Judeus ricos americanos alimentam radicalismos em Israel - Por Thomas L. Friedman
Do The New York Times
Quando eu cobri a guerra do Líbano de 1982, aprendi algo surpreendente sobre guerras: elas atraem todo tipo de espectadores, intrometidos, benfeitores e malfeitores. Eles usam o conflito e a atenção que elas geram para resolver suas próprias questões de identidade, paixões e preconceitos. O meu favorito em Beirute era um cavalheiro que apareceu em agosto de 1982, quando os guerrilheiros palestinos estavam zarpando do porto de Beirute. Seu nome - eu não estou inventando isso - era Arthur Blessitt, o "Pregador da Sunset Boulevard". Ele tinha vindo caminhando de Israel até Beirute Ocidental para rezar pela paz, arrastando uma cruz de madeira de 4 metros de comprimento com uma rodinha na ponta.
Arthur era inofensivo; alguns dos outros, porém, eram mentirosos, o que me levou a promulgar a seguinte regra: eu adoro os israelitas e os palestinos, mas Deus me livre de alguns de seus amigos europeus e americanos. Suas intervenções grandiloquentes - como aqueles fura-bloqueios velejando para Gaza ou os ricos judeus americanos que financiam compras de casa de colonos extremistas na Jerusalém Oriental árabe - muitas vezes alimentam as piores tendências de ambos os lados e desviam nossas energias da única coisa que é importante: criar uma solução de dois Estados.
Então, tem alguma coisa boa acontecendo neste sentido? Sim. O esforço do presidente palestino Mahmoud Abbas e do primeiro-ministro palestino Salam Fayyad de erguer os alicerces institucionais de um Estado palestino a partir do zero - substituindo a estrutura corrupta e improvisada que Yasser Arafat criou e Israel destruiu - está de fato tendo progresso. Isto é importante - e deve ser cultivado.
Sabe, há dois modelos de governo árabe. O velho modelo nasserita, que o Hamas ainda pratica, em que os líderes dizem: "Julguem-me por como eu resisto a Israel ou aos Estados Unidos" e "Primeiro arranjamos um Estado, depois criamos as instituições". O novo modelo, capitaneado na Cisjordânia por Abbas e Fayyad, é: "Julguem-me pelo meu desempenho - como eu gero investimento e emprego, forneço serviços e junto o lixo. Primeiro criamos instituições políticas e de segurança transparentes e efetivas. Depois proclamamos um Estado. Isto é o que os sionistas fizeram, e com certeza funcionou para eles".
A coisa mais importante acontecendo neste conflito hoje em dia é que, desde 2007, a Autoridade Palestina, a Jordânia e os EUA fizeram uma parceria para treinar toda uma nova força de segurança palestina na Cisjordânia em termos de policiamento, administração e até direitos humanos. O programa é orientado pelo tenente-general americano Keith Dayton - um dos mocinhos esquecidos. O exército israelense ficou tão impressionado com o desempenho das novas Forças de Segurança Nacionais Palestinas, FSNP, sob os auspícios de Abbas e Fayyad, que estas forças são agora em grande parte responsáveis pela lei e ordem em todas as grandes cidades da Cisjordânia, desencadeando uma explosão de construção, investimento e comércio palestinos nestas áreas.
Aqui vão os destaques: os jordanianos treinaram, e a Autoridade Palestina mobilizou e equipou, cinco batalhões das FSNP e uma unidade de Guarda Presidencial, cerca de 3.100 homens. Além disso, 65 socorristas palestinos foram treinados e estão recebendo equipamentos de emergência. Um Centro Nacional de Treinamento palestino, com salas de aula e dormitórios, está ficando pronto em Jericó, de modo que os próprios palestinos podem assumir o treinamento. A Autoridade Palestina está construindo um campo das FSNP para 750 homens para acantonar as novas tropas das FSNP - incluindo quartel, academia de ginástica e campo de manobras - perto de Jenin. Ao mesmo tempo, todos os quartéis-generais de segurança palestinos estão sendo reconstruídos em todas as grandes cidades palestinas, começando por Hebron. Um curso de treinamento de liderança sênior de oito semana em Jericó - reunindo a polícia palestina, as FSNP e Guardas Presidenciais - já formou 280 pessoas, incluindo 20 mulheres.
