Guerra do Afeganistão: um enigma e quatro hipóteses
A Guerra do Afeganistão se transformou numa incógnita para os analistas políticos e militares. Hoje está claro que os Talibãs não participaram dos atentados de 11 de setembro, nos EUA, e eles estão cada vez mais distantes da Al-Qaeda e das redes terroristas cuja liderança e sustentação estão sobretudo, na Somália, no Yemen, e no Paquistão.
José Luís Fiori
“Whenever western leaders ask themselves the question, why are we in Afghanistan, they come up with essentially the same reply: “to prevent Afghanistan becoming a failed state and haven for terrorists”. Yet there is very little evidence that Afghanistan is coming stable. On the contrary, the fighting is intensifying, casualities are mounting and the Taliban are becoming more confident.”
Gideon Rachman, Financial Times, 26 de junho de 2010
A superioridade numérica e tecnológica das forças americanas, e da OTAN, com relação aos guerrilheiros talibãs do Afeganistão, é abismal. No entanto, a situação estratégica dos EUA e dos seus aliados, depois de nove anos de guerra, vem piorando a cada dia que passa. Em apenas um mês, o presidente Obama foi obrigado a demitir, por insubordinação, o famoso Gal. Stanley McChystal, que ele havia nomeado, e que era o símbolo da “nova” estratégia de guerra do seu governo. E agora enfrenta um dos mais graves casos de vazamento de informação da história militar americana, com detalhes sanguinários das tropas americanas, e acusações de que o Paquistão - seu principal aliado – é quem prepara e sustenta os guerrilheiros talibãs.
Depois do envio de mais 30 mil soldados americanos, em 2010, a situação militar dos aliados não melhorou; os ataques talibãs são cada vez mais numerosos e ousados; e o numero de mortos é cada vez maior. Por outro lado, o apoio da opinião publica americana e mundial é cada vez menor, e alguns dos principais aliados dos EUA, como a Holanda e o Canadá, já anunciaram a retirada de suas tropas, e a própria Grã Bretanha, vem sinalizando na mesma direção. Faz algum tempo, o general americano, Dan McNeil, antigo comandante aliado, declarou à revista alemã Der Spiegel, que seriam necessários 400 mil soldados para ganhar a guerra, e talvez por isto, quase ninguém mais acredite na possibilidade de uma vitória definitiva.
Por outro lado, o governo do presidente Hamid Karzai está cada vez mais fraco e corrompido pelo dinheiro da droga e da ajuda americana, a sociedade afegã está dividida entre seus “senhores da guerra”, e o atual estado afegão só se sustenta com a presença das tropas estrangeiras. E por fim, a luta no Afeganistão, contra as redes terroristas e contra o al-Qaeda de Bin Laden também vai mal, e está sendo travada no lugar errado. Hoje está claro que os Talibãs não participaram dos atentados de 11 de setembro, nos EUA, e eles estão cada vez mais distantes da Al-Qaeda e das redes terroristas cuja liderança e sustentação estão sobretudo, na Somália, no Yemen, e no Paquistão. E quase todos os estrategistas consideram que seria mais eficaz a retirada das tropas e o rastreamento e controle à distância das redes terroristas que ainda existam no território talibã.
Resumindo: a possibilidade de vitória militar é infinitesimal; os talibãs não defendem ataques terroristas contra os EUA e não dispõem de armas de destruição de massa; e não existem interesses econômicos estratégicos no território afegão. Por isso, a Guerra do Afeganistão se transformou numa incógnita para os analistas políticos e militares.
Do nosso ponto de vista, entretanto, a explicação da guerra e qualquer prospecção sobre o seu futuro requerem uma teoria e uma análise geopolítica de longo prazo, sobre a dinâmica das grandes potências que lideram ou comandam o sistema mundial, desde sua origem na Europa, nos séculos XV e XVI. Em síntese:
i) Nesse sistema mundial “europeu”, nunca houve nem haverá “paz perpétua”, porque se trata de um sistema que precisa da preparação para guerra e das próprias guerras para se ordenar e expandir;
ii) Nesse sistema, suas “grandes potências” sempre estiveram envolvidas numa espécie de guerra permanente. E no caso da Inglaterra e dos EUA, eles começaram – em média - uma nova guerra a cada três anos, desde o início da sua expansão mundial;
iii) Além disso, este mesmo sistema sempre teve um “foco bélico”, uma espécie de “buraco negro”, que se desloca no espaço e no tempo e que exerce uma força destrutiva e gravitacional sobre todo o sistema, mantendo-o junto e hierarquizado. Depois da Segunda Guerra Mundial, este centro gravitacional saiu da própria Europa e se deslocou na direção dos ponteiros do relógio: para o nordeste e sudeste asiático, com as Guerras da Coréia e do Vietnã, entre 1951 e 1975; e depois, para a Ásia Central, com as Guerras entre o Irã e o Iraque, e contra a invasão soviética do Afeganistão, durante a década de 80; com a Guerra do Golfo, no início dos anos 90; e com as Guerras do Iraque e do Afeganistão, nesta primeira década do século XXI.
iv) Deste ponto de vista, se pode prever que a Guerra do Afeganistão deverá continuar, mesmo sem perspectiva de vitória, e que os EUA só se retirarão do território afegão, quando o “epicentro bélico” do sistema mundial puder ser deslocado, provavelmente, na mesma direção dos ponteiros do relógio.
José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Fonte: Carta Maior
sexta-feira, 30 de julho de 2010
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Como o Estado de São Paulo esta entregue aos bandidos.
Ladrões roubam ladrões e provocam série de assassinatos em Itatiba e Jarinu (SP)
ANDRÉ CARAMANTE - DE SÃO PAULO - FSP
Uma trapaça orquestrada por uma quadrilha ligada ao PCC (Primeiro Comando da Capital) contra outra da mesma facção criminosa deflagrou uma guerra entre ladrões no interior de São Paulo que já deixou, até agora, ao menos cinco mortos.
Os corpos começaram a aparecer em junho. Três na área rural de Itatiba (84 km de São Paulo) e dois na cidade vizinha, Jarinu (68 km de SP). Todos foram encontrados do mesmo jeito: amordaçados, com as mãos amarradas por fitas adesivas na frente do corpo e baleados.
Escutas telefônicas realizadas pela Polícia Civil indicam que as mortes foram resultado de um "tribunal do crime", instalado na favela São Camilo, em Jundiaí (58 km de São Paulo).
Nos últimos dias, quatro acusados pelas mortes foram presos. Outros dois ainda são procurados.
ROUBO
A guerra interna começou quando ao menos dez criminosos da região de Jundiaí roubaram uma carga de produtos eletroeletrônicos.
A poucos dias de revender o produto do assalto, os ladrões da facção criminosa em Jundiaí foram surpreendidos. Outros bandidos, também do PCC, roubaram a carga que ainda estava com eles.
Os ladrões assaltados pediram, então, uma autorização para chefes da facção --que estão presos-- para "investigar" o crime.
Com o aval dos presidiários, os chefes dos ladrões de Jundiaí passaram a interrogar cada um dos membros da quadrilha. Descobriram, então, que um deles havia passado informações sobre a carga roubada.
CRUELDADE
A partir da descoberta, os chefes da facção obrigaram o traidor da quadrilha a entregar cada um dos outros criminosos que haviam participado do assalto ao grupo. Os bandidos usaram requintes de crueldade durante o assassinato do grupo que praticou o segundo roubo.
Eles foram amarrados e torturados antes de, finalmente, levarem o tiro fatal. A polícia teve acesso às imagens dos crimes. Os espancamentos e os assassinatos dos julgados pelo PCC costumam ser transmitidos por celular para chefes da facção dentro dos presídios.
Por causa desse monitoramento dos celulares, a polícia acredita que o número de mortos na guerra interna pode chegar a dez.
ANDRÉ CARAMANTE - DE SÃO PAULO - FSP
Uma trapaça orquestrada por uma quadrilha ligada ao PCC (Primeiro Comando da Capital) contra outra da mesma facção criminosa deflagrou uma guerra entre ladrões no interior de São Paulo que já deixou, até agora, ao menos cinco mortos.
Os corpos começaram a aparecer em junho. Três na área rural de Itatiba (84 km de São Paulo) e dois na cidade vizinha, Jarinu (68 km de SP). Todos foram encontrados do mesmo jeito: amordaçados, com as mãos amarradas por fitas adesivas na frente do corpo e baleados.
Escutas telefônicas realizadas pela Polícia Civil indicam que as mortes foram resultado de um "tribunal do crime", instalado na favela São Camilo, em Jundiaí (58 km de São Paulo).
Nos últimos dias, quatro acusados pelas mortes foram presos. Outros dois ainda são procurados.
ROUBO
A guerra interna começou quando ao menos dez criminosos da região de Jundiaí roubaram uma carga de produtos eletroeletrônicos.
A poucos dias de revender o produto do assalto, os ladrões da facção criminosa em Jundiaí foram surpreendidos. Outros bandidos, também do PCC, roubaram a carga que ainda estava com eles.
Os ladrões assaltados pediram, então, uma autorização para chefes da facção --que estão presos-- para "investigar" o crime.
Com o aval dos presidiários, os chefes dos ladrões de Jundiaí passaram a interrogar cada um dos membros da quadrilha. Descobriram, então, que um deles havia passado informações sobre a carga roubada.
CRUELDADE
A partir da descoberta, os chefes da facção obrigaram o traidor da quadrilha a entregar cada um dos outros criminosos que haviam participado do assalto ao grupo. Os bandidos usaram requintes de crueldade durante o assassinato do grupo que praticou o segundo roubo.
Eles foram amarrados e torturados antes de, finalmente, levarem o tiro fatal. A polícia teve acesso às imagens dos crimes. Os espancamentos e os assassinatos dos julgados pelo PCC costumam ser transmitidos por celular para chefes da facção dentro dos presídios.
Por causa desse monitoramento dos celulares, a polícia acredita que o número de mortos na guerra interna pode chegar a dez.
O alter ego de um blogueiro - por Eduardo Guimarães
O alter ego de um blogueiro
Todo blogueiro tem seu alterego, seu outro eu, sua, digamos assim, “identidade secreta”, assim como o Superman ou o Batman. Todavia, por trás de cada um, há um homem – ou uma mulher –, com seus problemas, contradições e fraquezas.
Conversava por telefone com uma leitora e companheira do Movimento dos Sem Mídia sobre esse assunto. Acho que há espaço para tudo. Posso ser o blogueiro– que, muitas vezes, parece estar acima das vicissitudes da vida –, em uma parte do tempo, e posso, também, dedicar-me à família e ao trabalho. Contanto que faça uma coisa de cada vez.
Nesta quinta-feira, por exemplo, o blogueiro deve ceder espaço ao homem, ao pai de família, àquele cidadão como qualquer outro que tem que ganhar o próprio sustento, até para ter tempo para se dedicar ao seu alter ego digital.
E ainda sobra uma raspa de tempo para ser ativista político, como faço ao dirigir o Movimento dos Sem Mídia, que tem, para encarar, o seguinte:
1 – Representação no Ministério Público contra Organizações Globo, Grupo Folha, Grupo Estado, Editora Abril, Jornal Correio Brasiliense, revista IstoÉ e outros veículos que promoveram alarma social durante janeiro de 2008 no âmbito de uma epidemia imaginária de febre amarela.
2 – Representação na Procuradoria Geral Eleitoral contra os institutos de pesquisa Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi por possível crime de falsificação de pesquisa por parte de algum deles.
3 – Preparação de manifesto ao Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação publicitária), a ser assinado e endossado pelos leitores deste blog, contra discriminação racial na publicidade e, sobretudo, na televisão.
4 – Preparação de representação ao Ministério Público Eleitoral por prática de campanha eleitoral antecipada em prol de alguns políticos e contra outros, que estaria ocorrendo por parte de meios de comunicação que ou são concessões públicas ou recebem fartas verbas públicas.
Ufa!
É um fardo, encarar esse rojão todo? Negativo. É uma necessidade. Temos que fazer. Eu, vocês, todos. Temos que ter tempo para o homem comum e para o cidadão, que, necessariamente, não são os mesmos em um país como o nosso.
O homem comum tem que pensar em pagar as contas, cuidar da família etc., e o cidadão tem que fazer blogs, engajar-se em causas de interesse coletivo, pensar no país e na sociedade em que se insere. Com o hábito, descobre-se que os dois, homem e cidadão, são o mesmo.
Preciso desta quinta-feira para ser homem. Só poderei lhes oferecer esta reflexão e uma liberação intermitente de comentários, durante o penúltimo dia útil da semana. Mas já na sexta visto o uniforme de superblogueiro e volto ao embate cidadão.
Até lá.
Eduardo Guimarães
Fonte: http://www.blogcidadania.com.br
Todo blogueiro tem seu alterego, seu outro eu, sua, digamos assim, “identidade secreta”, assim como o Superman ou o Batman. Todavia, por trás de cada um, há um homem – ou uma mulher –, com seus problemas, contradições e fraquezas.
Conversava por telefone com uma leitora e companheira do Movimento dos Sem Mídia sobre esse assunto. Acho que há espaço para tudo. Posso ser o blogueiro– que, muitas vezes, parece estar acima das vicissitudes da vida –, em uma parte do tempo, e posso, também, dedicar-me à família e ao trabalho. Contanto que faça uma coisa de cada vez.
Nesta quinta-feira, por exemplo, o blogueiro deve ceder espaço ao homem, ao pai de família, àquele cidadão como qualquer outro que tem que ganhar o próprio sustento, até para ter tempo para se dedicar ao seu alter ego digital.
E ainda sobra uma raspa de tempo para ser ativista político, como faço ao dirigir o Movimento dos Sem Mídia, que tem, para encarar, o seguinte:
1 – Representação no Ministério Público contra Organizações Globo, Grupo Folha, Grupo Estado, Editora Abril, Jornal Correio Brasiliense, revista IstoÉ e outros veículos que promoveram alarma social durante janeiro de 2008 no âmbito de uma epidemia imaginária de febre amarela.
2 – Representação na Procuradoria Geral Eleitoral contra os institutos de pesquisa Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi por possível crime de falsificação de pesquisa por parte de algum deles.
3 – Preparação de manifesto ao Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação publicitária), a ser assinado e endossado pelos leitores deste blog, contra discriminação racial na publicidade e, sobretudo, na televisão.
4 – Preparação de representação ao Ministério Público Eleitoral por prática de campanha eleitoral antecipada em prol de alguns políticos e contra outros, que estaria ocorrendo por parte de meios de comunicação que ou são concessões públicas ou recebem fartas verbas públicas.
Ufa!
É um fardo, encarar esse rojão todo? Negativo. É uma necessidade. Temos que fazer. Eu, vocês, todos. Temos que ter tempo para o homem comum e para o cidadão, que, necessariamente, não são os mesmos em um país como o nosso.
O homem comum tem que pensar em pagar as contas, cuidar da família etc., e o cidadão tem que fazer blogs, engajar-se em causas de interesse coletivo, pensar no país e na sociedade em que se insere. Com o hábito, descobre-se que os dois, homem e cidadão, são o mesmo.
Preciso desta quinta-feira para ser homem. Só poderei lhes oferecer esta reflexão e uma liberação intermitente de comentários, durante o penúltimo dia útil da semana. Mas já na sexta visto o uniforme de superblogueiro e volto ao embate cidadão.
Até lá.
Eduardo Guimarães
Fonte: http://www.blogcidadania.com.br
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Espanha: Parlamento catalão proíbe touradas a partir de 2012 - Por Efe
Espanha: Parlamento catalão proíbe touradas a partir de 2012
Apoiadores da proibição das touradas celebram decisão da Câmara catalã, em Madri
O Parlamento da Catalunha proibiu hoje (28/7) touradas a partir de 1º de janeiro do 2012. Com 68 votos a favor, 55 contra e 9 abstenções, a Câmara regional catalã deu sinal verde à Iniciativa Legislativa Popular (ILP), avalizada por 180 mil cidadãos, que pedia a proibição, considerada uma das marcas culturais da Espanha.
Trata-se da segunda região espanhola a proibir os festejos envolvendo os touros. A primeira foi a das ilhas Canárias (no Atlântico) que instituiu uma lei de proteção de animais em 1991.
A votação de hoje em uma sessão na Câmara regional, formada por 135 parlamentares, coloca fim a um processo que iniciou em novembro de 2008 e gerou grande expectativa social, política e da mídia, acompanhado sempre pelo olhar atento dos países com tradição taurina como Equador, Colômbia, França, México, Peru, Portugal e Venezuela.
A Iniciativa Popular Legislativa (ILP), que pedia o veto da lida, foi promovida pela plataforma Prou! (Basta!) em defesa dos animais, enquanto o espetáculo taurino como manifestação artística tradicional é um dos argumentos mais generalizados entre os defensores.
A supressão das touradas afetará, a partir de 1º de janeiro de 2012, somente à praça de Touro Monumental de Barcelona.
Apesar de só estar vigente em Barcelona, na Catalunha, uma das regiões mais ricas da Espanha, existem outras tradições com touros, como os "correbous" - espetáculos de rua com touro, onde os animais têm fogo ateado às hastes, mas não são sacrificados.
Com a decisão do Parlamento da Catalunha, abre espaço para a incerteza sobre o futuro das corridas em um país onde o toureio está identificado por amplos setores sociais como "Festa Nacional".
Fonte: Opera Mundi
Apoiadores da proibição das touradas celebram decisão da Câmara catalã, em Madri
O Parlamento da Catalunha proibiu hoje (28/7) touradas a partir de 1º de janeiro do 2012. Com 68 votos a favor, 55 contra e 9 abstenções, a Câmara regional catalã deu sinal verde à Iniciativa Legislativa Popular (ILP), avalizada por 180 mil cidadãos, que pedia a proibição, considerada uma das marcas culturais da Espanha.
Trata-se da segunda região espanhola a proibir os festejos envolvendo os touros. A primeira foi a das ilhas Canárias (no Atlântico) que instituiu uma lei de proteção de animais em 1991.
A votação de hoje em uma sessão na Câmara regional, formada por 135 parlamentares, coloca fim a um processo que iniciou em novembro de 2008 e gerou grande expectativa social, política e da mídia, acompanhado sempre pelo olhar atento dos países com tradição taurina como Equador, Colômbia, França, México, Peru, Portugal e Venezuela.
A Iniciativa Popular Legislativa (ILP), que pedia o veto da lida, foi promovida pela plataforma Prou! (Basta!) em defesa dos animais, enquanto o espetáculo taurino como manifestação artística tradicional é um dos argumentos mais generalizados entre os defensores.
A supressão das touradas afetará, a partir de 1º de janeiro de 2012, somente à praça de Touro Monumental de Barcelona.
Apesar de só estar vigente em Barcelona, na Catalunha, uma das regiões mais ricas da Espanha, existem outras tradições com touros, como os "correbous" - espetáculos de rua com touro, onde os animais têm fogo ateado às hastes, mas não são sacrificados.
Com a decisão do Parlamento da Catalunha, abre espaço para a incerteza sobre o futuro das corridas em um país onde o toureio está identificado por amplos setores sociais como "Festa Nacional".
Fonte: Opera Mundi
Israel, a violência é um beco sem saída - Por Mairead Maguire
Israel, a violência é um beco sem saída
Na década de 70, me diziam que a paz não chegaria à Irlanda do Norte, tal como agora dizem que a paz não é possível entre Israel e Palestina. Perdi minha sobrinha, dois sobrinhos e minha irmã para a violência na Irlanda e isso destroçou meu coração, tal como o sinto destroçado agora, ao ver que o mesmo destino sofrem tantas famílias israelenses e palestinas.
Por Maired Maguire*[
Passaram-se dois meses desde que Israel atacou um comboio humanitário dirigido a Gaza com trágicos resultados, que incluíram a morte de nove pessoas e 40 feridos. Entretanto, como revelam os últimos fatos, tudo parece indicar que o país sairá impune de sua flagrante violação da lei internacional.
No dia 12 de junho, foi informada que uma comissão militar israelense não encontrou falhas na ação dos comandos que participaram do ataque. E, embora o Conselho de Segurança das Nações Unidas e grupos de defesa dos direitos humanos reclamassem uma investigação independente, não há plano algum a respeito em execução. Israel considera que tais esforços a favor de uma investigação independente são uma ameaça para a existência do Estado de Israel. Qual é o resultado de tudo isto? Que os Estados Unidos e o resto da comunidade internacional se fazem de desentendidos a respeito do grave problema.
No dia 5 de junho, eu estava a bordo do Rachel Corrie, um barco que leva o nome de uma jovem ativista norte-americana morta em Gaza por um “bulldozer” (retroescavadeira) do exército israelense. Precisamente, três dias antes havíamos ouvido por um telefone via satélite que comandos israelenses haviam abordado seis barcos, incluindo a nave turca Mavi Marmara, em águas internacionais e que haviam matado e ferido muitas pessoas.
Nós, 19 tripulantes e ativistas a bordo do Rachel Corrie ouvimos que 35 comandos israelenses fortemente armados estavam se preparando para a abordagem de nossa embarcação. Alguns de nós nos perguntamos se teríamos a mesma sorte de nossos colegas do Mavi Marmara.
O assassinato de civis desarmados foi uma notícia devastadora para todos nós. Eles não eram terroristas. Como eu também penso, eles acreditavam que Gaza não deve ser um lugar de sofrimento para seus habitantes.
Na década de 70, me diziam que a paz não chegaria à Irlanda do Norte, tal como agora dizem que a paz não é possível entre Israel e Palestina. Perdi minha sobrinha, dois sobrinhos e minha irmã para a violência na Irlanda e isso destroçou meu coração, tal como o sinto destroçado agora, ao ver que o mesmo destino sofrem tantas famílias israelenses e palestinas.
No entanto, tal como levou a paz à Irlanda do Norte, a resistência não violenta poderá trazer a paz a esta região atormentada pela guerra.
Nesta viagem da Flotilha da Liberdade, o mundo estava ciente do que ocorria. Muitos, eu inclusive, acreditávamos que os fatos trágicos de 31 de maio finalmente abririam os olhos das pessoas para uma tragédia ainda maior, a do castigo coletivo que Israel aplica a 1,5 milhão de palestinos. A violação da lei internacional por Israel está bem documentada pelas Nações Unidas e por muitos organismos independentes de defesa dos direitos humanos.
Apesar disso, as violações continuam com o pretexto da defesa da “segurança nacional” e de que a política de isolar Gaza tem por objetivo debilitar o Hamas.
Porém, essa política claramente não está funcionando. No lugar disso, transformou Gaza no que corretamente foi descrito como a maior prisão a céu aberto do mundo. O bloqueio que Israel impõe à região nos últimos três anos só castiga os palestinos inocentes. A falta de acesso a suprimentos médicos e tratamentos hospitalares causa uma grande perda de vidas. As famílias não podem reconstruir suas casas destruídas durante o brutal ataque a Gaza que matou mais de 1.400 pessoas no inverno 2008-2009.
E o Hamas, objetivo que Israel diz ter e que foi escolhido como o representante do povo palestino em Gaza, é cada vez mais forte.
Entretanto, o recente informe divulgado pelas autoridades militares mostra que Israel pretende continuar com suas ineficazes políticas e sua violência em lugar de optar por medidas a favor da paz. O informe chega inclusive a exaltar os comandos israelenses que mataram nove civis e diz que agiram “adequadamente, com profissionalismo, valentia e iniciativa”.
Outra investigação à parte está em marcha em Israel, conduzida por um juiz aposentado da Suprema Corte de Justiça. Devido aos antecedentes, não há razões para crer que este painel de investigadores faça algo que não seja reforçar a cultura da impunidade de Israel. Nada menos do que uma investigação verdadeiramente independente é o indispensável para as famílias das vítimas do ataque israelense e, o que é até mais importante, para o povo palestino que vive em Gaza.
A comunidade internacional deve finalmente deixar de permitir que Israel siga agindo com descarada falta de respeito em relação à lei internacional e aos direitos humanos. O recente levantamento parcial do cerco a Gaza mostra que a pressão internacional serve, mas o obtido não é suficiente.
É hora de Israel escolher a paz. É hora de os líderes mundiais e a comunidade internacional se unirem para exigir de Israel que levante por completo o cerco a Gaza e ponha fim à ocupação da Palestina, bem como permita que o povo palestino exerça seu direito à autodeterminação.
* Mairead Maguire recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1976 por suas ações para acabar com a violência na Irlanda do Norte. É membro-fundadora da Iniciativa de Mulheres Prêmio Nobel.
