sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Um bom ano para todos!

Rumo a tarifa impossível - Por Passa Palavra

Rumo a tarifa impossível

Anunciado para o dia 5 de janeiro o aumento do ônibus em São Paulo para R$ 3,00. Por Passa PalavraO prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, confirmou nesta terça feira, dia 28/12, o aumento da passagem de ônibus dos atuais R$ 2,70 para R$ 3,00, entrando em vigor no dia 5 de janeiro. O aumento, de 11%, é o quarto desde de 2005, totalizando 76%, enquanto os diversos índices de inflação oscilaram em torno dos 30%.

O aumento começou a ser debatido abertamente no final de setembro, quando foi enviada para a Câmara de Vereadores a proposta de orçamento para 2011, que previa o aumento para R$ 2,90. Nesta mesma proposta de orçamento pudemos observar uma arrecadação recorde na cidade de R$ 34,6 bilhões, demonstrando que o aumento de tarifas ocorre não pela falta de recursos mas por uma opção política do poder público.

Vale destacar a ligação dos irmãos Kassab com o empresariado do transporte coletivo. Pedro Kassab é um dos sócios da IPK Engenharia, empresa especialista em cálculo tarifário, que há mais de 15 anos presta consultoria aos empresários dos setor, além de ter sido ele próprio consultor do SPURBANUSS (Sindicato patronal). Já o outro irmão, Marcos Kassab, atuou na expansão do metrô, foi diretor da EMTU (Empresa Metropolitana de Transporte Urbano), acessor da presidência da SPTrans (empresa municipal que gerencia o setor), além de realizar palestras sobre o cálculo tarifário em transporte coletivo.
Com o ônibus a três reais, o trabalhador que depende do transporte coletivo gastará ao menos 120 reais por mês, isto se ele não utilizar o trem e o metrô, não tiver filhos e usar o transporte apenas para trabalhar. Ainda assim, é mais de 1/5 do salário mínimo. Um valor elevado como este evidencia uma perversidade da lógica do sistema de transporte atual, pois promove a retirada dos usuários que não têm condições de pagar a tarifa (já são 37 milhões no Brasil) e daqueles que consideram melhor pagar as 72 parcelas de 120 reais em uma motocicleta – talvez seja esta a proposta de solução para resolver a superlotação.

Já que o transporte é inteiramente custeado pelos usuários, os gastos sobem todo ano, as taxas de lucro dos empresários não podem diminuir e o poder público não encara o transporte como direito, em breve chegaremos a uma tarifa impossível.

Como tem alertado o Movimento Passe Livre (MPL), enquanto a lógica do transporte coletivo não for alterada os aumentos continuarão a acontecer, uma vez que o transporte é organizado apenas para garantir a ida ao trabalho e a manutenção do lucro dos donos das empresa de ônibus e não de acordo com o interesse da população. A mudança desta lógica depende da participação ativa da população. Neste sentido o MPL está a convocando para o dia 13/01/2011 a terceira manifestação contra ao aumento, às 17h, em frente ao Teatro Municipal.
Fonte: http://passapalavra.info/

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Turquia um Estado Policial - por Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

Caleidoscópio mundial - por José Luís Fiori

Caleidoscópio mundial - por José Luís Fiori
A definição da estratégia internacional do Brasil não depende da “taxa de declínio” dos EUA, mas não pode desconhecer a existência do poder americano. Assim mesmo, gostem ou não os conservadores, o Brasil já entrou no grupo dos estados e das economias nacionais que fazem parte do “caleidoscópio central” do sistema, onde todos competem com todos, e todas as alianças são possíveis, em função dos objetivos estratégicos do país, e do seu projeto de mudança do sistema mundial.

Durante a primeira década do século XXI, o Brasil conquistou um razoável grau de liberdade, para poder definir autonomamente sua estratégia de desenvolvimento e de inserção internacional, num mundo em plena transformação. O sistema mundial saiu da crise econômica de 2008, dividido em três blocos cada vez mais distantes, do ponto de vista de suas políticas e da sua velocidade de recuperação: os EUA, a União Europeia e algumas grandes economias nacionais emergentes, entre as quais se inclui o Brasil. Mas do ponto de vista geopolítico, o sistema mundial ainda segue vivendo uma difícil transição - depois do fim da Guerra Fria - de volta ao seu padrão de funcionamento original. Desde o início do século XIX, o sistema inter-estatal capitalista se expandiu liderado pela Grã Bretanha, e por mais algumas potências europeias, cuja competição e expansão coletiva foi abrindo portas para o surgimento de novos “poderes imperiais”, como foi o caso da Prússia e da Rússia, num primeiro momento, e da Alemanha, EUA e Japão, meio século mais tarde. Da mesma forma como aconteceu depois da “crise americana” da década de 1970.

Depois da derrota do Vietnã, e da reaproximação com a China, entre 1971 e 1973, o poder americano cresceu de forma contínua, construindo uma extensa rede de alianças e uma infra-estrutura militar global que lhe permite até o hoje o controle quase monopólico, naval, aéreo e espacial de todo o mundo. Mas ao mesmo tempo, esta expansão do poder americano contribuiu para a “ressurreição” militar da Alemanha e do Japão e para a autonomização e fortalecimento da China, Índia, Irã e Turquia, além do retorno da Rússia, ao “grande jogo” da Ásia Central e do Oriente Médio. Os reveses militares dos Estados Unidos na primeira década do século desaceleraram o seu projeto imperial. Mas uma coisa é certa, os EUA não abdicarão voluntariamente do poder global que já conquistaram e não renunciarão à sua expansão contínua, no futuro. Qualquer possibilidade de limitação deste poder só poderá vir do aumento da capacidade conjunta de resistência das novas potências.

Por outro lado, depois do fim do Sistema de Bretton Woods, entre 1971 e 1973, a economia americana cresceu de forma quase contínua, até o início do século XXI. Ao associar-se com a economia chinesa, a estratégia norte-americana diminuiu a importância relativa da Alemanha e do Japão, para sua “máquina de acumulação”, em escala global. E, ao mesmo tempo, contribuiu para transformar a Ásia no principal centro de acumulação capitalista do mundo, transformando a China numa economia nacional com enorme poder de gravitação sobre toda a economia mundial.

Esta nova geometria política e econômica do sistema mundial, se consolidou na primeira década do século XXI, e deve se manter nos próximos anos. Os Estados Unidos manterão sua centralidade dentro do sistema como única potência capaz de intervir em todos os tabuleiros geopolíticos do mundo e que emite a moeda de referencia internacional. Desunida, a União Europeia terá um papel secundário, como coadjuvante dos Estados Unidos, sobretudo se a Rússia e a Turquia aceitarem participar do “escudo europeu anti-mísseis”, a convite dos EUA e da OTAN. Neste novo contexto internacional, a Índia, o Brasil, a Turquia, o Irã, a África do Sul, e talvez a Indonésia, deverão aumentar o seu poder regional e global, em escalas diferentes, mas ainda não terão por muito tempo, capacidade de projetar seu poder militar além das suas fronteiras regionais.

De qualquer forma, três coisas se podem dizer com bastante certeza, neste início da segunda década do século XXI:

i. Não existe nenhuma “lei” que defina a sucessão obrigatória e a data do fim da supremacia americana. Mas é absolutamente certo que a simples ultrapassagem econômica dos EUA não transformará automaticamente a China numa potência global, nem muito menos, no líder do sistema mundial.

ii. Terminou definitivamente o tempo dos “pequenos países” conquistadores. O futuro do sistema mundial envolverá - daqui para frente -uma espécie de “guerra de posições” permanente entre grandes “países continentais”, como é o caso pioneiro dos EUA, e agora é também, o caso da China, Rússia, Índia e Brasil. Nesta disputa, os EUA já ocupam o epicentro do sistema mundial, mas mesmo antes que os outros quatro adquiram países a capacidade militar e financeira indispensável à condição de potencia global, eles já controlam em conjunto cerca de 1/3 do território, e quase 1/2 da população mundial.

iii. Por fim, a definição da estratégia internacional do Brasil não depende da “taxa de declínio” dos EUA, mas não pode desconhecer a existência do poder americano. Assim mesmo, gostem ou não os conservadores, o Brasil já entrou no grupo dos estados e das economias nacionais que fazem parte do “caleidoscópio central” do sistema, onde todos competem com todos, e todas as alianças são possíveis, em função dos objetivos estratégicos do país, e do seu projeto de mudança do sistema mundial.
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Filiação com testes em laboratórios: Banco Goldman Sachs é acusado por ONGs de defesa animal de torturar filhotes - por Giovanna ChinellatoFoto: Reprodução/Care2
O banco Goldman Sachs é o novo alvo da Stop Huntingdon Animal Cruelty (SHAC) e da Defenders of Animal Rights Today and Tomorrow (DARTT) por sua filiação com o laboratório de testes Huntingdon Life Sciences (HLS), que já foi investigado diversas vezes por crueldade com animais.

Segundo informações da Care2, o Goldman Sachs preencheu um embargo contra os grupos que estão protestando, com alegações de que fazem “demonstrações barulhentas e desagradáveis não apenas no prédio do escritório do GS em Columbia, mas também na residência de Michael Paese (líder de relações com o governo) e seus vizinhos.”

Paese diz que foi “assediado” em sua casa por manifestantes da SHAC que gritavam no megafone acusando-o de ganhar dinheiro com sangue e torturar filhotes. Paese diz que é um “tutor devotado” e que “jamais machucaria um animal”.

A SHAC também encarou outros afiliados da HLS, incluindo a Wachovia, a New York Stock Exchange e a Novartis. Eles são conhecidos por expor indivíduos de diferentes organizações por crueldades indescritíveis com animais, por trás das portas da Huntingdon Life, sofrimentos que não cogitamos nem em nossos piores pesadelos.

