As quatro irmãs
Negócios familiares, proximidade com governos, financiamento
de campanhas e diversificação de atividades – da telefonia ao setor
armamentício – compõem a história das gigantes Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa e
Andrade Gutierrez
Apesar de mais conhecidas no Brasil por sua atuação no setor
de construção civil, as chamadas “quatro irmãs” – Odebrecht, OAS, Camargo
Corrêa e Andrade Gutierrez – hoje atuam em diversas outras atividades. As
empreiteiras respondem apenas por parte dos lucros destes grupos econômicos que
atuam em todos os continentes, com foco nos mercados da África, América Latina
e Ásia. Juntas, possuem empreendimentos que vão do agronegócio à moda, passando
pela petroquímica, setor armamentício, telefonia e operação de concessões
diversas.
Os controladores, porém, permanecem os mesmos e os maiores
ganhos ficam com as famílias que comandam as empresas. “O controle de base
familiar é uma característica da formação do capital monopolista dos grupos
econômicos constituídos no Brasil. Embora isso não impeça a abertura de
capital, esta é feita de modo a preservar sempre o controle acionário dos
ativos mais rentáveis pelas famílias controladoras. Isso confere à estrutura
societária desses grupos um formato piramidal, em que um controlador último
controla toda uma cadeia de empresas”, analisa o cientista político da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) João Roberto, que
coordena o Instituto Mais Democracia.
Além do controle familiar, outro traço comum é o fato de
serem grandes financiadoras de campanhas. Entre as eleições de 2002 e 2012,
juntas, as quatro empresas investiram mais de R$ 479 milhões em diversos
comitês partidários e candidaturas pelo Brasil. No Estado do Rio de Janeiro, o
PMDB é de longe o partido mais beneficiado, com R$ 6,27 milhões, mais que a
soma dos quatro seguintes: PT, PSDB, PV e DEM. Porém os repasses podem ser
ainda maiores em anos não-eleitorais. Em 2013, por exemplo, somente a Odebrecht
repassou R$ 11 milhões dos R$ 17 milhões arrecadados pelo PMDB. Veja mais no
infográfico:
Infografia: Bruno Fonseca
Além dos contratos para obras públicas, o governo federal
também incentiva o negócio dessas empresas através do BNDES. Por meio da Lei de
Acesso à Informação a reportagem apurou que, entre 2004 e 2013, o banco
realizou 1665 transferências para as construtoras das “quatro irmãs”,
totalizando mais de R$ 1,7 bilhão em empréstimos. Deste total, a Odebrecht e
Andrade Gutierrez foram as maiores beneficiadas, levando R$ 1,1 bilhão. As duas
também lideram o ranking de desembolsos para operações de exportação entre 2009
e março de 2014. Juntas, levaram mais de U$ 5,8 bilhões em empréstimos neste
segmento. “É importante chamar a atenção para o fato de que o BNDES também tem
participações, através do BNDESPAR no capital de empresas controladas pelas
referidas empreiteiras, como a CPFL, controlada pela Camargo Correa; a Braskem,
controlada pela Odebrecht; e da Oi/Telemar, controlada pela Andrade Gutierrez”,
destaca João Roberto.
Conheça a história dessas quatro gigantes.
OAS
“Obras Arranjadas pelo Sogro”, “Obrigado Amigo Sogro”,
“Organização Apoiada pelo Sogro”… As paródias com a sigla da construtora OAS
vão tão longe quanto a imaginação permite. Em comum, a eterna gratidão da
empresa ao “sogro”, que pode ser descrito com outras três letras: ACM, ou
Antônio Carlos Magalhães, político símbolo do coronelismo na Bahia. Já o
referido genro atende pelo nome de Cesar Araújo Mata Pires, dono do grupo
empresarial, que debutou na lista de bilionários da Forbes em 2014 com
aproximadamente R$ 3,6 bilhões em patrimônio pessoal.
Criada em 1976, a empresa levou apenas oito anos para ficar
entre as dez maiores do Brasil. Além do “A” de Cesar Araújo, a sigla da
companhia traz outros dois sobrenomes: “O” de Durval Olivieri e “S” de Carlos
Suarez. Em comum, os três tinham ainda experiência de trabalho na construtora
Odebrecht.
ACM na sala de ex-votos e graças alcançadas da Igreja de
Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador (BA) – Foto: Mathieu Bertrand Struck
Assim, a OAS começou a atuar por meio de subcontratos com a
Odebrecht. Foi por meio dela também que Cesar Araújo conheceu o então
governador Antonio Carlos Magalhães. O futuro encontro dele com a filha de ACM
iria aquecer não só seus corações, mas também os negócios da empresa.
Segundo o historiador Pedro Campos, da Universidade Federal Fluminense,
a OAS atuava apenas no nordeste até o final da década de 80, em especial nos
estados governados por aliados de ACM. “A ARENA era muito poderosa no norte e
nordeste. E Antonio Carlos tinha muitos aliados ali. A OAS chega ao sudeste
apenas na década de 90”, diz. Ex-proprietário da TV Bahia, retransmissora da
Globo na região, e filiado ao PSD, Mata Pires de fato deve muito ao sogro pela
ascensão da OAS.
Hoje, no Rio de Janeiro, a empresa é responsável pela
construção da Transcarioca, parte do consórcio Porto Novo S/A e é uma das
controladoras do Metrô Rio, por intermédio da Invepar. Dentre os projetos
ligados à Copa e Olimpíadas, a OAS também participa dos consórcios do Porto
Maravilha (R$ 7,7 bilhões), Transolímpica (R$ 1,6 bilhão), Reabilitação Ambiental
da Bacia de Jacarepaguá (R$ 673 milhões), do VLT (R$ 1,2 bilhão), além de ter
feito as obras de controle de enchentes na Praça da Bandeira, próximo ao
Maracanã (R$ 292 milhões).
Foto: Mídia Ninja
A OAS foi a empresa que mais financiou campanhas de Sergio
Cabral para o governo do Estado: foi repassado R$ 1,8 milhão diretamente para
suas duas candidaturas, em 2006 e 2010. Em 2008, a construtora também investiu
no principal candidato à prefeitura do Rio: foram R$ 350 mil diretamente para a
campanha de Eduardo Paes. Ainda que se leve em conta os R$ 850 milhões
repassados para o comitê financeiro do PMDB no Rio de Janeiro entre 2006 e
2012, os financiamentos de campanha são uma bagatela perto dos contratos
bilionários firmados com a empresa durante a gestão de ambos.
Apesar do êxito da empresa em todo o país, as condições de
trabalho para os operários da OAS estão longe de serem as melhores. Após
fiscalização em obras do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo no ano passado, o
Ministério Público e Ministério do Trabalho encontraram nada menos que 111
operários em condições análogas à escravidão. A OAS foi obrigada a pagar multa
de R$ 15 milhões.
A OAS foi a empreiteira entre as “quatro irmãs” que mais
demorou para se internacionalizar, expandindo seus negócios apenas em 2003.
Atualmente já realiza diversas operações internacionais, algumas delas por meio
da OAS Finance Limited, subsidiária nas Ilhas Virgens Britânicas, e toca
projetos em praticamente toda América do Sul e Central, além de Moçambique,
Angola, Guiné Equatorial, Gana e Guiné, na África.
No Brasil, a OAS foi uma das investigadas pela Polícia
Federal, durante a Operação Caixa Preta, por irregularidades na licitação de
obras em 10 aeroportos. A Justiça Federal do Distrito Federal julga os
envolvidos por fraude nas licitações e formação de quadrilha. Quatro obras
ainda estão em fase de inquérito no Ministério Público: os aeroportos de
Uberlândia, Cuiabá, Corumbá e de Brasília.
O Império de Areia
Em 1926, seria difícil imaginar que as carroças de Sebastião
Ferraz de Camargo um dia fariam de sua futura viúva a mulher mais rica do
Brasil, com um patrimônio de US$ 13 bilhões. Aos 17 anos o jovem de Jaú (SP)
transportava areia para a construção de estradas no interior paulista. Dez anos
depois, fundou a Camargo Corrêa & Cia Ltda em parceria com o advogado
Sylvio Correa, que deixaria sua marca no nome da empresa mesmo tendo saído dela
em 1964. Em 1985, Sebastião Camargo já comandava a maior empreiteira do Brasil
e era doutor honoris causa na Escola Superior de Guerra – mesmo tendo o
primário inconcluso.
Diplomação na Escola Superior de Guerra (Créditos: Acervo
CDMCC)
De fato, não foram apenas os cavalos que levaram a carroça
de Sebastião ao topo da economia brasileira. Sua decisiva proximidade com a
cúpula de Brasília começou com a construção das vias de acesso à própria
capital, no Governo JK, mas foi estreitada com a ditadura militar. “A Camargo
Correa é a maior empreiteira do regime militar, a mais vinculada com o projeto
da ditadura”, afirma o historiador Pedro Campos.
Na época, Sebastião se tornou alvo de grupos guerrilheiros,
como a Ação da Libertadora Nacional (ALN) e a VPR, comandada por Carlos
Lamarca. Seu nome é mencionado em depoimentos e publicações da ALN como alvo
preferencial, ao lado de outros empresários, como Pery Igel (Grupo
Ultra/Ultragás) e Roberto Campos (Univest/Investbanco). “Existe uma
características comum entre os três supracitados cavalheiros: todos financiam a
repressão policial da ditadura, pagam os carrascos da OBAN (Operação
Bandeirantes) e dão prêmios de milhões de cruzeiros por cada guerrilheiro
assassinado”, publicou a ALN na quinta edição de seu jornal “Venceremos”.
A proximidade com a ditadura também lhe rendeu diversas
obras públicas para alavancar seu negócio, mesmo fora do Brasil. A participação
de sua empresa na construção da hidrelétrica de Itaipu, por exemplo, teria sido
uma imposição
ao governo de Ernesto Geisel
feita por seu parceiro de pescaria, o ditador Alfredo Stroessner, que
governou o Paraguai por 35 anos.
Avesso a entrevistas, Sebastião Camargo declarava abertamente
sua simpatia pelo regime autoritário, mesmo após a redemocratização. “Acho que
o grande progresso do Brasil foi no governo militar”, disse o fundador da
empreiteira em entrevista para a Folha de São Paulo, em 1990.
Reprodução da tese “A ditadura dos empreiteiros” de Pedro
Campos
Enquanto se fortalecia na construção civil, Sebastião
começou a diversificar e internacionalizar seus negócios. Em 1978, a empresa
estreou no exterior na liderança de um consórcio internacional para construir
uma usina hidrelétrica na Venezuela. A estratégia funcionou. Em 2012 pouco mais
da metade da receita líquida de R$ 23,372 bilhões da empresa veio do ramo de
cimento (com a InterCement) ou engenharia; o restante vem de áreas como
concessões de transporte e energia (CCR, CPFL Energia), indústria naval
(Estaleiro Atlântico Sul), incorporação imobiliária e vestuários e calçados
(Alpargatas). Pertencem a este último grupo, inclusive, as marcas mais
conhecidas da empresa, como as Havaianas, Topper, Rainha, Mizuno e Osklen.
O império da mais antiga das empreiteiras se viu fortemente
abalado em 2009 com a operação Castelo de Areia da Polícia Federal. A
investigação sobre crimes financeiros e lavagem de dinheiro da empresa trouxe à
tona denúncias de formação de cartel, fraudes a licitações e pagamentos
milionários a políticos de alto escalão, que beneficiariam inclusive o atual
vice-presidente Michel Temer. Envolvendo diversos partidos, como o PMDB, PT,
PSDB, PR, DEM, PCdoB, PSB e PP, a investigação causou embaraços tanto ao
governo Lula como à oposição.
A Camargo Corrêa foi denunciada pelo Ministério Público
Federal por formação de cartel nas obras do metrô de Salvador junto com a
Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão e outras empresas que também
estariam envolvidas no acordo. Para se defender, contratou os serviços de
advocacia do ex-ministro da Justiça Márcio
Thomaz Bastos por nada menos que R$ 15
milhões. A batalha jurídica chegou ao Supremo Tribunal de Justiça, que
suspendeu a operação em 2011, alegando ilegalidade na coleta de provas.
Ainda hoje, porém, a Camargo Corrêa sente os efeitos da
investigação. Documentos ausentes do processo original da Castelo de Areia
chegaram ao Procurador-Geral da República no final do ano passado e podem
reabrir o caso, que envolveria também um esquema de pagamento de propinas na
concessão do Metrô Rio durante a gestão de Sérgio Cabral. Segundo
reportagem da Revista
Época, a Polícia Federal teria descoberto tardiamente a relação entre parte
das provas apreendidas na operação e o pagamento de uma dívida de R$ 40 milhões
do Estado do Rio com a Camargo Corrêa por intermédio da Opportrans. Esta empresa
do Grupo Opportunity teria quitado a dívida do Estado em 12 parcelas em 2008,
livrando-o assim de cinco ações judiciais movida pela empreiteira. Por sua vez
a Opportrans ganhou a renovação de seu controle da concessão do Metrô Rio até
2038, porém a repassou um ano depois para a OAS e os fundos de pensão do Banco
do Brasil e da Petrobras. A reportagem aponta que, para cada parcela recebida
pela Camargo Corrêa, 5% teria sido destinado a Wilson Carlos de Carvalho,
secretário de Governo e coordenador das campanhas de Cabral. Amigo de longa
data, marido de sua prima e ex-sócio do Governador, Carlos Emanuel Miranda
também teria recebido o mesmo quinhão, por meio de pagamentos no exterior.
Em 2010, ao lado da OAS, a Camargo Corrêa foi a empresa que
mais investiu na campanha de Sérgio Cabral para o governo do Estado. Na
ocasião, a empresa doou R$ 2 milhões para o PMDB apenas no Rio de Janeiro.
Deste total, R$ 1 milhão foi para a campanha de Cabral. Antigo aliado do PMDB,
Lindbergh Farias (PT) recebeu o mesmo valor para sua candidatura ao senado.
Hoje rival da chapa peemedebista – pré-candidato ao governo do Rio – Lindbergh
recebeu ainda R$ 250 mil diretamente do empresário Julio Gerin de Almeida
Camargo naquele ano.
Dentre as quatro irmãs, a Camargo é a empreiteira com menor
participação em projetos envolvendo Copa e Olimpíadas. Suas participações se
dão por intermédio da Invepar, empresa controlada por ela junto com os três
maiores fundos de pensão do país. A Invepar está presente nas obras da
Transolímpica e do VLT do Centro do Rio de Janeiro, cujos orçamentos somados
chegam a R$ 2,8 bilhões. Por meio da Intercement, outra empresa do seu grupo
econômico, a Camargo Corrêa consta ainda entre os condenados pelo CADE no caso
do “cartel do cimento”, onde o órgão aplicou a maior da multa de sua histórica:
R$ 3,1 bilhões.
De Minas para o mundo
Santo Estevão, Sant’Ana e São Miguel. Assim são chamadas as
administradoras que controlam a holding Andrade Gutierrez S.A, segundo
levantamento do projeto Proprietários do Brasil. Por trás da santa trindade
estão cerca de vinte membros da família Andrade e dois da Gutierrez, que
dividem entre si o controle das três empresas; à frente, um dos maiores grupos
econômicos do Brasil, com uma receita líquida de quase 14 bilhões de reais em 2012,
segundo seu último relatório financeiro publicado.
Juscelino Kubitschek com a faixa presidencial
Da pequena empresa iniciada em Minas Gerais na década de 40
pelos irmãos Roberto e Gabriel Andrade, ao lado do amigo Flávio Gutierrez, até
a atual multinacional presente em 44 países (incluindo grandes potências como
Alemanha, Rússia, Índia e países com economia de menor expressão como Gana,
Ucrânia e Argélia), há um longo caminho marcado por um faro apurado para
oportunidades.
Irmão de Roberto e Gabriel, José Maurício de Andrade
preferiu a política do que a engenharia. Entre 1947 e 1969, ele foi eleito duas
vezes deputado estadual e três vezes deputado federal. Durante a gestão de
Juscelino Kubitschek no estado de Minas Gerais, José Maurício foi líder do
governo na Assembleia Legislativa, além de ter trabalhado na candidatura do
conterrâneo.
Não foi à toa que os negócios dos seus irmãos se expandiram
na esteira do crescimento de JK no cenário político nacional: as primeiras
obras rodoviárias da empresa se deram quando ele assumiu o governo; e a estreia
fora do Estado, com as obras da BR-3 que ligou o Rio de Janeiro a Belo
Horizonte, deu-se quando JK chegou à presidência.