Fonte: http://www.revistaforum.com.br
Na década de 70, me diziam que a paz não chegaria à Irlanda do Norte, tal como agora dizem que a paz não é possível entre Israel e Palestina. Perdi minha sobrinha, dois sobrinhos e minha irmã para a violência na Irlanda e isso destroçou meu coração, tal como o sinto destroçado agora, ao ver que o mesmo destino sofrem tantas famílias israelenses e palestinas.
Por Maired Maguire*[
Passaram-se dois meses desde que Israel atacou um comboio humanitário dirigido a Gaza com trágicos resultados, que incluíram a morte de nove pessoas e 40 feridos. Entretanto, como revelam os últimos fatos, tudo parece indicar que o país sairá impune de sua flagrante violação da lei internacional.
No dia 12 de junho, foi informada que uma comissão militar israelense não encontrou falhas na ação dos comandos que participaram do ataque. E, embora o Conselho de Segurança das Nações Unidas e grupos de defesa dos direitos humanos reclamassem uma investigação independente, não há plano algum a respeito em execução. Israel considera que tais esforços a favor de uma investigação independente são uma ameaça para a existência do Estado de Israel. Qual é o resultado de tudo isto? Que os Estados Unidos e o resto da comunidade internacional se fazem de desentendidos a respeito do grave problema.
No dia 5 de junho, eu estava a bordo do Rachel Corrie, um barco que leva o nome de uma jovem ativista norte-americana morta em Gaza por um “bulldozer” (retroescavadeira) do exército israelense. Precisamente, três dias antes havíamos ouvido por um telefone via satélite que comandos israelenses haviam abordado seis barcos, incluindo a nave turca Mavi Marmara, em águas internacionais e que haviam matado e ferido muitas pessoas.
Nós, 19 tripulantes e ativistas a bordo do Rachel Corrie ouvimos que 35 comandos israelenses fortemente armados estavam se preparando para a abordagem de nossa embarcação. Alguns de nós nos perguntamos se teríamos a mesma sorte de nossos colegas do Mavi Marmara.
O assassinato de civis desarmados foi uma notícia devastadora para todos nós. Eles não eram terroristas. Como eu também penso, eles acreditavam que Gaza não deve ser um lugar de sofrimento para seus habitantes.
Na década de 70, me diziam que a paz não chegaria à Irlanda do Norte, tal como agora dizem que a paz não é possível entre Israel e Palestina. Perdi minha sobrinha, dois sobrinhos e minha irmã para a violência na Irlanda e isso destroçou meu coração, tal como o sinto destroçado agora, ao ver que o mesmo destino sofrem tantas famílias israelenses e palestinas.
No entanto, tal como levou a paz à Irlanda do Norte, a resistência não violenta poderá trazer a paz a esta região atormentada pela guerra.
Nesta viagem da Flotilha da Liberdade, o mundo estava ciente do que ocorria. Muitos, eu inclusive, acreditávamos que os fatos trágicos de 31 de maio finalmente abririam os olhos das pessoas para uma tragédia ainda maior, a do castigo coletivo que Israel aplica a 1,5 milhão de palestinos. A violação da lei internacional por Israel está bem documentada pelas Nações Unidas e por muitos organismos independentes de defesa dos direitos humanos.
Apesar disso, as violações continuam com o pretexto da defesa da “segurança nacional” e de que a política de isolar Gaza tem por objetivo debilitar o Hamas.
Porém, essa política claramente não está funcionando. No lugar disso, transformou Gaza no que corretamente foi descrito como a maior prisão a céu aberto do mundo. O bloqueio que Israel impõe à região nos últimos três anos só castiga os palestinos inocentes. A falta de acesso a suprimentos médicos e tratamentos hospitalares causa uma grande perda de vidas. As famílias não podem reconstruir suas casas destruídas durante o brutal ataque a Gaza que matou mais de 1.400 pessoas no inverno 2008-2009.
E o Hamas, objetivo que Israel diz ter e que foi escolhido como o representante do povo palestino em Gaza, é cada vez mais forte.
Entretanto, o recente informe divulgado pelas autoridades militares mostra que Israel pretende continuar com suas ineficazes políticas e sua violência em lugar de optar por medidas a favor da paz. O informe chega inclusive a exaltar os comandos israelenses que mataram nove civis e diz que agiram “adequadamente, com profissionalismo, valentia e iniciativa”.
Outra investigação à parte está em marcha em Israel, conduzida por um juiz aposentado da Suprema Corte de Justiça. Devido aos antecedentes, não há razões para crer que este painel de investigadores faça algo que não seja reforçar a cultura da impunidade de Israel. Nada menos do que uma investigação verdadeiramente independente é o indispensável para as famílias das vítimas do ataque israelense e, o que é até mais importante, para o povo palestino que vive em Gaza.
A comunidade internacional deve finalmente deixar de permitir que Israel siga agindo com descarada falta de respeito em relação à lei internacional e aos direitos humanos. O recente levantamento parcial do cerco a Gaza mostra que a pressão internacional serve, mas o obtido não é suficiente.
É hora de Israel escolher a paz. É hora de os líderes mundiais e a comunidade internacional se unirem para exigir de Israel que levante por completo o cerco a Gaza e ponha fim à ocupação da Palestina, bem como permita que o povo palestino exerça seu direito à autodeterminação.
* Mairead Maguire recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1976 por suas ações para acabar com a violência na Irlanda do Norte. É membro-fundadora da Iniciativa de Mulheres Prêmio Nobel.
Fonte: http://www.revistaforum.com.br
Austeridade fiscal: as novas armas de destruição em massa - por Christopher Hayes
Austeridade fiscal: as novas armas de destruição em massa
Talvez o aspecto mais famoso do modo pelo qual nos foi vendida a Guerra do Iraque foi a falsidade de seu pretexto. Nunca houve armas de destruição de massa, conforme acabou por admitir o próprio Paul Wolfowitz. Elas eram apenas “algo sobre o que o todo mundo concordava”. E assim ocorre agora também com os déficits públicos. Os conservadores e seus aliados querem desmontar o Estado democrático e social de direito e redistribuir a riqueza para os de cima. Esse é o objetivo. Os déficits só são “algo sobre o que todo mundo concorda”, as armas de destruição de massa desta crise fabricada.
O artigo é de Christopher Hayes, editor da The Nation.
Se vocês prestarem atenção no que ocorreu na última década, não será surpreendente constatar que as elites políticas dos EUA se achem agora em meio a uma atabalhoada discussão sobre o futuro da nação estadunidense. Mas, mesmo descontando os níveis de degradação a que chegaram o establhisment de Washington, não deixa de ser assombroso o pânico criado em torno do tema da dívida pública.
Comecemos pelos fatos. Quase todo o déficit deste ano e os déficits que se projetam para o curto e médio prazo é resultado de três coisas: as guerras em curso no Afeganistão e no Iraque, os cortes de impostos de Bush e a recessão. A solução para nossa situação fiscal é: terminar com as guerras, deixar que expire o prazo dos cortes de impostos e restaurar um crescimento robusto.
Nossos déficits estruturais no longo prazo exigem que sejamos capazes de controlar a inflação na assistência de saúde do mesmo modo que o fazem os países com sistemas de saúde com cobertura universal.
Agora mesmo enfrentamos uma crise de desemprego que ameaça nos mergulhar em um grave e longo período de baixo crescimento, uma espécie de década perdida que causará uma tremenda miséria, degradaráo o capital humano da nação, desbaratará a todo uma geração de jovens trabalhadores durante anos e abrirá um rombo no balanço contábil do Estado. O melhor para sair deste cenário é mais gasto público para tutelar o regresso da economia a um caminho saudável. Pode ser que a economia esteja viva, mas isso não significa que esteja sã. Há razões para seguir tomando antibióticos no momento em que começamos a nos sentir bem.
No entanto, o tamborilar filisteu de pânico dos histéricos do déficit torna-se a cada dia mais ensurdecedor. A julgar por seu programa e seu vídeo on-line, o Festival Aspen das Idéias deste ano foi uma orgia ao ar livre de discursos anti-déficit. O Festival é uma boa janela para observar as preocupações da elite. O fato que seu forum de abertura estivesse saturado pelos abomináveis alertas sobre a quebra vindoura pronunciados por pessoas como Niall Ferguson, Mort Zuckerman e David Gergen é um mau augúrio. Do mesmo modo o painel intitulado “A inquietante emergência fiscal na América: como equilibrar as contas”. Essa atitude não é exclusiva dos colunistas e dos tertulianos midiáticos. Os dirigentes da comissão fiscal de Obama qualificaram de “câncer” os déficits públicos projetados.
A histeria chegou a tal extremo que os senadores republicanos (aos quais se juntou o senador democrata por Nebraska, Ben Nelson) praticaram obstrução parlamentar contra um projeto de extensão das ajudas ao desemprego porque ele não vinha acompanhado de cortes do gasto público. Recorde-se que o custo desta extensão de auxílio para pessoas suficientemente desgraçadas de modo a ser verem apanhadas entre as garras da pior recessão dos últimos 30 anos era de 35 bilhões de dólares. A lei contribuiria para aumentar a dívida em menos de 0,3%.
Tudo isso resulta estridentemente familiar. A atual deliberação – se assim pode ser chamada – sobre os défcitis traz à memória a deliberação nacional sobre a guerra às vésperas da invasão do Iraque. De um dia para o outro, o que outrora fora considerado tolerável pelo establihsment tornou-se subitamente intolerável: uma crise de urgência tão peremptória que exigia das “pessoas sérias” a fabricação imediata de idéias capazes de lidar com ela. O encargo da prova das pessoas que apoiavam a guerra para as pessoas que se opunham a ela, e passou também toda a possibilidade de argumentação.
Agora somos colocados na mesma situação em relação à dívida pública. Em meio a um desemprego oficialmente reconhecido de 9,5% e de uma contração global da economia, a última coisa sobre a qual deveríamos estar falando é de déficits no curto prazo. No entanto, no presente, o bilhete de entrada do clube da “gente séria” exige, não um plano para reduzir o desemprego, mas sim um plano para travar uma guerra sem quartel contra os insivíveis e até agora incorpóreos traficantes de dívida pública que estariam preparando um ataque contra o dólar.
Talvez o aspecto mais famoso do modo pelo qual nos foi vendida a Guerra do Iraque foi a falsidade de seu pretexto. Realmente, nunca houve armas de destruição de massa, conforme acabou por admitir o próprio Paul Wolfowitz. As armas de destruição de massa eram apenas “algo sobre o que o todo mundo concordava”.
E assim ocorre agora também com os déficits públicos. Os conservadores e seus aliados lidam sem cuidado com os déficits; o que importa a eles é a austeridade: desmontar o Estado democrático e social de direito e redistribuir a riqueza entre os de cima. Esse é o objetivo. Os déficits só são “algo sobre o que todo mundo concorda”, as armas de destruição de massa desta crise fabricada. O senador John Kyl, do Arizona, em declarações à cadeia (de ultra-direita) Fox News, chegou ao ponto de admiti-lo abertamente. É preciso evitar qualquer aumento de gasto, disse, “mas nunca deveria se evitar o custo de uma decisão deliberada de reduzir os impostos para os estadunidenses”.
Lembre-se que a Guerra do Iraque poderia ter sido evitada e mais congressistas democratas tivessem se oposto a ela. Em troca, votaram a favor muitos que sabiam plenamente que estava sendo gestado um colossal desastre alimentado pelas pressões ultradireitistas e pelos falcões midiáticos.
O erro se repete agora, Apesar de os economistas da Casa Branca terem acordo sobre a necessidade dos estímulos públicos diante de um desemprego astronomicamente elevado, o New York Times nos informa que os os cérebros políticos da Casa Branca – David Axelrod e Rahm Emanuel – decidiram que a opinião pública perdeu o apetite pelo aumento do gasto público. “Meu trabalho consiste em informar o humor público”, disse Axelrod. Logo em seguida apareceu no “This Week”, programa da cadeia ABC, para acenar a bandeira branca e declarar que o presidente seguiria pressionando em favor da ampliação dos auxílios para o desemprego; sintomaticamente, omitiu-se qualquer menção às ajudas aos governos dos estados federados, originalmente incluídos na carta dirigida em junho passado pelo presidente ao Congresso solicitando um pacote de estímulos.
Mas não devemos perder a esperança: a opinião pública anda muito longe de estar obcecada com o déficit público; está muito longe, portanto, dos humores de Washington. Segundo uma pesquisa conjunta do jornal USA Today e do instituto Gallup, cerca de 60% dos estadunidenses apóiam “um maior gasto público para criar emprego e estimular a economia”, contra 38% que se opõe a isso. Uma pesquisa realizada por Hart Research Associates, publicada em junho passado, mostrava que dois terços dos norte-americanos estavam a favor da ajuda pública aos desempregados. Assim, se há “pouco apetite” é para uma contra-reforma que corte direitos sociais e atinja a Seguridade Social. A lição da Guerra do Iraque é que, no longo prazo, a boa política não pode se separar das boas políticas públicas. Se a Casa Branca sente-se tentada a desenvolver más políticas de curto prazo porque isso parece menos arriscado politicamente, deveria telefonar para John Kerry e perguntar se isso funcionou como Iraque,
(*) Christopher Hayes, analista e crítico cultural norteamericano, editor em Washington da revista The Nation.
Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Carta Maior
Talvez o aspecto mais famoso do modo pelo qual nos foi vendida a Guerra do Iraque foi a falsidade de seu pretexto. Nunca houve armas de destruição de massa, conforme acabou por admitir o próprio Paul Wolfowitz. Elas eram apenas “algo sobre o que o todo mundo concordava”. E assim ocorre agora também com os déficits públicos. Os conservadores e seus aliados querem desmontar o Estado democrático e social de direito e redistribuir a riqueza para os de cima. Esse é o objetivo. Os déficits só são “algo sobre o que todo mundo concorda”, as armas de destruição de massa desta crise fabricada.
O artigo é de Christopher Hayes, editor da The Nation.
Se vocês prestarem atenção no que ocorreu na última década, não será surpreendente constatar que as elites políticas dos EUA se achem agora em meio a uma atabalhoada discussão sobre o futuro da nação estadunidense. Mas, mesmo descontando os níveis de degradação a que chegaram o establhisment de Washington, não deixa de ser assombroso o pânico criado em torno do tema da dívida pública.
Comecemos pelos fatos. Quase todo o déficit deste ano e os déficits que se projetam para o curto e médio prazo é resultado de três coisas: as guerras em curso no Afeganistão e no Iraque, os cortes de impostos de Bush e a recessão. A solução para nossa situação fiscal é: terminar com as guerras, deixar que expire o prazo dos cortes de impostos e restaurar um crescimento robusto.
Nossos déficits estruturais no longo prazo exigem que sejamos capazes de controlar a inflação na assistência de saúde do mesmo modo que o fazem os países com sistemas de saúde com cobertura universal.
Agora mesmo enfrentamos uma crise de desemprego que ameaça nos mergulhar em um grave e longo período de baixo crescimento, uma espécie de década perdida que causará uma tremenda miséria, degradaráo o capital humano da nação, desbaratará a todo uma geração de jovens trabalhadores durante anos e abrirá um rombo no balanço contábil do Estado. O melhor para sair deste cenário é mais gasto público para tutelar o regresso da economia a um caminho saudável. Pode ser que a economia esteja viva, mas isso não significa que esteja sã. Há razões para seguir tomando antibióticos no momento em que começamos a nos sentir bem.
No entanto, o tamborilar filisteu de pânico dos histéricos do déficit torna-se a cada dia mais ensurdecedor. A julgar por seu programa e seu vídeo on-line, o Festival Aspen das Idéias deste ano foi uma orgia ao ar livre de discursos anti-déficit. O Festival é uma boa janela para observar as preocupações da elite. O fato que seu forum de abertura estivesse saturado pelos abomináveis alertas sobre a quebra vindoura pronunciados por pessoas como Niall Ferguson, Mort Zuckerman e David Gergen é um mau augúrio. Do mesmo modo o painel intitulado “A inquietante emergência fiscal na América: como equilibrar as contas”. Essa atitude não é exclusiva dos colunistas e dos tertulianos midiáticos. Os dirigentes da comissão fiscal de Obama qualificaram de “câncer” os déficits públicos projetados.
A histeria chegou a tal extremo que os senadores republicanos (aos quais se juntou o senador democrata por Nebraska, Ben Nelson) praticaram obstrução parlamentar contra um projeto de extensão das ajudas ao desemprego porque ele não vinha acompanhado de cortes do gasto público. Recorde-se que o custo desta extensão de auxílio para pessoas suficientemente desgraçadas de modo a ser verem apanhadas entre as garras da pior recessão dos últimos 30 anos era de 35 bilhões de dólares. A lei contribuiria para aumentar a dívida em menos de 0,3%.
Tudo isso resulta estridentemente familiar. A atual deliberação – se assim pode ser chamada – sobre os défcitis traz à memória a deliberação nacional sobre a guerra às vésperas da invasão do Iraque. De um dia para o outro, o que outrora fora considerado tolerável pelo establihsment tornou-se subitamente intolerável: uma crise de urgência tão peremptória que exigia das “pessoas sérias” a fabricação imediata de idéias capazes de lidar com ela. O encargo da prova das pessoas que apoiavam a guerra para as pessoas que se opunham a ela, e passou também toda a possibilidade de argumentação.
Agora somos colocados na mesma situação em relação à dívida pública. Em meio a um desemprego oficialmente reconhecido de 9,5% e de uma contração global da economia, a última coisa sobre a qual deveríamos estar falando é de déficits no curto prazo. No entanto, no presente, o bilhete de entrada do clube da “gente séria” exige, não um plano para reduzir o desemprego, mas sim um plano para travar uma guerra sem quartel contra os insivíveis e até agora incorpóreos traficantes de dívida pública que estariam preparando um ataque contra o dólar.
Talvez o aspecto mais famoso do modo pelo qual nos foi vendida a Guerra do Iraque foi a falsidade de seu pretexto. Realmente, nunca houve armas de destruição de massa, conforme acabou por admitir o próprio Paul Wolfowitz. As armas de destruição de massa eram apenas “algo sobre o que o todo mundo concordava”.
E assim ocorre agora também com os déficits públicos. Os conservadores e seus aliados lidam sem cuidado com os déficits; o que importa a eles é a austeridade: desmontar o Estado democrático e social de direito e redistribuir a riqueza entre os de cima. Esse é o objetivo. Os déficits só são “algo sobre o que todo mundo concorda”, as armas de destruição de massa desta crise fabricada. O senador John Kyl, do Arizona, em declarações à cadeia (de ultra-direita) Fox News, chegou ao ponto de admiti-lo abertamente. É preciso evitar qualquer aumento de gasto, disse, “mas nunca deveria se evitar o custo de uma decisão deliberada de reduzir os impostos para os estadunidenses”.
Lembre-se que a Guerra do Iraque poderia ter sido evitada e mais congressistas democratas tivessem se oposto a ela. Em troca, votaram a favor muitos que sabiam plenamente que estava sendo gestado um colossal desastre alimentado pelas pressões ultradireitistas e pelos falcões midiáticos.
O erro se repete agora, Apesar de os economistas da Casa Branca terem acordo sobre a necessidade dos estímulos públicos diante de um desemprego astronomicamente elevado, o New York Times nos informa que os os cérebros políticos da Casa Branca – David Axelrod e Rahm Emanuel – decidiram que a opinião pública perdeu o apetite pelo aumento do gasto público. “Meu trabalho consiste em informar o humor público”, disse Axelrod. Logo em seguida apareceu no “This Week”, programa da cadeia ABC, para acenar a bandeira branca e declarar que o presidente seguiria pressionando em favor da ampliação dos auxílios para o desemprego; sintomaticamente, omitiu-se qualquer menção às ajudas aos governos dos estados federados, originalmente incluídos na carta dirigida em junho passado pelo presidente ao Congresso solicitando um pacote de estímulos.
Mas não devemos perder a esperança: a opinião pública anda muito longe de estar obcecada com o déficit público; está muito longe, portanto, dos humores de Washington. Segundo uma pesquisa conjunta do jornal USA Today e do instituto Gallup, cerca de 60% dos estadunidenses apóiam “um maior gasto público para criar emprego e estimular a economia”, contra 38% que se opõe a isso. Uma pesquisa realizada por Hart Research Associates, publicada em junho passado, mostrava que dois terços dos norte-americanos estavam a favor da ajuda pública aos desempregados. Assim, se há “pouco apetite” é para uma contra-reforma que corte direitos sociais e atinja a Seguridade Social. A lição da Guerra do Iraque é que, no longo prazo, a boa política não pode se separar das boas políticas públicas. Se a Casa Branca sente-se tentada a desenvolver más políticas de curto prazo porque isso parece menos arriscado politicamente, deveria telefonar para John Kerry e perguntar se isso funcionou como Iraque,
(*) Christopher Hayes, analista e crítico cultural norteamericano, editor em Washington da revista The Nation.
Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Carta Maior
terça-feira, 27 de julho de 2010
Sobre a história...
“A História nunca foi algo além de uma história. A idéia absolutista de que a História é a Verdade (que existe uma verdade histórica inapelável e perfeitamente reconhecível) é objetivamente ameaçada pelo fato de que cada época reescreveu o passado do começo, em função do próprio presente. É suficiente pensar, por exemplo, na grande mudança de julgamento operada no decorrer do tempo sobre uma época tão importante como a Idade Média: os iluministas consideraram-na a era do obscurantismo, uma espécie de parêntese negro a ser esquecido. Poucas décadas mais tarde, os românticos redescobriram nela muitas facetas, exaltando-a como reino da imaginação, do folclore, da paixão, do gótico etc."
Luther Blissett
“A história deve ser reescrita a cada geração nova, porque, se o passado não muda, é o presente que se transforma; cada geração faz perguntas diferentes para o passado e, revivendo lados diferentes das experiências de seus antecessores, descobre ter com ele novos pontos em comum.”
Christopher Hill
Luther Blissett
“A história deve ser reescrita a cada geração nova, porque, se o passado não muda, é o presente que se transforma; cada geração faz perguntas diferentes para o passado e, revivendo lados diferentes das experiências de seus antecessores, descobre ter com ele novos pontos em comum.”
Christopher Hill
Absurdo, insólito, anarquia, surrealismo e criatividade marcam a revolução da Islândia – um resumo dos acontecimentos - por ANA
Absurdo, insólito, anarquia, surrealismo e criatividade marcam a revolução da Islândia – um resumo dos acontecimentos
[Recentemente a mídia corporativa estampou que “o país do vulcão de nome impronunciável e da primeira governante abertamente lésbica do mundo agora tem o primeiro prefeito anarquista”. Será? (risos) A seguir um texto que circulou em alguns sítios libertários da “gringa”.]
Histórico: as manifestações
Desde meados desta década se viu gradualmente um influxo de capital na América do Norte e Europa, ao que a Islândia não estava isenta. Os islandeses aumentaram seu desenvolvimento e para 2008 contavam com a melhor qualidade de vida do mundo. Muitos argumentavam que este influxo de capital (dinheiro eletrônico e em qualidade de empréstimo) era parte de um plano econômico projetado para endividar países (seus cidadãos), o que mais tarde se chamaria de bolha financeira.
De fato, em outubro de 2009, os três maiores bancos da Islândia faliram; a Bolsa suspendeu suas atividades quando seus valores caíram mais de 70% e a coroa islandesa perdeu mais da metade de seu valor. O país ficou no buraco.
Vale notar que houve uma imediata manifestação pública por parte das pessoas. Os islandeses não sabiam protestar; a última manifestação na Islândia foi em 1949 contra a Otan. Hörður Torfasson, artista, escritor e cabeça de um movimento de cidadãos, comentou ao diário Tempo que as primeiras manifestações contavam com apenas 15 pessoas. Naqueles tempos as pessoas que passavam próximas às manifestações perguntavam a eles o que estavam fazendo.
Mas logo em 22 de janeiro, mais de 2.000 pessoas encararam a polícia em frente ao Parlamento, lançando tinta, ovos e sapatos. A imagem foi insólita: a polícia, nervosa, não soube como administrar a situação; fazia sessenta anos que não haviam tido nenhum cerco policial.
As manifestações continuaram e cresceram a cada dia até que um jovem anarquista resolveu subir no telhado do Parlamento e substituiu a bandeira nacional pelo logotipo da rede de supermercados Bónus: um pano amarelo com um porco sorridente no meio. Mais de um dia se passou até que os políticos perceberam este feito e imediatamente tentaram criminalizar os manifestantes como “terroristas”.
Finalmente esta acusação foi apaziguada por outros governantes que diziam “não é o momento de procurar responsáveis” – nunca ficou claro se estes governantes estavam se referindo aos manifestantes ou a eles mesmos.
No entanto, a partir de então a atitude dos manifestantes mudou, diante a ameaça de serem acusados novamente, cada vez que tinham um atrito com a polícia, iam comprar flores para em seguida presentear os policiais, desenvolvendo uma espécie de diálogo com as forças da ordem.
“Não estou dizendo que seja bom, mas somente após os tumultos que as coisas se aceleraram”, confessa Stefan Valber, dono de uma loja de roupas que fez uma camiseta com o rosto do primeiro ministro britânico, Gordon Brown, e escreveu “Brown (Marrom) é a cor da merda”. Esta camiseta foi um êxito de vendas devido à irritação islandesa com o Governo inglês. Em outubro os britânicos aplicaram à Islândia a lei antiterrorista para congelar a movimentação de seus bancos e salvar o bilhão de libras que poupadores e instituições inglesas haviam investido. Além de deixá-los arruinados, colocavam os islandeses na lista dos “maus” junto à Coréia do Norte, Sudão e Al Qaeda.
O Econômico e o Político
Para esta data o Fundo Monetário Internacional se fez presente. A Islândia passaria a ser o primeiro país ocidental a receber um empréstimo do FMI desde 1976 e sua dívida externa seria agora nove vezes seu PIB. A pessoa que se encarregou de firmar esta odiosa dívida foi Davíð Oddsson, possivelmente um cúmplice deste plano de endividamento. Oddsson foi governador do Banco Central islandês desde 2005 e foi quem por mais tempo esteve envolto ao poder na ilha: foi primeiro ministro de 1991 a 2004, ministro das Relações Exteriores e prefeito de Reikiavik durante quase dez anos.
Foi Davíð Oddsson quem mais pressão colocou sobre o primeiro ministro Geir Haarde para pagar a dívida à coroa inglesa e holandesa com o empréstimo do FMI, algo que em princípio Haarde estava de acordo. E foi o primeiro ministro com os seus seguidores que, aproveitando aquele momento de crise, iniciaram os trâmites para ingressar na União Européia, apesar de, anos após anos, pesquisas indicarem que o povo islandês tinha menos interesse que a Irlanda em pertencer à UE.
O momento era crucial, se venderia ao povo islandês a integração na União Européia como solução à crise. Os altos “chefes” da UE estavam dispostos a aceitá-los num processo rápido, mas tinham que pagar a dívida, ou seja, ficar endividados. Essa possibilidade se viu frustrada quando o primeiro ministro, baixo uma enorme pressão popular, decidiu convocar um referendo para pagar a dívida, ao que o povo disse “NÃO” e o projeto Europa se estancou.
Imediatamente, não encontrando uma saída, o primeiro ministro convocou uma eleição para 9 de maio, além de anunciar que sofria de câncer e que não estaria presente. Nestes dias aproximadamente 10.000 pessoas lotaram a Praça do Parlamento e gritaram infatigavelmente “Não podemos esperar mais, os queremos fora agora!”. Dias mais tarde o ministro do Comércio foi demitido, admitindo responsabilidades. Finalmente, dois dias depois, a coalizão do governo foi dissolvida com a demissão de todos seus representantes.
Revolução
Após uma semana de incertezas, a social-democrata Jóhanna Sigurðardóttir toma as rédeas do que seria o primeiro governo de esquerdas da Islândia, com um Executivo em minoria formou uma coalizão com Os Verdes esquerdista.
“Iremos ter muita pressão”, reconhecia Katrín Jakobsdottir, nova ministra da Educação. Os Verdes é uma esquerda de classe e anti-europeísta, que nunca tinha chegado ao poder, o que os converte nas únicas mãos inocentes. “O que temos que fazer é revisar o empréstimo do FMI e ajudar as famílias”, ”Temos que buscar métodos novos”, comentava Jakobsdottir, a ministra mais jovem, com 32 anos.
A pressão não foi somente à base de panelaços. Sigurdur Sigurdsson faz parte de um grupo cidadão que ainda não tem nome, mas que tem objetivo claro: uma nova Constituição para a Islândia. “Politicamente somos bastante diferentes, não queremos ser políticos, mas a nossa prioridade é a reforma da lei eleitoral a fim de criar um sistema de democracia direta. Nossa constituição é de 1944 e é uma cópia da dinamarquesa. Há que se escrever uma nova.”
ATUALMENTE E EM DESENVOLVIMENTO
Artistas Políticos
Para as eleições municipais deste ano um grupo de artistas formou um partido político. Com somente seis meses de antecipação, músicos, escritores, dramaturgos, atores e pessoas do meio cultural formaram o partido “The Best Party” (O Melhor Partido) para concorrer à prefeitura de Reykjavík. A capital da Islândia, com 60% da população do país, é um lugar fundamental, é a ante-sala para a liga maior e para o posto de primeiro ministro.
O Best Party desenvolveu um programa de governo criativo enraizado em estratégias artísticas, que vão do dadaísmo à internacional situacionista; suas promessas eleitorais eram: Eliminar a droga dentro do parlamento para 2020 – Subvenções sociais para os fracassados – Toalhas grátis nas piscinas públicas; prometiam que Reykjavík voltaria a ter toda a sua “onda” e acrescentavam “podemos prometer mais, já que de qualquer forma não vamos cumprir”.
O candidato, artista e reconhecido humorista Jón Gnarr, se apresentou habilmente diante das câmeras fazendo a oratória chata e vazia dos políticos “normais”. Indicava que a sua candidatura era séria, com um discurso grandiloqüente chamado “transparência sustentável”. Em outras palavras, prometendo um programa transparente; com corrupção, mas transparente.
De acordo com Eirikur Bergmann, especialista em ciências políticas, o Best Party tem suas origens num grupo de punks e roqueiros que se juntava nas imediações da estação central de ônibus em Reykjavík nos anos 80. A Islândia era uma sociedade fechada e conservadora naqueles dias. Este era um movimento de rebeldes e de lá saíram os artistas mais criativos da Islândia – disse Bergmann ao Financial Times.
O mais incrível desta história é que o Best Party GANHOU AS ELEIÇÕES e bem a frente dos partidos tradicionais.
Esta vitória coloca em evidência a falta de credibilidade que os políticos e a política têm em si aos olhos de toda a cidadania.
Jón Gnarr, o líder do partido e seu gabinete (artistas, parentes e fracassados) tomaram posse da prefeitura de Reykjavík em 15 de junho passado. Já estão em sua segunda semana de governo.
O atual prefeito Jón Gnarr em seu discurso inaugural prometeu não cumprir com suas disparatadas promessas eleitorais, mas seguindo a política nacional da primeira ministra Jóhanna Sigurðardóttir insistiu em sua idéia de um barco-prisão em alto mar para colocar banqueiros e políticos corruptos. Falou da contínua necessidade de uma revolução cultural (vale notar que a Islândia ainda destina 1.14% do orçamento nacional para a cultura, a porcentagem mais alta comparada a qualquer outra nação). Também disse sobre os valores humanos – o direito de viver e a responsabilidade de deixar viver – ressaltando a urgência de mudar a sociedade desde suas bases, explorando as idéias do anarquismo sob a lupa de um surrealismo socialista.
A primeira ministra
Jóhanna Sigurðardóttir é uma ex-aeromoça de 66 anos que ocupou durante oito anos o Ministério de Assuntos Sociais e assumiu de forma interina a máxima liderança de seu país durante a crise de fevereiro de 2009. Meses mais tarde, por voto público, foi confirmada em seu cargo, nas eleições de abril de 2009.
Jóhanna Sigurðardóttir é lésbica e isto não é um segredo ou um tema para se esconder. Sua companheira Jonina Leosdottir está sempre presente em atos oficiais ou quando o protocolo a requer, como no caso de qualquer outro chefe de estado.
Numerosos meios de informação que deram eco à notícia classificaram Sigurdardottir como a primeira chefe de Governo abertamente gay da história. “Nossa organização não monitora todos os líderes gays, embora pessoalmente não me lembre de nenhum primeiro ministro homossexual anterior a este caso”, assegura Juris Lavrikovs, da Associação Internacional de Gays e Lésbicas na Europa.
Na semana passada, no dia 26 de junho, o governo de Jóhanna Sigurðardóttir legalizou o matrimônio entre indivíduos do mesmo sexo, convertendo a Islândia no sexto país europeu neste avanço.
Desta maneira, a decisão do parlamento, que foi unânime (49 contra 0), levanta a última cláusula da legislação islandesa onde cidadãos eram tratados de forma diferente por sua condição de gênero.
Com o objetivo de reavaliar o sistema legislativo e eleitoral a primeira ministra reconhece e apóia uma assembléia auto-constituída de cidadãos que busca definir as pautas para elaborar uma nova constituição islandesa.
Outra iniciativa recente desta primeira ministra foi a investigação da odiosa dívida de capitais da coroa inglesa e holandesa, bem como as condições do empréstimo do FMI. O governo de Sigurðardóttir converteu a Islândia no primeiro país europeu que não gratifica banqueiros, mas que, ao contrário, os coloca na prisão; muitos estão com mandato de prisão e uma ordem de detenção foi instada à Interpol para aqueles que fugiram.
As investigações estão tão avançadas que se corre o risco de abalar a grande estrutura econômica (e política) européia. Por exemplo, em julho de 2009, em meio à crise, foi rejeitada à Islândia a sua integração na comunidade européia, a menos que o governo ignorasse o referendo que favoreceu o Não pagar a dívida aos banqueiros. Hoje nada mudou, mas recentemente a UE, sob a direção da Espanha, decidiu aceitar e acelerar as negociações de adesão com a Islândia. Obviamente, uma integração com a UE implicaria em novas legislações que poderiam silenciar as investigações islandesas sobre as finanças internacionais. E ao mesmo tempo poderia redirecionar um governo que está caminhando bastante à esquerda.
Paraíso dos meios de informação
A recente e mais inovadora estratégia que este governo está desenvolvendo consiste na criação de um “refúgio” informativo. A Islândia acolherá e protegerá em seu território, servidores e portais da rede que publicam diversas informações secretas e comprometedoras, recebidas de fontes anônimas – um paraíso da informação, livre de qualquer pressão.
Este projeto de lei, chamado Iniciativa Moderna Midiática Islandesa (Icelandic Modern Media Initiative), foi aprovado unanimemente pelo parlamento islandês (50 votos a favor, 0 contra e 1 abstenção).
A meta deste projeto é “fortalecer a liberdade de expressão e informação, assim como garantir uma forte proteção para as fontes e seus informantes”. O projeto, em partes, está baseado em leis de outros países, como a Suécia, onde a revelação da fonte da informação é considerada um caso criminal. Em si o projeto toma de outros países pontos inovadores de suas legislações para criar uma extensa política que possa proteger o jornalismo de investigação.
“Poderia ser o catalisador de uma necessária reforma legislativa sobre a liberdade de informação a nível global”, manifesta o site Index on Censorship, ou como expressa a parlamentaa européia e ex-magistrada Eva Joly, “a iniciativa estimula a integridade e a transparência por parte dos governos” de modo que a Islândia poderia se tornar o gatilho de novas atividades midiáticas internacionais de todos os tipos.
John Perry Barlow, especialista em tecnologia, partidário da liberdade na internet e fundador do site wikileaks, foi quem iniciou este projeto. O governo dos Estados Unidos está querendo prender Barlow sob a acusação de ter divulgado materiais militares confidenciais.
O material que despertou a ira do Departamento de Estado é um vídeo (www.rnw.nl/espanol/article/eeuu-wikileaks) que mostra claramente um bombardeio feito por um helicóptero estadunidense a cidadãos indefesos na cidade de Bagdá. O caso vai esquentar ainda mais porque um segundo vídeo está para ser divulgado, mostrando o ataque do exército estadunidense contra mais de 100 civis, incluindo crianças. John Perry Barlow, diante as ameaças do exército estadunidense, tem recebido proteção do governo da Islândia, um desafio novamente surpreendente para um país que não tem exército.
Tradução > Marcelo Yokoi
agência de notícias anarquistas-ana
Marchando no tempo,
antes de tudo e após tudo,
soberbo, o silêncio.
Alexei Bueno
[Recentemente a mídia corporativa estampou que “o país do vulcão de nome impronunciável e da primeira governante abertamente lésbica do mundo agora tem o primeiro prefeito anarquista”. Será? (risos) A seguir um texto que circulou em alguns sítios libertários da “gringa”.]
Histórico: as manifestações
Desde meados desta década se viu gradualmente um influxo de capital na América do Norte e Europa, ao que a Islândia não estava isenta. Os islandeses aumentaram seu desenvolvimento e para 2008 contavam com a melhor qualidade de vida do mundo. Muitos argumentavam que este influxo de capital (dinheiro eletrônico e em qualidade de empréstimo) era parte de um plano econômico projetado para endividar países (seus cidadãos), o que mais tarde se chamaria de bolha financeira.
De fato, em outubro de 2009, os três maiores bancos da Islândia faliram; a Bolsa suspendeu suas atividades quando seus valores caíram mais de 70% e a coroa islandesa perdeu mais da metade de seu valor. O país ficou no buraco.
Vale notar que houve uma imediata manifestação pública por parte das pessoas. Os islandeses não sabiam protestar; a última manifestação na Islândia foi em 1949 contra a Otan. Hörður Torfasson, artista, escritor e cabeça de um movimento de cidadãos, comentou ao diário Tempo que as primeiras manifestações contavam com apenas 15 pessoas. Naqueles tempos as pessoas que passavam próximas às manifestações perguntavam a eles o que estavam fazendo.
Mas logo em 22 de janeiro, mais de 2.000 pessoas encararam a polícia em frente ao Parlamento, lançando tinta, ovos e sapatos. A imagem foi insólita: a polícia, nervosa, não soube como administrar a situação; fazia sessenta anos que não haviam tido nenhum cerco policial.
As manifestações continuaram e cresceram a cada dia até que um jovem anarquista resolveu subir no telhado do Parlamento e substituiu a bandeira nacional pelo logotipo da rede de supermercados Bónus: um pano amarelo com um porco sorridente no meio. Mais de um dia se passou até que os políticos perceberam este feito e imediatamente tentaram criminalizar os manifestantes como “terroristas”.
Finalmente esta acusação foi apaziguada por outros governantes que diziam “não é o momento de procurar responsáveis” – nunca ficou claro se estes governantes estavam se referindo aos manifestantes ou a eles mesmos.
No entanto, a partir de então a atitude dos manifestantes mudou, diante a ameaça de serem acusados novamente, cada vez que tinham um atrito com a polícia, iam comprar flores para em seguida presentear os policiais, desenvolvendo uma espécie de diálogo com as forças da ordem.
“Não estou dizendo que seja bom, mas somente após os tumultos que as coisas se aceleraram”, confessa Stefan Valber, dono de uma loja de roupas que fez uma camiseta com o rosto do primeiro ministro britânico, Gordon Brown, e escreveu “Brown (Marrom) é a cor da merda”. Esta camiseta foi um êxito de vendas devido à irritação islandesa com o Governo inglês. Em outubro os britânicos aplicaram à Islândia a lei antiterrorista para congelar a movimentação de seus bancos e salvar o bilhão de libras que poupadores e instituições inglesas haviam investido. Além de deixá-los arruinados, colocavam os islandeses na lista dos “maus” junto à Coréia do Norte, Sudão e Al Qaeda.
O Econômico e o Político
Para esta data o Fundo Monetário Internacional se fez presente. A Islândia passaria a ser o primeiro país ocidental a receber um empréstimo do FMI desde 1976 e sua dívida externa seria agora nove vezes seu PIB. A pessoa que se encarregou de firmar esta odiosa dívida foi Davíð Oddsson, possivelmente um cúmplice deste plano de endividamento. Oddsson foi governador do Banco Central islandês desde 2005 e foi quem por mais tempo esteve envolto ao poder na ilha: foi primeiro ministro de 1991 a 2004, ministro das Relações Exteriores e prefeito de Reikiavik durante quase dez anos.
Foi Davíð Oddsson quem mais pressão colocou sobre o primeiro ministro Geir Haarde para pagar a dívida à coroa inglesa e holandesa com o empréstimo do FMI, algo que em princípio Haarde estava de acordo. E foi o primeiro ministro com os seus seguidores que, aproveitando aquele momento de crise, iniciaram os trâmites para ingressar na União Européia, apesar de, anos após anos, pesquisas indicarem que o povo islandês tinha menos interesse que a Irlanda em pertencer à UE.
O momento era crucial, se venderia ao povo islandês a integração na União Européia como solução à crise. Os altos “chefes” da UE estavam dispostos a aceitá-los num processo rápido, mas tinham que pagar a dívida, ou seja, ficar endividados. Essa possibilidade se viu frustrada quando o primeiro ministro, baixo uma enorme pressão popular, decidiu convocar um referendo para pagar a dívida, ao que o povo disse “NÃO” e o projeto Europa se estancou.
Imediatamente, não encontrando uma saída, o primeiro ministro convocou uma eleição para 9 de maio, além de anunciar que sofria de câncer e que não estaria presente. Nestes dias aproximadamente 10.000 pessoas lotaram a Praça do Parlamento e gritaram infatigavelmente “Não podemos esperar mais, os queremos fora agora!”. Dias mais tarde o ministro do Comércio foi demitido, admitindo responsabilidades. Finalmente, dois dias depois, a coalizão do governo foi dissolvida com a demissão de todos seus representantes.
Revolução
Após uma semana de incertezas, a social-democrata Jóhanna Sigurðardóttir toma as rédeas do que seria o primeiro governo de esquerdas da Islândia, com um Executivo em minoria formou uma coalizão com Os Verdes esquerdista.
“Iremos ter muita pressão”, reconhecia Katrín Jakobsdottir, nova ministra da Educação. Os Verdes é uma esquerda de classe e anti-europeísta, que nunca tinha chegado ao poder, o que os converte nas únicas mãos inocentes. “O que temos que fazer é revisar o empréstimo do FMI e ajudar as famílias”, ”Temos que buscar métodos novos”, comentava Jakobsdottir, a ministra mais jovem, com 32 anos.
A pressão não foi somente à base de panelaços. Sigurdur Sigurdsson faz parte de um grupo cidadão que ainda não tem nome, mas que tem objetivo claro: uma nova Constituição para a Islândia. “Politicamente somos bastante diferentes, não queremos ser políticos, mas a nossa prioridade é a reforma da lei eleitoral a fim de criar um sistema de democracia direta. Nossa constituição é de 1944 e é uma cópia da dinamarquesa. Há que se escrever uma nova.”
ATUALMENTE E EM DESENVOLVIMENTO
Artistas Políticos
Para as eleições municipais deste ano um grupo de artistas formou um partido político. Com somente seis meses de antecipação, músicos, escritores, dramaturgos, atores e pessoas do meio cultural formaram o partido “The Best Party” (O Melhor Partido) para concorrer à prefeitura de Reykjavík. A capital da Islândia, com 60% da população do país, é um lugar fundamental, é a ante-sala para a liga maior e para o posto de primeiro ministro.
O Best Party desenvolveu um programa de governo criativo enraizado em estratégias artísticas, que vão do dadaísmo à internacional situacionista; suas promessas eleitorais eram: Eliminar a droga dentro do parlamento para 2020 – Subvenções sociais para os fracassados – Toalhas grátis nas piscinas públicas; prometiam que Reykjavík voltaria a ter toda a sua “onda” e acrescentavam “podemos prometer mais, já que de qualquer forma não vamos cumprir”.
O candidato, artista e reconhecido humorista Jón Gnarr, se apresentou habilmente diante das câmeras fazendo a oratória chata e vazia dos políticos “normais”. Indicava que a sua candidatura era séria, com um discurso grandiloqüente chamado “transparência sustentável”. Em outras palavras, prometendo um programa transparente; com corrupção, mas transparente.
De acordo com Eirikur Bergmann, especialista em ciências políticas, o Best Party tem suas origens num grupo de punks e roqueiros que se juntava nas imediações da estação central de ônibus em Reykjavík nos anos 80. A Islândia era uma sociedade fechada e conservadora naqueles dias. Este era um movimento de rebeldes e de lá saíram os artistas mais criativos da Islândia – disse Bergmann ao Financial Times.
O mais incrível desta história é que o Best Party GANHOU AS ELEIÇÕES e bem a frente dos partidos tradicionais.
Esta vitória coloca em evidência a falta de credibilidade que os políticos e a política têm em si aos olhos de toda a cidadania.
Jón Gnarr, o líder do partido e seu gabinete (artistas, parentes e fracassados) tomaram posse da prefeitura de Reykjavík em 15 de junho passado. Já estão em sua segunda semana de governo.
O atual prefeito Jón Gnarr em seu discurso inaugural prometeu não cumprir com suas disparatadas promessas eleitorais, mas seguindo a política nacional da primeira ministra Jóhanna Sigurðardóttir insistiu em sua idéia de um barco-prisão em alto mar para colocar banqueiros e políticos corruptos. Falou da contínua necessidade de uma revolução cultural (vale notar que a Islândia ainda destina 1.14% do orçamento nacional para a cultura, a porcentagem mais alta comparada a qualquer outra nação). Também disse sobre os valores humanos – o direito de viver e a responsabilidade de deixar viver – ressaltando a urgência de mudar a sociedade desde suas bases, explorando as idéias do anarquismo sob a lupa de um surrealismo socialista.
A primeira ministra
Jóhanna Sigurðardóttir é uma ex-aeromoça de 66 anos que ocupou durante oito anos o Ministério de Assuntos Sociais e assumiu de forma interina a máxima liderança de seu país durante a crise de fevereiro de 2009. Meses mais tarde, por voto público, foi confirmada em seu cargo, nas eleições de abril de 2009.
Jóhanna Sigurðardóttir é lésbica e isto não é um segredo ou um tema para se esconder. Sua companheira Jonina Leosdottir está sempre presente em atos oficiais ou quando o protocolo a requer, como no caso de qualquer outro chefe de estado.
Numerosos meios de informação que deram eco à notícia classificaram Sigurdardottir como a primeira chefe de Governo abertamente gay da história. “Nossa organização não monitora todos os líderes gays, embora pessoalmente não me lembre de nenhum primeiro ministro homossexual anterior a este caso”, assegura Juris Lavrikovs, da Associação Internacional de Gays e Lésbicas na Europa.
Na semana passada, no dia 26 de junho, o governo de Jóhanna Sigurðardóttir legalizou o matrimônio entre indivíduos do mesmo sexo, convertendo a Islândia no sexto país europeu neste avanço.
Desta maneira, a decisão do parlamento, que foi unânime (49 contra 0), levanta a última cláusula da legislação islandesa onde cidadãos eram tratados de forma diferente por sua condição de gênero.
Com o objetivo de reavaliar o sistema legislativo e eleitoral a primeira ministra reconhece e apóia uma assembléia auto-constituída de cidadãos que busca definir as pautas para elaborar uma nova constituição islandesa.
Outra iniciativa recente desta primeira ministra foi a investigação da odiosa dívida de capitais da coroa inglesa e holandesa, bem como as condições do empréstimo do FMI. O governo de Sigurðardóttir converteu a Islândia no primeiro país europeu que não gratifica banqueiros, mas que, ao contrário, os coloca na prisão; muitos estão com mandato de prisão e uma ordem de detenção foi instada à Interpol para aqueles que fugiram.
As investigações estão tão avançadas que se corre o risco de abalar a grande estrutura econômica (e política) européia. Por exemplo, em julho de 2009, em meio à crise, foi rejeitada à Islândia a sua integração na comunidade européia, a menos que o governo ignorasse o referendo que favoreceu o Não pagar a dívida aos banqueiros. Hoje nada mudou, mas recentemente a UE, sob a direção da Espanha, decidiu aceitar e acelerar as negociações de adesão com a Islândia. Obviamente, uma integração com a UE implicaria em novas legislações que poderiam silenciar as investigações islandesas sobre as finanças internacionais. E ao mesmo tempo poderia redirecionar um governo que está caminhando bastante à esquerda.
Paraíso dos meios de informação
A recente e mais inovadora estratégia que este governo está desenvolvendo consiste na criação de um “refúgio” informativo. A Islândia acolherá e protegerá em seu território, servidores e portais da rede que publicam diversas informações secretas e comprometedoras, recebidas de fontes anônimas – um paraíso da informação, livre de qualquer pressão.
Este projeto de lei, chamado Iniciativa Moderna Midiática Islandesa (Icelandic Modern Media Initiative), foi aprovado unanimemente pelo parlamento islandês (50 votos a favor, 0 contra e 1 abstenção).
A meta deste projeto é “fortalecer a liberdade de expressão e informação, assim como garantir uma forte proteção para as fontes e seus informantes”. O projeto, em partes, está baseado em leis de outros países, como a Suécia, onde a revelação da fonte da informação é considerada um caso criminal. Em si o projeto toma de outros países pontos inovadores de suas legislações para criar uma extensa política que possa proteger o jornalismo de investigação.
“Poderia ser o catalisador de uma necessária reforma legislativa sobre a liberdade de informação a nível global”, manifesta o site Index on Censorship, ou como expressa a parlamentaa européia e ex-magistrada Eva Joly, “a iniciativa estimula a integridade e a transparência por parte dos governos” de modo que a Islândia poderia se tornar o gatilho de novas atividades midiáticas internacionais de todos os tipos.
John Perry Barlow, especialista em tecnologia, partidário da liberdade na internet e fundador do site wikileaks, foi quem iniciou este projeto. O governo dos Estados Unidos está querendo prender Barlow sob a acusação de ter divulgado materiais militares confidenciais.
O material que despertou a ira do Departamento de Estado é um vídeo (www.rnw.nl/espanol/article/eeuu-wikileaks) que mostra claramente um bombardeio feito por um helicóptero estadunidense a cidadãos indefesos na cidade de Bagdá. O caso vai esquentar ainda mais porque um segundo vídeo está para ser divulgado, mostrando o ataque do exército estadunidense contra mais de 100 civis, incluindo crianças. John Perry Barlow, diante as ameaças do exército estadunidense, tem recebido proteção do governo da Islândia, um desafio novamente surpreendente para um país que não tem exército.
Tradução > Marcelo Yokoi
agência de notícias anarquistas-ana
Marchando no tempo,
antes de tudo e após tudo,
soberbo, o silêncio.
Alexei Bueno
VERDURADA DE AGOSTO - 22/08/2010 - Em novo Local
VERDURADA DE AGOSTO - 22/08/2010 - Em novo Local
Quando: 22/08/2010 – Domingo
Horário: 16hs às 22hs
Quanto: R$ 8,00
Onde: Rua Nestor Pestana 189, Centro
(A uma quadra da Praça Roosevelt – Entre Rua Augusta e Rua da Consolação – 5 minutos a pé dos metrôs República e Anhangabaú)
--- EM NOVO LOCAL (NOVAMENTE) ---
O tempo passa e o espaço muda, mas o espírito continua o mesmo. Como vocês devem ter notado, após duas bem sucedidas edições na Rua da Consolação a Verdurada foi obrigada mais uma vez a mudar de endereço, por motivos de força maior. Felizmente, encontramos um local ainda melhor e também no Centro, estrategicamente posicionado na área da Praça Roosevelt, entre as Ruas Augusta e da Consolação.
Com dimensões parecidas às do velho galpão do Jabaquara e um visual marcante, o novo local nos pareceu uma escolha digna da tradição que o evento carrega. Pensando nisso, preparamos uma escalação calculada cirurgicamente para abrir com chave de ouro esta nova fase.
São bandas que, apesar de misturar sonoridades diferentes como o hardcore melódico do Inimigo, o mosh noventista do Live By The Fist, o som inclassificável do Leptospirose, o caos escandinavo do Speek Kills e o peso apocalíptico d’O Cúmplice, carregam consigo laços de amizade e valores comuns de quem compartilha há anos os espaços criados pela Verdurada e iniciativas semelhantes.
Como sempre, também teremos nesta edição uma atividade extra-musical. O debate “Existe Política Além do Voto?” trará Rodrigo Rosa, professor e membro da Biblioteca Terra Livre, para discutir a validade do sistema eleitoral e as alternativas a ele, tema crucial nestes tempos de propaganda massacrante tentando nos convencer de que a única coisa que nos resta é escolher entre PT e PSDB.
--- PROGRAMAÇÃO ---
O Inimigo
Anunciamos com grande satisfação que após uma longa pausa e mudanças de formação, O Inimigo está de volta à Verdurada. Os velhos integrantes Kalota (Point Of No Return/I Shot Cyrus/B.U.S.H, etc), Juninho (Point Of No Return, Discarga, RDP, etc) e Nino (Discarga, Eu Serei a Hiena, etc) apresentam os recrutas Fernando (Small Talk, Againe, Van Damien, CPM22) e Alê (RHD). Quem já viu a banda nesta nova fase garante que além do som calcado nas velhas bandas de Washington DC como Embrace e Dag Nasty, o quinteto está incorporando elementos roqueiros à la Dinosaur Jr. Tire a prova!
http://www.myspace.com/oinimigo
Live By The Fist
Assim como os colegas acima, o LBTF volta à Verdurada para fazer seu primeiro show após um longo período de inatividade. Se desde o começo o Live é uma das bandas mais apreciadas do cenário nacional, durante o período em que estiveram parados se transformaram numa verdadeira lenda, lembrada com reverência pelos apreciadores do hardcore straight edge duro e impactante unindo a força de clássicos noventistas como Integrity e Path Of Resistance à familiaridade e sinceridade de quem há anos batalha pela cena local na conexão São Paulo – Baixada Santista.
http://www.myspace.com/livebythefist
Leptospirose
Os imperadores de Bragança Paulista voltam à Verdurada para mostrar novamente por quê são considerados pelos experts um dos melhores e mais originais nomes do hardcore atual. Além da velocidade e volume supersônicos e do carisma do frontman e ícone Quique Brown, o Leptospirose conta com os melhores músicos já vistos num show de punk rock ao sul do equador. Sorte nossa que, por algum motivo, os três resolveram direcionar seus talentos para criar uma massa sonora comparável a Dead Kennedys, Bad Brains, Meat Puppets e outros grandes nomes do ramo.
http://www.myspace.com/leptospirose
O Cúmplice
Com sua música demolidora que mistura o que há de mais sinistro nos universos do metal e do hardcore, de Black Sabbath e Venom a Integrity e Septic Death, O Cúmplice toca na Verdurada pela primeira vez após quase cinco anos de atividade. Divulgando o split cd com os cariocas do Te Voy A Quebrar, a banda apresenta o selo hardcoreano de qualidade, contando com integrantes e ex-integrantes de agrupamentos clássicos como Constrito, I Shot Cyrus e Abuso Sonoro. Destruição auditiva ou seu dinheiro de volta.
http://www.myspace.com/realcumplice
Speed Kills
Quem abre esta edição da Verdurada é este novo mas já comentado trio formado por integrantes de bandas notórias como B.U.S.H., Discarga e Alarme. Além de tocar um hardcore sujo e malvado inspirado em bandas inglesas e suecas como Mob 47, Anti-cimex e Discharge, o Speed Kills explora a temática baseada no filme “Mad Max”, que junto à sonoridade abrasiva e veloz como um V8, completa a equação pós-apocalíptica.
http://www.myspace.com/speedkillsparanoia
--- DEBATE ---
Existe Política Além do Voto? - Rodrigo Rosa (Biblioteca Terra Livre)
Votar no "menos pior"? Votar nulo? Não votar? Tanto faz! O "voto de protesto", o "voto útil" ou o "voto nulo" são meras opções vazias num sistema que em si não dá conta de nossos desejos e ambições. Há outros caminhos? Autogestão, cooperativismo, ajuda mútua; Ação direta, ocupações, mobilizações; Socialismo libertário, gestão não-hierárquica, democracia direta, busca do consenso, organização em grupos locais e coletivos em federações... Essas opções são mais do que formas alternativas de participação política, são meios de tomar de volta nossa própria vida que nos é usurpada todos os dias.
- Jantar VEGetariANO grátis e venda de material independente.
- Por favor, sem cigarros e sem álcool.
Internet:
http://www.verdurada.org
http://www.myspace.com/verdurada
verdurada@riseup.net
--- SOBRE OS INGRESSOS ---
São Paulo (Capital):
Os ingressos estão à venda no seguinte local:
- Loja Vegan Pride: Rua 24 de Maio, 62 - Loja 424 (Galeria do Rock).
Outras Cidades e Estados:
Envie um e-mail para verdurada@riseup.net (não faça pedidos através do site da Verdurada, Orkut ou MySpace), informando nome completo, RG, Cidade/Estado. A retirada do ingresso será no dia do show. Os ingressos não retirados serão vendidos na portaria.
--- O QUE MAIS? ---
1- Por favor, sem álcool, drogas ou cigarro dentro do local do evento.
2- Nada de alimentos que contenham produtos de origem animal.
3- Banquinhas de livros, cds, fanzines e material independente e divergente a preços populares, mesmo!
4- Venda de comida vegetariana, desde hambúrgueres, coxinhas, kibes, até bolos, tortas, bombons.
5- Os shows acabarão antes das onze e meia da noite, para que os espectadores possam se valer do sistema público de transporte.
6- Todo o dinheiro arrecadado com os ingressos será utilizado para pagar as despesas com o evento (transporte das bandas, locação do espaço, divulgação, locação da aparelhagem de som e luz).
7- Uma parte do dinheiro dos ingressos será utilizada em campanhas públicas de assuntos ligados aos interesses do Coletivo Verdurada, como vegetarianismo ético, práticas de democracia direta, questões políticas e sociais.
--- O QUE É A VERDURADA? ---
O Coletivo Verdurada é o responsável pela organização do evento realizado em São Paulo desde 1996. Ele consiste na apresentação de banda (especialmente de hardcore, mas o palco é aberto a outros gêneros) e palestras sobre assuntos políticos, além de oficinas, debates, exposição de vídeos e de arte de conteúdo político e divergente. No final é distribuído um jantar totalmente vegetariano.
Este é o mais antigo e talvez o mais importante evento do calendário faça você-mesmo brasileiro. Isso quer dizer que a organização é totalmente feita pela própria comunidade hardcore-punk-straightedge de São Paulo, que se encarrega tanto do contato com as bandas e palestrantes, quanto da locação do espaço, contratação das equipes de som e divulgação. Tudo sem fins lucrativos ou patrocínios de empresas. A renda é destinada a cobrir os custos e colaborar com atividades e iniciativas realizadas, ou apoiadas pelo coletivo.
Os objetivos de quem organiza a verdurada são basicamente dois: mostrar que se pode fazer com sucesso eventos sem o patrocínio de grandes empresas e sem divulgação paga na mídia e levar até o público a música feita pela juventude e as idéias e opiniões de pensadores e ativistas divergentes.
Coletivo Verdurada
Verdurada.Org
MySpace
Quando: 22/08/2010 – Domingo
Horário: 16hs às 22hs
Quanto: R$ 8,00
Onde: Rua Nestor Pestana 189, Centro
(A uma quadra da Praça Roosevelt – Entre Rua Augusta e Rua da Consolação – 5 minutos a pé dos metrôs República e Anhangabaú)
--- EM NOVO LOCAL (NOVAMENTE) ---
O tempo passa e o espaço muda, mas o espírito continua o mesmo. Como vocês devem ter notado, após duas bem sucedidas edições na Rua da Consolação a Verdurada foi obrigada mais uma vez a mudar de endereço, por motivos de força maior. Felizmente, encontramos um local ainda melhor e também no Centro, estrategicamente posicionado na área da Praça Roosevelt, entre as Ruas Augusta e da Consolação.
Com dimensões parecidas às do velho galpão do Jabaquara e um visual marcante, o novo local nos pareceu uma escolha digna da tradição que o evento carrega. Pensando nisso, preparamos uma escalação calculada cirurgicamente para abrir com chave de ouro esta nova fase.
São bandas que, apesar de misturar sonoridades diferentes como o hardcore melódico do Inimigo, o mosh noventista do Live By The Fist, o som inclassificável do Leptospirose, o caos escandinavo do Speek Kills e o peso apocalíptico d’O Cúmplice, carregam consigo laços de amizade e valores comuns de quem compartilha há anos os espaços criados pela Verdurada e iniciativas semelhantes.
Como sempre, também teremos nesta edição uma atividade extra-musical. O debate “Existe Política Além do Voto?” trará Rodrigo Rosa, professor e membro da Biblioteca Terra Livre, para discutir a validade do sistema eleitoral e as alternativas a ele, tema crucial nestes tempos de propaganda massacrante tentando nos convencer de que a única coisa que nos resta é escolher entre PT e PSDB.
--- PROGRAMAÇÃO ---
O Inimigo
Anunciamos com grande satisfação que após uma longa pausa e mudanças de formação, O Inimigo está de volta à Verdurada. Os velhos integrantes Kalota (Point Of No Return/I Shot Cyrus/B.U.S.H, etc), Juninho (Point Of No Return, Discarga, RDP, etc) e Nino (Discarga, Eu Serei a Hiena, etc) apresentam os recrutas Fernando (Small Talk, Againe, Van Damien, CPM22) e Alê (RHD). Quem já viu a banda nesta nova fase garante que além do som calcado nas velhas bandas de Washington DC como Embrace e Dag Nasty, o quinteto está incorporando elementos roqueiros à la Dinosaur Jr. Tire a prova!
http://www.myspace.com/oinimigo
Live By The Fist
Assim como os colegas acima, o LBTF volta à Verdurada para fazer seu primeiro show após um longo período de inatividade. Se desde o começo o Live é uma das bandas mais apreciadas do cenário nacional, durante o período em que estiveram parados se transformaram numa verdadeira lenda, lembrada com reverência pelos apreciadores do hardcore straight edge duro e impactante unindo a força de clássicos noventistas como Integrity e Path Of Resistance à familiaridade e sinceridade de quem há anos batalha pela cena local na conexão São Paulo – Baixada Santista.
http://www.myspace.com/livebythefist
Leptospirose
Os imperadores de Bragança Paulista voltam à Verdurada para mostrar novamente por quê são considerados pelos experts um dos melhores e mais originais nomes do hardcore atual. Além da velocidade e volume supersônicos e do carisma do frontman e ícone Quique Brown, o Leptospirose conta com os melhores músicos já vistos num show de punk rock ao sul do equador. Sorte nossa que, por algum motivo, os três resolveram direcionar seus talentos para criar uma massa sonora comparável a Dead Kennedys, Bad Brains, Meat Puppets e outros grandes nomes do ramo.
http://www.myspace.com/leptospirose
O Cúmplice
Com sua música demolidora que mistura o que há de mais sinistro nos universos do metal e do hardcore, de Black Sabbath e Venom a Integrity e Septic Death, O Cúmplice toca na Verdurada pela primeira vez após quase cinco anos de atividade. Divulgando o split cd com os cariocas do Te Voy A Quebrar, a banda apresenta o selo hardcoreano de qualidade, contando com integrantes e ex-integrantes de agrupamentos clássicos como Constrito, I Shot Cyrus e Abuso Sonoro. Destruição auditiva ou seu dinheiro de volta.
http://www.myspace.com/realcumplice
Speed Kills
Quem abre esta edição da Verdurada é este novo mas já comentado trio formado por integrantes de bandas notórias como B.U.S.H., Discarga e Alarme. Além de tocar um hardcore sujo e malvado inspirado em bandas inglesas e suecas como Mob 47, Anti-cimex e Discharge, o Speed Kills explora a temática baseada no filme “Mad Max”, que junto à sonoridade abrasiva e veloz como um V8, completa a equação pós-apocalíptica.
http://www.myspace.com/speedkillsparanoia
--- DEBATE ---
Existe Política Além do Voto? - Rodrigo Rosa (Biblioteca Terra Livre)
Votar no "menos pior"? Votar nulo? Não votar? Tanto faz! O "voto de protesto", o "voto útil" ou o "voto nulo" são meras opções vazias num sistema que em si não dá conta de nossos desejos e ambições. Há outros caminhos? Autogestão, cooperativismo, ajuda mútua; Ação direta, ocupações, mobilizações; Socialismo libertário, gestão não-hierárquica, democracia direta, busca do consenso, organização em grupos locais e coletivos em federações... Essas opções são mais do que formas alternativas de participação política, são meios de tomar de volta nossa própria vida que nos é usurpada todos os dias.
- Jantar VEGetariANO grátis e venda de material independente.
- Por favor, sem cigarros e sem álcool.
Internet:
http://www.verdurada.org
http://www.myspace.com/verdurada
verdurada@riseup.net
--- SOBRE OS INGRESSOS ---
São Paulo (Capital):
Os ingressos estão à venda no seguinte local:
- Loja Vegan Pride: Rua 24 de Maio, 62 - Loja 424 (Galeria do Rock).
Outras Cidades e Estados:
Envie um e-mail para verdurada@riseup.net (não faça pedidos através do site da Verdurada, Orkut ou MySpace), informando nome completo, RG, Cidade/Estado. A retirada do ingresso será no dia do show. Os ingressos não retirados serão vendidos na portaria.
--- O QUE MAIS? ---
1- Por favor, sem álcool, drogas ou cigarro dentro do local do evento.
2- Nada de alimentos que contenham produtos de origem animal.
3- Banquinhas de livros, cds, fanzines e material independente e divergente a preços populares, mesmo!
4- Venda de comida vegetariana, desde hambúrgueres, coxinhas, kibes, até bolos, tortas, bombons.
5- Os shows acabarão antes das onze e meia da noite, para que os espectadores possam se valer do sistema público de transporte.
6- Todo o dinheiro arrecadado com os ingressos será utilizado para pagar as despesas com o evento (transporte das bandas, locação do espaço, divulgação, locação da aparelhagem de som e luz).
7- Uma parte do dinheiro dos ingressos será utilizada em campanhas públicas de assuntos ligados aos interesses do Coletivo Verdurada, como vegetarianismo ético, práticas de democracia direta, questões políticas e sociais.
--- O QUE É A VERDURADA? ---
O Coletivo Verdurada é o responsável pela organização do evento realizado em São Paulo desde 1996. Ele consiste na apresentação de banda (especialmente de hardcore, mas o palco é aberto a outros gêneros) e palestras sobre assuntos políticos, além de oficinas, debates, exposição de vídeos e de arte de conteúdo político e divergente. No final é distribuído um jantar totalmente vegetariano.
Este é o mais antigo e talvez o mais importante evento do calendário faça você-mesmo brasileiro. Isso quer dizer que a organização é totalmente feita pela própria comunidade hardcore-punk-straightedge de São Paulo, que se encarrega tanto do contato com as bandas e palestrantes, quanto da locação do espaço, contratação das equipes de som e divulgação. Tudo sem fins lucrativos ou patrocínios de empresas. A renda é destinada a cobrir os custos e colaborar com atividades e iniciativas realizadas, ou apoiadas pelo coletivo.
Os objetivos de quem organiza a verdurada são basicamente dois: mostrar que se pode fazer com sucesso eventos sem o patrocínio de grandes empresas e sem divulgação paga na mídia e levar até o público a música feita pela juventude e as idéias e opiniões de pensadores e ativistas divergentes.
Coletivo Verdurada
Verdurada.Org
MySpace
Pássaros Surrealistas de Maurizio Bongiovanni
Pássaros Surrealistas de Maurizio Bongiovanni
Estes pássaros fazem-nos lembrar os "Relógios Derretidos" de Salvador Dalí, numa versão mais moderna e organizada. O efeito não é inovador, mas as reminiscências surrealistas aliam-se ao realismo de pormenor do cenário, construindo uma ponte pouco explorada na pintura e que nos faz lembrar fotografias distorcidas pelo Photoshop.
O trabalho pertence a Maurizio Bongiovanni, um italiado de Milão que define o seu trabalho como triste, correspondendo ao culminar de uma época de sofrimento. Trata-se de uma forma de libertação, construida em cores vivas e em temas muito relacionados com a natureza.
Entre a pintura realista e a abstrata, Bongiovanni interage com conceitos tradicionais e contemporâneas. O resultado são telas a óleo que tudo teriam para ser retratos realistas da natureza, caso não fossem empregues efeitos surreais que puxam os desenhos para cima ou para baixo, como uma qualquer força gravítica inesperada de uma geometria preocupante.
Mas a sua pintura não pára por aí: Bongiovanni tem evoluido, nas suas últimas telas a desconstrução do cenário é cada vez maior e passamos a ter dificuldade em identificar a realidade pormenorizada dos seus primeiros trabalhos: "Bird Rib" parece quase uma ilustração.
Quanto à inspiração para a composição destas telas, o artista diz que partiu de uma junção de ideias, muitas delas contemporâneas: a queda das Torres Gémeas no 11 de Setembro, os descarregamentos constantes da internet, o arco-íris, e do seu próprio computador, um Mac Book.
Longe de ser um novo Dalí, o trabalho deste italiano é digno de ser seguido no seu Flickr.
Diana Guerra é normalmente zote, mas dizem que também se interessa por arte, cultura e essas coisas óbvias.
Fonte: http://obviousmag.org
Estes pássaros fazem-nos lembrar os "Relógios Derretidos" de Salvador Dalí, numa versão mais moderna e organizada. O efeito não é inovador, mas as reminiscências surrealistas aliam-se ao realismo de pormenor do cenário, construindo uma ponte pouco explorada na pintura e que nos faz lembrar fotografias distorcidas pelo Photoshop.
O trabalho pertence a Maurizio Bongiovanni, um italiado de Milão que define o seu trabalho como triste, correspondendo ao culminar de uma época de sofrimento. Trata-se de uma forma de libertação, construida em cores vivas e em temas muito relacionados com a natureza.
Entre a pintura realista e a abstrata, Bongiovanni interage com conceitos tradicionais e contemporâneas. O resultado são telas a óleo que tudo teriam para ser retratos realistas da natureza, caso não fossem empregues efeitos surreais que puxam os desenhos para cima ou para baixo, como uma qualquer força gravítica inesperada de uma geometria preocupante.
Mas a sua pintura não pára por aí: Bongiovanni tem evoluido, nas suas últimas telas a desconstrução do cenário é cada vez maior e passamos a ter dificuldade em identificar a realidade pormenorizada dos seus primeiros trabalhos: "Bird Rib" parece quase uma ilustração.
Quanto à inspiração para a composição destas telas, o artista diz que partiu de uma junção de ideias, muitas delas contemporâneas: a queda das Torres Gémeas no 11 de Setembro, os descarregamentos constantes da internet, o arco-íris, e do seu próprio computador, um Mac Book.
Longe de ser um novo Dalí, o trabalho deste italiano é digno de ser seguido no seu Flickr.
Diana Guerra é normalmente zote, mas dizem que também se interessa por arte, cultura e essas coisas óbvias.
Fonte: http://obviousmag.org
segunda-feira, 26 de julho de 2010
MÍDIA - O fim de uma era de infâmia - Por Luis Nassif
MÍDIA - O fim de uma era de infâmia.
Enviado por Luis Nassif
Diogo Mainardi está saindo do país. Na sua crônica, brinca com o medo de ser preso. É medo real. Condenado a três meses de prisão pelas calúnias contra Paulo Henrique Amorim, perdeu a condição de réu primário. Há uma lista de ações contra ele. As cíveis, a Abril paga - como parte do trato. As criminais são intransferíveis. E há muitas pelo caminho.
Há meses e meses meus advogados tentam citá-lo, em vão. Foge para todo lado. A intimação foi entregue na portaria do seu prédio, mas os advogados da Abril querem impugnar, alegando que não foi entregue em mãos. Tudo isso na era da Internet, quando todo mundo sabe que ele está sendo procurado para ser intimado.
A outra ação, contra Reinaldo Azevedo, esbarra em manobras protelatórias dos advogados da Abril. A ação prosperou porque colocada no Fórum da Freguesia do Ó - região da sede da Abril. Os advogados da Abril insistem em transferi-la para a Vara de Pinheiros.
Minha ação de Direito de Resposta contra a Veja vaga há quase dois anos, devido à ação da juíza de Pinheiros. Primeiro, considerou a inicial inepta. Atrasou por mais de ano a ação. Em Segunda Instância, por unanimidade o Tribunal considerou a ação válida e devolveu para a juíza julgar. Ela se recusou, alegando que a revogação da Lei de Imprensa a impedia - o direito de resposta está inscrito na Constituição Federal.
No caso da ação Mainardi-Paulo Henrique Amorim, ela absolveu Mainardi, alegando que as ofensas não passavam de mero estilo de linguagem que não deveriam ser levadas a sério. O disparate da sentença foi revelado pelo próprio TJ-SP ao considerar que o autor merecia uma condenação de três meses de prisão.
O problema não é Mainardi. É apenas uma figura menor que, em uma ação orquestrada, ganhou visibilidade nacional para poder efetuar os ataques encomendados por Roberto Civita e José Serra.
Quando passar o fragor da batalha, ainda será contado o que foram esses anos de infâmia no jornalismo brasileiro.
Fonte: http://blogdeumsem-mdia.blogspot.com
Enviado por Luis Nassif
Diogo Mainardi está saindo do país. Na sua crônica, brinca com o medo de ser preso. É medo real. Condenado a três meses de prisão pelas calúnias contra Paulo Henrique Amorim, perdeu a condição de réu primário. Há uma lista de ações contra ele. As cíveis, a Abril paga - como parte do trato. As criminais são intransferíveis. E há muitas pelo caminho.
Há meses e meses meus advogados tentam citá-lo, em vão. Foge para todo lado. A intimação foi entregue na portaria do seu prédio, mas os advogados da Abril querem impugnar, alegando que não foi entregue em mãos. Tudo isso na era da Internet, quando todo mundo sabe que ele está sendo procurado para ser intimado.
A outra ação, contra Reinaldo Azevedo, esbarra em manobras protelatórias dos advogados da Abril. A ação prosperou porque colocada no Fórum da Freguesia do Ó - região da sede da Abril. Os advogados da Abril insistem em transferi-la para a Vara de Pinheiros.
Minha ação de Direito de Resposta contra a Veja vaga há quase dois anos, devido à ação da juíza de Pinheiros. Primeiro, considerou a inicial inepta. Atrasou por mais de ano a ação. Em Segunda Instância, por unanimidade o Tribunal considerou a ação válida e devolveu para a juíza julgar. Ela se recusou, alegando que a revogação da Lei de Imprensa a impedia - o direito de resposta está inscrito na Constituição Federal.
No caso da ação Mainardi-Paulo Henrique Amorim, ela absolveu Mainardi, alegando que as ofensas não passavam de mero estilo de linguagem que não deveriam ser levadas a sério. O disparate da sentença foi revelado pelo próprio TJ-SP ao considerar que o autor merecia uma condenação de três meses de prisão.
O problema não é Mainardi. É apenas uma figura menor que, em uma ação orquestrada, ganhou visibilidade nacional para poder efetuar os ataques encomendados por Roberto Civita e José Serra.
Quando passar o fragor da batalha, ainda será contado o que foram esses anos de infâmia no jornalismo brasileiro.
Fonte: http://blogdeumsem-mdia.blogspot.com
Grupo vaza dossiê militar secreto dos EUA sobre o Afeganistão
Grupo vaza dossiê militar secreto dos EUA sobre o Afeganistão
Mais de 90 mil documentos militares secretos dos Estados Unidos foram vazados para a imprensa internacional, revelando detalhes até então desconhecidos da guerra no Afeganistão, de acordo com reportagens de jornais desta segunda-feira.
O dossiê, que cobre o período entre 2004 e 2009, incluiria informações sobre mortes não divulgadas de civis afegãos, bem como sobre operações sigilosas contra líderes do Talebã.
Os relatórios atestariam que o Talebã teve acesso a mísseis capazes de detectar fontes de calor para bombardear aviões e que uma unidade secreta formada por forças especiais do Exército e da Marinha dos EUA conduziu missões para "capturar ou matar" líderes da milícia.
Os documentos também revelam preocupações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) com a ajuda dos países vizinhos ao Afeganistão, Paquistão e o Irã, a insurgentes do Talebã.
Além disso, o dossiê indica que muitas fatalidades de civis causadas por bombas colocadas em estradas ou resultado de erros em missões da Otan não foram registradas.
Os diários britânico The Guardian e americano New York Times afirmam que as informações foram apresentados a essas publicações e também à revista semanal alemã Der Spiegel pela organização online de denúncias Wikileaks.
As publicações disseram não ter tido contato com a fonte original responsável pelo vazamento das informações, mas afirmaram ter passado semanas checando os dados.
O Guardian descreveu o dossiê como um dos maiores vazamentos da história militar americana.
A analista de diplomacia da BBC Bridget Kendall avaliou que o documento revela detalhes das já conhecidas dificuldades na guerra no Afeganistão e mostram a realidade das mortes entre civis.
Os Estados Unidos condenaram a divulgação do dossiê. Uma nota do conselheiro de Segurança Nacional, general James Jones, diz que a divulgação de informações sigilosas "pode pôr em risco as vidas de americanos e nossos parceiros, e ameaçar a segurança nacional".
Ele acrescentou que os documentos cobrem o período anterior ao anúncio do presidente Barack Obama de "uma nova estratégia com um aumento substancial dos recursos para o Afeganistão".
Um funcionário americano afirmou que a Wikileaks não é uma fonte de notícias objetivas, mas sim uma organização que se opõe à política americana no Afeganistão.
Investigação
O dossiê veio à tona no momento em que a Otan diz estar investigando denúncias sobre a morte de até 45 civis em um ataque aéreo na província de Helmand na sexta-feira.
Embora o inquérito preliminar não tenha encontrado provas, um jornalista da BBC que esteve no povoado de Regey conversou com várias pessoas que dizem ter testemunhado o incidente.
Elas afirmaram que o ataque foi durante o dia, quando dezenas de pessoas buscavam abrigo no local por causa do combate que estava sendo travado no vilarejo vizinho Joshani.
Um porta-voz da Otan disse que as forças internacionais se esforçaram muito para evitar mortes de civis.
"A segurança do povo afegão é muito importante para as Forças Internacionais de Assistência à Segurança", disse o tenente-coronel Chris Hughes.
Fonte: BBC Brasil
Mais de 90 mil documentos militares secretos dos Estados Unidos foram vazados para a imprensa internacional, revelando detalhes até então desconhecidos da guerra no Afeganistão, de acordo com reportagens de jornais desta segunda-feira.
O dossiê, que cobre o período entre 2004 e 2009, incluiria informações sobre mortes não divulgadas de civis afegãos, bem como sobre operações sigilosas contra líderes do Talebã.
Os relatórios atestariam que o Talebã teve acesso a mísseis capazes de detectar fontes de calor para bombardear aviões e que uma unidade secreta formada por forças especiais do Exército e da Marinha dos EUA conduziu missões para "capturar ou matar" líderes da milícia.
Os documentos também revelam preocupações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) com a ajuda dos países vizinhos ao Afeganistão, Paquistão e o Irã, a insurgentes do Talebã.
Além disso, o dossiê indica que muitas fatalidades de civis causadas por bombas colocadas em estradas ou resultado de erros em missões da Otan não foram registradas.
Os diários britânico The Guardian e americano New York Times afirmam que as informações foram apresentados a essas publicações e também à revista semanal alemã Der Spiegel pela organização online de denúncias Wikileaks.
As publicações disseram não ter tido contato com a fonte original responsável pelo vazamento das informações, mas afirmaram ter passado semanas checando os dados.
O Guardian descreveu o dossiê como um dos maiores vazamentos da história militar americana.
A analista de diplomacia da BBC Bridget Kendall avaliou que o documento revela detalhes das já conhecidas dificuldades na guerra no Afeganistão e mostram a realidade das mortes entre civis.
Os Estados Unidos condenaram a divulgação do dossiê. Uma nota do conselheiro de Segurança Nacional, general James Jones, diz que a divulgação de informações sigilosas "pode pôr em risco as vidas de americanos e nossos parceiros, e ameaçar a segurança nacional".
Ele acrescentou que os documentos cobrem o período anterior ao anúncio do presidente Barack Obama de "uma nova estratégia com um aumento substancial dos recursos para o Afeganistão".
Um funcionário americano afirmou que a Wikileaks não é uma fonte de notícias objetivas, mas sim uma organização que se opõe à política americana no Afeganistão.
Investigação
O dossiê veio à tona no momento em que a Otan diz estar investigando denúncias sobre a morte de até 45 civis em um ataque aéreo na província de Helmand na sexta-feira.
Embora o inquérito preliminar não tenha encontrado provas, um jornalista da BBC que esteve no povoado de Regey conversou com várias pessoas que dizem ter testemunhado o incidente.
Elas afirmaram que o ataque foi durante o dia, quando dezenas de pessoas buscavam abrigo no local por causa do combate que estava sendo travado no vilarejo vizinho Joshani.
Um porta-voz da Otan disse que as forças internacionais se esforçaram muito para evitar mortes de civis.
"A segurança do povo afegão é muito importante para as Forças Internacionais de Assistência à Segurança", disse o tenente-coronel Chris Hughes.
Fonte: BBC Brasil
As tentações imperiais da França - Por Reginaldo Nasser
As tentações imperiais da França - Por Reginaldo Nasser
Em meio à crise política (corrupção e financiamento de campanha eleitoral) que atinge o seu governo, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, considerou uma vitória importante no Parlamento a aprovação, por 335 votos a favor e um contra, a lei que proíbe o uso do niqab e da burca pelas mulheres muçulmanas. Por que uma questão privada que afeta poucas pessoas na França ressurge como um foco de atenção exagerada? Por que religião e etnia saíram da esfera pessoal e tornaram-se públicas? O fato é que se estabeleceu na França um forte vínculo entre identidade e migração.
As polêmicas sobre o tema da identidade nacional são, antes de tudo, o medo do "outro", do não europeu. Os islâmicos são percebidos cada vez mais por europeus "brancos" não apenas como uma ameaça aos seus empregos, mas, sobretudo, uma ameaça ao “estilo de vida europeu”.
Diferentemente da campanha presidencial em 2005, em que os temas principais eram o desemprego e questões sociais, em 2007, o líder da extrema direita Jean-Marie Le Pen, pode assistir com satisfação a questão da “identidade nacional” assumir o primeiro plano nos debates entre os candidatos. Alguns chegam a especular que as razões da catastrófica atuação da equipe francesa, dentro e fora de campo na África do Sul, refletem as profundas transformações da sociedade francesa. Pois, se em 1998 a França pode celebrar orgulhosa a imagem de Zidane (capitão francês de origem argelina) erguendo a taça de campeão do mundo, revelando a integração de uma nação multi-etnica; no início desse ano, a equipe francesa foi vaiada por uma grande parte da torcida, de filhos ou netos de argelinos, quando jogava uma partida de futebol contra Argélia em Paris.
Apesar desse debate sobre crise da identidade nacional francesa ser indicativo de uma conjunção de fatores que atinge toda a Europa (globalização, crise financeira, desemprego, a ascensão da Ásia, etc), e que tende a se intensificar à medida que se perde a confiança em sua capacidade de superar os desafios, no caso da França a frustração tem levado a uma nostalgia do passado.
Pela primeira vez na história, soldados de 13 países africanos que pertenceram ao antigo império colonial francês marcharam na avenida Champs-Elysees, à frente das tropas francesas nas comemorações do Dia da Bastilha em Paris. Várias organizações da sociedade civil francesa protestaram contra as violações dos direitos humanos por alguns dos líderes africanos que estavam presente e acusaram Sarkozy de nostalgia colonial. Na ocasião Sarkozy anunciou aumento das pensões dos veteranos africanos para o mesmo nível que as dos franceses para corrigir uma injustiça. (os combatentes da 2ª Guerra Mundial estão agora com idades que variam entre 84 e 95 anos).
O tema reapareceu recentemente em mais um polêmico filme sobre a guerra pela independência da Argélia, "Hors la Loi" (Fora da Lei), sob protestos de manifestantes, em Cannes, portando bandeiras da França, dizendo que o filme macula a memória do Exército francês. O diretor é o mesmo do excepcional filme "Dias de Glória" de 2006. Ambos os filmes abordam a história dos soldados das colônias Francesas na África que combateram pela França na 2ª Guerra Mundial. Os britânicos e franceses aliciaram milhares de soldados das colônias com a promessa da futura independência dos seus países. Quando teve início a guerra, em 1939, o governo francês recrutou cerca de 500.000 africanos e De Gaulle recrutou mais 100.000 em 1943para libertar a França.
No momento da celebração da vitória dos aliados os soldados africanos foram escondidos em lugares que pareciam verdadeiros campos de refugiados, pois De Gaulle queria uma celebração “mais branca”. Aqueles que ousaram tremular a bandeira da Argélia entre as bandeiras dos EUA, Inglaterra e França foram massacrados.
Os franceses criaram um mito e querem que acreditemos que ele existe como se fosse uma realidade: o Estado-Nação. Uma maioria acreditava que esse era o melhor caminho para consolidar e legitimar o governo sobre uma população que se caracteriza por uma língua comum ou por seu caráter étnico. O problema é que as identidades dentro das nações são instáveis e é muito difícil uma comunidade cultural coincidir com uma entidade política, tornando impossível buscar a realização daquilo que se chama “França autêntica”. A incapacidade do Estado Francês em desenvolver uma política eficiente que integre os imigrantes está fortemente baseada no desejo de promover a homogeneidade numa nação “única e indivisível”, que na verdade é impossível de se realizar, a não ser que Sarkozy assuma de vez o seu desejo de restaurar o velho e detestável Império francês.
*Reginaldo Nasser é professor de Relações Internacionais da PUC-SP. O artigo foi publicado originalmente na Carta Maior.
Fonte: Opera Mundi
Em meio à crise política (corrupção e financiamento de campanha eleitoral) que atinge o seu governo, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, considerou uma vitória importante no Parlamento a aprovação, por 335 votos a favor e um contra, a lei que proíbe o uso do niqab e da burca pelas mulheres muçulmanas. Por que uma questão privada que afeta poucas pessoas na França ressurge como um foco de atenção exagerada? Por que religião e etnia saíram da esfera pessoal e tornaram-se públicas? O fato é que se estabeleceu na França um forte vínculo entre identidade e migração.
As polêmicas sobre o tema da identidade nacional são, antes de tudo, o medo do "outro", do não europeu. Os islâmicos são percebidos cada vez mais por europeus "brancos" não apenas como uma ameaça aos seus empregos, mas, sobretudo, uma ameaça ao “estilo de vida europeu”.
Diferentemente da campanha presidencial em 2005, em que os temas principais eram o desemprego e questões sociais, em 2007, o líder da extrema direita Jean-Marie Le Pen, pode assistir com satisfação a questão da “identidade nacional” assumir o primeiro plano nos debates entre os candidatos. Alguns chegam a especular que as razões da catastrófica atuação da equipe francesa, dentro e fora de campo na África do Sul, refletem as profundas transformações da sociedade francesa. Pois, se em 1998 a França pode celebrar orgulhosa a imagem de Zidane (capitão francês de origem argelina) erguendo a taça de campeão do mundo, revelando a integração de uma nação multi-etnica; no início desse ano, a equipe francesa foi vaiada por uma grande parte da torcida, de filhos ou netos de argelinos, quando jogava uma partida de futebol contra Argélia em Paris.
Apesar desse debate sobre crise da identidade nacional francesa ser indicativo de uma conjunção de fatores que atinge toda a Europa (globalização, crise financeira, desemprego, a ascensão da Ásia, etc), e que tende a se intensificar à medida que se perde a confiança em sua capacidade de superar os desafios, no caso da França a frustração tem levado a uma nostalgia do passado.
Pela primeira vez na história, soldados de 13 países africanos que pertenceram ao antigo império colonial francês marcharam na avenida Champs-Elysees, à frente das tropas francesas nas comemorações do Dia da Bastilha em Paris. Várias organizações da sociedade civil francesa protestaram contra as violações dos direitos humanos por alguns dos líderes africanos que estavam presente e acusaram Sarkozy de nostalgia colonial. Na ocasião Sarkozy anunciou aumento das pensões dos veteranos africanos para o mesmo nível que as dos franceses para corrigir uma injustiça. (os combatentes da 2ª Guerra Mundial estão agora com idades que variam entre 84 e 95 anos).
O tema reapareceu recentemente em mais um polêmico filme sobre a guerra pela independência da Argélia, "Hors la Loi" (Fora da Lei), sob protestos de manifestantes, em Cannes, portando bandeiras da França, dizendo que o filme macula a memória do Exército francês. O diretor é o mesmo do excepcional filme "Dias de Glória" de 2006. Ambos os filmes abordam a história dos soldados das colônias Francesas na África que combateram pela França na 2ª Guerra Mundial. Os britânicos e franceses aliciaram milhares de soldados das colônias com a promessa da futura independência dos seus países. Quando teve início a guerra, em 1939, o governo francês recrutou cerca de 500.000 africanos e De Gaulle recrutou mais 100.000 em 1943para libertar a França.
No momento da celebração da vitória dos aliados os soldados africanos foram escondidos em lugares que pareciam verdadeiros campos de refugiados, pois De Gaulle queria uma celebração “mais branca”. Aqueles que ousaram tremular a bandeira da Argélia entre as bandeiras dos EUA, Inglaterra e França foram massacrados.
Os franceses criaram um mito e querem que acreditemos que ele existe como se fosse uma realidade: o Estado-Nação. Uma maioria acreditava que esse era o melhor caminho para consolidar e legitimar o governo sobre uma população que se caracteriza por uma língua comum ou por seu caráter étnico. O problema é que as identidades dentro das nações são instáveis e é muito difícil uma comunidade cultural coincidir com uma entidade política, tornando impossível buscar a realização daquilo que se chama “França autêntica”. A incapacidade do Estado Francês em desenvolver uma política eficiente que integre os imigrantes está fortemente baseada no desejo de promover a homogeneidade numa nação “única e indivisível”, que na verdade é impossível de se realizar, a não ser que Sarkozy assuma de vez o seu desejo de restaurar o velho e detestável Império francês.
*Reginaldo Nasser é professor de Relações Internacionais da PUC-SP. O artigo foi publicado originalmente na Carta Maior.
Fonte: Opera Mundi
sábado, 24 de julho de 2010
Guerra anunciada na ABL: João Ubaldo x FHC - por Leandro Fortes
Guerra anunciada na ABL: João Ubaldo x FHC
Esse artigo de João Ubaldo ficou comigo tanto tempo porque, no fundo, eu tinha certeza que a vaidade intelectual de FHC iria levá-lo, em algum momento, a pleitear uma vaga na ABL, como agora se noticia em notas discretas de colunas de jornal, certo de que se trata de uma confraria historicamente vulnerável a influências políticas, quando não à bajulação pura e simples, como qualquer um pode constatar, embora abrigue grandes escritores, como o próprio João Ubaldo Ribeiro.
Leandro Fortes - Brasília, eu vi
Do blog Brasília, eu vi
Guardei, por 12 anos, em meio à minha papelada imunda de recortes de jornais e revistas velhas, numa caixa de papelão em frangalhos, um artigo de João Ubaldo Ribeiro datado de 25 de outubro de 1998, porque esperava justamente esse momento: a hora em que Fernando Henrique Cardoso, alijado da político e na iminência de cair no esquecimento público, se candidatasse a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. O artigo, intitulado "Senhor Presidente", foi escrito logo depois da vitória de FHC, no primeiro turno das eleições de 1998, graças ao Plano Real e à aprovação, no Congresso Nacional, da Emenda Constitucional da reeleição, conseguida à custa de um escandaloso esquema de compra de votos. O texto é pau puro e, surpreendentemente, foi escrito numa época em que a mídia nacional era, praticamente, uma assessoria de imprensa do consórcio PSDB/PFL. Não por outra razão, foi inicialmente censurado em "O Estado de S.Paulo", para onde o cronista escrevia, embora o jornal tenha sido obrigado a publicá-lo, uma semana depois, para evitar se envolver em um escândalo de censura justo com um dos mais respeitados escritores do país. Num tempo de internet incipiente, a repercussão do artigo foi mínima, ficando restrita às redações e ao meio intelectual, de resto, também acovardado pela força do pensamento único imposto à sociedade pela imprensa e pelo governo de então.
Esse retalho jornalístico ficou comigo tanto tempo porque, no fundo, eu tinha certeza que a vaidade intelectual de FHC iria levá-lo, em algum momento, a pleitear uma vaga na ABL, como agora se noticia em notas discretas de colunas de jornal, certo de que se trata de uma confraria historicamente vulnerável a influências políticas, quando não à bajulação pura e simples, como qualquer um pode constatar, embora abrigue grandes escritores, como o próprio João Ubaldo Ribeiro. Contudo, lá também estão escribas do calibre de José Sarney e do cirurgião plástico Ivo Pitanguy. No passado, também circulavam entre os imortais o general Aurélio de Lira Tavares (codinome "Adelita), eleito em 1970, com o apoio do ditador Emílio Médici, e Roberto Marinho, das Organizações Globo. A presença de FHC, que pelo menos escreveu uns livros de sociologia não seria, portanto, um escândalo em si. O problema é o artigo de João Ubaldo.
No texto, o escritor baiano, entre outras considerações, refere-se assim a Fernando Henrique Cardoso: "(...) o senhor é um sociólogo medíocre, cujo livro O Modelo Político Brasileiro me pareceu um amontoado de obviedades que não fizeram, nem fazem, falta ao nosso pensamento sociológico". Mais adiante, relembra um dos piores momentos da vida de FHC: "(...) o senhor, que já passou pelo ridículo de sentar-se na cadeira do prefeito de São Paulo, na convicção de que já estava eleito, hoje pensa que é um político competente e, possivelmente, tem Maquiavel na cabeceira da cama. O senhor não é uma coisa nem outra, o buraco é bem mais embaixo".
E por aí vai, até se lembrar, a certa altura do texto, que FHC, em algum momento da vida, poderia se interessar pela vida imortal da ABL. João Ubaldo, então, cospe uma fogueira de brasas para cima de Fernando Henrique: "(...) E, falando na Academia, me ocorre agora que o senhor venha a querer coroar sua carreira de glórias entrando para ela. Sou um pouco mais mocinho do que o senhor e não tenho nenhum poder, a não ser afetivo, sobre meus queridos confrades. Mas, se na ocasião eu tiver algum outro poder, o senhor só entra lá na minha vaga, com direito a meu lugar no mausoléu dos imortais".
Eu posso estar errado, já se passou mais de uma década, a ira de João Ubaldo pode ter se perdido na poeira do tempo, mas a julgar pelo teor do imortal artigo do escritor e jornalista baiano, FHC vai ter que pensar duas vezes antes de se candidatar a uma vaga na ABL. Ou considerar o fato de que só vai entrar lá por cima do cadáver de João Ubaldo Ribeiro. A conferir.
Abaixo (e aqui, retirado do ótimo site Alma Carioca), o artigo completo, para quem quiser se deleitar:
Senhor Presidente – João Ubaldo Ribeiro
25 de outubro de 1998
Senhor Presidente,
Antes de mais nada, quero tornar a parabenizá-lo pela sua vitória estrondosa nas urnas. Eu não gostei do resultado, como, aliás, não gosto do senhor, embora afirme isto com respeito. Explicito este meu respeito em dois motivos, por ordem de importância. O primeiro deles é que, como qualquer semelhante nosso, inclusive os milhões de miseráveis que o senhor volta a presidir, o senhor merece intrinsecamente o meu respeito. O segundo motivo é que o senhor incorpora uma instituição basilar de nosso sistema político, que é a Presidência da República, e eu devo respeito a essa instituição e jamais a insultaria, fosse o senhor ou qualquer outro seu ocupante legítimo. Talvez o senhor nem leia o que agora escrevo e, certamente, estará se lixando para um besta de um assim chamado intelectual, mero autor de uns pares de livros e de uns milhares de crônicas que jamais lhe causarão mossa. Mas eu quero dar meu recadinho.
Respeito também o senhor porque sei que meu respeito, ainda que talvez seja relutante privadamente, me é retribuído e não o faria abdicar de alguns compromissos com que, justiça seja feita, o senhor há mantido em sua vida pública – o mais importante dos quais é com a liberdade de expressão e opinião. O senhor, contudo, em quem antes votei, me traiu, assim como traiu muitos outros como eu. Ainda que obscuramente, sou do mesmo ramo profissional que o senhor, pois ensinei ciência política em universidades da Bahia e sei que o senhor é um sociólogo medíocre, cujo livro O Modelo Político Brasileiro me pareceu um amontoado de obviedades que não fizeram, nem fazem, falta ao nosso pensamento sociológico. Mas, como dizia antigo personagem de Jô Soares, eu acreditei.
O senhor entrou para a História não só como nosso presidente, como o primeiro a ser reeleito. Parabéns, outra vez, mas o senhor nos traiu. O senhor era admirado por gente como eu, em função de uma postura ética e política que o levou ao exílio e ao sofrimento em nome de causas em que acreditávamos, ou pelo menos nós pensávamos que o senhor acreditava, da mesma forma que hoje acha mais conveniente professar crença em Deus do que negá-la, como antes. Em determinados momentos de seu governo, o senhor chegou a fazer críticas, às vezes acirradas, a seu próprio governo, como se não fosse o senhor seu mandatário principal. O senhor, que já passou pelo ridículo de sentar-se na cadeira do prefeito de São Paulo, na convicção de que já estava eleito, hoje pensa que é um político competente e, possivelmente, tem Maquiavel na cabeceira da cama. O senhor não é uma coisa nem outra, o buraco é bem mais embaixo. Político competente é Antônio Carlos Magalhães, que manda no Brasil e, como já disse aqui, se ele fosse candidato, votaria nele e lhe continuaria a fazer oposição, mas pelo menos ele seria um presidente bem mais macho que o senhor.
