sexta-feira, 4 de junho de 2010

De perseguidos a perseguidores: a lição do sionismo - Por João Bernardo

De perseguidos a perseguidores: a lição do sionismo

Não é exclusivo dos judeus o facto de entre os perseguidos se ter gerado uma reacção nacionalista que se converteu em imperialismo. Esta é a armadilha que o nacionalismo coloca às pessoas de esquerda. Por João Bernardo

Pensando um pouco sobre a recente agressão de Israel ao navio Mavi Marmara e o à-vontade e a impunidade com que esse país tem espalhado o terror em seu redor, parece-me que a maior parte dos comentadores se limita ao óbvio para evitar a conclusão mais importante.

É do conhecimento geral que os judeus foram vítimas de grandes perseguições e que o nazismo fez do anti-semitismo um dos seus eixos principais. Desde o primeiro dia o regime de Hitler perseguiu os judeus e durante a segunda guerra mundial pretendeu exterminá-los. É também amplamente conhecido o tratamento que o Estado de Israel inflige aos palestinianos, espoliando-os e impondo-lhes um sistema de terror que ultrapassa tudo o que os racistas sul-africanos conseguiram fazer no tempo do apartheid. Ora, entre estes dois factos, os judeus como vítimas e Israel como agressor, não existe uma contradição mas, pelo contrário, um nexo lógico, e é para ele que procurarei chamar a atenção neste artigo.

Oposição entre assimilacionistas e sionistas
Antes de mais, convém distinguir judeus e movimento sionista. Os judeus são um povo, definido por um conjunto de tradições e hábitos culturais em que a religião é uma parte componente, embora não indispensável. O sionismo é um movimento político que se propôs formar uma nação a partir do povo judaico, disperso desde há muitos séculos no seio de outras sociedades; o objectivo do sionismo era separar os judeus das sociedades onde viviam e conduzir uma corrente migratória para a Palestina, acabando por fundar o Estado de Israel.

Quando Theodor Herzl fundou o movimento sionista na passagem do século XIX para o século XX, ele só conseguiu interessar uma pequena minoria de judeus e praticamente não contou com o apoio de intelectuais judeus de prestígio [1]. A esmagadora maioria dos judeus era composta por assimilacionistas, que, embora defendessem o direito a manter a sua especificidade cultural, defendiam também a sua plena integração nas sociedades onde viviam. Na Alemanha imperial a grande maioria dos judeus exibia um patriotismo nas raias do chauvinismo, e os judeus austríacos, em vez de se apresentarem como uma das nacionalidades do império, consideravam-se parte integrante da população alemã [2]. Nas vésperas da primeira guerra mundial os sionistas estavam marginalizados no interior das suas próprias comunidades, mesmo no leste da Europa, apesar de serem aí especialmente violentos os sentimentos anti-semitas de uma parte da população [3], e o isolamento dos sionistas continuou, de um e outro lado do Atlântico, ao longo da década de 1920 [4]. Na Alemanha posterior à primeira guerra mundial, durante a república de Weimar, os assimilacionistas contaram pelo menos com 95% dos membros das organizações judaicas [5], e na primeira metade da década de 1920 mais de 40% dos casamentos em que um dos noivos era judeu tinham como outro participante um não-judeu [6]. Na Polónia, apesar de ter sido o país europeu onde o sionismo mais se desenvolveu, até à segunda guerra mundial a maior organização política judaica foi a Bund (Algemeyner Yidisher Arbeter Bund in Lite, Poylin und Russland, União Geral dos Trabalhadores Judaicos da Lituânia, Polónia e Rússia), partidária da igualdade de direitos, socialista e activamente oposta aos sionistas [7]. Comentando o facto de em 1942 ser cada vez mais frequente o emprego do polaco em vez do yiddish nas ruas do ghetto de Varsóvia, o historiador judeu Emmanuel Ringelblum observou que o movimento de assimilação linguística fora já muito forte antes da guerra [8]. Na verdade, Ringelblum estava especialmente bem colocado para apreciar a situação, porque ele conseguiu organizar clandestinamente uma rede de testemunhas e de informadores que lhe permitiu, com sacrifício da vida, deixar para a posteridade a narrativa das atrocidades praticadas pelos nazis na Polónia.

Mesmo as vitórias eleitorais alcançadas pelos nacionais-socialistas não impediram que nas vésperas da nomeação de Hitler para o posto de chanceler os sionistas estivessem reduzidos na Alemanha, como nos demais países, a uma fracção diminuta da população judaica, 1% ou 2% segundo os seus próprios cálculos [9], e um relatório interno dos SS elaborado na Primavera de 1934 constatou que a maioria dos judeus alemães se mantinha favorável ao assimilacionismo [10]. A partir de Junho e Julho de 1934, quando Röhm e as SA foram liquidadas e o fascismo estritamente racial de Hitler e Himmler triunfou sobre o fascismo de carácter social proposto pelos seus rivais na extrema-direita, uma das principais preocupações do nazismo foi excluir os judeus da sociedade alemã. Os assimilacionistas foram ilegalizados e perseguidos e os sionistas foram promovidos; mas, apesar disso, os judeus alemães não se mostraram entusiasmados pela Palestina. As autoridades britânicas na Palestina fixavam anualmente o número máximo de imigrantes permitido, e era a Agência Judaica, suprema autoridade sionista na região, quem repartia os certificados de imigração entre os judeus dos vários países. Ora, durante a década de 1930 só 22% dos certificados foram concedidos a judeus alemães [11].

Na Alemanha o sionismo só triunfou sobre o assimilacionismo porque o regime nazi perseguiu os assimilacionistas. O sionismo considerava os assimilacionistas como o principal inimigo e via com bons olhos tudo – perseguições e mesmo ocasionais massacres – o que afastasse os judeus das sociedades onde viviam. Por isso, desde muito cedo os dirigentes sionistas procuraram estabelecer acordos com governos hostis aos judeus e convencê-los de que ambos tinham o mesmo objectivo imediato [12]. Se os anti-semitas queriam desembaraçar-se dos compatriotas judaicos e se os sionistas pretendiam aumentar o número de judeus na Palestina, por que não unirem os esforços?

Colaboração do sionismo com o nazismo
Durante a república de Weimar os sionistas alemães haviam mantido uma atitude passiva perante a ascensão do nazismo, considerando a hostilidade aos judeus tão lógica como a sua própria recusa em se integrarem na sociedade germânica [13]. Para eles a solução do problema consistia na emigração para a Palestina e não no combate ao anti-semitismo no país onde tinham nascido, e desde a instauração do regime nazi em 1933 até ao começo da segunda guerra mundial foram muito poucos os sionistas a participar na resistência clandestina [14]. Aliás, figuras eminentes do sionismo germânico expressaram publicamente a opinião de que a chegada de Hitler ao poder era proveitosa para os judeus porque comprometia definitivamente os assimilacionistas, obrigava todos os judeus a juntarem-se numa entidade única e reforçava a noção de identidade racial do judaísmo [15].

A célebre intelectual judia Hannah Arendt recordou que «naquele tempo era um facto da vida corrente que só os sionistas tinham possibilidade de negociar com as autoridades alemãs, pela simples razão de que a sua principal rival, a Associação Central dos Cidadãos Alemães de Confissão Judaica (Central-Verein deutscher Staatsbürger jüdischen Glaubens), à qual pertenciam então noventa e cinco por cento dos membros de organizações judaicas na Alemanha, especificava nos estatutos que o seu primeiro objectivo era a “luta contra o anti-semitismo”. De um dia para o outro, ela havia-se convertido, por definição, numa organização “inimiga do Estado” […] Nos primeiros anos, a subida de Hitler ao poder foi vista pelos sionistas principalmente como “a derrota decisiva do assimilacionismo”» [16]. Ilegalizados os ideais de integração, calcula-se que a tiragem do semanário sionista alemão, que oscilara entre os 5.000 e os 7.000 exemplares, tivesse subido para cerca de 40.000 nos primeiros meses do novo regime, e as colectas de fundos realizadas pelo movimento sionista renderam o triplo em 1935-1936 do que haviam rendido em 1931-1932 [17].

A Organização Sionista alemã via no anti-semitismo activo dos nazis uma oportunidade de aumentar o fluxo da emigração para a Palestina; e os dirigentes do sionismo mundial aprovaram esta orientação, muitas vezes contra os protestos de activistas de base, como sucedeu na própria Palestina [18]. Logo nos primeiros dias de Abril de 1933, mais de oito anos antes de as autoridades do Reich terem tornado obrigatório o porte da estrela amarela pela população judaica, já um artigo assinado pelo chefe de redacção do semanário sionista alemão apelara para que os judeus tomassem eles próprios esta iniciativa, mostrando a vontade de se excluírem da sociedade germânica [19]. Para que progredisse o estabelecimento na Palestina era indispensável que os judeus da diáspora se sentissem renegados pelos países onde haviam nascido, e assim o mesmo processo que permitiu aos hitlerianos a destruição gradual dos judeus possibilitou que os sionistas derrotassem os seus rivais assimilacionistas. «Desde o início que a direcção sionista se recusara de facto a opor-se à ideologia de expulsão defendida pelos nazis», escreveu um historiador judaico, acrescentando que esta atitude fornecia «uma indicação aos nazis de que os próprios judeus se dispunham a organizar a expulsão deles mesmos». A conclusão só podia ser uma. «Os dirigentes nazis […] constataram com alegria o facto de os sionistas aceitarem a expulsão dos judeus» [20]. E não se tratava de uma expulsão qualquer, mas unicamente da concentração dos fugitivos na Palestina. A lógica da implantação de uma soberania judaica na Palestina apresentava-se como o reverso da lógica nacional-socialista de perseguição dos judeus.

Aquele historiador judeu resumiu lapidarmente a situação: «O sionismo havia-se tornado um instrumento dos anti-semitas» [21]. Os discursos e as publicações nazis continuaram a obedecer aos rancores de sempre, atacando todos os judeus sem distinção, mas na prática os procedimentos foram subtis e criou-se uma curiosa situação de que os sionistas saíram privilegiados, mesmo em termos legais. O facto de a esmagadora maioria dos judeus alemães estar integrada socialmente no país, dificultando a aplicação das medidas anti-semitas [22], converteu os assimilacionistas nos principais inimigos; e os sionistas, que pretendiam destacar os judeus do resto da população, apareceram como um auxiliar precioso e receberam os cargos dirigentes na nova instituição destinada a enquadrar os judeus do Reich [23]. A maior parte das medidas anti-semitas concentrou-se nos assimilacionistas, enquanto o movimento sionista pôde manter a sede aberta até Novembro de 1938 e, apesar das restrições impostas à sua actividade, recebeu em 1935 autorização para vestir com uniformes próprios os membros da organização juvenil, assim como a imprensa sionista, apesar das proibições que várias vezes a atingiram, foi a única em todo o Reich a ficar isenta da obrigação de conformidade com a doutrina nacional-socialista [24]. Além de estimularem as comunidades judaicas existentes nas principais cidades a usar a língua hebraica, os dirigentes nazis, durante os primeiros anos do novo regime, incentivaram-nas a realizar festivais religiosos, culturais e desportivos, sob a égide do movimento sionista e contando com a presença benévola de funcionários da Gestapo [25].

Esta convergência de interesses foi clara para alguns contemporâneos e encontramo-la estigmatizada ao longo do diário mantido por Victor Klemperer, um professor universitário alemão de origem judaica, linguista e especialista em literatura francesa. Ele não poupava os sarcasmos ao mencionar a colonização sionista da Palestina e numa página de Outubro de 1933 exprimiu simpatia pela revolta dos árabes palestinianos, equiparando o seu destino aos dos índios americanos [26]. «Em que é que os sionistas se distinguem dos nazis?», exclamou Klemperer em 1936, e abriu o ano de 1939 com a afirmação de que o sionismo é «puro nazismo» [27]. «Não existe qualquer questão judaica na Alemanha ou na Europa ocidental», escreveu ele passados poucos dias. «Quem quer que diga o contrário está só a aceitar e reforçar as teses falsas do NSDAP [o partido nazi] e a servir a sua causa». Klemperer invocou o elevado número de casamentos entre judeus e não judeus como prova de que os judeus haviam sido inteiramente assimilados pela sociedade alemã e acrescentou que o ambiente de fricções no qual os judeus puderam ver-se envolvidos antes da chegada de Hitler à chancelaria não fora mais grave do que as hostilidades que opunham protestantes e católicos ou prussianos e bávaros. «Existe uma única solução para a questão judaica na Alemanha e na Europa ocidental: a derrota daqueles que a inventaram. […] A causa sionista, tanto a pura como a religiosa, interessa apenas a fanáticos e não diz respeito à maioria […]» [28]. Em meados de 1940, Klemperer voltou a estabelecer a igualdade entre sionismo e hitlerismo [29]. «Hitler é o mais importante promotor do sionismo […]», denunciou ele nos últimos dias de 1941 [30]. No ano seguinte, além de ter novamente equiparado os sionistas aos nacionais-socialistas [31], Klemperer observou a afinidade dos escritos políticos de Theodor Herzl, o fundador do sionismo, com a doutrina hitleriana [32]. «Só podemos resolver a questão judaica se nos libertarmos daqueles que a inventaram», havia ele declarado no início de 1939 [33]. Mas isso sucedeu tarde demais.

Antes de encetarem a «solução final» e chacinarem sistematicamente os judeus, os dirigentes nazis prosseguiram uma política dupla, por um lado, reduzindo progressivamente os direitos cívicos e profissionais dos judeus e confinando-os depois em campos de concentração e, por outro lado, estimulando a sua fixação na Palestina. Da estreita colaboração entre os dirigentes sionistas e o departamento SS especializado nestes assuntos resultou a criação de uma rede de emigração, que continuou a funcionar mesmo depois do início da guerra [34]. As autoridades judaicas da Palestina destacavam regularmente emissários para contactar os SS ou directamente a Gestapo, de maneira a aumentar o fluxo de emigrantes [35]. Estes agentes de recrutamento sionistas foram por vezes autorizados a visitar os campos de concentração e a escolher entre os detidos aqueles que preferiam expedir para a Palestina, homens de negócios e jovens vigorosos [36]. Nas palavras de Hannah Arendt, «a maioria dos judeus, que não havia sido seleccionada, ficou inevitavelmente confrontada com dois inimigos – as autoridades nazis e as autoridades judaicas» [37]. O aparente empenho dos nacionais-socialistas no êxito dos colonatos judaicos chegou ao ponto de os SS criarem algumas fazendas experimentais, onde os candidatos à emigração aprenderam técnicas agrícolas modernas que lhes permitiram depois cultivar com eficácia e produtividade as terras tomadas aos árabes [38].