Como outras empreiteiras, a Andrade Gutierrez encontrou sua
mina de ouro nas obras públicas. Segundo reportagem da Revista
Exame, esses contratos correspondiam a 98% do faturamento da empresa em
1989, durante o Governo Sarney. Na mesma época, percebendo a retração dos
investimentos públicos para o setor de infraestrutura que se desenhava por
conta da crise econômica do país na década de 1980, foi a vez de outro Andrade,
filho de Roberto, alinhar a empresa com os novos rumos da economia. Naquela
época, Sergio Andrade foi o grande mentor da reestruturação da Andrade
Gutierrez e sua expansão para além da construção.
Mas se Sérgio Andrade arquitetou a entrada da Andrade
Gutierrez no ramo das teles, foi Otávio Marques quem realizou a engenharia da
operação. Em 1992, ele ingressou na empresa trazendo na bagagem sua experiência
na presidência da Telemig e da Telebrás, além de sua atuação na Cemig. Seis
anos depois, a Telebrás foi vendida na maior privatização do Brasil por mais de
R$ 22 bilhões.
Na ocasião, a Tele Norte Leste (posteriormente transformada
em Telemar/Oi) foi entregue a um consórcio composto pela Andrade Gutierrez e
outras empresas, como a La Fonte Participações, de Carlos Jereissati, irmão do
ex-presidente do PSDB, Tasso Jereissati. Segundo dados do último relatório, o
setor de telecomunicações foi responsável por 43,2% da receita bruta em 2012:
aproximadamente R$ 7,2 bilhões.
Logo depois, em 1998, a Andrade Gutierrez criou a CCR para
atuar no mercado de concessões para administração de rodovias no Brasil. Assim,
a empresa encerrou o século passado com o caminho pavimentado para expandir no
novo milênio.
O sucesso da estratégia de Sérgio Andrade e Otávio Azevedo é
evidente nos números da companhia. Em 2010, o setor de telecomunicações
respondia por 56,76% dea receita bruta de R$ 18 bilhões da empresa.
Àquela altura, Sérgio já havia passado o bastão da
presidência do grupo Andrade Gutierrez para Otávio Azevedo, que permanece no
cargo até hoje. Atualmente, a CCR possui participação em diversos consórcios no
setor de transporte não só no Brasil, como também no exterior. A lista de
empresas do grupo CCR é grande e cruza fronteiras: Ponte Rio-Niterói,
NovaDutra, ViaLagos, RodoNorte, AutoBAn, ViaOeste, RodoAnel, Renovias,
ViaQuatro, Actua, Engelog, Controlar, EngelogTec, Barcas, SAMM, STP,
Transolímpica, Aeroporto Internacional de Quito, Aeroporto Internacional de San
José e Aeroporto Internacional de Curaçao.
Atualmente, também fazem parte da cadeia de controle da
Andrade Gutierrez empresas como a Light, Sanepar e a Cemig. A mais nova aposta
do grupo é a Logimed, empresa especializada na gestão de suprimentos, operação
logística e sistemas de tecnologia da informação para hospitais. A empresa
presta serviços em São Paulo, para a Santa Casa de São Paulo, Santa Casa de
Marília e a Unimed, e em Minas Gerais, para o Lifecenter Hospital.
Entre os dez maiores projetos relacionados à Copa e
Olimpíadas no Rio de Janeiro, a Andrade Gutierrez foi a segunda maior
beneficiada. A empresa garantiu seu quinhão nos orçamentos para a reforma do
Maracanã (R$ 1,2 bilhão), Transolímpica (R$ 1,6 bilhão), Parque Olímpico (R$
2,1 bilhões), VLT do Centro do Rio (R$ 1,2 bilhão), Transcarioca (R$ 1,9
bilhão) e Reabilitação da Bacia de Jacarepaguá (R$ 673 milhões). Na maior parte
deles, a Andrade Gutierrez tem a Odebrecht como parceira no negócio. São
exceções apenas as duas últimas obras.
Segundo matéria
da Folha de São Paulo, a Andrade Gutierrez compartilhou documentações com a
Odebrecht em uma concorrência para obras do PAC (Programa de Aceleração do
Crescimento) nas favelas do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Ambas
empresas também foram alvo de denúncia do Ministério Público por suspeita de
formação de cartel em São Paulo para a construção da Linha 5 do Metrô.
Dentre grandes, a gigante
A família Odebrecht tem muito a comemorar no aniversário
deste ano de 70 anos de empresa. Maior beneficiada direta com os recursos
investidos em obras ligadas à Copa e Olimpíadas no Rio de Janeiro, ela é hoje a
líder no setor de construção civil no Brasil e uma multinacional de peso.
