Para Jacob Gorender, democracia e ecologia permitiram atualizar marxismo
Baiano da periferia de Salvador, o historiador marxista Jacob Gorender morreu nesta terça-feira (11), em São Paulo, aos 90 anos. Filho de um imigrante judeu ucraniano e socialista, militou no PCB, se integrou à FEB na Segunda Guerra Mundial, foi preso e torturado na ditadura militar, quando conheceu a presidente Dilma Rousseff no cárcere. Intelectual brilhante, escreveu o clássico 'O Escravismo Colonial' e deu aulas na USP.
São Paulo – Morreu nesta terça-feira (11), em São Paulo, aos 90 anos, Jacob Gorender, um dos mais importantes historiadores marxistas brasileiros. Baiano da periferia de Salvador, era filho de um imigrante judeu ucraniano e socialista.
Como militante comunista, teve uma vida intensa. Na juventude, estudou direito e integrou o PCB, então recém-fundado em 1922. Na Segunda Guerra Mundial, alistou-se na Força Expedicionária Brasileira (FEB) e participou da tomada do Monte Castelo, a mais importante batalha enfrentada pelos pracinhas.
No retorno ao Brasil, intensificou sua militância no PCB. Integrou o comitê central do partido até o racha de 1967, quando saiu para fundar o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCRB). Ao longo da ditadura militar, foi preso e torturado.
Sua atividade intelectual foi incessante. Escreveu e comandou as principais publicações comunistas do país, como ‘Classe Operária’, ‘Imprensa Popular’ e ‘Voz Operária’. Publicou “O Escravismo Colonial” (1978), "A burguesia brasileira" (1981), "Combates nas trevas" (1987) e “Marxismo sem utopia” (2005), entre outros livros. Foi professor visitante no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP). Nos últimos anos, ainda escrevia e atendia convite para debates e conferências.
Seus últimos trabalhos provocaram polêmica entre a ortodoxia marxista ao atualizar a teoria com conceitos que vão da democracia à ecologia. “Para novos tempos são necessárias novas ideias. E não fico com receio de apresentar essas novas ideias”, costumava dizer.
Em “Marxismo sem utopia”, defendeu que o proletariado, ontologicamente, seria reformista, e não revolucionário. E que esse impulso acabou sendo importante para ampliar a esfera de direitos das sociedades. O historiador ainda apontava os direitos humanos como valores fundamentais e universais, e não invenções burguesas a serem combatidas, como afirmam parcela dos marxistas.
Em uma entrevista ao programa Roda Vida, da TV Cultura, em janeiro de 2006, afirmou: “A história mostrou que a produção tem limites que Marx não conheceu. Marx não conheceu a ecologia. Têm limites ecológicos, os recursos naturais são limitados e o abuso deles provoca o efeito-estufa, a poluição e outros problemas graves para a própria sociedade humana”.
Com aguçada sensibilidade, notava a complexidade das sociedades e dos conflitos contemporâneos, não mais protagonizados apenas por classes sociais, mas também por idosos, os homens, as mulheres, profissionais de várias áreas, culturas diferentes. Diante disso, não havia como vislumbrar o desaparecimento do Estado: “É necessário um órgão superior, que é o Estado. E que seja um Estado democrático, obviamente. Por isso eu falo em democracia”.
Em nota, a presidenta Dilma Rousseff lamentou a morte de Gorender. Disse que o conheceu no Departamento de Ordem Polícia e Social (Dops), de São Paulo, onde estiveram presos, nos anos 1970. "Ele estava convalescente de torturas e foi conselheiro importante em um momento crucial na minha vida", declarou Dilma.
Também em nota, o ex-presidente Lula disse que Gorender foi um dos maiores historiadores e pensadores da esquerda brasileira e que “militou pelos direitos dos trabalhadores e pela transformação social do Brasil”. “Neste momento de dor e perda, queremos estender nossa solidariedade a todos os seus familiares, amigos, alunos e admiradores”, concluiu o ex-presidente.
Como militante comunista, teve uma vida intensa. Na juventude, estudou direito e integrou o PCB, então recém-fundado em 1922. Na Segunda Guerra Mundial, alistou-se na Força Expedicionária Brasileira (FEB) e participou da tomada do Monte Castelo, a mais importante batalha enfrentada pelos pracinhas.
No retorno ao Brasil, intensificou sua militância no PCB. Integrou o comitê central do partido até o racha de 1967, quando saiu para fundar o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCRB). Ao longo da ditadura militar, foi preso e torturado.
Sua atividade intelectual foi incessante. Escreveu e comandou as principais publicações comunistas do país, como ‘Classe Operária’, ‘Imprensa Popular’ e ‘Voz Operária’. Publicou “O Escravismo Colonial” (1978), "A burguesia brasileira" (1981), "Combates nas trevas" (1987) e “Marxismo sem utopia” (2005), entre outros livros. Foi professor visitante no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP). Nos últimos anos, ainda escrevia e atendia convite para debates e conferências.
Seus últimos trabalhos provocaram polêmica entre a ortodoxia marxista ao atualizar a teoria com conceitos que vão da democracia à ecologia. “Para novos tempos são necessárias novas ideias. E não fico com receio de apresentar essas novas ideias”, costumava dizer.
Em “Marxismo sem utopia”, defendeu que o proletariado, ontologicamente, seria reformista, e não revolucionário. E que esse impulso acabou sendo importante para ampliar a esfera de direitos das sociedades. O historiador ainda apontava os direitos humanos como valores fundamentais e universais, e não invenções burguesas a serem combatidas, como afirmam parcela dos marxistas.
Em uma entrevista ao programa Roda Vida, da TV Cultura, em janeiro de 2006, afirmou: “A história mostrou que a produção tem limites que Marx não conheceu. Marx não conheceu a ecologia. Têm limites ecológicos, os recursos naturais são limitados e o abuso deles provoca o efeito-estufa, a poluição e outros problemas graves para a própria sociedade humana”.
Com aguçada sensibilidade, notava a complexidade das sociedades e dos conflitos contemporâneos, não mais protagonizados apenas por classes sociais, mas também por idosos, os homens, as mulheres, profissionais de várias áreas, culturas diferentes. Diante disso, não havia como vislumbrar o desaparecimento do Estado: “É necessário um órgão superior, que é o Estado. E que seja um Estado democrático, obviamente. Por isso eu falo em democracia”.
Em nota, a presidenta Dilma Rousseff lamentou a morte de Gorender. Disse que o conheceu no Departamento de Ordem Polícia e Social (Dops), de São Paulo, onde estiveram presos, nos anos 1970. "Ele estava convalescente de torturas e foi conselheiro importante em um momento crucial na minha vida", declarou Dilma.
Também em nota, o ex-presidente Lula disse que Gorender foi um dos maiores historiadores e pensadores da esquerda brasileira e que “militou pelos direitos dos trabalhadores e pela transformação social do Brasil”. “Neste momento de dor e perda, queremos estender nossa solidariedade a todos os seus familiares, amigos, alunos e admiradores”, concluiu o ex-presidente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário