De Golfo a Golfo, populações e natureza vão sendo engolfadas
Finalmente foi estancado o vazamento de petróleo cru do poço Macondo, no Golfo do México. Mesmo sendo uma medida paliativa e provisória, é a primeira vez, desde 20 de abril, que o fluxo de petróleo para mar é estancado. Este experimento, segundo a empresa British Petroleum, é uma forma de avaliar a possibilidade de interromper definitivamente o vazamento.
Depois de quase três meses, contabilizado perdas para as atividades econômicas como a pesca e turismo, é a primeira vez que uma das soluções engenhosas desenvolvidas pela equipe de apoio da empresa tem um resultado minimamente positivo.
Informações recentes do grupo de cientistas encarregados pelo governo estadunidense de monitorar o caso, sob supervisão militar, constam que existe a possibilidade de haver outro ponto de vazamento – cerca de 2.3 quilômetros do poço Macondo –, e por este motivo ouve a redução da pressão no ponto de vazamento, permitindo estancar o fluxo de petróleo cru, mas ainda não se sabe exatamente do que se trata, se é gás, petróleo ou um outro fluído.
População, autoridades, trabalhadores do mar, agentes de turismo, dentre outros, tomam medidas para conter ou reduzir o impacto nas praias e estuários. Algumas medidas tomadas inicialmente podem comprometer todo o trabalho e ampliar a contaminação.
Uma das medidas paliativas foi a aplicação aérea de um produto químico, similar a detergente doméstico, que causa a dissolução das porções mais tóxicas. Esse processo não se revelou muito eficaz, pois o complexo petróleo-detergente é mais tóxico que o petróleo isolado, e a sua biodegradação é mais lenta.
Outra técnica usada foi o que especialistas chamam de afundamento, que tem efeitos nocivos sobre a flora e fauna dos fundos oceânicos. Isto na realidade faz com que o material suspenso decante. Uma vez afundado, o petróleo cobre os sedimentos do fundo do mar e destrói toda a vida aí existente no espaço de alguns meses. Na realidade seria como “esconder a sujeira debaixo do tapete.”
Este processo pode ampliar o impacto sobre a vida marinha. O petróleo é cru é material orgânico, além de uma grande variedade de hidrocarbonetos. Diferentemente de derrames de navios ou plataformas, quando o petróleo já esta estabilizado, neste caso, o petróleo cru, deve ser consumido por bactérias e microorganismos, aumentando a demanda por oxigênio, causando a morte direta de muitas espécies. É fenômeno como a eutrofização de rios, quando um corpo d’água fica rico em matéria orgânica proveniente de um determinado despejo.
Na degradação biológica, as bactérias decompõem o petróleo em substâncias mais simples. Essas bactérias usadas na remediação de desastres, por exemplo, são extraídas do amido do milho. Para digerir 1 litro de petróleo, as bactérias consomem o oxigênio de 327 litros de água, o que agrava a disponibilidade de oxigênio.
É importante destacar que toda e qualquer iniciativa tomada pela empresa PB e suas aliadas, visto que foi montado um time dos melhores engenheiros, incluindo membros de outras empresas concorrentes, foi uma odisséia às profundezas oceânicas, contando com a ajuda única e exclusiva de veículos operados a distancia. Uma operação que já contabiliza até agora, o custo de US$ 3,95 bilhões.
Desastres como estes geram uma enorme renda e movimentam a economia através de serviços, impostos e multas. Enquanto a economia local agoniza, enquanto a biodiversidade definha, o BIP flutua nas alturas. Inicialmente as ações da empresa PB tiveram uma grande declive. Perda para alguns.
Mas a possibilidade real de um implemento na economia, principalmente alavancada por empresas do setor de mão de obra ligada a contenção de petróleo, está colocando acionistas e diretores em euforia. Ganho para outros. A simples oscilação dos ativos operados pela BP no mercado financeiro, já possibilita o aquecimento das ações de outros grupos empresariais, na medida em que se remodela o mercado, com a possibilidade concreta de uma concordata ou falência.
A exploração e uso de petróleo vão levar a humanidade a um estado de caos generalizado. Somos petrodependentes. O homem tem contacto com o petróleo há mais de quatro mil anos antes de Cristo. Os povos antigos do Egito, Mesopotâmia e Pérsia, usavam o betume para pavimentar estradas, calafetar construções, aquecer e iluminar suas casas. Tudo no mundo é petróleo. E movidos pela cobiça e poder das grandes empresas transnacionais de exploração, manufatura e comércio do “ouro negro” no mundo, comprometemos nosso futuro comum. Esta dependência somente se amplia, se agrava. Embora já sabendo dos prejuízos ao meio ambiente e a saúde humana não conseguimos alterar nossa matriz energética e produtiva.
Em detrimento do progresso e do consumo de bens duráveis e de consumo direto, de uma pequena parcela da população mundial, colocamos a vida em sua maior magnitude no perigo eminente. Colocando populações sobre a mira de forças bélicas internacionais. Temo pelos países com reservas. Temo pelo anuncio do pré-sal, que nos coloca na mira de interesses que nem o tempo e a história conseguem ou conseguirão sintetizar.
Os Estados Unidos, numa coalizão histórica, pois não é coisa deste século, numa aliança entre empresas de petróleo, montadoras de automóveis, indústria armamentista, indústria de derivados, como a farmacêutica e química estão levando o terror para regiões do mundo onde em seu subsolo existe petróleo.
Seja pelo lobby estatal/empresarial, seja pela força econômica que financia governos locais, seja pela promoção e financiamento de guerras civis, seja pela força armada oficial.
É assim na Nigéria, na Rússia (Cálcaso), na Malásia (Bornéu), é assim no Golfo Pérsico (Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait), é assim no Golfo no México. De Golfo a Golfo, populações e a natureza vão sendo engolfadas.
*Felipe Amaral é ecólogo e coordenador do Instituto Biofilia. Artigo originalmente publicado na Radioagência NP
Fonte: Opera Mundi
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