Fonte: http://www.anda.jor.br

Carta aberta vinda da Gaza sitiada: Dois anos após o massacre, uma exigência de justiça

Carta aberta vinda da Gaza sitiada: Dois anos após o massacre, uma exigência de justiça
Gaza sitiada, Palestina — Nós os palestinos da Faixa Sitiada de Gaza, neste dia, dois anos após o ataque genocida de Israel às nossas famílias, nossas casas, estradas, fábricas e escolas, estamos a dizer: basta de inacção, chega de discussão, chega de esperar – este é o momento para responsabilizar Israel pelos seus crimes permanentes contra nós. Em 27 de Dezembro de 2008, Israel principiou um bombardeamento indiscriminado da Faixa de Gaza. O assalto perdurou durante 22 dias, matando 1417 palestinos, 352 dos quais crianças, segundo importantes Organizações de Direitos Humanos. Durante estarrecedoras 528 horas, as forças de ocupação de Israel lançaram a partir dos seus F15s e F16 fornecidos pelos EUA e dos seus tanques Merkava, munições internacionalmente proibidas de fósforo branco, além de bombardear e invadir o pequeno enclave costeiro palestino que é o lar de 1,5 milhão de pessoas, das quais 800 mil são crianças e mais de 80 por cento refugiados registados pela ONU. Cerca de 5300 estão permanentemente lesionados.

Esta devastação excedeu em selvajaria todos os massacres sofridos anteriormente por Gaza, tais como as 21 crianças mortas em Jabalia em Março de 2008 ou os 19 civis mortos quando abrigados nas suas casas no Massacre de Bei Hanoun de 2006. A carnificina excedeu mesmo os ataques de Novembro de 1956 nos quais tropas israelenses agruparam e mataram 275 palestinos na cidade sulista de Khan Younis e mais 111 em Rafah.

Desde o massacre de Gaza de 2009, cidadãos do mundo tomaram a responsabilidade de pressionar Israel a cumprir com o direito internacional, através de uma estratégia de boicote, desinvestimento e sanções (BDS). Tal como no movimento BDS global que foi tão efectivo para terminar o regime do apartheid sul-africano, instamos as pessoas com consciência a aderirem ao apelo ao BDS feito em 2005 por mais de 170 organizações palestinas. Tal como na África do Sul, o desequilíbrio de poder e representação nesta luta pode ser contra-balançado por um poderoso movimento internacional de solidariedade com o BDS, obrigando decisores políticos israelenses a prestar contas, algo que a comunidade governante internacional tem reiteradamente fracassado em fazer. Analogamente, esforços civis criativos tais como os navios Free Gaza que romperam o sítio cinco vezes, a Marcha pela Libertação de Gaza, a Frota pela Liberdade Gaza e muitos comboios por terra nunca devem cessar a sua ruptura do cerca, destacando a desumanidade de manter 1,5 milhão de habitantes de Gaza numa prisão ao ar livre.

Já se passaram dois anos desde os mais graves actos genocidas de Israel, que deveriam ter desfeito quaisquer dúvidas sobre a dimensão brutal dos planos de Israel para os palestinos. O assalto naval assassino a activistas internacionais a bordo da Frota da Libertação de Gaza, no Mar Mediterrâneo, mostrou ao mundo o pouco valor que Israel atribui desde há muito à vida palestina. O mundo agora sabe, mas dois anos depois nada mudou para os palestinos.

O Relatório Goldstone veio e foi: apesar de listar uma por uma as contravenções do direito internacional, apesar dos "crimes de guerra" israelenses e dos "possíveis crimes contra a humanidade", de a União Europeia, as Nações Unidas, Cruz Vermelha e todas as principais Organizações de Direitos Humanos apelaram a uma finalização do sítio medieval, ele continua sem pausa. Em 11 de Novembro de 2010 o responsável da UNRWA [Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos], John Ging, disse: "Não tem havido mudança material para o povo aqui no terreno em termos do seu status, da dependência da ajuda, da ausência de qualquer recuperação ou reconstrução, nenhuma economia... O alívio, como foi descrito, tem sido nada mais do que um alívio político da pressão sobre Israel e o Egipto".

Em 2 de Dezembro, 22 organizações internacionais incluindo a Amnistia, Oxfam, Save the Children, Christian Aid e Medical Aid for Palestinians produziu o relatório "Esperanças frustradas, continuação do bloqueio de Gaza" ("Dashed Hopes, Continuation of the Gaza Blockade") apelando à acção internacional para forçar Israel e levantar incondicionalmente o bloqueio, afirmando que os palestinos de Gaza sob o sítio israelense continuam a viver nas mesmas condições devastadoras. A apenas uma semana o Human Rights Watch publicou um relatório amplo, "Separados e desiguais" ("Separate and Unequal) que denunciou as políticas israelenses como apartheid, reflectindo sentimentos semelhantes de activista anti-apartheid sul-africanos.

Nós palestinos de Gaza queremos viver em liberdade para encontrar amigos ou familiares palestinos de Tulkarem, Jerusalém ou Nazaré, queremos ter o direito de viajar e nos movimentarmos livremente. Queremos viver sem o medo de outra campanha de bombardeamento que deixe centenas dos nossos filhos mortos e muitos mais feridos ou com cancros devidos à contaminação do fósforo branco e da guerra química de Israel. Queremos viver sem as humilhações nos postos de controle israelenses ou a indignidade de não prover as nossas famílias devido ao desemprego provocado pelo controle económico e o sítio ilegal. Estamos a apelar a um fim ao racismo em que se apoia toda esta opressão.

Perguntamos: quando os países do mundo actuarão de acordo com a premissa básica de que os povos deveriam ser tratados igualmente, sem importar a sua origem, etnicidade ou cor – será tão absurdo pretender que uma criança palestina mereça os mesmos direitos humanos tal como qualquer outro ser humanos? Será você capaz de olhar em retrospectiva e dizer que esteve do lado certo da história ou terá alinhado com o opressor?

Nós, portanto, apelamos à comunidade internacional para assumir a sua responsabilidade de proteger o povo palestino da odiosa agressão israelense, terminando imediatamente o sítio com plena compensação pela destruição das nossas vidas e infraestruturas por esta política explícita de punição colectiva. Não há nada que justifique as políticas intencionais de selvajaria, incluindo o corte de acesso ao abastecimento de água e electricidade a 1,5 milhão de pessoas. A conspiração internacional de silêncio quanto à guerra genocida que está a ter lugar contra mais de 1,5 milhão de civis em Gaza indica cumplicidade nestes crimes de guerra.

Também apelamos a todos os grupos de solidariedade com a Palestina e todas as organizações internacionais da sociedade civil a exigirem:

Fim ao sítio que tem sido imposto ao povo palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza em resultado do seu exercício de escolha democrática.

A protecção de vivas e propriedade civis, como estipulado no Direito Humanitário Internacional e na Lei Internacional dos Direitos Humanos, assim como na Quarta Convenção de Genebra.

A imediata libertação de todos os prisioneiros políticos.

Que aos refugiados palestinos na Faixa de Gaza seja imediatamente providenciado apoio financeiro e material para enfrentar as imensas adversidades que estão a experimentar.

Fim à ocupação, ao apartheid e a outros crimes de guerra.

Reparações imediatas e compensação por toda a destruição executada pelas forças de ocupação de Israel na Faixa de Gaza.
Boicote, Desinvestimento e Sanção, adira aos muitos sindicatos, universidades, super-mercados, artistas e escritores internacionais que se recusam a ter relações com a Israel do Apartheid. Falar alto e claro pela Palestina, por Gaza e, crucialmente, ACTUAR. O momento é este.

Gaza Sitiada, Palestina, 27 de Dezembro de 2010
Lista de signatários:
General Union for Public Services Workers
General Union for Health Services Workers
University Teachers' Association
Palestinian Congregation for Lawyers
General Union for Petrochemical and Gas Workers
General Union for Agricultural Workers
Union of Women's Work Committees
Union of Synergies—Women Unit
The One Democratic State Group
Arab Cultural Forum
Palestinian Students' Campaign for the Academic Boycott of Israel
Association of Al-Quds Bank for Culture and Info
Palestine Sailing Federation
Palestinian Association for Fishing and Maritime
Palestinian Network of Non-Governmental Organizations
Palestinian Women Committees
Progressive Students' Union
Medical Relief Society
The General Society for Rehabilitation
General Union of Palestinian Women
Afaq Jadeeda Cultural Centre for Women and Children
Deir Al-Balah Cultural Centre for Women and Children
Maghazi Cultural Centre for Children
Al-Sahel Centre for Women and Youth
Ghassan Kanfani Kindergartens
Rachel Corrie Centre, Rafah
Rafah Olympia City Sisters
Al Awda Centre, Rafah
Al Awda Hospital, Jabaliya Camp
Ajyal Association, Gaza
General Union of Palestinian Syndicates
Al Karmel Centre, Nuseirat
Local Initiative, Beit Hanoun
Union of Health Work Committees
Red Crescent Society Gaza Strip
Beit Lahiya Cultural Centre
Al Awda Centre, Rafah

O original encontra-se em http://www.uruknet.de/?s1=1&p=73324&s2=27 e em http://www.countercurrents.org/0l271210.htm
Este abaixo assinado encontra-se em http://resistir.info/.

"A palavra ‘espião’ é invenção do Globo", diz professor

"A palavra ‘espião’ é invenção do Globo", diz professor
O jornal O Globo publicou, dia 19 de dezembro, uma reportagem sobre telegramas de diplomatas norteamericanos, divulgados pelo Wikileaks, dando destaque à existência de espiões do MST dentro do Incra e sobre uma suposta prática dos assentados “de alugar a terra de novo ao agronegócio”. Citado como fonte das informações, o professor Clifford Andrew Welch, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), denuncia manipulação do jornal: “Nunca falei e jamais falaria algo assim. Em primeiro lugar, a palavra ‘espião’ é invenção do Globo, porque não aparece nos relatos diplomáticos disponibilizados pelos jornais".

Página do MST
O professor Clifford Andrew Welch, do curso de história da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi citado como fonte das informações de telegramas remetidos por diplomatas estadunidenses no Brasil aos Estados Unidos, divulgados pelo Wikileaks.

O jornal O Globo publicou uma reportagem sobre esses telegramas, no dia 19 de dezembro, dando destaque a existência de espiões do MST dentro do Incra e sobre uma suposta prática dos assentados “de alugar a terra de novo ao agronegócio”.

“Nunca falei e jamais falaria algo assim. Em primeiro lugar, a palavra ‘espião’ é invenção do Globo, porque não aparece nos relatos diplomáticos disponibilizados pelos jornais”, denuncia Welch.

