quarta-feira, 23 de junho de 2010

“Comunista hormonal”, José Saramago teve intensa militância política - Por Haroldo Ceravolo Sereza

“Comunista hormonal”, José Saramago teve intensa militância política


O primeiro escritor em língua portuguesa a receber o Nobel de Literatura e autor de obras consagradas mundialmente. É dessa maneira que o português José Saramago, que faleceu na última quinta-feira (18/6) é conhecido por muita gente. O que poucos sabem é que desempenhou papel importante para os movimentos sociais na segunda metade do século XX.

Um “comunista hormonal, como ele mesmo se definia, filiou-se em 1969 ao Partido Comunista Português, que, por conta da ditadura salazarista estava na clandestinidade. Desde então, aos longo de seus 63 anos de carreira literária, teve a vida foi marcada pela militância política e por polêmicas causadas por criticar o Estado de Israel, o Clero, o capitalismo, entre outros temas.

Particularmente no Brasil, Saramago teve expressiva contribuição. O escritor foi um dos responsáveis pela construção da Escola Nacional Florestan Fernandes, uma das idealizações do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Localizada na cidade de Guararema, interior de São Paulo, a escola só foi construída em 2005, diante de um trabalho conjunto feito entre Saramago, o fotógrafo Sebastião Salgado e o compositor Chico Buarque de Holanda. O terreno onde está localizada a escola foi comprado com o auxílio do projeto dos três.

Em entrevista ao Opera Mundi, o líder nacional do MST, João Pedro Stédile contou que Saramago sempre apoiou os sem-terra portugueses, brasileiros e camponeses em todo mundo. “Sua contribuição à causa dos sem terra e a luta do MST foram importantíssima. Seremos sempre gratos a essa solidariedade. Que fazia parte de seus compromissos de vida”

“Saramago foi uma figura única. Escritor dos melhores, tanto que recebeu o premio nobel da literatura, mas sobretudo era um comunista comprometido com as lutas contra as injustiças do capitalismo”, afirmou.

Stédile e Saramago se conheceram por volta de 1996 por meio do fotógrafo Sebastião Salgado. Na época, Salgado começou a organizar a Exposição Terra, e tinha planos de juntar suas fotos, com textos de Saramago e música de Chico Buarque.

“Sua participação na Exposição Terra percorreu o mundo. E seu apoio representou uma espécie de selo de qualidade que identificava para todo mundo, quem era o MST, apoiado então por Saramago, Sebastião Salgado e Chico Buarque”, disse.

A exposição tinha 45 fotos de sertanejos, nordestinos, índios, garimpeiros, bóias frias e os assentamentos. “Ficamos muito felizes inclusive que o Chico tenha dado o nome da musica feita para o MST do [livro] Levantados do chão, e assim fazia a ponte entre o primeiro livro do Saramago, que traduzia a vida e a luta do sem terra portugueses pela reforma agraria, e a luta do sem terra do Brasil”, afirmou.

A obra, lançada em 1980, foi um dos primeiros romances de notoriedade do autor. Nele, Saramago retratou a luta de um povo diante de latifundiários e da Igreja. A parceria entre os três resultou no livro Terra, lançado em 1997, que retratou o cotidiano do movimento sem terra no Brasil por meio das fotos em preto e branco de Salgado, textos de José Saramago e a música de Chico Buarque.

José Saramago faleceu na última quinta-feira em Lanzarote, na Espanha. O escritor recebeu uma série de homenagens, como do presidente cubano Raúl Castro e seu irmão, Fidel Castro, e seu corpo foi visitado em Lisboa por milhares de pessoas, como o ex-presidente português Mário Soares e a candidata do PT à Presidência Dilma Rousseff.

Fonte: Opera Mundi

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