As relações eram tão íntimas que em Abril de 1933 o barão von Mildenstein, perito SS para as questões judaicas, partiu para a Palestina a convite da Organização Sionista Mundial e com expressa autorização do partido nazi. Passeando-se por Tel Aviv e visitando os colonatos, von Mildenstein ficou a tal ponto interessado que no ano seguinte publicou uma série de reportagens sobre a sua viagem. Chegou mesmo a ser cunhada uma medalha em comemoração do acontecimento, com a cruz suástica gravada numa face e mostrando na outra a estrela de David [39]. A visita de von Mildenstein teve uma segunda versão quatro anos depois, quando o seu antigo subordinado Adolf Eichmann, promovido entretanto a especialista SS das questões judaicas e encarregado de organizar a emigração de judeus – e mais tarde o seu extermínio – foi convidado pelos dirigentes sionistas a visitar a Palestina e a conhecer os colonatos. Mas, chegados a Haifa, Eichmann e o seu superior hierárquico não conseguiram obter um visto de entrada das autoridades britânicas e viram-se obrigados a retroceder para o Egipto, onde tiveram várias reuniões com um representante sionista. De acordo com o relatório apresentado pelos dois membros dos SS, o agente sionista comunicara-lhes o apreço dos nacionalistas judeus pela política nacional-socialista, que favorecia a emigração para a Palestina, e decerto em sinal de gratidão prestara-lhes informações acerca da actividade clandestina dos comunistas, incluindo os comunistas alemães [40].

Esta política de cooperação atingiu desde cedo uma expressão muitíssimo elaborada na Ha’avara, que significa Transferência, nome dado correntemente a um conjunto de instituições, próximo dos sistemas de clearing, resultante do acordo comercial e financeiro que as autoridades sionistas estabeleceram em Agosto de 1933 com o Ministério da Economia do Reich e com o Ministério dos Negócios Estrangeiros para permitir a transferência de fundos pelos judeus alemães que desejassem fixar-se na Palestina. Este acordo manteve-se em vigor até ao começo da guerra mundial e, simplificando muito os seus termos, o emigrante potencial podia depositar uma soma em marcos (a moeda alemã) num banco na Alemanha, em conta bloqueada; em seguida, ele assinava um contrato com um exportador alemão para enviar mercadorias para o estrangeiro, geralmente para a Palestina, embora pudessem também ter outros destinos; o exportador alemão era pago em marcos, com o dinheiro existente na conta bloqueada; a Agência Judaica da Palestina encarregava-se da venda das mercadorias exportadas; e uma vez desembarcado na Palestina, o recém-chegado recebia em libras esterlinas o produto dessa venda, que lhe era entregue pela Agência Judaica. As autoridades nazis impunham condições especialmente desfavoráveis aos emigrantes e a economia germânica beneficiava com o fluxo das exportações. Mas, por seu lado, aqueles judeus que tinham fortuna suficiente para participar na Ha’avara reduziam as perdas acarretadas pelo abandono do país, que eram três vezes mais elevadas, ou cinco vezes mais elevadas, quando a emigração ocorria fora deste sistema. Ao mesmo tempo, os imigrantes viam-se detentores de investimentos bastante apreciáveis no novo lugar de residência. É certo que quanto aos haveres da comunidade judaica alemã, globalmente considerados, os efeitos da Ha’avara não foram muito significativos, mas foram muitíssimo consideráveis sob o ponto de vista da economia judaica na Palestina. Cerca de 60% dos investimentos totais realizados na Palestina entre Agosto de 1933 e Setembro de 1939 resultaram de transferências executadas no âmbito do acordo, sendo estes capitais aplicados sobretudo nos ramos da metalurgia, do têxtil e da indústria química, mas também em fábricas de cimento, de fertilizantes e de instrumentos agrícolas. Foi assim que nasceram algumas das maiores empresas industriais do futuro Estado de Israel. Estas somas asseguraram grande prosperidade à Palestina num período em que todo o mundo, excepto a União Soviética, sofria uma gravíssima e prolongada depressão económica. Convertida numa importante instituição bancária e comercial, no auge da actividade a Ha’avara empregava um pessoal técnico de 137 pessoas nos seus escritórios de Jerusalém [41]. Depois de analisar detalhadamente esta questão, um historiador judeu concluiu que a Ha’avara foi indispensável para a constituição do futuro Estado de Israel [42].

A hábil conversão das perseguições aos judeus do Reich em investimentos na Palestina adquiriu ainda maior amplitude com a criação da Agência Internacional de Comércio e Investimentos. Todas as somas enviadas a partir do estrangeiro com o objectivo de ajudar judeus residentes no Reich deixaram de ser entregues directamente aos destinatários e, através daquela Agência, passaram a ser creditadas a um departamento da Organização Sionista na Palestina, entrando no quadro dos mecanismos estabelecidos pela Ha’avara. Deste modo, mais de 70.000 doações, correspondentes a uma soma total de quase 900.000 dólares, em vez de serem empregues para aliviar os sofrimentos dos judeus perseguidos foram usadas para o desenvolvimento económico da Palestina judaica [43].

Chegara-se a uma situação paradoxal, pois ao mesmo tempo que judeus de vários países procuravam a todo o custo organizar o boicote dos produtos do Reich, a Organização Sionista Mundial violava as barreiras e a Palestina encontrava-se inundada de artigos alemães [44]. «Aparentemente, as relações económicas entre a Alemanha nazi e a comunidade judaica da Palestina eram excelentes», escreveu um historiador judeu, a maior autoridade sobre o genocídio [45], e outro historiador judeu, depois de analisar detalhadamente as conversações que levaram ao estabelecimento da Ha’avara, resumiu a situação: «Em breve os dirigentes sionistas compreenderam que o êxito económico da futura Palestina judaica estaria indissociavelmente ligado à sobrevivência da economia nazi» [46].

Mas a simpatia de que o fascismo beneficiava entre os dirigentes sionistas não se limitou ao caso do Reich.

Colaboração do sionismo com o fascismo italiano
Inicialmente Mussolini considerara que o estabelecimento dos judeus na Palestina reforçaria politicamente a Grã-Bretanha e, portanto, colocaria em risco as pretensões imperiais da Itália no Mediterrâneo. Na primeira audiência que concedeu a representantes do sionismo, em Dezembro de 1922, pouco depois de ter alcançado o poder, Mussolini declarou-lhes que considerava aquele movimento como um instrumento da política de Londres [47]. Chaim Weizmann, presidente da Organização Sionista Mundial, visitou Mussolini pela primeira vez em Janeiro de 1923, sem conseguir alterar-lhe a posição relativamente ao estabelecimento judaico da Palestina [48].