Em relação ao aluguel de áreas de assentados ao agronegócio, o professor da Unifesp destaca que a coordenação nacional do MST é declaradamente contra a prática e que a declaração aparece sem contextualização.

“Fora de contexto, assim como apresentado no despacho diplomático, o aluguel dos lotes parece ser de fato “cínico e irônico.” O relatório não contempla a pressão das usinas nos assentados, com oferta de dinheiro fácil para o plantio da cana de açúcar, que tem causado muitos problemas aos assentados, como demonstram várias pesquisas realizadas pela Unesp”, pontua.

Welch rebate também a tese de que os movimentos de sem-terra, especialmente o MST, entraram em declínio dos oito anos do governo Lula, apresentando dados que demonstram que no caso das ocupações de terras e do número de famílias envolvidas na luta pela terra, as estatísticas dos governos FHC e Lula se equivalem.

“Durante os oito anos do governo Cardoso, 571.650 famílias participaram em 3.876 ocupações organizadas por mais que 20 movimentos. Os números do governo Lula ainda não foram calculados totalmente, mas durante os primeiros sete anos, são registrados a participação de 480.214 famílias em 3.621 ocupações”.

Abaixo, leia esclarecimento do professor Welch.

Wikileaks, a imprensa, o MST e eu
Por Clifford Andrew Welch
Prof. Dr. Adjunto do Curso de História
da Universidade Federal de São Paulo


Demorou. Em abril de 2007, pedi pessoalmente uma cópia do relatório do investigador dos Estados Unidos da América que me entrevistou sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Pedi de novo por email em setembro, mas nem resposta recebi, muito menos o documento.

Foi o grupo Wikileaks que recentemente revelou os resultados dos andamentos do agente estadunidense no Pontal do Paranapanema, São Paulo, e meu nome estava no meio das reportagens que saíram nos jornais nos dias 19 e 20 do mês atual.

Como coordenador ajunto do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (Nera) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em abril de 2009, confesso que estava pouco animado com a visita do Vice Consul Benjamin A. LeRoy do Consulado Geral dos EUA, em São Paulo, quando nos pediu uma hora para “conhecer o trabalho do Nera e aprender um pouco mais sobre reforma agrária e movimentos sociais de sem-terra,” como nos escreveu a assistente de assuntos políticos do consulado, Arlete Salvador.

Como historiador especializado em estudos da política externa dos EUA na América Latina, já conhecia figuras como LeRoy e seus relatórios. Eram fontes importantes para entender a natureza da interferência do império em sua esfera de influência. Agora o disco virou e era eu a fonte. Fiquei assustado com os erros do relatório de Benjamin, a distorção dos fatos interpretados pelo cônsul-geral Thomas White e, mais uma vez, preocupado com o método empírico do historiador, que depende demais em documentos oficiais e notas jornalísticas.

Faz sentido confiar em um investigador que nem sabe onde estava ou com quem estava falando? O despacho que relata a investigação de Benjamin usa a sigla Uneste no lugar da sigla Unesp e dá como a minha afiliação institucional a Universidade de Michigan, ambas afirmações equivocadas.

Pior, ainda, é a fala atribuída a mim por Benjamin e relatado pelo White que ficou como manchete no Globo: “MST teria espiões no Incra para orientar invasões”. Nunca falei e jamais falaria algo assim. No primeiro lugar, a palavra “espião” é invenção do Globo, porque não aparece nos relatos diplomáticos disponibilizados pelos jornais.

No “telegrama” em questão de 29 de maio, White escreveu que “O MST segue uma metodologia programada em suas ocupações de terra que inclui a utilização de contatos dentro do Incra para ajudar selecionar alvos, segundo [...] Welch.”

Em outro momento, o cônsul relata que eu o informei de que “o MST aproveita contatos dentro do Incra para determinar qual será a próxima área sujeito a desapropriação.” Segundo o relato, “Welch contou para Benjamin que o Incra não disponibiliza as informações ao público e que o único jeito para o MST acessar os dados seria através de informantes dentro do Incra.”

O jeito como o cônsul interpretou o relato de Benjamin de coisas que não falei sobre as relações entre o MST e o Incra reflete mais do macartismo que a realidade do Brasil. Macartismo é a ideologia do “medo vermelho” que causou alarme nos EUA nos meados do século passado quando foi alegado que espiões russos infiltrados no setor público estavam minando a segurança nacional do país.

A atual situação no Brasil não tem nada ver com a Guerra Fria, obviamente. O dever constitucional do Incra é fazer reforma agrária. O MST procura pressionar para que o Incra realize a reforma agrária.

É bom lembrar, como falei para o Benjamin, que as informações do Incra são públicas para todo mundo. Me lembro que tentei explicar para o Benjamin que a maioria das ocupações do MST não foram realizadas em maneira aleatória, mas a partir de áreas com desapropriação em andamento. Quer dizer, o movimento faz esforço para colaborar com o processo constitucional de identificação de terras improdutivas ou sujeito a desapropriação por violar as leis trabalhistas ou ambientalistas. É o cônsul que inventou um sentido de clandestinidade.

No mesmo documento de abril, que tem o titulo “O método do MST: Tira proveito do governo, alienar os vizinhos,” o cônsul toma vantagem da investigação do Benjamin para alegar que membros do MST que ganham lotes de reforma agrária do Incra vão acabar “alugando ao agronegócio” a terra “numa pratica cínica e irônica.” A fonte para esta informação parece ter sido “um líder do agronegócio” em Presidente Prudente.
Fora de contexto, assim como apresentado no despacho diplomático, o aluguel dos lotes parece ser de fato “cínico e irônico.”

O relatório não contempla a pressão das usinas nos assentados, com oferta de dinheiro fácil para o plantio da cana de açúcar, que tem causado muitos problemas aos assentados, como demonstram várias pesquisas realizadas pela UNESP. A coordenação nacional do MST é declaradamente contra a prática.

São outros erros de fato e interpretação nos documentos e noticias. A Folha aproveitou o esvaziamento dos documentos para alegar que o MST está em “declínio,” que a “base do movimento encolheu.” O Globo dá destaque para um suposto abandonou da causa da luta pela terra pelo presidente Lula, uma interpretação que apareça nos telegramas do White.

Porém, é difícil sustentar estes argumentos. De fato, os cálculos das estatísticas do governo Lula bem como os do Nera sustentam o contrário, mostrando de que Lula assentou mais famílias que o presidente Fernando Henrique Cardoso que declarou ter feito mais para reforma agrária que qualquer outro presidente brasileiro, mas o governo Lula defende que assentou 59 por cento dos beneficiários de reforma agrária na história do Brasil.

No caso das ocupações de terras e o número de famílias envolvidas na luta pela terra, as estatísticas são quase iguais. Durante os oito anos do governo Cardoso, 571.650 famílias participaram em 3.876 ocupações organizadas por mais que 20 movimentos. Os números do governo Lula ainda não foram calculados totalmente, mas durante os primeiros sete anos, são registrados a participação de 480.214 famílias em 3.621 ocupações.

Temos que agradecer Wikileaks por quebrar o sigilo que ainda reina nos círculos diplomáticos décadas depois do final da Guerra Fria. Em meu caso, deu para desmentir fatos equivocados e desconstruir interpretações anacrônicas, inclusive das reportagens da grande imprensa.
Fonte: Carta Maior

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

[EUA] A conexão FBI-Mozilla: reaparece um colaborador do FBI - por ANA

[EUA] A conexão FBI-Mozilla: reaparece um colaborador do FBI - por ANA
[A seguir, artigo de Peter Young para o voiceofthevoiceless.org, sobre a aparição do "bufo" da Frente de Libertação Animal (FLA), Justin Samuel, em um vídeo promocional do novo Mozilla Firefox 4.]

Onde está agora aquele que foi preso da Frente de Libertação Animal e informante do FBI, Justin Samuel? Projetando o navegador de Internet que talvez você esteja usando neste momento?

Esta semana me mandaram um vídeo publicitário do novo navegador Firefox 4, e me perguntaram se o "Justin Samuel" que aparecia no novo vídeo promocional do Mozilla Firefox era o mesmo que esteve diante de um júri em 2000, e me implicou em seis liberações em fazendas peleteiras [de peles de animais].

Era ele.

Você pode ver o vídeo aqui: http://www.mozilla.com/en-US/firefox/4.0b7/firstrun/ (clique em "watch video"). Justin Samuel é a segunda pessoa a falar. O cara que trabalhou (ou trabalha) com o FBI se dedica agora a garantir que o navegador Firefox seja "o mais seguro que existe". Surge uma pergunta: Como pode ser seguro um buscador, quando a pessoa contratada para fazer a segurança tem uma relação de trabalho com o FBI?

A declaração de Justin Samuel ante o Grande Júri

Em 1997, Justin e eu orquestramos uma série de liberações de visons em Dakota do Sul, Iowa e Wisconsin. Justin Samuel foi o primeiro a ser preso, e se ofereceu para depor contra mim em troca de uma redução de sentença.

Você pode ler (em inglês) as 86 páginas da transcrição de sua declaração aqui: http://www.scribd.com/full/5496528?access_key=key-29pa1lxov8tmwdvu0vjh. Sua declaração e sua promessa de depor no julgamento desempenharam um fator significativo na minha prisão.

Bufos da FLA: Onde eles estão agora
Os rumores sobre "onde estão agora" os bufos que testemunharam contra os seus companheiros da FLA/FLT (Frente de Libertação da Terra) abundam. Desde liberadores de visons straigt edge, que se tornaram viciados em drogas e que trabalham em um 7 Eleven, a pessoas que atacavam picapes esportivas 4x4 e agora dirigem uma. Mas a reaparição de Justin Samuel é o caso mais claro onde acabam os informantes, depois de terem traído os seus amigos, seu movimento e os animais.

Em agosto eu escrevi sobre a curiosa "moda" para se tornar um especialista em segurança de computadores que estava surgindo entre os bufos da FLA, como Darren Thurston, que testemunhou contra várias pessoas e associando-as com incêndios da FLA/FLT, e que agora é um consultor de segurança de informática. Justin Samuel, em seu perfil de graduação da Universidade de Berkley, aponta que já escreveu vários artigos sobre segurança de computadores, antes de se tornar um membro da equipe do Mozilla Firefox 4.

