneus, foram queimadas e barricadas começaram a ser formadas. Por diversas vezes, pequenos batalhões da polícia tentavam liberar a avenida, mas eram obrigados a recuar frente à resistência do protesto. Alguns minutos depois, o Batalhão de Choque foi acionado e deu início a uma verdadeira batalha campal, que se espalhou por toda a região central.
Depois disso, é difícil descrever o que se passou. Para o bem ou para mal, a ação policial na Avenida 23 de Maio, ao dispersar os manifestantes a esmo, multiplicou as frentes de ação em inúmeros focos. Uma parte dos manifestantes seguiu para o Terminal Bandeira, bem próximo ao local. Outra seguiu para a Prefeitura e para o Terminal Parque Dom Pedro e uma terceira ainda continuou pela Avenida 9 de Julho e subiu para a Avenida Paulista, que foi bloqueada pela primeira vez. Por onde se passava, pelas ruas do centro, era possível ver rastros da manifestação: pichações de protesto, panfletos e pequenas barricadas com lixos e lixeiras. Nos terminais de ônibus, eram realizados catracaços, permitindo que a população tomasse ônibus gratuitamente.
Nas camisetas, faixas e como grito de ordem, os manifestantes lembravam acontecimentos recentes em Porto Alegre, quando um aumento foi revertido por manifestações populares, e as ações na Turquia.
— Acabou o amor em SP. Isso aqui vai virar Porto Alegre.
A polícia articulou então uma enorme operação para impedir que os focos se reunissem e lançou mão de um violento aparato repressivo, atirando bombas de efeito moral e balas de borracha. Pelo menos 30 pessoas foram feridas. Os blocos de manifestantes apareciam por todos os lados; toda a população que andava nas ruas comentava; os programas televisivos nas telas dos bares e da padaria atestavam que o que estava acontecendo era realmente inédito na cidade.
Um dos focos da manifestação, ao fugir da repressão policial, adentrou o Shopping Paulista, causando uma enorme agitação no local. Os manifestantes chegaram a ser acuados na praça de alimentação, onde alguns deles foram presos. Por volta das 21h, o epicentro da luta havia se deslocado para a altura da Avenida Paulista: quase todas as entradas de Metro foram fechadas, viaturas de Batalhão de Choque e dos Bombeiros cortavam a via nos dois sentidos. Às 21h30 ainda havia um foco sendo reprimido em frente ao MASP (Museu de Arte de São Paulo).
Até o momento 15 pessoas estão detidas, mas acompanhadas do advogado do Movimento.
Um novo ato foi convocado para esta sexta-feira (dia 7 de junho), às 17h, com concentração no Largo da Batata, próximo ao metrô Faria Lima.
Fonte: http://passapalavra.info
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