No entanto, a atitude do Duce mudou, e em 1926, ao receber de novo Weizmann, deixou-o convencido de que já não se opunha ao projecto sionista e que ajudaria a implantar uma soberania judaica na Palestina desde que ela não se mostrasse dependente da influência britânica [49]. Em 1926 Mussolini descobrira que podia utilizar o sionismo para criar dificuldades à Grã-Bretanha [50]. A partir de então os principais dirigentes sionistas mantiveram contactos regulares com Roma e a imprensa sionista mundial expressou o seu apreço pelo regime fascista [51]. Recebendo Chaim Weizmann em 1934, Mussolini prometeu-lhe apoio, afirmou que Jerusalém não podia tornar-se uma capital árabe e declarou-se favorável à criação de um Estado judeu na Palestina, com a condição de não estar na dependência da Grã-Bretanha. Em contrapartida, Weizmann, que era um universitário e um investigador na área da química orgânica, parece que de muito mérito, ofereceu a Mussolini os seus préstimos para desenvolver uma indústria química e farmacêutica na Itália, tornando o país independente da Alemanha nestes ramos. Mas embora ele prometesse recrutar pessoal especializado e mobilizar investimentos, na prática nada resultou [52].

Um fascismo sionista

No Executivo Sionista foi Vladimir Jabotinsky quem encabeçou a oposição da direita radical à presidência de Chaim Weizmann, moderado e conciliador. Jabotinsky foi-se autonomizando progressivamente do Executivo, demitindo-se em 1923, dois anos depois de ter sido eleito para esse órgão, e lançou em 1925 a Organização Revisionista Sionista, que converteu mais tarde em União Mundial do Movimento Revisionista, enquanto tendência interna do sionismo. No Congresso Sionista Mundial de 1931 os revisionistas contaram com 25% dos delegados, constituindo a terceira maior tendência, o que mostra que de modo algum podiam ser subestimados e possuíam uma efectiva capacidade de pressão. No congresso seguinte, em 1933, apesar de divididos internamente eles obtiveram cerca de 20% dos delegados e continuaram a formar a terceira maior tendência. Na sequência deste congresso, abandonaram a Organização Sionista e fundaram em 1935 a Nova Organização Sionista, continuando no entanto a ser correntemente designados como «revisionistas» [53].

A convicção de que o revisionismo era um fascismo foi muito corrente na época [54] e parece-me inútil investigar se no seu íntimo Jabotinsky era fascista ou se procurava apenas usar o fascismo em benefício próprio, porque os efeitos seriam os mesmos e não há dúvida de que os seus seguidores eram fascistas confirmados [55]. Wolfgang von Weisl, director financeiro da Nova Organização Sionista, declarou numa entrevista em 1936 que, «ainda que houvesse diversas opiniões entre os revisionistas, em geral eles simpatizavam com o fascismo» e que «ele pessoalmente era um apoiante do fascismo» [56]. E Mussolini, especialista na matéria, classificou Jabotinsky como «fascista» durante uma conversa que teve em 1935 com alguém que seria em breve o mais alto dignitário da sinagoga romana [57].

Opondo-se à luta de classes, ao socialismo e à planificação da economia, Jabotinsky defendia a instauração de uma ordem económica e social assente numa câmara corporativa e na arbitragem dos conflitos laborais pelo Estado [58]. Os seus adeptos jovens estavam enquadrados numa milícia, a Betar (Brit Trumpeldor, Liga de Trumpeldor), inaugurada em 1923 e profundamente militarizada tanto na estrutura como na ideologia [59]. A partir do momento em que Jabotinsky se separou da Organização Sionista, foram estes jovens a constituir o seu principal apoio político [60]. Quanto ao apoio social, o revisionismo encontrou-o nos pequenos e médios patrões que começavam então a emergir entre os judeus estabelecidos na Palestina [61], e decerto lhes serviu os interesses, pois a Betar pôs-se várias vezes à disposição dos capitalistas judaicos para furar as greves convocadas pelos sindicatos sionistas. Como todas as suas congéneres, esta milícia especializara-se no espancamento de sindicalistas de esquerda e socialistas, até que em Outubro de 1934 1.500 militantes trabalhistas atacaram a sua sede e deixaram várias dezenas feridos, dando-lhe uma definitiva lição de prudência [62]. Entretanto, no início da década de 1930 os revisionistas haviam fundado uma Federação Nacional do Trabalho, com a qual pretendiam aplicar os princípios de um sindicalismo anti-socialista e partidário da colaboração entre classes, mas os seus 7.000 membros, comparados com os 60.000 filiados da central sindical socialista, mostram a reduzida simpatia que um tal programa encontrava junto dos trabalhadores [63].

Jabotinsky propunha uma versão extrema do sionismo, e o que acima de tudo lhe interessava era que a maioria da população da Palestina e da Transjordânia fosse composta por judeus. Os seus seguidores mais violentos e ousados criaram em 1931 uma organização terrorista clandestina, dedicada às acções armadas contra os árabes e os britânicos, que adoptou depois o nome de Irgun (Irgun Z’vai Le’umi, Organização Nacional Militar) e cujos membros provinham na maior parte da Betar [64]. E como uma estratégia que acarretava inevitavelmente a guerra com os árabes nunca contaria com o aval da Grã-Bretanha, porque destruía o equilíbrio em que se sustentava o imperialismo britânico na região [65], era necessário buscar a tutela de outra potência. Tanto na ordem interna como no quadro internacional Jabotinsky e os seus adeptos tinham todas as razões para olhar com simpatia Mussolini [66].

Embora os partidários italianos de Jabotinsky tivessem começado a organizar-se autonomamente em 1925-1926, só em 1930 eles passaram a dispor de um órgão de imprensa próprio e só em 1934 estabeleceram relações significativas com as autoridades fascistas [67]. Mas recuperaram o tempo perdido, e a partir do final desse ano a academia naval dirigida pelo Partido Nacional Fascista em Civitavecchia, não longe de Roma, passou a habilitar dezenas de membros da Betar, que participaram nos mesmos cursos dos seus colegas italianos e alcançaram até o que para eles era sem dúvida a honra de desfilar perante o Duce. Ao todo foram formados 134 cadetes judeus, e esta colaboração só terminou quando Mussolini, em 1938, promulgou as novas leis raciais [68]. Jabotinsky procurara levar a experiência mais longe e pedira autorização para constituir em Itália uma escola de instrutores onde os jovens revisionistas recebessem preparação militar [69]. Apesar de não o ter conseguido, é impossível subestimar a importância da formação dos cadetes, que integraram as primeiras unidades do que viria a ser a marinha de guerra israelita, fundada afinal graças a Mussolini [70].

Colaboração do sionismo com o nazismo durante o genocídio dos judeus
As medidas cada vez mais drásticas e generalizadas que as autoridades nazis tomaram contra os judeus, e mesmo a decisão última do genocídio, só puderam ser aplicadas na prática porque os judeus foram sucessivamente divididos em dois grupos, um poupado e o outro sacrificado, e os que por uma vez haviam sido beneficiados eram depois cindidos em dois grupos, e assim de novo, até que nenhum restasse. Mas a principal destas divisões, a única constante, sem a qual as outras teriam sido improcedentes e que as sustentou a todas, foi a divisão entre a massa dos judeus e uma elite sionista que colaborou com as autoridades nazis, em todos os estádios do processo, até ao fim [71].