Dos dez maiores projetos já licitados envolvendo a Copa e
Olimpíada no Rio de Janeiro, a Odebrecht participa de todos, com exceção de
dois: a Transcarioca e o projeto de despoluição das lagoas da Barra e
Jacarepaguá – neste, é
suspeita
de ter enviado uma
proposta de cobertura para cumprir com uma divisão de obras com suas
concorrentes, de acordo com uma denúncia da revista Época.
O orçamento total dos outros oito projetos com participação
da Odebrecht em consórcios ultrapassa R$27 bilhões.
A empresa já foi investigada pelo Ministério da Justiça por
cartelização em obras em portos no Rio Grande do Sul e São Paulo e denunciada
pelo Ministério Público de São Paulo por participação em um cartel para obras
na linha 5 do metrô da capital paulista. O Conselho
Administrativo de Defesa Econômica(CADE) também apurou práticas de
intimidação à concorrência por meio de acordos de exclusividade com
fornecedores, no processo que trata da construção da Hidrelétrica de Santo
Antônio e Jirau em 2010.
A história da empresa começa com a chegada de Emil Odebrecht
ao Brasil, em 1856. Em terras tropicais, o engenheiro alemão trabalhou na
construção de estradas no sul do país. Tempos depois, seu neto Emílio Odebrecht
fundou uma empresa neste ramo em Recife, em 1923. O negócio faliu, mas inspirou
o bisneto Norberto Odebrecht a fundar a Construtora Norberto Odebrecht.
Hoje, a Odebrecht possui mais de R$ 142,3 bilhões em ativos,
de acordo com seu
último relatório financeiro. Ao todo, são mais de 175 mil funcionários
trabalhando em 25 países dos cinco continentes, sendo 27% estrangeiros. A
companhia atua em diversos setores, como petróleo, agronegócio, meio ambiente,
defesa, transporte, finanças, entre outros. Apesar de reconhecida
principalmente como empreiteira, grande parte de sua receita não vem do ramo de
construções ou do mercado imobiliário, mas por meio do refino do petróleo
brasileiro – mantendo íntima e polêmica relação com a Petrobras.
No final do ano passado, por exemplo, veia à tona a suspeita
de superfaturamento em um contrato de US$ 825 milhões com a petrolífera: ali
constavam coisas como o valor R$ 7,2 milhões para aluguel de três máquinas de
fotocópias e R$ 22 mil como salário mensal de um pedreiro nos Estados Unidos, segundo documentos obtidos pela Agência Estado.
Edifício-sede da Petrobras: obra que marcou o início da
atuação da Odebrecht no Sudeste – Foto: Rodrigo Soldon
O estreitamento de laços entre a Odebrecht e a Petrobras
deve muito a um Emílio, mas não aquele da família Odebrecht. Embora tenha
realizado a primeira obra para a Petrobras – um oleoduto na Bahia – no mesmo
ano em que a empresa nasceu, em 1953, – o que define como início de “uma
importante parceria que perdura até hoje“ em seu site, a empresa
não era mais que uma empreiteira regional de pequeno porte até o início da
ditadura militar. A partir de então as coisas mudaram – e rápido, em especial
após o governo de Emílio Médici (1969-1974).
Para o historiador Bernardo Galheiro, sua chegada ao poder
(1969-1974) estava ligada a uma conciliação entre os interesses de empresários
paulistas e baianos. “Na época, a Odebrecht era ligada com outros setores da
burguesia baiana, como o grupo Rocha Miranda, família Calmon de Sá e a família
Mariani. No governo Médici, eles passaram a dividir o assento do aparato
estatal com a burguesia de São Paulo. No de Geisel, assumem o comando”, diz.
“Quando Geisel assume a presidência da Petrobras, ainda no
Governo Médici, ele passa a contratar sistematicamente a Odebrecht; quando
assume a presidência do país [1974-1979], a empresa dá um salto”, confirma
Pedro Campos, que pesquisou a ascensão das empreiteiras no regime militar. Os
números do período não deixam dúvida: em 1971, a empresa era a 19ª maior
construtora do país; dois anos depois alcançava o terceiro lugar.