Não gosto do senhor, mas não tenho ódio, é apenas uma divergência histórico-glandular. O senhor assumiu o governo em cima de um plano financeiro que o senhor sabe que não é seu, até porque lhe falta competência até para entendê-lo em sua inteireza e hoje, levado em grande parte por esse plano, nos governa novamente. Como já disse na semana passada, não lhe quero mal, desejo até grande sucesso para o senhor em sua próxima gestão, não, claro, por sua causa, mas por causa do povo brasileiro, pelo qual tenho tanto amor que agora mesmo, enquanto escrevo, estou chorando.
Eu ouso lembrar ao senhor, que tanto brilha, ao falar francês ou espanhol (inglês eu falo melhor, pode crer) em suas idas e vindas pelo mundo, à nossa custa, que o senhor é o presidente de um povo miserável, com umas das mais iníquas distribuições de renda do planeta. Ouso lembrar que um dos feitos mais memoráveis de seu governo, que ora se passa para que outro se inicie, foi o socorro, igualmente a nossa custa, a bancos ladrões, cujos responsáveis permanecem e permanecerão impunes. Ouso dizer que o senhor não fez nada que o engrandeça junto aos corações de muitos compatriotas, como eu. Ouso recordar que o senhor, numa demonstração inacreditável de insensibilidade, aconselhou a todos os brasileiros que fizessem check-ups médicos regulares. Ouso rememorar o senhor chamando os aposentados brasileiros de vagabundos. Claro, o senhor foi consagrado nas urnas pelo povo e não serei eu que terei a arrogância de dizer que estou certo e o povo está errado. Como já pedi na semana passada, Deus o assista, presidente. Paradoxal como pareça, eu torço pelo senhor, porque torço pelo povo de famintos, esfarrapados, humilhados, injustiçados e desgraçados, com o qual o senhor, em seu palácio, não convive, mas eu, que inclusive sou nordestino, conheço muito bem. E ouso recear que, depois de novamente empossado, o senhor minta outra vez e traga tantas ou mais desditas à classe média do que seu antecessor que hoje vive em Miami.
Já trocamos duas ou três palavras, quando nos vimos em solenidades da Academia Brasileira de Letras. Se o senhor, ao por acaso estar lá outra vez, dignar-se a me estender a mão, eu a apertarei deferentemente, pois não desacato o presidente de meu país. Mas não é necessário que o senhor passe por esse constrangimento, pois, do mesmo jeito que o senhor pode fingir que não me vê, a mesma coisa posso eu fazer. E, falando na Academia, me ocorre agora que o senhor venha a querer coroar sua carreira de glórias entrando para ela. Sou um pouco mais mocinho do que o senhor e não tenho nenhum poder, a não ser afetivo, sobre meus queridos confrades. Mas, se na ocasião eu tiver algum outro poder, o senhor só entra lá na minha vaga, com direito a meu lugar no mausoléu dos imortais.
Fonte: Carta Maior
Esse artigo de João Ubaldo ficou comigo tanto tempo porque, no fundo, eu tinha certeza que a vaidade intelectual de FHC iria levá-lo, em algum momento, a pleitear uma vaga na ABL, como agora se noticia em notas discretas de colunas de jornal, certo de que se trata de uma confraria historicamente vulnerável a influências políticas, quando não à bajulação pura e simples, como qualquer um pode constatar, embora abrigue grandes escritores, como o próprio João Ubaldo Ribeiro.
Leandro Fortes - Brasília, eu vi
Do blog Brasília, eu vi
Guardei, por 12 anos, em meio à minha papelada imunda de recortes de jornais e revistas velhas, numa caixa de papelão em frangalhos, um artigo de João Ubaldo Ribeiro datado de 25 de outubro de 1998, porque esperava justamente esse momento: a hora em que Fernando Henrique Cardoso, alijado da político e na iminência de cair no esquecimento público, se candidatasse a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. O artigo, intitulado "Senhor Presidente", foi escrito logo depois da vitória de FHC, no primeiro turno das eleições de 1998, graças ao Plano Real e à aprovação, no Congresso Nacional, da Emenda Constitucional da reeleição, conseguida à custa de um escandaloso esquema de compra de votos. O texto é pau puro e, surpreendentemente, foi escrito numa época em que a mídia nacional era, praticamente, uma assessoria de imprensa do consórcio PSDB/PFL. Não por outra razão, foi inicialmente censurado em "O Estado de S.Paulo", para onde o cronista escrevia, embora o jornal tenha sido obrigado a publicá-lo, uma semana depois, para evitar se envolver em um escândalo de censura justo com um dos mais respeitados escritores do país. Num tempo de internet incipiente, a repercussão do artigo foi mínima, ficando restrita às redações e ao meio intelectual, de resto, também acovardado pela força do pensamento único imposto à sociedade pela imprensa e pelo governo de então.
Esse retalho jornalístico ficou comigo tanto tempo porque, no fundo, eu tinha certeza que a vaidade intelectual de FHC iria levá-lo, em algum momento, a pleitear uma vaga na ABL, como agora se noticia em notas discretas de colunas de jornal, certo de que se trata de uma confraria historicamente vulnerável a influências políticas, quando não à bajulação pura e simples, como qualquer um pode constatar, embora abrigue grandes escritores, como o próprio João Ubaldo Ribeiro. Contudo, lá também estão escribas do calibre de José Sarney e do cirurgião plástico Ivo Pitanguy. No passado, também circulavam entre os imortais o general Aurélio de Lira Tavares (codinome "Adelita), eleito em 1970, com o apoio do ditador Emílio Médici, e Roberto Marinho, das Organizações Globo. A presença de FHC, que pelo menos escreveu uns livros de sociologia não seria, portanto, um escândalo em si. O problema é o artigo de João Ubaldo.
No texto, o escritor baiano, entre outras considerações, refere-se assim a Fernando Henrique Cardoso: "(...) o senhor é um sociólogo medíocre, cujo livro O Modelo Político Brasileiro me pareceu um amontoado de obviedades que não fizeram, nem fazem, falta ao nosso pensamento sociológico". Mais adiante, relembra um dos piores momentos da vida de FHC: "(...) o senhor, que já passou pelo ridículo de sentar-se na cadeira do prefeito de São Paulo, na convicção de que já estava eleito, hoje pensa que é um político competente e, possivelmente, tem Maquiavel na cabeceira da cama. O senhor não é uma coisa nem outra, o buraco é bem mais embaixo".
E por aí vai, até se lembrar, a certa altura do texto, que FHC, em algum momento da vida, poderia se interessar pela vida imortal da ABL. João Ubaldo, então, cospe uma fogueira de brasas para cima de Fernando Henrique: "(...) E, falando na Academia, me ocorre agora que o senhor venha a querer coroar sua carreira de glórias entrando para ela. Sou um pouco mais mocinho do que o senhor e não tenho nenhum poder, a não ser afetivo, sobre meus queridos confrades. Mas, se na ocasião eu tiver algum outro poder, o senhor só entra lá na minha vaga, com direito a meu lugar no mausoléu dos imortais".
Eu posso estar errado, já se passou mais de uma década, a ira de João Ubaldo pode ter se perdido na poeira do tempo, mas a julgar pelo teor do imortal artigo do escritor e jornalista baiano, FHC vai ter que pensar duas vezes antes de se candidatar a uma vaga na ABL. Ou considerar o fato de que só vai entrar lá por cima do cadáver de João Ubaldo Ribeiro. A conferir.
Abaixo (e aqui, retirado do ótimo site Alma Carioca), o artigo completo, para quem quiser se deleitar:
Senhor Presidente – João Ubaldo Ribeiro
25 de outubro de 1998
Senhor Presidente,
Antes de mais nada, quero tornar a parabenizá-lo pela sua vitória estrondosa nas urnas. Eu não gostei do resultado, como, aliás, não gosto do senhor, embora afirme isto com respeito. Explicito este meu respeito em dois motivos, por ordem de importância. O primeiro deles é que, como qualquer semelhante nosso, inclusive os milhões de miseráveis que o senhor volta a presidir, o senhor merece intrinsecamente o meu respeito. O segundo motivo é que o senhor incorpora uma instituição basilar de nosso sistema político, que é a Presidência da República, e eu devo respeito a essa instituição e jamais a insultaria, fosse o senhor ou qualquer outro seu ocupante legítimo. Talvez o senhor nem leia o que agora escrevo e, certamente, estará se lixando para um besta de um assim chamado intelectual, mero autor de uns pares de livros e de uns milhares de crônicas que jamais lhe causarão mossa. Mas eu quero dar meu recadinho.
Respeito também o senhor porque sei que meu respeito, ainda que talvez seja relutante privadamente, me é retribuído e não o faria abdicar de alguns compromissos com que, justiça seja feita, o senhor há mantido em sua vida pública – o mais importante dos quais é com a liberdade de expressão e opinião. O senhor, contudo, em quem antes votei, me traiu, assim como traiu muitos outros como eu. Ainda que obscuramente, sou do mesmo ramo profissional que o senhor, pois ensinei ciência política em universidades da Bahia e sei que o senhor é um sociólogo medíocre, cujo livro O Modelo Político Brasileiro me pareceu um amontoado de obviedades que não fizeram, nem fazem, falta ao nosso pensamento sociológico. Mas, como dizia antigo personagem de Jô Soares, eu acreditei.
O senhor entrou para a História não só como nosso presidente, como o primeiro a ser reeleito. Parabéns, outra vez, mas o senhor nos traiu. O senhor era admirado por gente como eu, em função de uma postura ética e política que o levou ao exílio e ao sofrimento em nome de causas em que acreditávamos, ou pelo menos nós pensávamos que o senhor acreditava, da mesma forma que hoje acha mais conveniente professar crença em Deus do que negá-la, como antes. Em determinados momentos de seu governo, o senhor chegou a fazer críticas, às vezes acirradas, a seu próprio governo, como se não fosse o senhor seu mandatário principal. O senhor, que já passou pelo ridículo de sentar-se na cadeira do prefeito de São Paulo, na convicção de que já estava eleito, hoje pensa que é um político competente e, possivelmente, tem Maquiavel na cabeceira da cama. O senhor não é uma coisa nem outra, o buraco é bem mais embaixo. Político competente é Antônio Carlos Magalhães, que manda no Brasil e, como já disse aqui, se ele fosse candidato, votaria nele e lhe continuaria a fazer oposição, mas pelo menos ele seria um presidente bem mais macho que o senhor.
Não gosto do senhor, mas não tenho ódio, é apenas uma divergência histórico-glandular. O senhor assumiu o governo em cima de um plano financeiro que o senhor sabe que não é seu, até porque lhe falta competência até para entendê-lo em sua inteireza e hoje, levado em grande parte por esse plano, nos governa novamente. Como já disse na semana passada, não lhe quero mal, desejo até grande sucesso para o senhor em sua próxima gestão, não, claro, por sua causa, mas por causa do povo brasileiro, pelo qual tenho tanto amor que agora mesmo, enquanto escrevo, estou chorando.
Eu ouso lembrar ao senhor, que tanto brilha, ao falar francês ou espanhol (inglês eu falo melhor, pode crer) em suas idas e vindas pelo mundo, à nossa custa, que o senhor é o presidente de um povo miserável, com umas das mais iníquas distribuições de renda do planeta. Ouso lembrar que um dos feitos mais memoráveis de seu governo, que ora se passa para que outro se inicie, foi o socorro, igualmente a nossa custa, a bancos ladrões, cujos responsáveis permanecem e permanecerão impunes. Ouso dizer que o senhor não fez nada que o engrandeça junto aos corações de muitos compatriotas, como eu. Ouso recordar que o senhor, numa demonstração inacreditável de insensibilidade, aconselhou a todos os brasileiros que fizessem check-ups médicos regulares. Ouso rememorar o senhor chamando os aposentados brasileiros de vagabundos. Claro, o senhor foi consagrado nas urnas pelo povo e não serei eu que terei a arrogância de dizer que estou certo e o povo está errado. Como já pedi na semana passada, Deus o assista, presidente. Paradoxal como pareça, eu torço pelo senhor, porque torço pelo povo de famintos, esfarrapados, humilhados, injustiçados e desgraçados, com o qual o senhor, em seu palácio, não convive, mas eu, que inclusive sou nordestino, conheço muito bem. E ouso recear que, depois de novamente empossado, o senhor minta outra vez e traga tantas ou mais desditas à classe média do que seu antecessor que hoje vive em Miami.
Já trocamos duas ou três palavras, quando nos vimos em solenidades da Academia Brasileira de Letras. Se o senhor, ao por acaso estar lá outra vez, dignar-se a me estender a mão, eu a apertarei deferentemente, pois não desacato o presidente de meu país. Mas não é necessário que o senhor passe por esse constrangimento, pois, do mesmo jeito que o senhor pode fingir que não me vê, a mesma coisa posso eu fazer. E, falando na Academia, me ocorre agora que o senhor venha a querer coroar sua carreira de glórias entrando para ela. Sou um pouco mais mocinho do que o senhor e não tenho nenhum poder, a não ser afetivo, sobre meus queridos confrades. Mas, se na ocasião eu tiver algum outro poder, o senhor só entra lá na minha vaga, com direito a meu lugar no mausoléu dos imortais.
Fonte: Carta Maior
sexta-feira, 23 de julho de 2010
De Golfo a Golfo, populações e natureza vão sendo engolfadas - Por Felipe Amaral
De Golfo a Golfo, populações e natureza vão sendo engolfadas
Finalmente foi estancado o vazamento de petróleo cru do poço Macondo, no Golfo do México. Mesmo sendo uma medida paliativa e provisória, é a primeira vez, desde 20 de abril, que o fluxo de petróleo para mar é estancado. Este experimento, segundo a empresa British Petroleum, é uma forma de avaliar a possibilidade de interromper definitivamente o vazamento.
Depois de quase três meses, contabilizado perdas para as atividades econômicas como a pesca e turismo, é a primeira vez que uma das soluções engenhosas desenvolvidas pela equipe de apoio da empresa tem um resultado minimamente positivo.
Informações recentes do grupo de cientistas encarregados pelo governo estadunidense de monitorar o caso, sob supervisão militar, constam que existe a possibilidade de haver outro ponto de vazamento – cerca de 2.3 quilômetros do poço Macondo –, e por este motivo ouve a redução da pressão no ponto de vazamento, permitindo estancar o fluxo de petróleo cru, mas ainda não se sabe exatamente do que se trata, se é gás, petróleo ou um outro fluído.
População, autoridades, trabalhadores do mar, agentes de turismo, dentre outros, tomam medidas para conter ou reduzir o impacto nas praias e estuários. Algumas medidas tomadas inicialmente podem comprometer todo o trabalho e ampliar a contaminação.
Uma das medidas paliativas foi a aplicação aérea de um produto químico, similar a detergente doméstico, que causa a dissolução das porções mais tóxicas. Esse processo não se revelou muito eficaz, pois o complexo petróleo-detergente é mais tóxico que o petróleo isolado, e a sua biodegradação é mais lenta.
Outra técnica usada foi o que especialistas chamam de afundamento, que tem efeitos nocivos sobre a flora e fauna dos fundos oceânicos. Isto na realidade faz com que o material suspenso decante. Uma vez afundado, o petróleo cobre os sedimentos do fundo do mar e destrói toda a vida aí existente no espaço de alguns meses. Na realidade seria como “esconder a sujeira debaixo do tapete.”
Este processo pode ampliar o impacto sobre a vida marinha. O petróleo é cru é material orgânico, além de uma grande variedade de hidrocarbonetos. Diferentemente de derrames de navios ou plataformas, quando o petróleo já esta estabilizado, neste caso, o petróleo cru, deve ser consumido por bactérias e microorganismos, aumentando a demanda por oxigênio, causando a morte direta de muitas espécies. É fenômeno como a eutrofização de rios, quando um corpo d’água fica rico em matéria orgânica proveniente de um determinado despejo.
Na degradação biológica, as bactérias decompõem o petróleo em substâncias mais simples. Essas bactérias usadas na remediação de desastres, por exemplo, são extraídas do amido do milho. Para digerir 1 litro de petróleo, as bactérias consomem o oxigênio de 327 litros de água, o que agrava a disponibilidade de oxigênio.
É importante destacar que toda e qualquer iniciativa tomada pela empresa PB e suas aliadas, visto que foi montado um time dos melhores engenheiros, incluindo membros de outras empresas concorrentes, foi uma odisséia às profundezas oceânicas, contando com a ajuda única e exclusiva de veículos operados a distancia. Uma operação que já contabiliza até agora, o custo de US$ 3,95 bilhões.
Desastres como estes geram uma enorme renda e movimentam a economia através de serviços, impostos e multas. Enquanto a economia local agoniza, enquanto a biodiversidade definha, o BIP flutua nas alturas. Inicialmente as ações da empresa PB tiveram uma grande declive. Perda para alguns.
Mas a possibilidade real de um implemento na economia, principalmente alavancada por empresas do setor de mão de obra ligada a contenção de petróleo, está colocando acionistas e diretores em euforia. Ganho para outros. A simples oscilação dos ativos operados pela BP no mercado financeiro, já possibilita o aquecimento das ações de outros grupos empresariais, na medida em que se remodela o mercado, com a possibilidade concreta de uma concordata ou falência.
A exploração e uso de petróleo vão levar a humanidade a um estado de caos generalizado. Somos petrodependentes. O homem tem contacto com o petróleo há mais de quatro mil anos antes de Cristo. Os povos antigos do Egito, Mesopotâmia e Pérsia, usavam o betume para pavimentar estradas, calafetar construções, aquecer e iluminar suas casas. Tudo no mundo é petróleo. E movidos pela cobiça e poder das grandes empresas transnacionais de exploração, manufatura e comércio do “ouro negro” no mundo, comprometemos nosso futuro comum. Esta dependência somente se amplia, se agrava. Embora já sabendo dos prejuízos ao meio ambiente e a saúde humana não conseguimos alterar nossa matriz energética e produtiva.
Em detrimento do progresso e do consumo de bens duráveis e de consumo direto, de uma pequena parcela da população mundial, colocamos a vida em sua maior magnitude no perigo eminente. Colocando populações sobre a mira de forças bélicas internacionais. Temo pelos países com reservas. Temo pelo anuncio do pré-sal, que nos coloca na mira de interesses que nem o tempo e a história conseguem ou conseguirão sintetizar.
Os Estados Unidos, numa coalizão histórica, pois não é coisa deste século, numa aliança entre empresas de petróleo, montadoras de automóveis, indústria armamentista, indústria de derivados, como a farmacêutica e química estão levando o terror para regiões do mundo onde em seu subsolo existe petróleo.
Seja pelo lobby estatal/empresarial, seja pela força econômica que financia governos locais, seja pela promoção e financiamento de guerras civis, seja pela força armada oficial.
É assim na Nigéria, na Rússia (Cálcaso), na Malásia (Bornéu), é assim no Golfo Pérsico (Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait), é assim no Golfo no México. De Golfo a Golfo, populações e a natureza vão sendo engolfadas.
*Felipe Amaral é ecólogo e coordenador do Instituto Biofilia. Artigo originalmente publicado na Radioagência NP
Fonte: Opera Mundi
Finalmente foi estancado o vazamento de petróleo cru do poço Macondo, no Golfo do México. Mesmo sendo uma medida paliativa e provisória, é a primeira vez, desde 20 de abril, que o fluxo de petróleo para mar é estancado. Este experimento, segundo a empresa British Petroleum, é uma forma de avaliar a possibilidade de interromper definitivamente o vazamento.
Depois de quase três meses, contabilizado perdas para as atividades econômicas como a pesca e turismo, é a primeira vez que uma das soluções engenhosas desenvolvidas pela equipe de apoio da empresa tem um resultado minimamente positivo.
Informações recentes do grupo de cientistas encarregados pelo governo estadunidense de monitorar o caso, sob supervisão militar, constam que existe a possibilidade de haver outro ponto de vazamento – cerca de 2.3 quilômetros do poço Macondo –, e por este motivo ouve a redução da pressão no ponto de vazamento, permitindo estancar o fluxo de petróleo cru, mas ainda não se sabe exatamente do que se trata, se é gás, petróleo ou um outro fluído.
População, autoridades, trabalhadores do mar, agentes de turismo, dentre outros, tomam medidas para conter ou reduzir o impacto nas praias e estuários. Algumas medidas tomadas inicialmente podem comprometer todo o trabalho e ampliar a contaminação.
Uma das medidas paliativas foi a aplicação aérea de um produto químico, similar a detergente doméstico, que causa a dissolução das porções mais tóxicas. Esse processo não se revelou muito eficaz, pois o complexo petróleo-detergente é mais tóxico que o petróleo isolado, e a sua biodegradação é mais lenta.
Outra técnica usada foi o que especialistas chamam de afundamento, que tem efeitos nocivos sobre a flora e fauna dos fundos oceânicos. Isto na realidade faz com que o material suspenso decante. Uma vez afundado, o petróleo cobre os sedimentos do fundo do mar e destrói toda a vida aí existente no espaço de alguns meses. Na realidade seria como “esconder a sujeira debaixo do tapete.”
Este processo pode ampliar o impacto sobre a vida marinha. O petróleo é cru é material orgânico, além de uma grande variedade de hidrocarbonetos. Diferentemente de derrames de navios ou plataformas, quando o petróleo já esta estabilizado, neste caso, o petróleo cru, deve ser consumido por bactérias e microorganismos, aumentando a demanda por oxigênio, causando a morte direta de muitas espécies. É fenômeno como a eutrofização de rios, quando um corpo d’água fica rico em matéria orgânica proveniente de um determinado despejo.
Na degradação biológica, as bactérias decompõem o petróleo em substâncias mais simples. Essas bactérias usadas na remediação de desastres, por exemplo, são extraídas do amido do milho. Para digerir 1 litro de petróleo, as bactérias consomem o oxigênio de 327 litros de água, o que agrava a disponibilidade de oxigênio.
É importante destacar que toda e qualquer iniciativa tomada pela empresa PB e suas aliadas, visto que foi montado um time dos melhores engenheiros, incluindo membros de outras empresas concorrentes, foi uma odisséia às profundezas oceânicas, contando com a ajuda única e exclusiva de veículos operados a distancia. Uma operação que já contabiliza até agora, o custo de US$ 3,95 bilhões.
Desastres como estes geram uma enorme renda e movimentam a economia através de serviços, impostos e multas. Enquanto a economia local agoniza, enquanto a biodiversidade definha, o BIP flutua nas alturas. Inicialmente as ações da empresa PB tiveram uma grande declive. Perda para alguns.
Mas a possibilidade real de um implemento na economia, principalmente alavancada por empresas do setor de mão de obra ligada a contenção de petróleo, está colocando acionistas e diretores em euforia. Ganho para outros. A simples oscilação dos ativos operados pela BP no mercado financeiro, já possibilita o aquecimento das ações de outros grupos empresariais, na medida em que se remodela o mercado, com a possibilidade concreta de uma concordata ou falência.
A exploração e uso de petróleo vão levar a humanidade a um estado de caos generalizado. Somos petrodependentes. O homem tem contacto com o petróleo há mais de quatro mil anos antes de Cristo. Os povos antigos do Egito, Mesopotâmia e Pérsia, usavam o betume para pavimentar estradas, calafetar construções, aquecer e iluminar suas casas. Tudo no mundo é petróleo. E movidos pela cobiça e poder das grandes empresas transnacionais de exploração, manufatura e comércio do “ouro negro” no mundo, comprometemos nosso futuro comum. Esta dependência somente se amplia, se agrava. Embora já sabendo dos prejuízos ao meio ambiente e a saúde humana não conseguimos alterar nossa matriz energética e produtiva.
Em detrimento do progresso e do consumo de bens duráveis e de consumo direto, de uma pequena parcela da população mundial, colocamos a vida em sua maior magnitude no perigo eminente. Colocando populações sobre a mira de forças bélicas internacionais. Temo pelos países com reservas. Temo pelo anuncio do pré-sal, que nos coloca na mira de interesses que nem o tempo e a história conseguem ou conseguirão sintetizar.
Os Estados Unidos, numa coalizão histórica, pois não é coisa deste século, numa aliança entre empresas de petróleo, montadoras de automóveis, indústria armamentista, indústria de derivados, como a farmacêutica e química estão levando o terror para regiões do mundo onde em seu subsolo existe petróleo.
Seja pelo lobby estatal/empresarial, seja pela força econômica que financia governos locais, seja pela promoção e financiamento de guerras civis, seja pela força armada oficial.
