quinta-feira, 15 de julho de 2010

Ian Curtis - legado de música e poesia - por Catarina Pires

Ian Curtis - legado de música e poesia

Joy Division representa hoje um nome com história e música. Nasceram em Manchester (Inglaterra) em 1976, numa época sobretudo industrial e no centro do movimento Punk. Influenciados por bandas como os Sex Pistols e os The Clash, três amigos juntaram talentos e decidiram formar os Joy Division. Eram eles, Bernard Sumner(Guitarrista e Teclista), Peter Hook (Baixista) e Stephen Morris (Percussionista e Baterista). Ian Curtis surge mais tarde, como vocalista, após ter conhecido Bernard e Peter num dos concertos dos Sex Pistols. Torna-se desde aí a alma dos Joy Division, devido ao seu dom evidente para a composição musical e para a poesia.

É curioso pensar-mos no nome da banda, de onde surgiu e o que significa. Para os mais curiosos, Joy Division designava a área destinada às mulheres judias que eram abusadas nos campos de concentração nazistas, o nome foi escolhido por Ian Curtis que era dominado por uma revolta contra os horrores do nazismo. De acordo com a época, os Joy Division tiveram a capacidade de reproduzir musicalmente aquilo que se traduzia num ambiente escuro, vivido em Manchester. Sobre a influência da cultura Punk e através da mistura do Rock Underground, algumas nuances de experimentalismo e tons electrónicos, marcaram a diferença sendo hoje uma referência pioneira ao som new wave que iniciou os anos 80.

Ian Curtis desenvolveu um trabalho admirável e persistente na banda, transpirava paixão pela música, desde cedo. Antes de pertencer aos Joy Division, Ian trabalhava numa loja de discos e mais tarde enquanto assistia a concertos, decidiu que um dia estaria em palco. E esteve de facto, tornando os concertos da banda lendários e envoltos numa áurea de mistério, devido ao seu comportamento em palco, caracterizado pela forma maníaca com que se movia e dançava. Mais do que movido pelo ritmo da música, Ian sofria de Epilepsia, os efeitos das luzes e da música provocava esse efeito agravando gradualmente a sua doença. Sofria ataques em palco, e os estímulos do corpo respondiam á doença, criando uma espécie de transe, o que prendia a atenção do público.

Arrepiante era a forma introspectiva com que Ian Curtis escrevia as suas músicas. Recheadas de dor emocional, violência, morte e alienação levando a questões frequentes, e a deduções sobre a sua própria vida. Ian referia apenas que escrevia sobre problemas e a diferente forma com que diferentes pessoas lidam com eles. O certo é que muito do seu estado de espírito transparecia aos olhos dos mais atentos naquilo que escrevia. Era inspirado por escritores como William Burroughs e vocalistas como Jim Morrison e David Bowie.

O grande número de espectáculos marcados ajudou a piorar a Epilepsia de Ian e muitos dos concertos foram sendo cancelados. Deborah Curtis(sua esposa) afirmava frequentemente que o público admirava Ian Curtis por coisas que o iam matando. No fim de um concerto no Rainbow em Londres, Ian teve um ataque Epiléptico, acabando por cair violentamente em cima da bateria, e ainda assim o público não teve consciência do que se estava a passar, colocando a hipótese de todo aquele comportamento fazer eventualmente parte do seu estado já “normal”.

Unknow Pleasures, foi o LP de estreia dos Joy Division. Foi gravado em apenas quatro dias e começou a atrair a atenção do público em Inglaterra. Nele destacavam-se as letras de Ian Curtis, por nelas estar presente a angústia e desespero humano. Quando o álbum foi lançado, foi recebido pela crítica inglesa como um dos melhores discos de estreia de sempre.

Ian Curtis é encontrado morto em sua casa, no dia 18 de Maio de 1980. Com apenas 23 anos, Ian comete o suicidio, enforcando-se com uma corda. O motivo aparente poderia ser o agravar da sua doença, e as questões de alienação que caracterizavam a sua personalidade. Ian Curtis falava obsessivamente da morte, em letras como In a lonely place, talvez antecipando o seu próprio fim. A morte de Ian levou ao fim da carreira de uma das mais influentes bandas, precisamente no momento do seu auge.

Ironicamente com o lançamento do compacto Love Will Tear Us Apart, os Joy Division atingiram a sua maior popularidade quando já não existiam enquanto banda, e Ian Curtis nunca chegou a ver o sucesso que tanto desejava para o grupo.

Envolto nesta bolha de mistério, melancolia, desespero, poesia e música, Ian Curtis, é hoje um mito que é relembrado e admirado por muitos e questionado por outros. Sobre ele podemos hoje assistir a milhares de testemunhos, filmes, documentários. Um homem que prova que o ser humano é a sua história, e que esta pode ser relembrada e admirada ao longo de gerações.

Catarina Pires de olhos e ouvidos atentos para boas histórias, acredita no poder da imagem e valoriza o poder da palavra

Fonte: http://obviousmag.org

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