Um curso para capitães e patentes inferiores sobre como lidar com tudo, de controle de multidões a eleições, também começou. O revigorado Ministério do Interior palestino está liderando a transformação no setor de segurança palestino, e os canadenses estão ajudando a implantar Centros de Operações Conjuntas em toda a Cisjordânia, de modo que todos os serviços de segurança palestinos possam colaborar através de videoconferência. Os canadenses também estão ajudando os palestinos a criar um centro de logística. Paralelamente a tudo isto, o primeiro-ministro Bibi Netanyahu reduziu os pontos de controle guarnecidos de Israel na Cisjordânia de 42 para 12.
Isto não será politicamente sustentável para Abbas e Fayyad, porém, a não ser que Israel comece a ceder autoridade completa para os palestinos nas suas cidades principais - chamada "área A" - na Cisjordânia. Os palestinos devem ver seus novos serviços de segurança como construindo seu Estado, e não amortecendo a ocupação de Israel. Neste sentido, pode haver uma hora da verdade para Israel em breve, mas ao menos será baseada em algo real. Em suma, esta dinâmica - palestinos criando instituições reais do zero e fazendo Israel ceder-lhes autoridade real - é o jogo. Façam-na funcionar em toda a Cisjordânia e arranjem um jeito de transferi-la para Gaza (que tal reabrir a fronteira Israel-Gaza e deixar as novas FSNP palestinas controlar as travessias para Israel?), e uma solução de dois Estados é possível. Deixem-na fracassar, e teremos conflito eterno. Todo o resto é só distração.
Thomas L. Friedman é colunista do jornal The New York Times desde 1981. Foi correspondente-chefe em Beirute, Jerusalém, Washington e na Casa Branca (EUA). Conquistou três vezes o Prêmio Pulitzer, até que em 2005 foi eleito membro da direção da instituição. Artigo distribuído pelo New York Times News Service.
Fonte: Terra Magazine
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4 comentários:
É insustentável assistirmos o show de horrores em Israel e Palestina.
O que será até de nossos futuros estudantes de História num futuro próximo -, não vejo qq coisa além ainda de mera informação de "contraideologia" (é assim q escreve?). É certo que não.
Do mais, venho tomar de assalto mais uma das afrontas que fazem à causa e a Santa Palavra de Deus(vide Radicalismo e Fundamentalismo, futuras eras das ciências e letras). Algo envolvido com o mistério do desconhecido...
Abraços meus provos sãos
http://eracionalismo.blogspot.com
Meu caro amigo,
Obrigado pela visita!
Cara desde que me conheço por gente o Estado Assassino de Israel mata, assassina, explora e tortura um povo sofrido de carente a troco de nada!
Eu não tenho o menor apreço ao Estado Judeu, não sou anti-semita, mas sou a favor que Israel saia das terras palestina de uma vez por toda!
Provos Brasil
NÃO VEJO QUE ISRAEL ESTEJA INVADINDO TERRAS PALESTINAS, ESTA APENAS DEFENDENDO O SEU ESTADO, OFICIALMENTE CONCEDIDO PELA ONU, LEGALMENTE, PENSO QUE INVASORES SEJAM OS PALESTINOS.
Penso que a criação de dois estados em Israel, uma palestino e outro Israelense não seria viável, precisamos ir por ordem, saber quem chegou primeiro nas terras, quem são os donos legalmente e quem são os invadores. E sendo assim, que a ONU e os países responsáveis pelo diálogo, solicitem que estes invasores ocupam terras em outro país,isto seria mais viável e questões de fundo religioso a parte.
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