É assim na Nigéria, na Rússia (Cálcaso), na Malásia (Bornéu), é assim no Golfo Pérsico (Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait), é assim no Golfo no México. De Golfo a Golfo, populações e a natureza vão sendo engolfadas.
*Felipe Amaral é ecólogo e coordenador do Instituto Biofilia. Artigo originalmente publicado na Radioagência NP
Fonte: Opera Mundi
O novo crime de Israel indigna, mas não surpreende
O novo crime de Israel indigna, mas não surpreende
Os crimes israelitas sucedem-se e vão ficando impunes. Para lhes pôr fim, cabe aos povos fazerem o que os Estados não conseguem. Por isso muitas organizações palestinianas nos incitam a boicotar os produtos israelitas. É um combate legítimo. Por Domenico Losurdo
O crime perpetrado por Israel em águas internacionais, contra pacifistas empenhados em levar ajuda aos prisioneiros desse imenso campo de concentração em que Gaza se tornou, pode e deve indignar-nos, mas não deve surpreender-nos: há muito tempo que o governo de Telavive teve a sua decisão de atingir pelo terror não apenas as vítimas directas do seu expansionismo colonial, mas inclusivamente quantos ousem exprimir solidariedade com as vítimas e que, de algum modo, entravem a terrível máquina de guerra e de opressão de que os carrascos se servem. A tese segundo a qual os pacifistas estavam armados e por isso mereciam morrer é um corolário de outra segundo a qual era uma obrigação desencadear a operação Shock and Awe [Choque e estupor] contra o Iraque de Saddam Hussein, acusado de possuir armas de destruição massiva! A solidariedade e a cumplicidade de fundo que ligam Israel e os EUA revelam-se também na arte da manipulação, e não é substancialmente prejudicada pela alternância dos diversos locatários da Casa Branca.
Essa manipulação, quando não é abertamente promovida, não é certamente dificultada pela grande imprensa de “informação”. Nos últimos tempos, tanto na Palestina como em certos sectores do Ocidente, tem-se desenvolvido uma nova forma de luta: consiste em boicotar mercadorias produzidas pelos colonos que, em violação flagrante do direito internacional e dos direitos humanos, continuam a expandir-se nos territórios ocupados. Esta forma de luta tipicamente não-violenta que é o boicote bem poderia ser saudada por aqueles que estão sempre a condenar a “violência” da resistência. Todavia foi o inverso que aconteceu. No Corriere della Sera Furio Colombo e alguns outros empenharam-se nos últimos dias em considerar que o boicote às exportações israelitas provenientes dos territórios ilegalmente ocupados seria semelhante às medidas tomadas outrora pela Alemanha nazi contra as lojas pertencentes aos judeus.
Em que ficamos? Como eu lembrei no meu recente livro La non-violenza. Una storia fuori dal mito, os povos oprimidos, e em primeiro lugar os povos colonizados, recorreram constantemente ao boicote. É um instrumento de luta que, para só falar do séc. XX, vemos ser utilizado na China, aquando do protesto organizado pelo movimento do 4 de Maio (1919), contra a pretensão do Japão, encorajada ou tolerada por outras potências imperialistas, de impor o seu protectorado ao grande país asiático. Uma dezena de anos depois, ao boicote dos tecidos segue-se, na Índia, o boicote aos produtos da indústria inglesa. Neste caso, foi o movimento inspirado e dirigido por Ghandi que conduziu a agitação: “Havia regularmente piquetes de mulheres diante das lojas onde se vendiam as roupas produzidas na Grã-Bretanha. Elas seguiam as outras mulheres que saíam das lojas e tentavam persuadi-las a irem devolver as suas compras”. Alguns anos mais tarde, foi a comunidade judaica internacional que sugeriu o boicote às mercadorias alemãs, como resposta à fúria anti-semita de Hitler. É nesta tradição que assenta o movimento que hoje procura atingir mercadorias produzidas unicamente graças a um expansionismo colonial desumano nos territórios palestinianos ocupados.
Claro que, desde a sua origem, o regime nazi tratou de estrangular a actividade comercial e industrial dos judeus alemães, e de os privar das suas propriedades legítimas. Mas tudo isso nada tem a ver com o boicote (instrumento tradicional dos povos oprimidos), outrossim com o uso terrorista do poder político. Se quisermos uma analogia, refiram-se então as medidas que hoje atingem os palestinianos, a quem foram expropriadas as suas casas, as suas terras, os seus olivais, e cada vez mais impossibilitados de terem uma vida humana digna desse nome.
A condenação, ou mesmo criminalização, que o poder e a ideologia dominantes exercem sobre a luta não-violenta contra o colonialismo sionista, é a confirmação, mal-grado alguns momentos de embaraço e de aparente distanciamento, da vontade de Washington e de Bruxelas de deixarem impunes os crimes de Israel, mesmo os cometidos em águas internacionais, e, pelo contrário, de em todo o caso condenarem qualquer forma de resistência do povo palestiniano.
No lado oposto, é uma obrigação moral de qualquer democrata, anticolonialista e antifascista solidarizar-se com a resistência palestiniana (e árabe e muçulmana) contra o imperialismo e contra o colonialismo. Cabe à resistência palestiniana decidir e escolher as formas de luta.
Domenico Losurdo é professor de História da Filosofia na Universidade de Urbin (Itália). Dirige desde 1988 a Internationale Gesellschaft Hegel-Marx für dialektisches Denken, e é membro fundador da Associazione Marx XXIesimo secolo. Última obra traduzida em francês: Nietzsche philosophe réactionnaire: Pour une biographie politique.
Fonte: http://passapalavra.info/
Os crimes israelitas sucedem-se e vão ficando impunes. Para lhes pôr fim, cabe aos povos fazerem o que os Estados não conseguem. Por isso muitas organizações palestinianas nos incitam a boicotar os produtos israelitas. É um combate legítimo. Por Domenico Losurdo
O crime perpetrado por Israel em águas internacionais, contra pacifistas empenhados em levar ajuda aos prisioneiros desse imenso campo de concentração em que Gaza se tornou, pode e deve indignar-nos, mas não deve surpreender-nos: há muito tempo que o governo de Telavive teve a sua decisão de atingir pelo terror não apenas as vítimas directas do seu expansionismo colonial, mas inclusivamente quantos ousem exprimir solidariedade com as vítimas e que, de algum modo, entravem a terrível máquina de guerra e de opressão de que os carrascos se servem. A tese segundo a qual os pacifistas estavam armados e por isso mereciam morrer é um corolário de outra segundo a qual era uma obrigação desencadear a operação Shock and Awe [Choque e estupor] contra o Iraque de Saddam Hussein, acusado de possuir armas de destruição massiva! A solidariedade e a cumplicidade de fundo que ligam Israel e os EUA revelam-se também na arte da manipulação, e não é substancialmente prejudicada pela alternância dos diversos locatários da Casa Branca.
Essa manipulação, quando não é abertamente promovida, não é certamente dificultada pela grande imprensa de “informação”. Nos últimos tempos, tanto na Palestina como em certos sectores do Ocidente, tem-se desenvolvido uma nova forma de luta: consiste em boicotar mercadorias produzidas pelos colonos que, em violação flagrante do direito internacional e dos direitos humanos, continuam a expandir-se nos territórios ocupados. Esta forma de luta tipicamente não-violenta que é o boicote bem poderia ser saudada por aqueles que estão sempre a condenar a “violência” da resistência. Todavia foi o inverso que aconteceu. No Corriere della Sera Furio Colombo e alguns outros empenharam-se nos últimos dias em considerar que o boicote às exportações israelitas provenientes dos territórios ilegalmente ocupados seria semelhante às medidas tomadas outrora pela Alemanha nazi contra as lojas pertencentes aos judeus.
Em que ficamos? Como eu lembrei no meu recente livro La non-violenza. Una storia fuori dal mito, os povos oprimidos, e em primeiro lugar os povos colonizados, recorreram constantemente ao boicote. É um instrumento de luta que, para só falar do séc. XX, vemos ser utilizado na China, aquando do protesto organizado pelo movimento do 4 de Maio (1919), contra a pretensão do Japão, encorajada ou tolerada por outras potências imperialistas, de impor o seu protectorado ao grande país asiático. Uma dezena de anos depois, ao boicote dos tecidos segue-se, na Índia, o boicote aos produtos da indústria inglesa. Neste caso, foi o movimento inspirado e dirigido por Ghandi que conduziu a agitação: “Havia regularmente piquetes de mulheres diante das lojas onde se vendiam as roupas produzidas na Grã-Bretanha. Elas seguiam as outras mulheres que saíam das lojas e tentavam persuadi-las a irem devolver as suas compras”. Alguns anos mais tarde, foi a comunidade judaica internacional que sugeriu o boicote às mercadorias alemãs, como resposta à fúria anti-semita de Hitler. É nesta tradição que assenta o movimento que hoje procura atingir mercadorias produzidas unicamente graças a um expansionismo colonial desumano nos territórios palestinianos ocupados.
Claro que, desde a sua origem, o regime nazi tratou de estrangular a actividade comercial e industrial dos judeus alemães, e de os privar das suas propriedades legítimas. Mas tudo isso nada tem a ver com o boicote (instrumento tradicional dos povos oprimidos), outrossim com o uso terrorista do poder político. Se quisermos uma analogia, refiram-se então as medidas que hoje atingem os palestinianos, a quem foram expropriadas as suas casas, as suas terras, os seus olivais, e cada vez mais impossibilitados de terem uma vida humana digna desse nome.
A condenação, ou mesmo criminalização, que o poder e a ideologia dominantes exercem sobre a luta não-violenta contra o colonialismo sionista, é a confirmação, mal-grado alguns momentos de embaraço e de aparente distanciamento, da vontade de Washington e de Bruxelas de deixarem impunes os crimes de Israel, mesmo os cometidos em águas internacionais, e, pelo contrário, de em todo o caso condenarem qualquer forma de resistência do povo palestiniano.
No lado oposto, é uma obrigação moral de qualquer democrata, anticolonialista e antifascista solidarizar-se com a resistência palestiniana (e árabe e muçulmana) contra o imperialismo e contra o colonialismo. Cabe à resistência palestiniana decidir e escolher as formas de luta.
Domenico Losurdo é professor de História da Filosofia na Universidade de Urbin (Itália). Dirige desde 1988 a Internationale Gesellschaft Hegel-Marx für dialektisches Denken, e é membro fundador da Associazione Marx XXIesimo secolo. Última obra traduzida em francês: Nietzsche philosophe réactionnaire: Pour une biographie politique.
Fonte: http://passapalavra.info/
quinta-feira, 22 de julho de 2010
África, segundo o olhar de Nick Brandt
África, segundo o olhar de Nick Brandt
Nascido e criado em Londres, Nick Brandt frequentou a escola de St.Martin, onde adquiriu uma formação base em cinema e pintura. Após ver as imagens do seu portfolio, é fácil compreender e invejar a capacidade natural de retratar África de uma forma quase icónica.
A sua jornada pelo continente africano começou em Dezembro de 2000, demonstrando aquela que viria a ser a sua assinatura visual e estilo sobre trabalhos deste género. Apesar de já não estar dedicado somente a fotografia, são diversos os trabalhos e exposições individuais do autor, tendo sido inclusive publicado um livro com os seus trabalhos.
Cativou-me o olhar sereno, quase paradisíaco, sobre a selva africana e seus animais. Com composições muito cuidadas e estética invulgar, é impossível não querer conhecer mais do continente Africano e toda a sua vida selvagem.
Fonte: Nick Brandt Website
Retirado do: http://obviousmag.org/
Nascido e criado em Londres, Nick Brandt frequentou a escola de St.Martin, onde adquiriu uma formação base em cinema e pintura. Após ver as imagens do seu portfolio, é fácil compreender e invejar a capacidade natural de retratar África de uma forma quase icónica.
A sua jornada pelo continente africano começou em Dezembro de 2000, demonstrando aquela que viria a ser a sua assinatura visual e estilo sobre trabalhos deste género. Apesar de já não estar dedicado somente a fotografia, são diversos os trabalhos e exposições individuais do autor, tendo sido inclusive publicado um livro com os seus trabalhos.
Cativou-me o olhar sereno, quase paradisíaco, sobre a selva africana e seus animais. Com composições muito cuidadas e estética invulgar, é impossível não querer conhecer mais do continente Africano e toda a sua vida selvagem.
Fonte: Nick Brandt Website
Retirado do: http://obviousmag.org/
Entrevista com Daryl Jenifer baixista do Bad Brains - Por Thiago
Entrevista | Daryl Jenifer (Bad Brains)
por Thiago
Algumas bandas não transmitem as suas idéias na primeira vez que você ouve as suas músicas. Você pode amar uma banda. Ela pode represtar muito no meio artístico, mas quando você a apresenta para um amigo, não vai colar. Talvez esse amigo precise contextualizar ou uma narrativa para explicar porque a banda Lifetime foi um grupo tão importante. Dessa maneira, após algumas faixas ouvidas, é possível que ele goste. Esse não é o caso da banda Bad Brains. Ninguém irá argumentar se a banda é importante ou não. É muito aceito que eles foram o primeiro grupo a tocar o que mais tarde seria conhecido como hardcore punk.
O primeiro álbum de estúdio é inquestionavelmente a gravação perfeita. As músicas são apimentadas com reggae que fornecem uma trégua que é muito necessária em algumas músicas, como por exemplo, em Supertouch. A banda também quebou uma barreira de cores em uma cena musical que era predominantemente branca. O entrevistador Jon Reiss conversou recentemente com Daryl Jenifer, baixista da banda, sobre como a banda auxiliou na construção do gênero músical, aumentou um novo estilo de mosh e introduziu para muitas pessoas a palavra Jah.
Jon Reiss: Ao ouvir as músicas da banda Bad Brains, parece que a bateria, o baixo, guitarra e os vocais estão conectados em um único instrumento, uma força que sai de algum lugar. Muitas bandas tentaram recriar o som, mas nenhuma chegou perto. Você poderia dizer qual é o ingrediente secreto por trás da banda?
Daryl Jenifer: O estilo que nós tocamos é punk rock. Nós crescemos com músicos de várias vizinhanças, qualquer lugar tem os seus próprios atletas, músicos e pessoas com características diferentes. Na nossa, éramos aqueles que tocávamos os intrumentos musicais que abiram as nossas mentes para diverentes gêneros musicais. Quando descobrimos a contracultura punk, a maioria das bandas possuía uma ficha com a polícia e as letras das suas músicas tratavam de drogas, mas de fato eles nem conseguiam tocar. Nesse caso, isso era toda a beleza do negócio, como admitir do nada que eu tocaria baixo e você seria o baterista. Os membros da nossa banda sabiam tocar um pouco porque o fazíamos desde que éramos adolescentes. Trazer a vida um gênero musical onde a maioria das pessoas não sabiam realmente tocar foi apenas o que elas queriam tocar e já estavam acostumadas a fazer. Por esse motivo nós começamos a criar o nosso próprio estilo baseado nas bandas que gostávamos como The Damned e The Ramones. Quando você ouve as canções dessas bandas você percebe similaridades entre o estilo delas e o nosso. Por isso decidimos tocar o que elas tocam da nossa maneira. Costumo e gosto chamar o que fazemos de punk progressivo porque quando criamos uma música, não estamos apenas tocando os acordes, estamos pensando sobre eles. Nós nos preocupamos muito com isso. Antes das nossas apresentações nós calculamos qual foi o nosso plano. Nós sempre temos um plano, uma espécie de esforço, como se fossemos um time de futebol americano. Durante os ensaios, conversamos sobre como arremesariamos uma bola ou a chutaríamos, como tocaríamos uma música de maneira mais lenta ou rápida, como ou sem solo. Foi isso o que aconteceu. Nós tocamos muito que as pessoas pensavam que era rápido. Contudo, se você olhar para trás, verá que era um pouco lento. Quando o nosso som começou a estourar, os fãs que criaram bandas a partir do nosso estilo, que era baseado nas bandas que eu citei, tentaram tocar como nós, mas de fato não conseguiram porque a maneira rápida de tocar não era mais a original. Aconteceu apenas uma justaposição, na qual você tenta ser uma coisa e não necessariamente terminará sendo aquilo, entretanto acabará criando algo novo na sua maneira. O gênero musical hardcore é algo que eu não sei o que é, mas que os fãs da banda tentam tocar punk rock como ela. O grupo Bad Brains não é uma banda de hardcore. Quando começamos com essa técnica rápida de tocar, os outros tentaram emular e criaram as suas próprias batidas e maneira de tocar. Isso é hardcore. Eu não sei quais bandas, talvez Madball ou algo do tipo. Até mesmo as bandas Fugazi e The Teen Idles tocam mais punk rock do que nós. O estilo do gênero musical oriundo de Washington D.C. cresceu no hardcore. Nós apenas seguimos a tendência. Eu fico um pouco perplexo quando chegam para mim e me dizem sobre o gênero musical da banda porque eu não conheço nada sobre isso. Eu só conheço o punk rock. O termo hardcore me fez lembrar a primeira vez que as pessoas começaram a usar o termo vegan, no começo dos anos 80. A primeira vez que ouvi foi em 1985, acho que na Europa. Hardcore para mim era um estilo e não um gênero musical isolado. Por isso, quando os garotos comecaram a criar bandas punks que tocavam com mais técnica e paradas durante as músicas, eles se tornavam uma banda hardcore. A razão pela qual nós tocávamos rápido com esses intervalos bruscos era que queríamos apenas tocar um punk rock mais interessante.
JR: Já que você tocou no assunto, durante os primeiros meses da banda, você se identificava como um punk? Isso era uma parte considerável da sua vida particular, fora da banda?
DJ: Com certeza. Para cada estilo de música que eu amei, eu vivi a sua música. Eu era um punk com um cabelo two-tone. Eu era um hippie com calça jeans e jaqueta com borda. Eu era tudo isso, vivendo com um. Quando eu toquei reggae, eu era rastafári. Por esse motivo as minhas atitudes refletiam o que eu ouvia. Eu não simulava alguma coisa e poderia tocar baixo para as bandas Metallica ou The Wailers porque eu vivi essas coisas. Algumas pessoas dizem que você não viver o que toca, você não poderá demonstrar o seu estilo de maneira fidedigna. Caso você não saiba nada sobre o rock ‘n’ roll, você não poderá tocar baixo em uma boa banda de hard rock. Caso você não tenha vivido em uma cultura jamaicana, você não poderá tocar rub-a-dub.
JR: A banda se apresentará no Festival Afro-Punk. Gostaira de adiquirir uma perspectiva, por isso perguntarei de maneira sincera, como é ser um punk negro, particularmente antigamente? O que a sua família pensava sobre isso? Como era participar de algo onde a maioria das pessoas não queria se relacionar contigo?
DJ: A resposta para a sua pergunta tem a ver com o que conversamos a pouco, tem a ver de onde eu venho, sobre eu ser músico. Quando íamos jogar basquete, eu era escalado para jogar. Entretanto isso ficava em segundo plano. Quando o assunto era música, os brancos diziam entre eles para não mexerem comigo porque eles já sabiam como eu tocava. A minha mãe sabia que eu era progressivo com a minha música e também que eu iria trocar o terror em um porão. Eu tocaria a música Frampton Comes Alive ou qualquer porcaria. Eu poderia estar tocando alguma música dos gêneros musicais funk ou soul, mas não fazia isso, ainda que esses gêneros fizessem parte de mim. As pessoas me chamavam de gaorto branco porque eu usava calças de couro, mas o que eu apenas podia fazer era ser eu mesmo. Uma vez que eu me sentia incluso na contracultura punk e ainda estava fresco, senti que aquilo dentro de mim era muito real. Gostei como as bandas Buzzcocks, Sex Pistols e The Damned tocavam, do que eles estavam querendo mostrar e toda aquela expressão passional que demonstravam ao tocar seus instrumentos. Eles iriam botar para fuder não importava como. Nós já estávamos tentando formar um grupo daquele tipo. O nome da nossa banda era Mind Power e a primeira intenção ara tocar jazz fusion. Em seguida, descobrimos o punk rock e pensamos que a banda Bad Brains seria assim, tocaríamos punk rock também. Na época, as bandas Minor Threat e The Teen Idles ainda não existiam. Nada era planejado. O primeiro pôster que nós tivemos dizia “A Melhor Banda De Punk Rock No Mundo”. Aconteceu dessa maneira porque já tínhamos lido o livro que era todo sobre PMA*, que dizia para sermos positivos. Por esse motivo, antes mesmo de tocarmos nós já pensamos que éramos os melhores porque tínhamos essa mentalidade.
JR: O PMA foi uma postura muito importante. Uma das minhas bandas locais fravoritas se chama The Degenerics e a sua banda foi uma das maiores inflluências. Eles tocavam sobre PMA o tempo todo. A postura continua importante para você?
DJ: Sim, é uma conexão espiritual, algo sobre manter-se positivo e sempre procurar o lado mais claro, mais lúcido. Na maioria das vezes é simples, permaneça positivo, não seja um drogado depressivo. Não tenha medo de obstáculos. Sempre haverá testes e quando ouvi a primeira vez sobre PMA eu era adolescente e meu pai me perguntou do que se tratava. Respondi que se alguma coisa saísse errado, eu não começaria a ficar histérico e correr de um lado para o outro. Começaria a pensar positivo e a fazer os movimentos certos. PMA é sobre autocontrole na vida e permanecer positivo sabendo disso e é aí que a fé entra. Muitas pessoas se deparam com um obstáculo e aí dão um passo para trás. Elas não possuem um espírito competidor. Eles dizem que quando uma porta fecha duas abrem. É muito fácil dizer “foda-se”. PMA é sobre manter uma postura mental positiva e isso vem de um livro intitulado Think And Grow Rich. Quanto mais eu presto atenção no livro, mais eu me dou conta que a banda foi uma ferramente para que deus ajudasse certos jovens. Não éramos nós que tocávamos, era deus usando a banda para que as pessoas soubessem o que era PMA. A banda Beastie Boys tocava rap, a banda Red Hot Chilli Pepers funk e o Bad Brans punk rock, como se fosse deus misturando as coisas e mostrando para o mundo de uma forma mais versátil. Certa vez um cara começou a me seguir em um bar. Entrei em um banheiro e quando saí ele estava me esperando e disse: “Senhor Jenifer”. Aquilo me surpreendeu porque ninguém me chama daquela maneira. Ele continuou: “Eu gostaria apenas de agradecer a você e a sua banda porque eu era racista e um cuzão, mas a sua música mudou a minha percepção e agora eu tenho uma família, um filho. Gostaria também de agradecer por fazer música positiva, punk rock positivo.” A minha mãe teria dito: “Como você ajudará as pessoas com uma música como essa? Como você quer inspirar alguém com essa música inconstante e rápida? Para algumas pessoas, essa música era o seu sabor favorito. Por fim aprendi que a PMA era o Espírito Santo e que eu precisava estar dentro, encontrar isso.
JR: Você menciona e muito a esperitualidade. Como você se encontra com relação a sua vida espritual? Quais verdades você sente que descobriu?
DJ: Seja paciente. Ser um cara espiritual é pensar como as coisas acontecem, o que vem a sua mente, deus faz as coisas acontecerem e não o inverso. Jah faz as coisas acontecerem, não o inverso. Eu apenas estou aqui no planeta. Isso é algo que transcende o homem. Precisamos apenas viver e caso você seja espiritual, agradeça e louve diariamente. Caso seja um artista, seja criativo. Seja positivo e progressivo de qualquer maneira, em qualquer coisa que você faça. Você precisa apenas esperar no Espírito Santo e ter fé. Não estou dizendo para você não fazer nada, não ajudar.
Há sempre um futuro lúcido e positivo. Isso pode soar idealístico e sonhador, mas o que você quer que eu diga? Quer que eu diga que o mundo está próximo do fim? O mundo irá acabar em 2012?
JR: Preciso perguntar isso porque acredito ser importante. A banda se apresentará nesse final de semana e simultaneamente acontecerá uma parada gay. Muitas pessoas escreveram e especularam que a banda é homofóbica. Espero que você explique aonde a controvérsia começou e talvez colocar um fim nela.