É bastante razoável pensar que não se trata apenas de uma coincidência. O FBI pode estar interessado em colocar os seus preciosos "eco-terroristas" em uma posição privilegiada, para controlar nossas vidas digitais. Informantes da FLA no domínio da segurança informática: coincidência ou planejamento estratégico?

Carta aberta para o Mozilla Firefox
Algumas perguntas que poderiam ser feitas aos chefes de Justin Samuel no Mozilla (na verdade, três maneiras de perguntar o mesmo):

• Você acredita que a contratação de Justin Samuel, que já trabalhou como informante do FBI, compromete a segurança do seu produto e mina a confiança entre os usuários?

• Pode-se dizer que o Firefox é um navegador "seguro", quando alguém que o projetou assinou um acordo que o obrigava a fornecer informações diretamente para o FBI?

• Qualquer pessoa pode se sentir confortável usando o Mozilla Firefox 4 sabendo que uma das pessoas responsáveis por fazer a "segurança" trabalhou (ou trabalha) com uma agência de endurecimento da lei?

Apesar de não acreditar em "segurança na Internet" (e é claro que estou consciente da conexão entre o Google e a CIA) eu vou mudar de navegador... agora mesmo.

Peter Young

agência de notícias anarquistas-ana
A jabuticabeira.
Através de líquida cortina
olhos negros espiam.

Yeda Prates Bernis

A hipocrisia natalina!


Fonte: http://blogdolute.blogspot.com/

Debord e o Hiper-espetáculo - por Juremir Machado da Silva

Debord e o Hiper-espetáculo - por Juremir Machado da Silva
Depois do espetáculo(reflexões sobre a tese 4 de Guy Debord)(1 )

Resumo: este estudo reflete sobre a passagem da “sociedadedo espetáculo”, anunciada e denunciada por Guy Debord, em1967, ao hiper-espetáculo ou sociedade “midiocre”.Palavras-chave: 1. Imaginário 2. Tecnologias 3. Tecnologias do imaginário4. Sociedade do espetáculo 5. Cultura 6. Comunicação.

O espetáculo acabou. Estamos agora no hiperespetáculo.

O espetáculo era a contemplação. Cada indivíduo abdicava do seu papel de protagonista para tornar-se espectador. Mas era uma contemplação do outro, um outro idealizado, a estrela, a vedete, os “olimpianos”3. Um outro radicalmente diferente e inalcançável, cuja fama era ou deveria ser a expressão de uma realização extraordinária.
No espetáculo, o contemplador aceitava viver por procuração. Delegava aos “superiores” a vivência de emoções e de sentimentos que se julgava incapaz de atingir.

No hiper-espetáculo, a contemplação continua. Mas é uma contemplação de si mesmo num outro, em princípio, plenamente alcançável, semelhante ou igual ao contemplador.
Na era das celebridades, época da “democracia radical”, em que todos devem ter direito ao sucesso, os famosos simulam uma superioridade fictícia. São tantos mais adorados quanto menos se diferenciam realmente dos fãs. A identificação deve ser total e reversível. Cada um deve poder se imaginar no lugar da estrela ou do objeto da sua admiração e aspirar à condição de famoso. Não há mais alteridade verdadeira. O outro é “eu” que deu certo graças às circunstâncias. O preço da fama parece estar ao alcance de qualquer um.
O espetáculo era um dispositivo de controle por meio da sedução. No hiper-espetáculo, quando tudo se torna tela, cristal líquido e captação de imagem, todo controle é remoto. Passamos da manipulação, estágio primitivo da dominação das mentes, e da “servidão voluntária”, degrau superior da manipulação, à imersão total. Evoluímos da participação, que pressupunha um sujeito e uma idéia de política, para a interatividade, que reclama um jogador desinteressado. A bem da verdade, a interatividade já pertence ao passado, embora dela se fale muito como se fosse uma novidade. Estamos aquém e além dela: na adesão.
Submissão pelo desejo e pela consciência plena dessa vontade soberana. Queremos conscientemente o que desejamos.

Guy Debord, na sua profética tese 4, escreveu: “O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediada por imagens (1997, p. 14).
Esqueçamos Debord. Ao menos, o Debord marxista e utópico. Não estamos mais em situação. O espetáculo terminou por excesso de aplauso e falta de crítica. Mas a tese 4 sempre pode ser declinada de outras formas:
1. O imaginário não é conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediada por imagens.
2. O simulacro não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediada por imagens.
3. A socialidade não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediada por imagens.
O espetáculo era uma imagem do mundo. O hiperespetáculo é uma imagem de si mesmo. O espetáculo acabou junto com a ilusão do controle e da disciplina. Ainda não estamos, porém, no descontrole, embora o caos urbano apresente performances exemplares. Estamos na época do “sorria, você está sendo filmado”. Apogeu do Big Brother como divertimento de massa. A câmara total, contudo, não inibe nem coíbe. Apenas registra. Positividade absoluta. Positivismo total. Enfim, a neutralidade. Salvo se for indiferença como princípio geral da isonomia. Quando tudo é tela, a imagem torna-se a única realidade visível.
Ao contrário do que pensam alguns, a mídia não nos diz o que falar. Nem sobre o que falar. Mas em torno do que falar. A imagem é um totem vazio de conteúdo e cheio de atrações. O hiper-espetáculo é a imagem enfim liberada de uma possível essência. Imagem sem sombra. Quando tudo é imagem, não há mais o que refletir. O hiper-espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma imagem única, sob a aparência da diversidade, que não permite reflexão. Imagem irrefletida. Nem utopia nem distopia. Pode-se mudar de canal, mas não de programa. Pode-se mudar de rede, mas não de sentido. Salvo se estivermos numa transição, digamos assim, um intervalo. Comercial. Anúncio ou anunciação?
A utopia persiste como remake exibido em Sessões da Tarde acadêmicas. A distopia é servida no horário nobre como ficção científica. Tudo depende do patrocinador. No virtual, o melhor espaço tem, como sempre, um preço elevado. Quando tudo é imagem, porém, na “tela total”, não há mais espelho. Nem sombra. Fim do contraste. Fim tranqüilo. Sem tragédia nem trama. No hiper-espetáculo, a comédia impera. Nessa sociedade do paradoxo, aquém e além da objetividade, todas as escolhas são possíveis. Afinal, estamos na “saciedade” da (in)diferença.
O espetáculo cria um imaginário disciplinar, sedutor, suavemente manipulatório, uma socialidade virtual por excelência, da qual todos participam afetivamente, uns como atores, os demais como platéia, no isolamento interativo do lar, navegando agarrado no parapeito do sofá. O espetáculo era um simulacro de participação. Ao desmascará-lo, Guy Debord sonhava com a quebra do controle, a libertação, a emancipação, a autonomia, a redenção. Pobre Debord, tão ingênuo! Foi o espelho marxista que se quebrou. Debord nunca poderia imaginar que um Gilles Lipovetsky seria mais crítico e lúcido do que ele. A ironia sempre se supera. O hiper-espetáculo existe em tempo real, 24 horas por dia. Não pode haver emancipação quando todos escolhem mergulhar na mesma tela líquida e transparente, declarando, nas pesquisas de opinião, sentir-se felizes apesar de tudo.
O espetáculo pressupunha um outro mundo invisível, um anti-espetáculo, a transparência absoluta. O hiperespetáculo entroniza a visibilidade. Tudo é simbólico. Tudo é imaginário. Nada há por trás da imagem, nenhum truque a desvendar, nenhuma missão a cumprir. Nada há para ser demonstrado. Somente para ser mostrado. O hiper-espetáculo não é o fim da história, mas somente uma história sem fim ou o fim de uma novela, que terá continuação na seguinte.
Logo vem a próxima, sempre igual e diferente, eterno retorno da imagem como cola social e como simulacro de interação delegada. É a radicalidade que se esfacela.
O hiper-espetáculo não é a eliminação do espetáculo, mas a sua aceleração plasmada no bandido que sorri para a câmera antes de atirar ou no aumento dos rendimentos de Daniela Ciccareli depois de ser filmada puxando o biquíni para receber, numa praia espanhola, “o doce veneno do escorpião”. Doce vulgaridade da sofisticação. Material para teses sobre o fim do privado e a prostituição do público. O hiper-espetáculo é um albergue espanhol. Os críticos do espetáculo nutriram a ilusão da ruptura. Eram bons marxistas que se viam no espelho rachado da história como membros da vanguarda iluminadora do caminho dos alienados.
No hiper-espetáculo, entretanto, tudo se inverteu: os supostos alienados zombam dos seus “libertadores” e os acusam de alienação elitista ou, pior do que isso, de manipulação por excesso de ignorância e de boas intenções.
Passamos da cultura de massa à sociedade “midíocre”. A separação entre alto e baixo, erudito e popular, massivo e elitista, dissolveu-se numa categoria de marketing: nicho de mercado. Aquilo que era diferença ideológica se converteu em segmentação. Na passagem do espetáculo ao hiper-espetáculo, por força do gosto do público e do fracasso das grandes produções revolucionárias, a primeira vítima foi o roteirista. Adeus aos épicos! Adeus ao protagonista universal! Adeus ao herói fundador! O tempo agora é do cotidiano e das minisséries regionalistas.
Todas as leituras continuam em aberto. O hiperespetáculo é a comunhão em torno da imagem (interpretação a partir de Michel Maffesoli); o hiper-espetáculo é a imagem como simulacro ou deserção do real (viés baudrillardiano); o hiper-espetáculo é a fase superior do capital simbólico (à la Bourdieu); o hiper-espetáculo é um dispositivo aprimorado de controle total e suave (para foucaultianos).
Nenhuma hipótese é descartável. A mais envolvente, contudo, é esta: o hiper-espetáculo nada mais é do que a vida como ela é, uma longa história feita de contradições e de novas episódios. Algo, porém, é inquestionável: o hiperespetáculo
põe fim ao happy end hollywoodiano acalantado pelos marxistas por quase dois séculos.
Isso não significa que toda história termine mal.
Significa apenas que o controle permanece ainda mais remoto na medida em que está ao alcance da mão. No hiperespetáculo, a imagem pode ser pura aparência. Além do bem e do mal. Pois no hiper-espetáculo não há mais revelação. O espetáculo era analítico. O hiper-espetáculo é digital. Forma sem fundo. Isso tudo não se resume a um mero jogo de palavras. O hiper-espetáculo é uma questão de palavras em jogo. Nesse sentido, o hiper-espetacular é:
- Comunhão sem Deus.
- Convivência sem vínculo.
- Afetividade sem compromisso.
- Mudança sem revolução.
- Consumo sem consumição.
- Imersão sem causa.
- Interatividade sem participação.
- Entrega total por tempo parcial.
No espetáculo, as estrelas aspiravam à eternidade.
Ídolo e fã imaginavam um casamento até que a morte os separasse. No hiper-espetáculo predomina o “ficar”. Tudo é deliciosa e perigosamente passageiro. O mais importante é a qualidade da relação, não o seu tempo de duração. A oposição ao espetáculo tomou a forma tradicional da crítica. Os comentários sobre o hiper-espetáculo só podem adotar a perspectiva irônica, a única a ser levada a sério nestes tempos tragicômicos. Apenas velhas tias solteironas ainda praticam a crítica. E alguns acadêmicos nostálgicos. A crítica não passa agora de uma verdade que se tornou verdadeira demais e soçobrou na trivialidade.
O hiper-espetáculo exige uma crítica publicitária: conceitos novos, ágeis, sucintos, desconcertantes e divertidos. Debord escreveu 221 teses sobre o espetáculo. Um publicitário teria apostado tudo na tese 4.
Todo Debord está nela e por ela é negado:

1. “O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediada por imagens” (1997, p. 14).
2. A cultura hiper-espetacular não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediada por imagens.
3. O hiper-espetacular não é um conjunto de imagens espetaculares, mas uma relação social entre telespectadores mediada por imagens banalizadas e repetidas à exaustão.
A crítica ao espetáculo era ética. A ironia em relação ao hiper-espetáculo só pode ser estética. Nada de novo no front frankfurtiano? O novo é um produto que, cada vez mais, depende da embalagem. Nosso comerciais, por favor!
O hiper-espetáculo é a imagem sem sua sombra, e o produto cultural com o seu make-off revisado e corrigido. Chegamos, parafraseando Michel Maffesoli, ao fundo das aparências. Um abismo sem precedentes e paradoxalmente sem fundo.
Guy Debord é o homem do século. Passado.
O capital social não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre competidores mediada por imagens de auto-divulgação. O importante não é fazer, mas ser visto fazendo, mesmo que seja um fazer inútil. A utilidade é prosaica. A inutilidade é pura poesia, despesa sem fundo. O capital social é relação política mediada por simulações, estratégias, simulacros e representações que geram um imaginário da sociabilidade como vínculo, comunidade e prazer. A imagem é uma imagem de si mesma.
- Imagem que se faz do outro.
- Imagem de si projetada no outro.
- Imagem que o outro tem de nós.
- Imagem de nós mesmos que desejamos transmitir ao outro.
- Imagem da imagem que idealizamos como imagem padrão.
O hiper-espetáculo é a vitória da imagem à la carte, pay-per-view ao alcance de todos contra a arbitrariedade de uma emissão de massa. No hiper-espetáculo, como imaginário da fama, a visibilidade ofusca o seu negativo. O conteúdo pode ser preenchido com silicone. Afinal, estamos no póshumano e nada impede que o saber seja uma prótese. O importante é fazer parte da tribo dos famosos, comungar os valores da celebridade e celebrar o valor simbólico.
A sociedade “midíocre” é uma interminável revista Contigo. O hiper-espetáculo é a conjugação da aneroxia com o silicone. Mais e menos.
A tese 4 encontra eco na tese 207: “As idéias melhoram. O sentido das palavras entra em jogo. O plágio é necessário. O progresso supõe o plágio.
Ele se achega à frase de um autor, serve-se de suas expressões, apaga uma idéia errônea, a substitui pela idéia correta” (Debord, 1997, p. 134). A produção de conhecimentos é uma relação social entre autores que se plagiam e corrigem mutuamente num colossal esforço de cooperação não consentida e de competição autorizada.
O capital social pode ser obtido por evasão de divisas imaginárias ou por lavagem de intimidades privadas em público. Depois do espetáculo, felizmente, não há moralismo. Moral da história: cenas dos próximos capítulos.
Cenas da vida hipermoderna. Estamos mais cínicos. Logo mais lúcidos. Mas hedonistas. Menos crédulos. Só cremos de fato na publicidade feita pelos famosos. Como resistir a um celular legitimado por Ciccarelli depois da transa na praia? O hiper-espetáculo reinventa a legitimação. O homem “midíocre” enterrou a metafísica e tornou-se pragmático. Se lhe perguntam pelo tempo, responde sem hesitar: chove.
Definitivamente o hiper-espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma imagem de conjunto num tempo de mutação tecnológica. Não uma falsa totalidade, mas uma totalidade feita de nem falso nem verdadeiro num tempo imediato. Na lógica do hiper-espetáculo o 11 de setembro não aconteceu. Foi produzido. O homem “midíocre”, o hiper-espectador, não pprdem em nada para os seus antepassados. É uma imagem de síntese. Um holograma. Uma fotografia de si mesmo. O homem da sociedade do espetáculo contemplava o herói na tela da televisão e do cinema. Ou, como já ironizava Jean Baudrillard, enterrava-se no vácuo: “A imagem do homem sentado, contemplando, num dia de greve, sua tela de televisão vazia, constituirá no futuro uma das mais belas imagens da antropologia do século XX” (1990, p. 19). O século XX é agora uma vaga lembrança. Baudrillard acertou ao se fixar na idéia de uma imagem. O homem da sociedade “midíocre” é novamente protagonista: ele se vê no Big Brother da televisão na pele de um clone seu; além disso, vê no Big Brother do lotação e sorri para a câmara mesmo sabendo que ela não está lá. O homem “midíocre” simula o simulacro do qual é mero e passivo contemplador. Vive plenamente o seu papel na tela do computador, do telefone celular e da câmera digital. Coleciona imagens. O espetáculo era a representação do imaginário moderno. Algo designado para ser superado. O hiperespetáculo é um imaginário sem representação. Imagem nua.
Deliciosamente obscena. Prostituição sem sexo. Vínculo sem relação. Afetação sem afeto. Imagem sem ocultação. Culto da imagem desencarnada. Fim da iconoclastia. Imagem irrefletida. Depois do espetáculo, após a última cena, começa o primeiro ato: a vida sem contemplação. O crítico não se vê no espelho. Resta o replay de um gol imaginário, hiper-real, real mais real que o real por subtração, aceleração e substituição. O hiper-real, no entanto, não é mais espetacular que o espetacular. É somente o espetáculo depois do fim. Ponto final. Depois do fim das ilusões, do fim das previsões, do fim das leis da história, do fim da idéia de fim. O hiper-espetáculo é um enredo sem fim.
Nem finalidade.
No espetáculo, a imagem de uma execução tinha ou deveria ter algum significado, um fim, uma finalidade. No hiper-espetáculo, a imagem de Saddam Hussein morto, por enforcamento, é apenas uma fotografia de celular, um clichê da barbárie no apogeu da civilização, obtido com uma câmera furtiva de celular para ser vendido às grandes redes de televisão e disseminado exaustivamente na Internet como um vírus do mal absoluto. Não mais que uma imagem sensacional, conseguida no fechamento do ano, para uma boa retrospectiva. Uma iagem para o You Tube. Uma imagem para concorrer com a cabeçada de Zidane e com o gesto de Ciccareli afastando o biquíni para ser penetrada pelo namorado no hit parade das imagens mais loucas do ano. Não há verdade nem mentira no hiper-espetáculo.
Somente imagens para voyeurs. Imagens viróticas. Mortalmente obscenas: o olhar firme de Saddam quando lhe ajeitaram a corda no pescoço; a discussão com os carrascos; a oração como um desafio; o olhar sereno de Bush depois de mentir para justificar a invasão do Iraque e de justificar a morte de Saddam com a mentira de um julgamento sob encomenda. Vale lembrar: ideologia é sempre o pensamento do outro; barbárie é sempre a loucura alheia. Imagens. Apenas. No ápice da civilização, a sociedade “midíocre” e hiper-espetacular, impera a lei de talião: olho por olho, dente por dente, pescoço por pescoço, imagem por imagem. A pena de morte é o outro nome do assassinato. Estatal. Mesmo que se trate de assassinar um assassino. O que restará de tudo isso? O que restará desses processos midiáticos pretensamente exemplares? Nada mais do que imagens. Se o 11 de setembro rompeu a “greve dos acontecimentos” na linguagem de Jean Baudrillard ele já não passa agora de uma imagem de retrospectiva, um cartão postal da estupidez humana com grandes chances de integrar o álbum das imagens do século XXI. A imagem do segundo avião avançando para bater na torre será certamente uma das imagens
antropológicas mais exatas para indicar o exato momento do fim. Fim da humanidade. O humanismo já estava morto desde a Segunda Guerra Mundial. Fim de uma imagem de homem. Fim do romantismo niilista de Baudrillard. A imagem do homem sentado, num dia de greve, em frente à sua televisão fazia não pode mais acontecer. Era uma imagem do espetáculo. A grave geral acabou. A tecnologia liquidou as telas vazias. A solidão agora (ver Dominique Wolton) é interativa. Os homens vivem em rede. Em outros tempos talvez se ouvisse a exclamação do personagem de Conrad em “Coração das trevas”: “O Horror! O Horror!” Hoje, o horror é um elemento da vida cotidiana e da tela banal. Definitivamente o mundo nunca mais será o mesmo depois das fotografias de celular e do You Tube.
O estado assassino não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediada por imagens.

