Catástrofe do Golfo: BP restringe o acesso dos media
por Dahr Jamail
NOVA ORLEANS, (IPS) – Na semana passada, a Guarda Costeira dos EUA, que está a agir em coordenação com a gigantesca empresa petrolífera BP, impôs novas restrições em toda a Costa do Golfo americano que impedem os media de se aproximarem a menos de 20 metros das barreiras de contenção (booms) ou dos barcos de limpeza, tanto na costa como no mar. Mas a astúcia destas restrições vai ainda mais longe.
“Não pode vir cá", disse Don, o guarda de segurança contratado pela BP no Centro para a Reabilitação da Fauna Contaminada pelo Petróleo, em Fort Jackson, Louisiana.
Lá dentro, o Centro Internacional para Investigação e Salvamento de Aves, uma das companhias contratadas pela BP para limpeza dos animais, encarrega-se de limpar o petróleo das aves antes de as devolver ao seu habitat natural. O Centro tem limitado o acesso aos media. Antes estava aberto às segundas, quartas e sextas durante duas horas por dia. A IPS chegou ao Centro numa quarta-feira, e foi informada que os dias para os media tinham sido reduzidos de três para dois dias, e já não abria às quartas-feiras.
Quando a IPS perguntou ao guarda de segurança privada para quem é que trabalhava, ele respondeu, “Trabalho para a HUB, uma companhia de segurança contratada pela BP”. A Hub Enterprises, de Broussard, Louisiana, tem um contrato com a BP para fornecer “funcionários de segurança” e “supervisores”. Don está a receber entre 13 a 14 dólares por hora para manter a imprensa afastada do maior desastre ambiental provocado por uma fuga de petróleo de toda a história dos EUA. Continuam a jorrar mais de 60 mil barris de petróleo por dia no Golfo, mais de dois meses depois da explosão de 20 de Abril na plataforma Deepwater Horizon operada pela BP.
MULTAS ATÉ 40 MIL DÓLARES
As restrições da semana passada que a Guarda Costeira impôs aos meios de comunicação sujeitam os jornalistas e os fotógrafos a uma multa até 40 mil dólares, e à pena de cadeia de um a cinco anos como um crime de classe D, se violarem a regra dos 20 metros, que o Comando Unificado designa por “zona de segurança”.
Tem havido muitos indícios de um amordaçamento maior e mais profundo dos meios de comunicação na região, de muitas outras formas. Na semana passada, a IPS tinha uma entrevista agendada com o Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual da Louisiana, em Nova Orleans. A entrevista devia ser com um especialista das estratégias de investigação da Universidade, sobre o possível impacto na região do desastre petrolífero da BP. Na manhã em que se devia realizar a entrevista, o entrevistado, que pretende manter-se anónimo, enviou um email à IPS declarando: “Disseram-me para cancelar a entrevista. Lamento quaisquer inconvenientes que vos possa ter causado”. Quando a IPS lhe perguntou se havia alguma razão especial para o cancelamento da entrevista, respondeu, “Não”. Uma fonte anónima revelou posteriormente à IPS que a decisão de cancelar a entrevista fora tomada pelo chanceler Larry Hollier, que chefia o Centro de Ciências da Saúde da Universidade.
A BP disponibiliza a maior parte do financiamento para estudar os efeitos do desastre petrolífero e prometeu 500 milhões de dólares para projectos de investigação e de reabilitação. Robert Gagosian é o presidente do Consórcio para a Direcção Oceânica, que representa instituições de investigação oceânica e aquários e administra um programa de investigação sobre perfuração marítima. Geoquímico marítimo, Gagosian está preocupado com a forma como vai ser utilizado o dinheiro, e espera que seja gerido através de doações aprovadas pelos pares. A sua preocupação, partilhada por outros cientistas e investigadores, tem origem no interesse da BP em preservar o seu negócio. Também têm dúvidas quanto aos critérios adequados para determinar que tipo de investigações é que devem ser feitas.
Jeff Short, um antigo cientista da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, que é actualmente membro do grupo de preservação Oceana, disse que, ao aceitar que a BP pague a investigação, o governo abre mão do controlo sobre que tipo de estudos devem vir a ser feitos. “Pergunto a mim próprio porque é que a BP quer dar dinheiro para projectos que demonstrarão claramente um prejuízo ambiental muito maior do que se viria a saber, se não fossem esses estudos?”, disse.
Os primeiros 25 milhões de dólares dos fundos da BP foram rapidamente distribuídos pela Universidade Estatal da Louisiana, pelo Instituto de Oceanografia da Florida na Universidade da Florida Sul e por um consórcio chefiado pela Universidade Estatal do Mississípi. Muitos cientistas e jornalistas independentes receiam que isto faça parte de uma tentativa para influenciar quais os estudos a fazer e a disponibilidade dessas instituições públicas para falar com os meios de comunicação sobre o desastre da BP.
Num outro incidente, a 2 de Julho, Lance Rosenfield, um repórter fotográfico da publicação de investigação sem fins lucrativos ProPublica, foi detido por breves instantes pela polícia quando tirava fotografias perto da refinaria da BP na cidade do Texas. Rosenfield declarou que foi confrontado por um funcionário da segurança da BP, pela polícia local, e por um homem que se identificou como agente do Departamento da Segurança Nacional. Rosenfield foi libertado depois de a polícia ter analisado as fotografias e registado a data do seu nascimento, o número da segurança social e outras informações pessoais. Depois o agente da polícia entregou essas informações ao guarda da segurança da BP, alegando, segundo disse Rosenfield, “procedimento normal de funcionamento”.
Também foram instituídas restrições no espaço aéreo sobre as zonas onde estão a decorrer operações de limpeza e de contenção. A Administração da Aviação Federal proibiu voos dos meios de comunicação a menos de 900 metros sobre as áreas afectadas pelos lençóis do petróleo.
07/Julho/2010
O original encontra-se em http://dahrjamailiraq.com
Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
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