DJ: Escute o que vou lhe dizer. Todas as coisas que eu te contei sobre o rumo que a banda tomou, aconteceu na época em que estávamos descobrindo a religião Rastafarei e o deus Jah, além de ser um negro e ser reconhecido como membro de uma cultura. Como em qualquer coisa na vida, se você disse que é um jovem Krishna, há uma tendência em ser zeloso. Somos muito zelosos sobre a nossa visão sobre a homossexualidade, éramos muito ignorantes e imaturos em determinado nível. Todos os membros da banda amam e não têm nada contras os filhos de deus. Durante o nosso crescimento tentamos ser sensatos e ver a vida como ela é e sem julgamentos. Passamos por uma fase onde julgávamos e quando você é um jovem que segue o Rastafári, assim como no Cristianismo, percebe que a homossexualidade não é aceita. Estudar o Rastafári te leva a entender que você deve amar todas as criaturas de deus. Por esse motivo você não pode dizer que não gosta de um cara porque ele é homossexual ou negro. A banda passou por um período onde talvez dissemos algumas coisas. Na mesma época, a banda era muito popular, por isso essa controvérsia caiu na boca do povo porque alguém que não gostava de nós a colocou na frente de um ventilador. As pessoas nos odiavam por inúmeros motivos, algumas queriam ser como nós. Não quero citar nomes, mas a banda MDC foi a primeira a encontrar uma coisa errada com o Bad Brains. Todos nos amavam por isso eles quiseram encontrar alguma coias errada conosco. Esse é o tipo de coisa que acontece com todo mundo. Quando você se torna popular as pessoas irão te odiar. O movimento religioso Rastafári nasceu na Jamaica e os jamaicanos tratam do assunto homossexualidade de forma literal. Entretanto, trata-se de amar todos os filhos de Jah, aceitando eles como são e deixando-os viver. Eu amo todos os filhos de Jah. Nenhum membro da banda odeia nenhum filho de deus. Por isso as pessoas precisam parar com essa história de homofobia e pensar de uma maneira mais madura. Eu acompanho comentários dizendo que nós odiamos gays no site PunkNews.ORG, e como eu já te disse, nenhum dos membros odeiam gays, todos nós amamos os filhos de deus. Nós manteremos a postura PMA até o final e deixaremos cada um fazer o que achar melhor utitlizando toda a sua energia.
JR: Após começar a gostar da sua banda, comecei a ouvir muito o gênero musical reggae. De todos os novos artistas que ouvi, acho que Buju Bantan era o melhor. Ele tocava com paixão e tinha uma voz incrível. De todos que se tornaram grandes nos Estados Unidos, como BeanieMan ou Sean Paul, nenhum foi tão talentoso quanto Buju, mesmo que a homofobia em suas letras o levasse para a pior.
DJ: A música dele transmitia muita energia, mas as pessoas precisam entender que há diferentes níveis de radicalismo. Não importa se você lê o Alcorão ou a Bíblia ou qualquer livro sagrado, você deve amar um filho de deus e é isso o que eu escolho fazer. Para mim, é uma maneira mais forte de ser. Posso apoiar isso pessoalmente, mas deus abençoa. Algum cara pode me olhar e dizer que ele não gosta de algo que faço e isso às vezes me incomoda.
JR: Acho que você deu uma ótima resposta.
DJ: A resposta que eu dei é semelhante a um dizer de Salman Rushdie. O que eu quero dizer é que você deve viver e deixar as pessoas viverem, mas alguns membros do movimento Rastafári podem não aceitar isso. O ponto chave é que existem difrentes traduções de todas as antigas religiões. Contudo há sempre um Espírito Santo, sempre deveremos amá-lo assim como os seus filhos. Caso você siga o caminho espiritual em sua vida, você não precisa ficar julgando as pessoas. Essa é a mensagem que eu quero deixar para o mundo. Alguns bloqueiros mandam a banda se fuder e nós estamos dizendo que o amamos. Na maioria das vezes nós pedimos desculpa pelas coisas que geraram confusão, mas nós também somos humanos. Nós também experimentamos a nossa parcela de preconceito por sermos negros.
JR: Acho que você tem uma perspectiva interessante no punk rock. Você é parcialmente responsável pelo o que esse gênero se tornou e gostaria de afirmar que se o punk rock está indo bem é porque você também está.
Qual foi a melhor época desse gênero musical?
DJ: Bem, o punk rock é baseado na música que a juventude gosta, por isso está sempre em transformação, ainda que não tenha o mesmo som, as pessoas usem a mesma roupa ou o mesmo ritmo. Todavia alguém sempre irá será jovem no sentido que fará uma música diferente que será encarada de maneira radical por causa da sua mensagem. Sempre haverá música no underground, poderá ser diferente, eletrônica ou qualquer coisa do tipo. Não importa se é um acorde de uma guitarra limpo ou sujo, lento ou rápido. Eu comecei a tocar rápido porque as pessoas com as quais conviviam odiavam aquelas músicas de discoteca e queriam algo mais pesado e rápido.
Naquela época uma camisa do Van Halen era a coisa mais banal do mundo. O que é descolado agora? Uma camisa do desenho animado The Jetsons? Nos anos 80, a pior coisa para os rappers eram calças apertadas, por isso eles usavam aquelas calças largas. Com o passar o tempo vi rappers com calças apertadíssimas quase comendo seus cus. JR: Qual é a música que você mais gosta de tocar?
DJ: “I Aganst I”.
JR: O que você pensaria se lançassem um tributo para a banda?
DJ: Eu ficaria muito grato e aproveitaria as novas versões das músicas. Posso dizer que eu flico feliz apenas em saber que alguém já tentou fazer isso.
JR: Vocês continuam tocando até hoje. O que gostariam de ter alcançado e que ainda não o fizeram?
DJ: A banda alcançou tudo a que se propôs. Sou um sucesso. A banda é um sucesso. Quando começamos, consideramos sucesso continuarmos juntos tocando e vivendo de uma forma positiva.
JR: Deve ser bom ainda poder tocar durante os shows e ter os seus familiares por perto para assistir:
DJ: É um sentimento distorcido. Há sempre um estresse no que você faz, existe o ying e também o yang. Amanha eu preciso tocar e eu não faço isso desde abril, mas aprendi que eu sempre posso fazer o que o Espírito Santo pediu para mim. Eu escrevo um setlist, pratico com a minha respiração e mostro para todos quem nós somos. Mesmo assim há um estresse porque somos pessoas diferentes. A band Bad Brains é encarada como uma missão, uma equipe da SWAT. Nós amamos toda essa merda mas quando saíemos em missão nos perguntamos o que estamos realmente fazendo. (*) PMA, ou Positive Mental Attitude, é uma postura psicológica na qual o ser humano acredita em que poderá superar um obstáculo pensando positivamente, pensando em caminhos e soluções para a superação e negando a falta de esperança e a desistência.
Fonte:http://www.punknet.com.br/
por Thiago
Algumas bandas não transmitem as suas idéias na primeira vez que você ouve as suas músicas. Você pode amar uma banda. Ela pode represtar muito no meio artístico, mas quando você a apresenta para um amigo, não vai colar. Talvez esse amigo precise contextualizar ou uma narrativa para explicar porque a banda Lifetime foi um grupo tão importante. Dessa maneira, após algumas faixas ouvidas, é possível que ele goste. Esse não é o caso da banda Bad Brains. Ninguém irá argumentar se a banda é importante ou não. É muito aceito que eles foram o primeiro grupo a tocar o que mais tarde seria conhecido como hardcore punk.
O primeiro álbum de estúdio é inquestionavelmente a gravação perfeita. As músicas são apimentadas com reggae que fornecem uma trégua que é muito necessária em algumas músicas, como por exemplo, em Supertouch. A banda também quebou uma barreira de cores em uma cena musical que era predominantemente branca. O entrevistador Jon Reiss conversou recentemente com Daryl Jenifer, baixista da banda, sobre como a banda auxiliou na construção do gênero músical, aumentou um novo estilo de mosh e introduziu para muitas pessoas a palavra Jah.
Jon Reiss: Ao ouvir as músicas da banda Bad Brains, parece que a bateria, o baixo, guitarra e os vocais estão conectados em um único instrumento, uma força que sai de algum lugar. Muitas bandas tentaram recriar o som, mas nenhuma chegou perto. Você poderia dizer qual é o ingrediente secreto por trás da banda?
Daryl Jenifer: O estilo que nós tocamos é punk rock. Nós crescemos com músicos de várias vizinhanças, qualquer lugar tem os seus próprios atletas, músicos e pessoas com características diferentes. Na nossa, éramos aqueles que tocávamos os intrumentos musicais que abiram as nossas mentes para diverentes gêneros musicais. Quando descobrimos a contracultura punk, a maioria das bandas possuía uma ficha com a polícia e as letras das suas músicas tratavam de drogas, mas de fato eles nem conseguiam tocar. Nesse caso, isso era toda a beleza do negócio, como admitir do nada que eu tocaria baixo e você seria o baterista. Os membros da nossa banda sabiam tocar um pouco porque o fazíamos desde que éramos adolescentes. Trazer a vida um gênero musical onde a maioria das pessoas não sabiam realmente tocar foi apenas o que elas queriam tocar e já estavam acostumadas a fazer. Por esse motivo nós começamos a criar o nosso próprio estilo baseado nas bandas que gostávamos como The Damned e The Ramones. Quando você ouve as canções dessas bandas você percebe similaridades entre o estilo delas e o nosso. Por isso decidimos tocar o que elas tocam da nossa maneira. Costumo e gosto chamar o que fazemos de punk progressivo porque quando criamos uma música, não estamos apenas tocando os acordes, estamos pensando sobre eles. Nós nos preocupamos muito com isso. Antes das nossas apresentações nós calculamos qual foi o nosso plano. Nós sempre temos um plano, uma espécie de esforço, como se fossemos um time de futebol americano. Durante os ensaios, conversamos sobre como arremesariamos uma bola ou a chutaríamos, como tocaríamos uma música de maneira mais lenta ou rápida, como ou sem solo. Foi isso o que aconteceu. Nós tocamos muito que as pessoas pensavam que era rápido. Contudo, se você olhar para trás, verá que era um pouco lento. Quando o nosso som começou a estourar, os fãs que criaram bandas a partir do nosso estilo, que era baseado nas bandas que eu citei, tentaram tocar como nós, mas de fato não conseguiram porque a maneira rápida de tocar não era mais a original. Aconteceu apenas uma justaposição, na qual você tenta ser uma coisa e não necessariamente terminará sendo aquilo, entretanto acabará criando algo novo na sua maneira. O gênero musical hardcore é algo que eu não sei o que é, mas que os fãs da banda tentam tocar punk rock como ela. O grupo Bad Brains não é uma banda de hardcore. Quando começamos com essa técnica rápida de tocar, os outros tentaram emular e criaram as suas próprias batidas e maneira de tocar. Isso é hardcore. Eu não sei quais bandas, talvez Madball ou algo do tipo. Até mesmo as bandas Fugazi e The Teen Idles tocam mais punk rock do que nós. O estilo do gênero musical oriundo de Washington D.C. cresceu no hardcore. Nós apenas seguimos a tendência. Eu fico um pouco perplexo quando chegam para mim e me dizem sobre o gênero musical da banda porque eu não conheço nada sobre isso. Eu só conheço o punk rock. O termo hardcore me fez lembrar a primeira vez que as pessoas começaram a usar o termo vegan, no começo dos anos 80. A primeira vez que ouvi foi em 1985, acho que na Europa. Hardcore para mim era um estilo e não um gênero musical isolado. Por isso, quando os garotos comecaram a criar bandas punks que tocavam com mais técnica e paradas durante as músicas, eles se tornavam uma banda hardcore. A razão pela qual nós tocávamos rápido com esses intervalos bruscos era que queríamos apenas tocar um punk rock mais interessante.
JR: Já que você tocou no assunto, durante os primeiros meses da banda, você se identificava como um punk? Isso era uma parte considerável da sua vida particular, fora da banda?
DJ: Com certeza. Para cada estilo de música que eu amei, eu vivi a sua música. Eu era um punk com um cabelo two-tone. Eu era um hippie com calça jeans e jaqueta com borda. Eu era tudo isso, vivendo com um. Quando eu toquei reggae, eu era rastafári. Por esse motivo as minhas atitudes refletiam o que eu ouvia. Eu não simulava alguma coisa e poderia tocar baixo para as bandas Metallica ou The Wailers porque eu vivi essas coisas. Algumas pessoas dizem que você não viver o que toca, você não poderá demonstrar o seu estilo de maneira fidedigna. Caso você não saiba nada sobre o rock ‘n’ roll, você não poderá tocar baixo em uma boa banda de hard rock. Caso você não tenha vivido em uma cultura jamaicana, você não poderá tocar rub-a-dub.
JR: A banda se apresentará no Festival Afro-Punk. Gostaira de adiquirir uma perspectiva, por isso perguntarei de maneira sincera, como é ser um punk negro, particularmente antigamente? O que a sua família pensava sobre isso? Como era participar de algo onde a maioria das pessoas não queria se relacionar contigo?
DJ: A resposta para a sua pergunta tem a ver com o que conversamos a pouco, tem a ver de onde eu venho, sobre eu ser músico. Quando íamos jogar basquete, eu era escalado para jogar. Entretanto isso ficava em segundo plano. Quando o assunto era música, os brancos diziam entre eles para não mexerem comigo porque eles já sabiam como eu tocava. A minha mãe sabia que eu era progressivo com a minha música e também que eu iria trocar o terror em um porão. Eu tocaria a música Frampton Comes Alive ou qualquer porcaria. Eu poderia estar tocando alguma música dos gêneros musicais funk ou soul, mas não fazia isso, ainda que esses gêneros fizessem parte de mim. As pessoas me chamavam de gaorto branco porque eu usava calças de couro, mas o que eu apenas podia fazer era ser eu mesmo. Uma vez que eu me sentia incluso na contracultura punk e ainda estava fresco, senti que aquilo dentro de mim era muito real. Gostei como as bandas Buzzcocks, Sex Pistols e The Damned tocavam, do que eles estavam querendo mostrar e toda aquela expressão passional que demonstravam ao tocar seus instrumentos. Eles iriam botar para fuder não importava como. Nós já estávamos tentando formar um grupo daquele tipo. O nome da nossa banda era Mind Power e a primeira intenção ara tocar jazz fusion. Em seguida, descobrimos o punk rock e pensamos que a banda Bad Brains seria assim, tocaríamos punk rock também. Na época, as bandas Minor Threat e The Teen Idles ainda não existiam. Nada era planejado. O primeiro pôster que nós tivemos dizia “A Melhor Banda De Punk Rock No Mundo”. Aconteceu dessa maneira porque já tínhamos lido o livro que era todo sobre PMA*, que dizia para sermos positivos. Por esse motivo, antes mesmo de tocarmos nós já pensamos que éramos os melhores porque tínhamos essa mentalidade.
JR: O PMA foi uma postura muito importante. Uma das minhas bandas locais fravoritas se chama The Degenerics e a sua banda foi uma das maiores inflluências. Eles tocavam sobre PMA o tempo todo. A postura continua importante para você?
DJ: Sim, é uma conexão espiritual, algo sobre manter-se positivo e sempre procurar o lado mais claro, mais lúcido. Na maioria das vezes é simples, permaneça positivo, não seja um drogado depressivo. Não tenha medo de obstáculos. Sempre haverá testes e quando ouvi a primeira vez sobre PMA eu era adolescente e meu pai me perguntou do que se tratava. Respondi que se alguma coisa saísse errado, eu não começaria a ficar histérico e correr de um lado para o outro. Começaria a pensar positivo e a fazer os movimentos certos. PMA é sobre autocontrole na vida e permanecer positivo sabendo disso e é aí que a fé entra. Muitas pessoas se deparam com um obstáculo e aí dão um passo para trás. Elas não possuem um espírito competidor. Eles dizem que quando uma porta fecha duas abrem. É muito fácil dizer “foda-se”. PMA é sobre manter uma postura mental positiva e isso vem de um livro intitulado Think And Grow Rich. Quanto mais eu presto atenção no livro, mais eu me dou conta que a banda foi uma ferramente para que deus ajudasse certos jovens. Não éramos nós que tocávamos, era deus usando a banda para que as pessoas soubessem o que era PMA. A banda Beastie Boys tocava rap, a banda Red Hot Chilli Pepers funk e o Bad Brans punk rock, como se fosse deus misturando as coisas e mostrando para o mundo de uma forma mais versátil. Certa vez um cara começou a me seguir em um bar. Entrei em um banheiro e quando saí ele estava me esperando e disse: “Senhor Jenifer”. Aquilo me surpreendeu porque ninguém me chama daquela maneira. Ele continuou: “Eu gostaria apenas de agradecer a você e a sua banda porque eu era racista e um cuzão, mas a sua música mudou a minha percepção e agora eu tenho uma família, um filho. Gostaria também de agradecer por fazer música positiva, punk rock positivo.” A minha mãe teria dito: “Como você ajudará as pessoas com uma música como essa? Como você quer inspirar alguém com essa música inconstante e rápida? Para algumas pessoas, essa música era o seu sabor favorito. Por fim aprendi que a PMA era o Espírito Santo e que eu precisava estar dentro, encontrar isso.
JR: Você menciona e muito a esperitualidade. Como você se encontra com relação a sua vida espritual? Quais verdades você sente que descobriu?
DJ: Seja paciente. Ser um cara espiritual é pensar como as coisas acontecem, o que vem a sua mente, deus faz as coisas acontecerem e não o inverso. Jah faz as coisas acontecerem, não o inverso. Eu apenas estou aqui no planeta. Isso é algo que transcende o homem. Precisamos apenas viver e caso você seja espiritual, agradeça e louve diariamente. Caso seja um artista, seja criativo. Seja positivo e progressivo de qualquer maneira, em qualquer coisa que você faça. Você precisa apenas esperar no Espírito Santo e ter fé. Não estou dizendo para você não fazer nada, não ajudar.
Há sempre um futuro lúcido e positivo. Isso pode soar idealístico e sonhador, mas o que você quer que eu diga? Quer que eu diga que o mundo está próximo do fim? O mundo irá acabar em 2012?
JR: Preciso perguntar isso porque acredito ser importante. A banda se apresentará nesse final de semana e simultaneamente acontecerá uma parada gay. Muitas pessoas escreveram e especularam que a banda é homofóbica. Espero que você explique aonde a controvérsia começou e talvez colocar um fim nela.
DJ: Escute o que vou lhe dizer. Todas as coisas que eu te contei sobre o rumo que a banda tomou, aconteceu na época em que estávamos descobrindo a religião Rastafarei e o deus Jah, além de ser um negro e ser reconhecido como membro de uma cultura. Como em qualquer coisa na vida, se você disse que é um jovem Krishna, há uma tendência em ser zeloso. Somos muito zelosos sobre a nossa visão sobre a homossexualidade, éramos muito ignorantes e imaturos em determinado nível. Todos os membros da banda amam e não têm nada contras os filhos de deus. Durante o nosso crescimento tentamos ser sensatos e ver a vida como ela é e sem julgamentos. Passamos por uma fase onde julgávamos e quando você é um jovem que segue o Rastafári, assim como no Cristianismo, percebe que a homossexualidade não é aceita. Estudar o Rastafári te leva a entender que você deve amar todas as criaturas de deus. Por esse motivo você não pode dizer que não gosta de um cara porque ele é homossexual ou negro. A banda passou por um período onde talvez dissemos algumas coisas. Na mesma época, a banda era muito popular, por isso essa controvérsia caiu na boca do povo porque alguém que não gostava de nós a colocou na frente de um ventilador. As pessoas nos odiavam por inúmeros motivos, algumas queriam ser como nós. Não quero citar nomes, mas a banda MDC foi a primeira a encontrar uma coisa errada com o Bad Brains. Todos nos amavam por isso eles quiseram encontrar alguma coias errada conosco. Esse é o tipo de coisa que acontece com todo mundo. Quando você se torna popular as pessoas irão te odiar. O movimento religioso Rastafári nasceu na Jamaica e os jamaicanos tratam do assunto homossexualidade de forma literal. Entretanto, trata-se de amar todos os filhos de Jah, aceitando eles como são e deixando-os viver. Eu amo todos os filhos de Jah. Nenhum membro da banda odeia nenhum filho de deus. Por isso as pessoas precisam parar com essa história de homofobia e pensar de uma maneira mais madura. Eu acompanho comentários dizendo que nós odiamos gays no site PunkNews.ORG, e como eu já te disse, nenhum dos membros odeiam gays, todos nós amamos os filhos de deus. Nós manteremos a postura PMA até o final e deixaremos cada um fazer o que achar melhor utitlizando toda a sua energia.
JR: Após começar a gostar da sua banda, comecei a ouvir muito o gênero musical reggae. De todos os novos artistas que ouvi, acho que Buju Bantan era o melhor. Ele tocava com paixão e tinha uma voz incrível. De todos que se tornaram grandes nos Estados Unidos, como BeanieMan ou Sean Paul, nenhum foi tão talentoso quanto Buju, mesmo que a homofobia em suas letras o levasse para a pior.
DJ: A música dele transmitia muita energia, mas as pessoas precisam entender que há diferentes níveis de radicalismo. Não importa se você lê o Alcorão ou a Bíblia ou qualquer livro sagrado, você deve amar um filho de deus e é isso o que eu escolho fazer. Para mim, é uma maneira mais forte de ser. Posso apoiar isso pessoalmente, mas deus abençoa. Algum cara pode me olhar e dizer que ele não gosta de algo que faço e isso às vezes me incomoda.
JR: Acho que você deu uma ótima resposta.
DJ: A resposta que eu dei é semelhante a um dizer de Salman Rushdie. O que eu quero dizer é que você deve viver e deixar as pessoas viverem, mas alguns membros do movimento Rastafári podem não aceitar isso. O ponto chave é que existem difrentes traduções de todas as antigas religiões. Contudo há sempre um Espírito Santo, sempre deveremos amá-lo assim como os seus filhos. Caso você siga o caminho espiritual em sua vida, você não precisa ficar julgando as pessoas. Essa é a mensagem que eu quero deixar para o mundo. Alguns bloqueiros mandam a banda se fuder e nós estamos dizendo que o amamos. Na maioria das vezes nós pedimos desculpa pelas coisas que geraram confusão, mas nós também somos humanos. Nós também experimentamos a nossa parcela de preconceito por sermos negros.
JR: Acho que você tem uma perspectiva interessante no punk rock. Você é parcialmente responsável pelo o que esse gênero se tornou e gostaria de afirmar que se o punk rock está indo bem é porque você também está.
Qual foi a melhor época desse gênero musical?
DJ: Bem, o punk rock é baseado na música que a juventude gosta, por isso está sempre em transformação, ainda que não tenha o mesmo som, as pessoas usem a mesma roupa ou o mesmo ritmo. Todavia alguém sempre irá será jovem no sentido que fará uma música diferente que será encarada de maneira radical por causa da sua mensagem. Sempre haverá música no underground, poderá ser diferente, eletrônica ou qualquer coisa do tipo. Não importa se é um acorde de uma guitarra limpo ou sujo, lento ou rápido. Eu comecei a tocar rápido porque as pessoas com as quais conviviam odiavam aquelas músicas de discoteca e queriam algo mais pesado e rápido.
Naquela época uma camisa do Van Halen era a coisa mais banal do mundo. O que é descolado agora? Uma camisa do desenho animado The Jetsons? Nos anos 80, a pior coisa para os rappers eram calças apertadas, por isso eles usavam aquelas calças largas. Com o passar o tempo vi rappers com calças apertadíssimas quase comendo seus cus. JR: Qual é a música que você mais gosta de tocar?
DJ: “I Aganst I”.
JR: O que você pensaria se lançassem um tributo para a banda?
DJ: Eu ficaria muito grato e aproveitaria as novas versões das músicas. Posso dizer que eu flico feliz apenas em saber que alguém já tentou fazer isso.
JR: Vocês continuam tocando até hoje. O que gostariam de ter alcançado e que ainda não o fizeram?
DJ: A banda alcançou tudo a que se propôs. Sou um sucesso. A banda é um sucesso. Quando começamos, consideramos sucesso continuarmos juntos tocando e vivendo de uma forma positiva.
JR: Deve ser bom ainda poder tocar durante os shows e ter os seus familiares por perto para assistir:
DJ: É um sentimento distorcido. Há sempre um estresse no que você faz, existe o ying e também o yang. Amanha eu preciso tocar e eu não faço isso desde abril, mas aprendi que eu sempre posso fazer o que o Espírito Santo pediu para mim. Eu escrevo um setlist, pratico com a minha respiração e mostro para todos quem nós somos. Mesmo assim há um estresse porque somos pessoas diferentes. A band Bad Brains é encarada como uma missão, uma equipe da SWAT. Nós amamos toda essa merda mas quando saíemos em missão nos perguntamos o que estamos realmente fazendo. (*) PMA, ou Positive Mental Attitude, é uma postura psicológica na qual o ser humano acredita em que poderá superar um obstáculo pensando positivamente, pensando em caminhos e soluções para a superação e negando a falta de esperança e a desistência.
Fonte:http://www.punknet.com.br/
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