Notas
1 Trabalho apresentado ao GT Comunicação e Cultura.
2 Juremir Machado da Silva, Doutor em Sociologia pela Sorbonne, Paris V, é pesquisador do CNPq, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUCRS e autor, entre outros livros, de As Tecnologias do imaginário (Porto Alegre, Sulina, 2003).
3 Sobre estrelas, vedetes e olimpianos, cf. MORIN, Edgar. Les stars. Paris, Seuil, 1972.
4 Cf. BAUDRILLARD, Jean. “Big Brother: telemorfose e criação de poeira” in Revista Famecos. Porto Alegre, Edipucrs, nº 17, abril de 2002.
Bibliografia:
BAUDRILLARD, Jean (avec Enrique Valiente Noailles). Les exilés du dialogue. Paris, Galilée, 2005.
BAUDRILLARD, Jean. Le Pacte de lucidité, l’intelligence du mal. Paris, Galilée, 2004
____ Tela total — mito-ironias da era do virtual e da imagem, Porto Alegre, Sulina, 1997.
___ Le crime parfait, Paris, Galilée, 1995.
___ A transparência do mal - ensaio sobre os fenômenos extremos, Campinas, Papirus, 1990.
___ Les stratégies fatales. Paris, Grasset, 1983.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro, Contraponto, 1997.
FLICHY, Patrice. L’Imaginaire d’Internet. Paris, La Découverte, 2001.
JAMESON, Frederc. Pós-modernismo - a lógica cultural do capitalismo tardio, São Paulo, Ática, 1996.
LÉVY, Pierre. La Machine univers, Création, cognitionet culture informatique, Paris, La Découverte, 1987.
___ As Tecnologias da inteligência, O futuro do pensamento na era da informática, Rio de Janeiro, Ed. 34, 1993.
LIPOVETSKY, Gilles. Les Temps hypermodernes. Paris, Grasset, 2004.
LYOTARD, Jean-François. O Pós-moderno, Rio de Janeiro, José Olympio, 1986.
MAFFESOLI, Michel. La conquête du présent, Pour une sociologie de la vie quotidienne. Paris, PUF, 1979.
___ La Connaissance ordinaire - précis de sociologie compréhensive, Paris, Librairie des Méridiens, 1985.
___ Le temps des tribus - le déclin de l'individualisme dans les sociétés de masse. Paris, Meridiens Klincksieck, 1988.
MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva. Lisboa, Edições 70, 1988.
MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem . São Paulo, Cultrix, 1969.
MORIN, Edgar. Les stars. Paris, Seuil, 1972.
NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital, São Paulo,
PARENTE, André (org.). Imagem máquina - a era das tecnologias do virtual. Rio de Janeiro, Editora 34,
ROSNAIS, Joel de, L’homme symbiotique - regards sur le troisième millénaire . Paris, Seuil, 1995.
SCHEER, Léo. La Démocratie virtuelle. Paris, Flammarion, 1994.
SFEZ, Lucien. “As Tecnologias do espírito”, in Revista Famecos — mídia, cultura e tecnologia, Porto Alegre, junho de 1997, n° 6, pp. 7-16.
SILVA, Juremir Machado. As Tecnologias do imaginário. Porto Alegre, Sulina, 2003.
VIRILIO, Paul. Vitesse et politique, Paris, Galilée,
WINKIN, Yves (org). La nouvelle communication. Paris, Seuil, 1981.
Fonte: http://diacrianos.blogspot.com

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Manifestante c/cartaz: "Cooperação com Israel é 1 crime contra a Humanidade". Concordo plenamente foto Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

[EUA] Washington DC: Tentam impedir protestos em frente às casas - por ANA

[EUA] Washington DC: Tentam impedir protestos em frente às casas - por ANA
Aprovado um projeto de lei repressivo, para tentar conter os protestos em frente os domicílios de executivos.

Deveriam ser proibidas as manifestações em frente às casas?

A prefeitura da cidade de Washington DC aprovou um projeto de lei que permite que a polícia prenda ativistas que se manifestem, de forma não violenta, na frente da casa de alguém sem comunicar à polícia, caso o protesto seja a noite ou o fizer de rosto coberto.

A lei, com um nome completamente ‘orwelliano’ - “lei para a tranqüilidade domiciliar” – é algo que Mary Cheh, conselheira da sala 3, esforçava-se há tempos. Ativistas do grupo Defending Animal Rights Today and Tomorrow (Defendendo os Direitos dos Animais Hoje e Amanhã) se manifestaram várias vezes em Dupont Circle, para pressionar a gestão Goldman Sachs, Michael Paese, como parte da campanha contra o laboratório de testes em animais Huntingdon Life Sciences

Os moradores de Dupont disseram que se sentiram “aterrorizados” pelos protestos. Fosse como fosse, os manifestantes não estavam infringindo a lei, senão exercendo seus direitos. Ou, como Mary Cheh disse em declarações concedidas ao Examiner, estavam “batendo no sistema”. A nova lei foi aprovada para criminalizar essa atividade, dentro dos parâmetros da Primeira Emenda. As manifestações em frente às casas e o direito de estar mascarado durante os protestos são fatos que geram polêmica, mas deveriam ser criminalizados?

A cobertura da mídia sobre o assunto tem sido incrivelmente superficial. Os manifestantes com o rosto coberto são retratados como terroristas. Mas a imprensa ignorou o fato de que a razão para que muitos manifestantes cubram seus rostos é precisamente devido à repressão draconiana que existe neste tipo de manifestação.

É verdade que as manifestações em frente às casas são de mau gosto para muita gente, mas é exatamente essa a intenção. Supõe-se que essas manifestações tenham que fazer certas pessoas se sentirem incomodadas. Não seriam eficazes se fosse de outra maneira. A ACLU (a União Americana pelos Direitos Civis) escreveu uma carta, opondo-se à lei. Nela dizia que, se os manifestantes cometiam crimes a polícia podia prendê-los, mas se não fosse o caso, não podiam limitar os direitos estipulados na Primeira Emenda só porque não gostou pelo o que protestavam, ou porque não os queria em seu bairro.

De alguma maneira, Mary Cheh tem razão. Estes manifestantes estão “batendo no sistema”. O sistema permite a liberdade de expressão apenas na medida em que se torna efetiva. O fato de que os manifestantes estão incomodando aos executivos, e de que a policia, há tempo, se vê incapaz de impedi-los, é o que realmente os torna uma ameaça.

Por Will Potter

Fonte: www.greenisthenewred.com

agência de notícias anarquistas-ana
tatalou e caiu
com onda espiralada
fragor de entrudo

Guimarães Rosa

domingo, 26 de dezembro de 2010

10 anos de CMI - Alerta para CENSURA!


Fonte: http://www.midiaindependente.org/

Manifeste sua opinião!

Questione, pergunte!

Seja a mídia!

Durante manifestação das "Mães de Sábado" em Istambul, fiz este desenho p/jornal turco Atilim - Latuff


Fonte: http://twitpic.com/photos/CarlosLatuff

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

“Quebrei o Estado, mas elegi o meu sucessor” Orestes Quércia

“Quebrei o Estado, mas elegi o meu sucessor” Orestes Quércia

Que o diabo lhe carregue!

Provos Brasil

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Assange defende FAlha de S Paulo e diz que gostaria de receber asilo político no Brasil - por Natalia Vianna

Assange defende FAlha de S Paulo e diz que gostaria de receber asilo político no Brasil - por Natalia Vianna
Em uma entrevista concedida ao Estadão ontem, Julian Assange, fundador do WikiLeaks, citou o caso do blog satírico FAlha de São Paulo para defender a liberdade de expressão.

“Entendo a importância de proteger a marca e temos sites similares que se passam por WikiLeaks. Mas o blog não pretende ser o jornal e acho que deve ser liberado. A censura é um problema especial quando ocorre de forma camuflada. Sempre que haja censura, ela deve ser denunciada”, disse Julian ao jornalista Jamil Chade.

O site FAlha de S Paulo foi retirado do ar por ordem da justiça paulista, após o jornal Folha de S Paulo entrar com processo por uso indevido da marca. O site humorístico satrizava o maior jornal do país.

Ontem a organização Repórteres sem Fronteiras pediu que a Folha de S Paulo retire o processo, dizendo que o jornal se “engrandeceria” ao tomar esta atitude.

O jornal nega que tenha censurado o conteúdo do site – diz que o problema é o nome parecido e o logo da Folha.

Asilo político no Brasil
Julian também falou que pensa em expandir a atuação do WikiLeaks no Brasil. “Vemos muito apoio vindo do Brasil, tanto da população, mídia, da forte e emergente cultura de internet. E também há muita corrupção. Portanto, haverá bons tempos no futuro no Brasil para nós”.

Perguntado se já pensou em pedir asilo político no Brasil, o fundador do WikiLeaks disse que “seria ótimo” se fosse oferecido.

“É um país grande o suficiente para ser independente da pressão dos EUA, tem força econômica e militar suficiente para fazer isso. E não é um país como China e Rússia que não são tão tolerantes com a liberdade de imprensa. Talvez o Brasil seria um bom país para que coloquemos parte de nossas operações”.

Julian também falou da perseguição que tem sofrido por parte dos EUA - disse se considerar um preso político – e do recente vazamento de parte do processo que está sofrendo na Suécia por crimes sexuais.

“Transparência é para governos. Não para indivíduos. O objetivo de revelar informações sobre pessoas poderosas é cobrar responsabilidade deles. Quando um governo dá material legal para um jornal para prejudicar alguém, trata-se de um abuso. O repórter que foi escolhido para receber a informação é um conhecido crítico de nossa organização. O Guardian não perguntou por que foi liberada essa documentação antes de uma audiência na Corte. Quais são os motivos envolvidos. São perguntas que não foram respondidas”.

Ele também e explicou os planos da organização para o próximo ano. “Para 2011, vamos publicar mais telegramas sobre países e sobre mais de cem organizações. Mas também teremos outras publicações. Vamos expandir nossa estrutura”.

A entrevista completa pode ser lida neste link e na edição de hoje do jornal.

Fonte: http://cartacapitalwikileaks.wordpress.com/

Estado Assassino: Israel derruba negociações com palestinos - por Mel Frykberg, da IPS

Estado Assassino: Israel derruba negociações com palestinos - por Mel Frykberg, da IPS
Jerusalém, Israel, 22/12/2010 – Cada vez mais palestinos pagam o preço da paralisação das conversações sobre a construção ilegal de assentamentos que Israel leva adiante na Cisjordânia e na ocupada Jerusalém oriental. Mohammad Robin Alyyan, de 27 anos, observa a pilha de escombros e metais retorcidos no instável bairro de Issaweya, em Jerusalém oriental. Não restou nada dos dez anos de duro trabalho e poupança junto com seus dois irmãos para montar uma gráfica produtiva.