É desta maneira, e apenas desta maneira, que se explica a facilidade com que o nacional-socialismo foi progressivamente excluindo os judeus da vida profissional e os foi aprisionando sempre em maior número, os obrigou a formar brigadas de trabalho em que morriam de exaustão e finalmente encetou o seu extermínio sistemático. Logo nos primeiros dias do regime nazi, os sionistas tomaram a iniciativa de concentrar numa instituição única, a Representação do Reich dos Judeus na Alemanha (Reichsvertretung der Juden in Deutschland), as organizações das comunidades judaicas, que até então haviam mantido em cada cidade uma existência autónoma. A justificação apresentada para esta medida foi a conveniência de iniciar um «debate aberto» e uma «polémica digna» com as novas autoridades acerca da questão judaica [72]. A obsessão sionista de chegar a um entendimento com os anti-semitas criou a armadilha que serviu para aprisionar todos os judeus, e quando a polícia, em Julho de 1939, tomou o controlo da Representação, convertendo-a numa Associação (Reichsvereinigung), os nazis passaram a ter ao seu dispor o mecanismo burocrático que lhes permitiria implementar algum tempo depois a «solução final». Em 1941, quando começou a deportação maciça para os campos de concentração, os funcionários judeus da Associação que até então haviam tratado da emigração dos seus correligionários encarregaram-se de estabelecer as listas dos que seriam deportados e de notificá-los desta decisão, enquanto os funcionários judeus da secção de estatística da Associação mantinham a Gestapo ao corrente de todas as alterações demográficas das comunidades judaicas.

Uma ordem administrativa emanada em Outubro de 1939 determinou que tanto no Reich como nos territórios ocupados militarmente as comunidades judaicas estabelecessem Conselhos Judaicos (Judenräte) [73], cujos chefes receberam poderes cada vez mais absolutos, passando com frequência a comportar-se como verdadeiros autocratas. «O Führerprinzip [princípio do Führer, segundo o qual em todas as instituições devia existir uma cadeia de comando emanada de um chefe único] atrai alguns judeus», comentou em Outubro de 1940 Emmanuel Ringelblum, que lidou com este tipo de gente, e seis meses depois ele acusou o Conselho do ghetto de Varsóvia de ter procedido à «adopção integral do Führerprinzip» [74]. As autoridades nacionais-socialistas estipulavam os números globais dos judeus que deviam formar as brigadas de trabalho gratuito e dos que se destinavam a ser enviados para os campos de concentração, assim como, mais tarde, determinavam quantos deviam ser incluídos em cada etapa sucessiva do programa de extermínio. Mas eram os Conselhos Judaicos quem distribuía aos seus correligionários a estrela amarela, a partir do momento em que se tornou obrigatório o porte deste símbolo; eram eles quem organizava o recrutamento para o trabalho forçado; eram eles quem detalhava as listas nominais dos judeus que deviam ser internados nos campos e que, posteriormente, seguiam para a morte colectiva; eram eles quem registava com minúcia os haveres das vítimas, facilitando aos serviços competentes do Reich o sequestro e a expropriação; e eram eles quem dispunha de uma poderosíssima e tentacular Polícia Judaica, criada expressamente para o efeito, que ajudou a deter muitas centenas de milhares de judeus e a encaminhá-los ordeiramente para as estações ferroviárias, de onde partiam para os locais de aprisionamento e para o destino fatal. Depois de observar que teria sido possível aos Conselhos Judaicos, em vez de consentirem numa colaboração infame, deixarem as autoridades nacionais-socialistas seleccionar as vítimas, Simon Wiesenthal, um judeu que dedicou a vida à perseguição dos responsáveis pelo genocídio, concluiu desoladamente: «No entanto, só em casos excepcionais os Conselhos Judaicos preferiram o suicídio à colaboração» [75].

Por algum motivo o cântico do ghetto de Varsóvia, um hino composto no final de 1940, estigmatizava os membros do Conselho, acusando-os de serem piores do que os nazis [76]. Em Abril de 1943, quando os sobreviventes mais radicais, ou simplesmente mais corajosos, decidiram pôr termo à maneira submissa como 85% dos habitantes do ghetto haviam morrido de fome e de doença ou sido entregues aos seus carrascos, eles começaram por isolar politicamente a direcção sionista do Conselho. Em seguida, ao passarem à acção, o alvo inicial foram os colaboracionistas, especialmente os membros da Polícia Judaica, o que comprometeu ainda mais o poder do Conselho [77]. Só depois de destruída a rede de repressão e de clientelismo que havia assegurado aos chefes sionistas o controlo do ghetto de Varsóvia é que a insurreição pôde deflagrar.

Não se pense que os Conselhos Judaicos se sustentavam apenas graças às matracas da sua polícia e à força indiscutível que lhes emprestavam as autoridades nacionais-socialistas, porque se apoiavam também, ou sobretudo, na influência e nas clientelas. Os seus membros eram geralmente escolhidos entre pessoas que ocupavam já naquele meio étnico uma situação proeminente quer pela profissão quer pela fortuna quer pelas funções religiosas, rabis e outros personagens tradicionalmente dotados de grande prestígio, e sem o conservadorismo político e social de um bom número de judeus não teria sido possível dominar tão facilmente a totalidade da população judaica nem chaciná-la numa proporção tão elevada. Uma célebre romancista francesa explicou a questão de modo muito claro. «O conluio dos notáveis que constituíam os Judenräte [Conselhos Judaicos] com os alemães é um facto conhecido, que se compreende facilmente. Em todos os tempos e em todos os países, com raras excepções, os notáveis colaboraram sempre com os vencedores: é um caso de classe» [78].

A táctica hitleriana consistiu em usar uma elite de judeus para prosseguir um plano que visava, afinal, exterminá-los todos. «Em qualquer lado onde vivessem judeus», observou friamente Hannah Arendt, «existiam dirigentes judaicos de reconhecido prestígio; e estes dirigentes, praticamente sem excepção, cooperaram de variadas maneiras e por variadas razões com os nazis. Para dizer toda a verdade, se o povo judaico tivesse estado então desprovido de organizações e de dirigentes a situação teria sido caótica e não faltariam os motivos de sofrimento, mas dificilmente o número total de vítimas se contaria entre quatro milhões e meio e seis milhões» [79]. E esta autora aceitou como um cálculo muito verosímil que, enquanto morreram 99% daqueles que se deixaram persuadir pelos Conselhos Judaicos e seguiram para os campos de concentração, entre os fugitivos só cerca de metade teria sido capturada e liquidada [80].

O fascismo sionista na Palestina durante a segunda guerra mundial
Em 1939 Jabotinsky incitou os seus partidários a formar um exército que apoiasse o esforço militar britânico, considerando que a vitória de Hitler constituiria o perigo mais grave para a Palestina judaica [81]. Mas em que situação ficava este fascista que, na prova decisiva, renegava o campo do fascismo? Quando morreu, em 1940, nos Estados Unidos, Jabotinsky encontrava-se num considerável isolamento.