Reprodução da tese “A ditadura dos empreiteiros” de Pedro
Campos
Não por acaso, o primeiro projeto da Odebrecht fora do
Nordeste ocorre naquele período, a construção da sede da Petrobras no Rio. Um
marco não apenas da expansão da empresa, mas da aproximação que seria decisiva
para a futura diversificação de seus negócios. Durante a década de 1970, a
Odebrecht assumiu obras importantes, como o Aeroporto Internacional do Rio de
Janeiro, o campus da Universidade da Guanabara (atual UERJ) e a Usina Nuclear
de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
Com o fim do “milagre econômico”, veio a retração dos
investimentos públicos em obras. Então, já como uma das maiores empreiteiras do
país, a Odebrecht passa a comprar empresas no setor petroquímico. Segundo o
site da companhia, “a estratégia adotada pela Odebrecht para construir uma
petroquímica brasileira líder no setor na América Latina envolveu uma série de
outras aquisições. Muitas possibilitadas pelo Programa Nacional de
Desestatização, iniciado na década de 90, no qual o Governo Federal vendeu
participações em empresas da área”. Reunindo todas as empresas do ramo
incorporadas, em 2000 a Odebrecht cria a Braskem.
No Governo Lula, a Braskem consolidou o domínio do setor
petroquímico no Brasil, tendo a Petrobras e o BNDES como acionistas do negócio.
Concorrendo apenas com empresas estrangeiras, em um país com um dos maiores
impostos do mundo para importação de resinas termoplásticas, a Braskem controla
o preço de derivados de petróleo. No ano passado, em requerimento
para a redução das taxas de importação, o deputado Sandro Mabel (PMDB)
considerou a Braskem um “monopólio com mais de 80% do mercado de resinas
termoplasticas”, cujo poder de mercado cria “inflação nos produtos que são
consumidos pela classe mais necessitada”.
A Odebrecht vem recebendo seguidamente financiamentos
bilionários do BNDES: entre 2004 e 2013, a Fundação Odebrecht, a construtora e
a Odebrecht Óleo e Gás receberam juntas mais de R$ 498 milhões, segundo
levantamento feito pela reportagem com dados obtidos no site da empresa e por
Lei de Acesso à Informação. Mas a preferida do BNDES é a Braskem: apenas entre
2008 e 2013, esta empresa do grupo recebeu mais de R$ 4,1 bilhões em
empréstimos. A Odebrecht é ainda a maior beneficiada com desembolsos do BNDES
para operações de exportação. Entre 2009 e março de 2014, foram repassados mais
de U$ 5 bilhões para a empresa.
Foto: Mila Cordeiro / Governo da Bahia
Recentemente, a família entrou também no setor armamentício,
com a Odebrecht Defesa e Tecnologia, que “concebe, implanta, integra e gerencia
tecnologias e produtos de uso militar e civil”. Entre 2007 e 2010 o orçamento
do Ministério da Defesa aumentou 45%. E a Odebrecht foi uma das maiores
beneficiadas pelos investimentos na Marinha. Junto com a empresa francesa
DCNS abocanhou um contrato de R$ 21 bilhões – sem licitação –
para a construção do submarino nuclear brasileiro, a ser entregue em 2023, além
quatro submarinos convencionais.
Mesmo após deixar a presidência, Lula continua fortalecendo
a empresa dentro e fora do país. Em viagem oficial o ex-presidente escalou um
executivo da Odebrecht para a comitiva que representaria o país na Guiné
Equatorial. De
acordo com
levantamento
da Folha de São Paulo, feito em março de 2013, a Odebrecht, OAS e Camargo
Corrêa pagaram quase metade das viagens internacionais de Lula, após deixar a
presidência, até aquela data.
Segundo Emílio Odebrecht Jr, sua aproximação com Lula
começou em 1992, quando Mário Covas apresentou um ao outro. Em 2008, o
empresário afirmou que o encontro gerou “uma relação extremamente gratificante”
e sentenciou: “O presidente
Lula não tem nada de esquerda, nunca foi de esquerda”.
Três anos depois, na apresentação do projeto do Itaquerão –
construído também pela empresa – o mesmo Emílio Odebrecht saudou
a chegada de Lula exclamando: “Meu chefe!”.
Adriano Belisário realizou a pesquisa em parceria com
o o projeto “Quem São Os
Proprietários do Brasil?“
Fonte: http://apublica.org/2014/06/as-quatro-irmas/
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