A oficina dos irmãos Alyyan e numerosas casas de palestinos em Jerusalém oriental foram demolidas pelas forças de segurança em novembro porque não tinham autorização para construir, segundo as autoridades. Organizações de direitos humanos denunciaram o quanto é difícil para os palestinos conseguir a documentação necessária. Israel complica o trâmite de propósito e incentiva o assentamento de judeus para que sejam maioria no leste da cidade.

“Perdemos mais de US$ 200 mil em poucas horas. Minha mulher está grávida de sete meses. Não sei como vou mantê-los, onde vou conseguir outro trabalho? Muitos palestinos estão desempregados na cidade. Meus irmãos têm seis filhos e mulheres”, disse Mohammad à IPS. Durante a operação, a polícia algemou Mohammad, bateu nele e jogou gás de pimenta em seu rosto. Nos protestos que se seguiram na semana seguinte em Issaweya, 15 pessoas ficaram feridas e foram hospitalizadas. Um jovem perdeu um olho, atingido por uma bala de borracha.

As autoridades israelenses demoliram várias casas e expulsaram muita gente da Cisjordânia e de Jerusalém oriental nas últimas semanas, deixando dezenas de palestinos sem teto. Centenas de licitações foram publicadas para realizar construções ilegais nesta parte da cidade. Dois grupos de colonos israelenses ocuparam dois apartamentos em Jerusalém oriental e expulsaram a família que ocupava um deles com escolta policial. Pouco depois ocorreram vários confrontos entre jovens palestinos e as forças de segurança.

A justiça criticou a atuação policial que permitiu a entrada dos colonos quando a propriedade de uma das moradias não estava resolvida. Os apartamentos foram comprados pela Lowell Investments, empresa criada pela organização de colonos de direita Elad, dedicada a apropriar-se de terras e bens palestinos em Jerusalém oriental. Os palestinos são expulsos de suas casas e, além disso, as forças de segurança destroem casas e outras propriedades suas no vale do Rio Jordão, nas colinas do sul de Hebron e no norte e centro da Cisjordânia.

Washington ofereceu a Israel um grande pacote de incentivos para ampliar em três meses a moratória sobre os assentamentos, que venceu em setembro. O pacote incluía 20 aviões de combate F-35, material para as Forças de Defesa Israelenses, US$ 205 milhões para comprar sistemas de defesa antiaérea e um significativo aumento dos programas de capacitação militar. Os Estados Unidos também prometeram vetar no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) toda resolução contra Israel e rejeitar toda tentativa da Autoridade Nacional Palestina (ANP) de propor a criação de um Estado na ONU. Mas o governo israelense rejeitou a oferta.

Washington “recompensa Israel por mau comportamento”, escreveu no The Washington Post Dan Kurtzer, ex-embaixador norte-americano em Israel e especialista em política do Oriente Médio. A proposta foi uma “má ideia”, afirmou. Os últimos acontecimentos exacerbaram a já frágil posição da ANP, cuja autoridade pende por um fio e se mantém graças à enorme ajuda estrangeira e a uma presença onipresente de sua segurança, que controla todas as críticas e a oposição política.

A “ANP considera propor a criação de um Estado palestino diretamente à ONU sem a aprovação de Israel e Estados Unidos”, disse à IPS Samir Awad, da Universidade de Birzeit, perto de Ramalá. “O primeiro-ministro da ANP, Salaam Fayyad, trabalha para criar um Estado palestino em agosto de 2011”, acrescentou. “A proposta existe há dois anos e se concentra na criação das instituições estatais com crescente apoio da comunidade internacional. As negociações não andam para nenhum lado. A ANP precisa encontrar alternativas que incluam a ONU, mas sem limitar-se a ela”, acrescentou.
Fonte: Envolverde/IPS

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Começa a luta contra o Aumento - por Passa Palavra

Começa a luta contra o Aumento

No dia 16/12 cerca de 180 pessoas realizaram o segundo ato contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo. Por Passa Palavra
Senhor lendo o panfleto com ato ao fundo
Na quinta-feira, dia 16/12, ocorreu em São Paulo a segunda manifestação organizada pelo Movimento Passe Livre (MPL) contra o aumento da tarifa do transporte coletivo. Cerca de 180 pessoas caminharam da Praça do Ciclista até a Prefeitura de São Paulo, ocupando duas faixas da Rua da Consolação, cantando músicas e panfletando. Contrariando as previsões, a chuva só chegou na segunda metade do ato e em nada desanimou a manifestação, que seguiu cantando até seu destino. Apesar da chuva, alguns militantes ainda conseguiram, após o término da manifestação, abrir a porta de dois ônibus para que as pessoas pudessem entrar gratuitamente.

Esta manifestação mostra que as pessoas perceberam que a tarifa vai aumentar, apesar do anúncio ter sido feito em meio às eleições e do prefeito Kassab ter – na época – se apressado em encobrir o aumento, utilizando do mesmo discurso do ano passado, de quando o MPL se acorrentou na Secretaria de Transportes: ainda são estudos, a data e o valor ainda não estão definidos.
Passe Livre Já!
Também como no ano passado começaram as especulações sobre o novo valor da tarifa, o primeiro (presente no orçamento da cidade) é de R$2,90; agora a Secretaria de Transportes enviou uma proposta de R$3,00, que está sendo avaliada. Mas esta especulação sobre valores não discute o tema central: qualquer aumento significa a exclusão de pessoas do acesso ao sistema de transporte, significa continuar cobrando pela mobilidade das pessoas na cidade, significa não encarar o transporte como um direito.
Panfletagem debaixo de chuva
Já no dia 24 de novembro cerca de 80 estudantes de diversas escolas fizeram uma primeira manifestação contra o aumento no bairro de Pinheiros, conversando bastante com a população. Foi a partir das pessoas envolvidas neste ato que se conseguiu organizar o ato do dia 16/12, com a participação de diversos estudantes secundaristas na organização, o que era claramente percebido na manifestação, que contava com muitas pessoas que não participaram da luta contra o aumento no início do ano.

Vale lembrar que também em novembro aconteceu o primeiro dia sem tarifa; a ideia era que no dia 30 deste mês o maior número de pessoas possível andasse sem pagar o ônibus. A opção do MPL foi de organizar isto de maneira coletiva, promovendo a abertura de portas na Avenida Rebouças e no Parque Dom Pedro II.
Contra o aumento em ritmo de Funk
O fato de contar com um grande número de secundaristas, tanto participando quanto na organização, indica uma boa perspectiva para a continuidade das lutas, primeiro porque já se encontram mobilizados em um período de férias, o que indica uma disposição real para luta; e também possibilita uma renovação interna ao MPL e cria uma rede de escolas que estaria em contato caso seja necessária a continuidade da mobilização em fevereiro. Certamente, para a manifestação do dia 13 de janeiro, é necessário expandir a mobilização para mais regiões e buscar a articulação com outras pessoas mobilizadas por transporte, como a população do M’Boi Mirim, mas, em todas as cidades em que o aumento foi impedido, a grande força de mobilização era destes secundaristas.

Fonte: http://passapalavra.info/

Charge do dia!


Fonte: http://blogdolute.blogspot.com/

México em guerra - por Ignacio Ramonet

México em guerra - por Ignacio Ramonet
No último dia 20 de novembro, o mundo celebrou o centenário da revolução mexicana, primeira grande revolução social no século 21. Uma epopéia popular conduzida por dois grandes heróis lendários, Emiliano Zapata e Pancho Villa, que conquistaram, com os operários e camponeses, direitos sociais até então impensáveis, popularizando a educação pública, gratuita e laica e implementando sobretudo uma reforma agrária.

Tais conquistas formidáveis foram amplamente dilapidadas pelos presidentes seguintes. Ao ponto que, cem anos depois, a situação seria “analógica, em muitos terrenos, ao que era em 1910: escandalosa concentração de riqueza e retrocessos sociais profundos; desrespeito à vontade popular; atentados aos direitos trabalhistas e às liberdades sindicais; garantias individuais atropeladas pelas autoridades; perda de soberania diante do capital internacional; exercício distante, oligárquico, patrimonial, e tecnocrático do poder.”

A este cenário deprimente, acrescenta-se uma guerra. Ou melhor, três guerras; numa delas, diferentes cartéis do narcotráfico combatem pelo controle territorial; em outra grupos Zetas (organizações mafiosas, constituídas por ex-militares e antigos policiais) especializam-se em sequestros e extorsões contra a população; a terceira provém da opressão e abusos cometidos pelos militares e forças especiais contra os civis.

Essas guerras, nas quais a mídia internacional pouco se interessa, vêm sendo extremamente letais. O número de mortos provocados por elas chega a ser bem superior – por exemplo – ao número de soldados ocidentais mortos desde 2003 nas guerras do Iraque e Afeganistão… Sob forte pressão exercida por Washington, o presidente Felipe Calderón lançou sua “ofensiva contra os traficantes de droga”, há quatro anos. Desde então o número de mortos chega proximo dos 30 mil.

O México parece cada vez mais com um “Estado encurralado”, preso em uma armadilha mortal. Todos os tipos de agressores armados desfilam pelo pais: as forças especiais do exército e os comandos de elite da polícia; bandos de paramilitares e para-policiais; clãs de assassinos e gangues de todos tipos; agentes norte-americanos da FBI, CIA e da DEA; e por fim os Zetas, que persistem na perseguição dos imigrantes latino-americanos, na travessia em direção aos Estados Unidos. Eles tornaram se “celebres” após o massacre de 72 imigrantes (crianças, homens e mulheres) descoberto no último dia 24 de outubro, no Estado de Taumalipas.

A cada ano, cerca de 500 mil latinos-americanos atravessam o México em direção ao “paraíso norte-americano”, mas antes de alcançá-lo, seu percurso assemelha-se ao inferno. Ataques sucessivos de hordas predatórias depenam-nos no decorrer da trilha, com roubos, sequestros, violações… Oito mulheres entre dez são vítimas de abusos sexuais; grande parte delas são transformadas em “serventes escravizadas” por bandos criminais, ou contratadas como prostitutas. Centenas de crianças são arrancadas de seus pais e obrigadas a trabalhar nos campos clandestinos de maconha.