Nestas circunstâncias, a maioria dos membros da Irgun colocou-se sob a chefia de Avraham Stern, ou Yair, um fascista radical adepto de uma orientação estritamente pró-mussoliniana e antibritânica, treinado em técnicas de sabotagem e de insurreição [82]. Em 1940 Stern fundou uma nova Irgun, e se ela mal se diferenciava da anterior quanto à sigla, distinguia-se pelo recrudescimento dos atentados e assassinatos dirigidos contra a presença britânica. Levando esta estratégia ao extremo, Stern propôs ao Reich uma aliança de guerra. Mesmo numa história de paradoxos, a missiva que um representante de Stern entregou em Janeiro de 1941 a um membro dos serviços de espionagem do exército germânico e a um alto funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reich pode ser classificada como a expressão mais aberrante do sionismo. No entanto, ou por isto mesmo, ela era absolutamente lógica, pois se os sionistas haviam sempre depositado esperanças no anti-semitismo enquanto elemento motor das migrações para a Palestina, Hitler, o maior dos anti-semitas, podia agora ser apresentado como um recurso potencial da Palestina judaica. Lê-se nessa missiva: «A ONM [neste caso, a facção maioritária da Irgun dirigida por Stern], que não ignora a boa vontade demonstrada pelo governo do Reich alemão e pelas suas autoridades para com a actividade sionista no interior da Alemanha e para com os planos de emigração sionistas, considera que: 1) Poderão existir interesses comuns entre o estabelecimento de uma Nova Ordem na Europa, em conformidade com as concepções germânicas, e as verdadeiras aspirações nacionais do povo judaico, tal como elas são encarnadas pela ONM. 2) Poderá ser possível a cooperação entre a nova Alemanha e um renovado judaísmo racial e nacional, e 3) A manutenção e o reforço de uma futura posição de poder germânica no Próximo-Oriente serão favorecidos pela fundação numa base nacional e totalitária do Estado judaico histórico, ligado por um tratado ao Reich alemão». A missiva continua com a afirmação de que a organização chefiada por Stern «propõe-se tomar uma parte activa na guerra do lado germânico» e conclui: «Tanto na sua ideologia como na sua estrutura, a ONM está muito próxima dos movimentos totalitários europeus. A capacidade de combate da ONM jamais poderá ser paralisada ou seriamente comprometida quer por medidas defensivas tomadas pela administração inglesa e pelos árabes quer por medidas tomadas pelos socialistas judaicos» [83]. Os nacionais-socialistas desprezaram esta proposta [84] e Stern foi morto pela polícia britânica no começo de 1942, mas a história não terminou ali.

A génese das actuais forças políticas no Estado de Israel

Passado mais de meio século, a clivagem que separa os dois grandes campos políticos israelitas prossegue a antiga oposição entre as duas alas do sionismo. Os trabalhistas continuam a tendência maioritária, com uma orientação interna de carácter social-democrata, e o Likud é o herdeiro da organização fascista. O primeiro chefe de governo do Likud, Menachem Begin, que exerceu funções desde 1977 até 1983, fora na sua juventude um dos dirigentes das milícias revisionistas e, embora se mantivesse fiel a Jabotinsky, ele ultrapassara muito as propensões terroristas do mestre e apoiara ideologicamente a ala mais radical. Jabotinsky nomeara-o em 1939 para comandar a Betar na Polónia, e com estas credenciais Begin assumiu no final de 1943 a chefia da Irgun, lançando-a em acções violentas contra os britânicos. Em 1948, juntamente com os representantes da ala caracterizadamente fascista do revisionismo, Begin fundou o Partido da Liberdade, que assegurou à velha extrema-direita sionista um novo alento na vida política do Estado de Israel [85]. Pouco depois várias figuras proeminentes do judaísmo, incluindo Einstein e Hannah Arendt, publicaram num importante jornal norte-americano uma carta onde se lê: «Um dos mais perturbadores fenómenos políticos do nosso tempo é o aparecimento do Partido da Liberdade no recém-criado Estado de Israel, um partido político que nas suas formas de organização, nos seus métodos, na sua filosofia política e na sua audiência social tem um parentesco muito estreito com os partidos nazis e fascistas. Ele deveu a sua formação aos membros e seguidores da antiga Irgun Z’vai Le’umi, uma organização terrorista, de direita e xenófoba […]» [86]. Mas nem este protesto nem muitos outros impediram a ascensão dos antigos revisionistas.

O sucessor de Begin à frente do governo israelita, Yitzhak Shamir, contara-se entre os membros da Irgun que se haviam colocado sob o comando de Stern, em protesto contra a decisão de Jabotinsky de instaurar tréguas com os britânicos durante a segunda guerra mundial. E é pouco verosímil que Shamir não estivesse ao corrente dos sinistros contactos de Stern com os nazis, porque ocupava uma posição suficientemente elevada para pertencer ao triunvirato que reconstruiu a organização alguns meses após o assassinato do seu chefe [87].

Mas se as actuais divisões políticas do Estado de Israel se radicam no período anterior à segunda guerra mundial, os acordos entre os principais partidos têm também a mesma origem. Sem o filofascismo demonstrado pela corrente sionista maioritária seria difícil compreender que os trabalhistas tivessem adoptado a estratégia proposta por Jabotinsky no relacionamento com os árabes. A convergência que os dois grandes campos políticos revelam nesta questão fundamental está no seguimento de uma época em que Mussolini recebia Weizmann e ao mesmo tempo subsidiava Jabotinsky. Afinal, os trabalhistas executaram o projecto dos fascistas. A recente agressão à flotilha internacional que procurava furar o bloqueio imposto à faixa de Gaza é apenas mais um caso numa longa série, de que pretendi traçar aqui os antecedentes históricos. Mas esta não é a lição mais importante.

Será que o leitor não vê onde eu pretendo chegar?
Não é exclusivo dos judeus o facto de entre os perseguidos se ter gerado uma reacção nacionalista que, encontrando oportunidades de desenvolvimento favoráveis, se converteu em imperialismo. Esta é a armadilha que todo o nacionalismo coloca às pessoas de esquerda, que apoiam o nacionalismo quando ele aparece como uma defesa de povos oprimidos, sem verem que, se conseguir efectivar-se na prática, esse nacionalismo inevitavelmente se desvendará como um imperialismo. O meu receio é que aquelas mesmas correntes ideológicas que ontem apoiavam o nacionalismo sionista dos judeus, com o argumento de que eles eram perseguidos pelos nazis, apoiem hoje o nacionalismo árabe, com o argumento de que os palestinianos são perseguidos por Israel − para apoiarem quem amanhã e com que argumento?

A grande lição que se extrai da génese e do desenvolvimento do sionismo não deve limitar-se a sustentar a crítica ao Estado de Israel. Essa lição deve ajudar-nos a fazer a crítica a todos os nacionalismos que, ascendendo com argumentos progressistas, se convertem em imperialismos logo que podem. O sionismo, enquanto via de passagem da perseguição sofrida pelos judeus às agressões praticadas pelo Estado de Israel, mostra que a luta contra a opressão sofrida por um povo deve ser inseparável da luta contra a exploração sofrida pela classe trabalhadora desse povo. O povo palestiniano tem de se defender da agressão israelita, mas isto não significa que os trabalhadores palestinianos não tenham de se defender dos seus patrões, sejam eles israelitas ou árabes, e que as mulheres palestinianas não tenham de se defender da opressão masculina, tão imbuída na tradição islâmica.

Notas
[1] E. Black (1999) 168; H. M. Sachar (1976) 52.
[2] N. Cohn (1992) 171, 173.
[3] H. M. Sachar (1976) 96.
[4] L. Brenner (1984) 84; H. L. Feingold (1995) 217. Henry Feingold observou em op. cit., 244-245 que, embora em termos relativos os judeus norte-americanos tivessem tido uma participação muitíssimo considerável nas Brigadas Internacionais na guerra civil espanhola, tal como eram muito activos no movimento operário e nos movimentos pela paz, não encontrara qualquer eco o apelo de Jabotinsky para a formação de um exército judaico destinado a combater ao lado dos britânicos na guerra mundial. Isto revela, concluiu Feingold, que os judeus dos Estados Unidos se interessavam mais pelos problemas políticos gerais do que por aqueles que diziam respeito ao sionismo.
[5] H. Arendt (1994) 59; L. Brenner (1983) 31. Segundo E. Black (1999) 177, 97% dos judeus alemães rejeitavam o sionismo e reivindicavam a integração na sociedade onde viviam.
[6] A. Pichot (2000) 402.
[7] G. Aly et al. (2006) 345 n. 31.
[8] E. Ringelblum (1964) 311.
(9] E. Black (1999) 35; H. M. Sachar (1976) 193.
[10] L. Brenner (1983) 86.
[11] Id., ibid., 87. Segundo E. Black (1999) 373, da mão-de-obra judaica emigrada para a Palestina em 1934 e 1935 só cerca de 20% veio da Alemanha.
[12] E. Black (1999) 226.
[13] L. Brenner (1983) 29-32.
[14] Id., ibid., 54.
[15] E. Black (1999) 72-73; L. Brenner (1983) 59-61.
[16] H. Arendt (1994) 59.
[17] Id., ibid., 59; E. Black (1999) 174.
[18] E. Black (1999) 78-82, 122, 177-178, 201, 289; L. Brenner (1983) 53-55; id. (1984) 91.
[19] Ver numerosas passagens deste artigo em E. Black (1999) 176-177. Ver igualmente H. Arendt (1994) 59.
[20] E. Black (1999) 78. E Edwin Black acrescentou (pág. 166) que «as aspirações nacionais tanto dos nazis como dos sionistas dependiam do êxito na remoção dos judeus da Alemanha para a Palestina».
[21] Id., ibid., 173.
[22] R. Hilberg (1961) 32.
[23] H. Arendt (1994) 60.
[24] E. Black (1999) 174-175; L. Brenner (1983) 84-85, 88-89, 136.
[25] E. Black (1999) 373.
[26] Ver a entrada de 30 de Outubro de 1933 em M. Chalmers (org. 2006 a) 47.
[27] As entradas de 18 de Outubro de 1936 e 1 de Janeiro de 1939 encontram-se em id., ibid., 231 e 337. Acerca da similitude entre sionismo e nazismo ver ainda as págs. 78 e 135, referentes a 13 de Junho de 1934 e 22 de Abril de 1935.
[28] Esta entrada, correspondente a 10 de Janeiro de 1939, encontra-se em id., ibid., 338-339. Em 27 de Junho de 1942, Klemperer manifestou o desejo de escrever um ensaio «a favor da Germânia e contra Sion, sob o ponto de vista contemporâneo do judeu alemão». Ver id. (org. 2006 b) 102.
[29] Ver esta passagem da entrada de 26 de Maio de 1940 em id. (org. 2006 a) 396.
[30] Na entrada de 17 de Dezembro de 1941 em id., ibid., 521.
[31] Na entrada de 3 de Maio de 1942 em id. (org. 2006 b) 53.
[32] Nas entradas de 23 e 25 de Junho e 1 de Julho de 1942 em id., ibid., 99, 100 e 104. Em 10 de Dezembro de 1940 Klemperer citara a opinião de outro judeu alemão, segundo o qual não fora o sionismo a inspirar-se no nazismo mas, em sentido inverso, as doutrinas raciais de Herzl a servirem de fonte ao nazismo. Ver id. (org. 2006 a) 423. E em 24 de Julho de 1942, Klemperer referiu «o prejuízo tremendo causado por Herzl» aos judeus alemães. Ver id. (org. 2006 b) 124.
[33] A entrada, correspondente a 10 de Janeiro de 1939, encontra-se em id. (org. 2006 a) 338-339.
[34] H. Arendt (1994) 63; E. Black (1999) 378.
[35] H. Arendt (1994) 60-61; L. Brenner (1983) 94; H. M. Sachar (1976) 197.
[36] H. Arendt (1994) 60, 61.
[37] Id., ibid., 61.
[38] Id., ibid., 60-61; H. M. Sachar (1976) 197.
[39] E. Black (1999) 174; L. Brenner (1984) 93.
[40] H. Arendt (1994) 62; L. Brenner (1983) 98-99. Quanto ao facto de Eichmann ter exercido funções nos SS sob as ordens de von Mildenstein, ver E. Black (1999) 174.
[41] Acerca do sistema comercial e financeiro que sustentava a emigração de judeus do Reich para a Palestina ver: H. Arendt (1994) 60; E. Black (1999) 197, 249, 373, 379; L. Brenner (1983) 64-65; R. Hilberg (1961) 95; Ł. Hirszowicz (1966) 26; H. M. Sachar (1976) 190, 197.
[42] E. Black (1999) xxiii, 380.
[43] Id., ibid., 377.
[44] L. Brenner (1983) 66-67, 70-74; R. Hilberg (1961) 95.
[45] R. Hilberg (1961) 95.
[46] E. Black (1999) 253. «Durante a década de 1930», escreveu H. L. Feingold (1995) 219, «o movimento sionista deu a prioridade ao desenvolvimento económico da Palestina relativamente ao boicote das mercadorias alemãs».
[47] L. Brenner (1983) 39.
[48] Id., ibid., 39-40.
[49] Id., ibid. 40; R. De Felice (1977) 112-113; P. Milza (1999) 751.
[50] R. De Felice (1977) 194-196. Para a definição de 1926 como a data desta mudança ver a pág. 198.
[51] L. Brenner (1983) 40-41; R. De Felice (1977) 113-114, 166, 170.
[52] L. Brenner (1983) 154; R. De Felice (1977) 167; P. Milza (1999) 622, 643, 751.
[53] B. Avishai (1985) 124, 128, 138; L. Brenner (1983) 132; id. (1984) 72, 97, 98; H. M. Sachar (1976) 184-186. A dimensão do apoio aos revisionistas no congresso de 1931 encontra-se em L. Brenner (1984) 86, e no congresso de 1933 em E. Black (1999) 288 e 293.
[54] R. De Felice (1977) 207.
[55] Id., ibid., 142 n. 2 informou que em Julho de 1922, portanto antes da Marcha dos fascistas sobre Roma e antes mesmo de se ter demitido do Executivo Sionista, Jabotinsky enviara a Mussolini uma carta propondo-lhe o estreitamento das relações da Itália com a Palestina judaica. Treze anos depois, segundo Renzo De Felice em op. cit., 206, Jabotinsky declarou a um representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros italiano que os revisionistas estavam em relação ao sionismo maioritário numa posição idêntica àquela que o fascismo italiano ocupava perante a democracia liberal e socialista. Por seu turno, B. Avishai (1985) 126 enumerou as analogias entre a forma de organização dos revisionistas e a dos fascistas europeus. Também E. Black (1999) 143 considerou que os revisionistas eram fascistas, profundamente influenciados por Mussolini. Todavia, L. Brenner (1983) 112-113 pretendeu que, apesar de ter adoptado para o seu movimento uma estrutura semelhante à do fascismo, Jabotinsky não estimava o fascismo. Do mesmo modo, H. M. Sachar (1976) 187 sustentou que ele não era fascista, embora os seus seguidores mais jovens estivessem muito perto do ideal fascista. Mas ao elucidar que os modelos políticos de Jabotinsky eram Mazzini e Garibaldi, este autor esqueceu que aqueles dois personagens serviam igualmente de inspiração a Mussolini, tal como, segundo J. Ploncard d’Assac (1971) 100, foram invocados por Corradini. Também Bernard Avishai em op. cit., 120 e L. Brenner (1984) 5 chamaram a atenção para a admiração que Jabotinsky sentia por Garibaldi, e L. Brenner (1983) 112 citou ainda Mazzini e Cavour como modelos de Jabotinsky. Acrescentou Avishai (pág. 121) que Jabotinsky simpatizava com o futurismo, precisamente outra das componentes do fascismo italiano. Depois de afirmar que Jabotinsky estava mais próximo do liberalismo conservador do que do fascismo, L. Brenner (1983) 113, 118 e (1984) 87 concluiu que, como os seus seguidores queriam fundar uma versão judaica do fascismo, o revisionismo acabou por se situar na órbita do fascismo. Aliás, continuou id. (1984) 90-91, quando as autoridades britânicas proibiram Jabotinsky de regressar à Palestina, quem tomou aí o controlo ideológico do revisionismo foram pessoas que se declaravam publicamente fascistas. E pelo menos na Alemanha, na Áustria, na Itália, na Letónia, na Manchúria, na Palestina e na Polónia, enumerou id. (1983) 118, a direcção do movimento revisionista não cabia a Jabotinsky mas a elementos declaradamente fascistas. Sobrava pouco.
[56] Citado em L. Brenner (1983) 118 e (1984) 98.
[57] Citado em id. (1983) 117, id. (1984) 98 e H. M. Sachar (1976) 187. Informou R. De Felice (1977) 205-206 que os relatórios oficiais italianos consideravam o revisionismo como uma imitação do fascismo.
[58] B. Avishai (1985) 128, 137; L. Brenner (1983) 115; H. M. Sachar (1976) 187-188.
[59] B. Avishai (1985) 124; L. Brenner (1983) 114; id. (1984) 78, 89-90; H. M. Sachar (1976) 187.
[60] L. Brenner (1983) 114; id. (1984) 87.
[61] B. Avishai (1985) 126, 137; L. Brenner (1983) 114; id. (1984) 89; H. M. Sachar (1976) 187-188.
[62] B. Avishai (1985) 136; L. Brenner (1983) 116; H. M. Sachar (1976) 188.
[63] B. Avishai (1985) 136; H. M. Sachar (1976) 188. Afirmou L. Brenner (1984) 89 que Jabotinsky nunca se interessara pelo recrutamento de operários.
[64] L. Brenner (1984) 99-100; H. M. Sachar (1976) 265-266.
[65] L. Brenner (1983) 112; id. (1984) 86; H. M. Sachar (1976) 185-186.
[66] R. De Felice (1977) 76, 142-143 n. 2, 196.
[67] Id., ibid., 139, 204, 267 e segs.
[68] L. Brenner (1983) 116-117, 119; id. (1984) 93, 97; R. De Felice (1977) 205-206, 208-211.
[69] R. De Felice (1977) 206.
[70] L. Brenner (1983) 122; R. De Felice (1977) 211.
[71] A análise crítica que se segue, sobre a colaboração das autoridades judaicas com o programa anti-semita do nacional-socialismo, baseia-se exclusivamente nos seguintes historiadores judeus: H. Arendt (1994) 117-119, 158, 169, 214; R. Hilberg (1961) 122-125, 128, 145-146, 155, 163, 279 e segs., 310, 315, 668; E. Ringelblum (1964) 39, 41, 48, 51, 53, 54, 56-57, 66, 69, 72-73, 75, 92-93, 127, 132, 184-190, 230, 251-252, 292, 323, 331, 335, 347, 348-354; S. Wiesenthal (1989) 238-240.

[72] As citações encontram-se em R. Hilberg (1961) 122.
[73] H. L. Feingold (1995) 45.
[74] E. Ringelblum (1964) 92, 190. Ver ainda a pág. 134.
[75] S. Wiesenthal (1989) 231. Segundo H. L. Feingold (1995) 46, decorridos seis meses depois da data da criação dos Conselhos Judaicos, haviam-se suicidado apenas 1,2% dos seus membros.
[76] E. Ringelblum (1964) 142. Numa página relativa a Março de 1941 Emmanuel Ringelblum acrescentou (pág. 166) que no interior do ghetto «a produção literária dirigida contra o Conselho Judaico intensifica-se».
[77] R. Hilberg (1961) 318, 322; E. Kogon (2002) 251. Segundo Raul Hilberg em op. cit., 145, o presidente do Conselho Judaico de Varsóvia era sionista. Já nos últimos meses de 1942, segundo narrou E. Ringelblum (1964) 329, ocorrera uma tentativa de assassinato do chefe da Polícia Judaica, e se esta intenção ficara frustrada, pelo menos conseguira-se executar um dos seus mais importantes subordinados e os membros da Polícia Judaica haviam passado a ser alvo de um ódio generalizado e de numerosas agressões (págs. 352-353). Registe-se, no entanto, que «a alma do movimento de resistência» responsável pela insurreição do ghetto foi o «chefe dos sionistas da Polónia», segundo um testemunho reproduzido em Eugen Kogon, op.cit., 251.
[78] S. Beauvoir [s. d.] 14.
[79] H. Arendt (1994) 125. Segundo R. Hilberg (1961) 630, Eichmann, num relatório dirigido a Himmler em Agosto de 1944, calculou que havia sido liquidado um total de seis milhões de judeus, mas o Reichsführer SS mostrou-se insatisfeito com a estimativa, pretendendo que o montante total era mais elevado. Pelo contrário, Raul Hilberg considerou (págs. 3, 639, 728) que Eichmann exagerara e que a «solução final» teria deixado cinco milhões de judeus mortos. N. Cohn (1992) 17 n.1, 186 e 207 oscilou entre os cinco e os seis milhões e M. Gilbert, «Final Solution», em I. C. B. Dear et al. (orgs. 1995) 364 e 371 optou por seis milhões.
[80] H. Arendt (1994) 124, 125, 169-170.
[81] L. Brenner (1984) 106; H. L. Feingold (1995) 245.
[82] Acerca de Stern e da sua rede terrorista ver: B. Avishai (1985) 144, 165; L. Brenner (1983) 265-266, 268-269; id. (1984) 103, 106, 117, 193-194, 199; H. M. Sachar (1976) 247-248, 265.
[83] Este documento, intitulado Aspectos Fundamentais da Proposta da Organização Nacional Militar na Palestina (Irgun Zvai Leumi) a respeito da Solução do Problema Judaico na Europa e da Participação da ONM na Guerra ao lado da Alemanha, encontra-se integralmente transcrito em L. Brenner (1984) 195-197. As passagens citadas vêm nas págs. 195 e 197. Ver também id. (1983) 267-268. Traduzi por «renovado judaísmo racial e nacional» o que na versão em língua inglesa se apresenta como «renewed folkish-national Hebraium».
[84] L. Brenner (1983) 268; id. (1984) 197.
[85] Acerca da carreira política de Begin ver: B. Avishai (1985) 166-167; L. Brenner (1984) 117, 129-130, 146; «Irgun», em I. C. B. Dear et al. (orgs. 1995) 571; H. M. Sachar (1976) 266.
[86] A carta assinada por Hannah Arendt, Einstein, Sidney Hook, Seymour Melmen e outros foi publicada em The New York Times de 4 de Dezembro de 1948 e encontra-se citada em L. Brenner (1983) 123 e (1984) 146-147.
[87] Id. (1983) 269; id. (1984) 129, 193, 199.

Referências
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Fonte: http://passapalavra.info

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