Milhares de imigrantes são sequestrados e para liberá-los, os Zetas exigem de suas famílias (já instaladas ou não, nos Estados Unidos) o pagamento de um “regaste”. “Para as organizações criminais, é mais fácil sequestrar durante alguns dias alguns desconhecidos em troca de 300 a 1500 dólares cada um, que correr o risco de sequestrar um grande patrão.”

Se ninguém é capaz de pagar o regaste dos sequestrados, eles são simplesmente liquidados. Cada célula dos Zetas possui seu próprio carrasco, muitas vezes responsável pela decapitação e esfolamento dos corpos das vítimas, até por queimá-los dentro barris metálicos. No decorrer da última década, cerca de 60 mil imigrantes ilegais, cujos familiares não puderam quitar o resgate, foram “desaparecidos” dessa forma…

Essa violência selvagem, antes concentrada em algumas cidades, incluindo Cidad Juarez, já se espalhou por todo o país (com exceção da capital federal, Cidade do México). Washington veio a público qualificar oficialmente o México como “país perigoso”, e ordenou em algumas cidades – entre elas Monterrey, a capital industrial e financeira – que seus funcionários consulares, repatriassem suas famílias.

Todavia o presidente Calderón anuncia regularmente os “sucessos da luta contra o crime organizado”, com a detenção de alguns importantes líderes do cartel. Ele continua a esbanjar confiança por ter usado a via militar para resolver os problemas. Um sentimento que muitos cidadãos estão longe de compartilhar. No entanto, desprovidos de experiências nesse tipo de combate, os militares multiplicam os “danos colaterais”, e passam a matar – por engano – centenas de civis…

Por engano? Abel Barrera Hernandez, o recente vencedor do prêmio de Direitos Humanos, (atribuído por uma fundação norte-americana, Robert F. Kennedy), nega essa afirmação. Pelo contrário, ele estima que o Estado aproveita-se da guerra contra as drogas para liquidar contestações sociais: “As vítimas dessa guerra são as pessoas mais vulneráveis; os indígenas, as mulheres, os jovens. O sistema serve-se da força para intimidar, desmobilizar, aterrorizar, frear a protestos social, desarticular e criminalizar todos que lutam pelo respeito de seus direitos.”

Por outro lado, o governo de Obama considera que o banho de sangue que submerge o México ameaça ser um grande perigo para a segurança norte-americana. A chefe da diplomacia, Hillary Clinton, não hesitou em declarar: “A ameaça que representam os narcotraficantes está crescendo; parecendo cada vez mais com a de grupos de insurgentes políticos (…) O México começa a parecer cada vez mais com a Colômbia dos anos 1980.” Deixam claro as pretensões de Washington, em intensificar suas ações no interior de seu vizinho sulista. A possibilidade de um golpe militar – algo impensável desde o fim da revolução mexicana em 1920 – não está mais descartada. O poder mexicano (corrompido e desprezado) continua batendo na tecla de que nos últimos anos o viés militar foi a única solução para a desordem e a violência do país. Resultado: cada vez mais os cidadãos parecem concordar com as decisões dos militares diante da situação vigente…Uma solução encorajada sem dúvida pelo Pentágono, apesar de o Departamento e Estado e a Presidencia do EUA manterem a velha retórica dos “princípios democráticos”.

Uma “ditadura militar” resolverá o problema? Certamente que não. Além do que os Estados Unidos são os principais responsáveis pelas guerras mexicanas. Eles são os opositores mais intransigentes da legalização das drogas. E fornecem armas para 90%6 do combatentes (cartéis mafiosos, os Zetas, policias e militares)…Além disso eles (EUA) formam a “narcopotência” mundial: pois são produtores maciços de maconha e os maiores fabricantes de drogas químicas (como anfetamina, ecstasy, etc).

Eles são, sobretudo, o principal mercado consumidor do planeta, com notável número de mais de sete milhões de dependes em cocaína… São as máfias norte-americanas que tiram a maior vantagem de todo o narcotráfico latino-americano: cerca de 90% do lucro total, 45 bilhões de euros por ano…Enquanto todos os cartéis da América Latina juntos compartilham apenas os 10% restantes…

No lugar de dar seus – pobres – conselhos ao México, Washington não faria melhor em focar seus esforços contra sua própria máfia?

*Ignacio Ramonet é jornalista, sociólogo e foi diretor do Le Monde Diplomatique entre 1990 e 2008. Artigo publicado originalmente no Le Monde Diplomatique. Em português, pelo site Outras Palavras.
Fonte: Opera Mundi

Conto de Natal – Maria e José na Palestina em 2010 - por James Petras

Conto de Natal – Maria e José na Palestina em 2010 - por James Petras
Os tempos eram duros para José e Maria. A bolha imobiliária explodira. O desemprego aumentava entre trabalhadores da construção civil. Não havia trabalho, nem mesmo para um carpinteiro qualificado.

Os colonatos ainda estavam a ser construídos, financiados principalmente pelo dinheiro judeu da América, contribuições de especuladores de Wall Street e donos de antros de jogo.

"Bem", pensou José, "temos algumas ovelhas e oliveiras e Maria cria galinhas". Mas José preocupava-se, "queijo e azeitonas não chegam para alimentar um rapaz em crescimento. Maria vai dar à luz o nosso filho um dia destes". Os seus sonhos profetizavam um rapaz robusto a trabalhar ao seu lado… multiplicando pães e peixes.

Os colonos desprezavam José. Este raramente ia à sinagoga, e nas festividades chegava tarde para fugir à dízima. A sua modesta casa estava situada numa ravina próxima, com água duma ribeira que corria o ano inteiro. Era mesmo um local de eleição para a expansão dos colonatos. Por isso quando José se atrasou no pagamento do imposto predial, os colonos apropriaram-se da casa dele, despejaram José e Maria à força e ofereceram-lhes bilhetes só de ida para Jerusalém.

José, nascido e criado naquelas colinas áridas, resistiu e feriu uns tantos colonos com os seus punhos calejados pelo trabalho. Mas acabou abatido sobre a sua cama nupcial, debaixo da oliveira, num desespero total.

Maria, muito mais nova, sentia os movimentos do bebé. A sua hora estava a chegar.

"Temos que encontrar um abrigo, José, temos que sair daqui… não há tempo para vinganças", implorou.

José, que acreditava no "olho por olho" dos profetas do Antigo Testamento, concordou contrariado.

E foi assim que José vendeu as ovelhas, as galinhas e outros pertences a um vizinho árabe e comprou um burro e uma carroça. Carregou o colchão, algumas roupas, queijo, azeitonas e ovos e partiram para a Cidade Santa.

O trilho era pedregoso e cheio de buracos. Maria encolhia-se em cada sacudidela; receava que o bebé se ressentisse. Pior, estavam na estrada para os palestinos, com postos de controlo militares por toda a parte. Ninguém tinha avisado José que, enquanto judeu, podia ter-se metido por uma estrada lisa pavimentada – proibida aos árabes.

Na primeira barragem José viu uma longa fila de árabes à espera. Apontando para a mulher muito grávida, José perguntou aos palestinos, meio em árabe, meio em hebreu, se podiam continuar. Abriram uma clareira e o casal avançou.

Um jovem soldado apontou a espingarda e disse a Maria e a José para se apearem da carroça. José desceu e apontou para a barriga da mulher. O soldado deu meia volta e virou-se para os seus camaradas. "Este árabe velho engravida a rapariga que comprou por meia dúzia de ovelhas e agora quer passar".

José, vermelho de raiva, gritou num hebreu grosseiro, "Eu sou judeu. Mas ao contrário de vocês… respeito as mulheres grávidas".

O soldado empurrou José com a espingarda e mandou-o recuar: "És pior do que um árabe – és um velho judeu que violas raparigas árabes".

Maria, assustada com o caminho que as coisas estavam a tomar, virou-se para o marido e gritou, "Pára, José, ou ele dispara e o nosso bebé vai nascer órfão".

Com grande dificuldade, Maria desceu da carroça. Apareceu um oficial do posto da guarda, a chamar por uma colega, "Oh Judi, apalpa-a por baixo do vestido, ela pode ter bombas escondidas".

"Que se passa? Já não gostas de ser tu a apalpá-las?" respondeu Judith num hebreu com sotaque de Brooklyn. Enquanto os soldados discutiam, Maria apoiou-se no ombro de José. Por fim, os soldados chegaram a um acordo.

"Levanta o vestido e o que tens por baixo", ordenou Judith. Maria ficou branca de vergonha. José olhava para a espingarda desmoralizado. Os soldados riam-se e apontavam para os peitos inchados de Maria, gracejando sobre um terrorista ainda não nascido com mãos árabes e cérebro judeu.

José e Maria continuaram a caminho da Cidade Santa. Foram frequentes vezes detidos nos postos de controlo durante a caminhada. Sofriam sempre mais um atraso, mais indignidades e mais insultos gratuitos proferidos por sefarditas e asquenazes, homens e mulheres, leigos e religiosos – todos soldados do povo Eleito.

Já era quase noite quando Maria e José chegaram finalmente ao Muro. Os portões já estavam fechados. Maria chorava em pânico, "José, sinto que o bebé está a chegar. Por favor, arranja qualquer coisa depressa".

José entrou em pânico. Viu as luzes duma pequena aldeia ali ao pé e, deixando Maria na carroça, correu para a casa mais próxima e bateu à porta com força. Uma mulher palestina entreabriu a porta e espreitou para a cara escura e agitada de José. "Quem és tu? O que é que queres?"

"Sou José, carpinteiro das colinas do Hebron. A minha mulher está quase a dar à luz e preciso de um abrigo para proteger Maria e o bebé". Apontando para Maria na carroça do burro, José implorava na sua estranha mistura de hebreu e árabe.

"Bem, falas como um judeu mas pareces mesmo um árabe", disse a mulher palestina a rir enquanto o acompanhava até à carroça.

A cara de Maria estava contorcida de dores e de medo; as contracções estavam a ser mais frequentes e intensas.

A mulher disse a José que levasse a carroça de volta para um estábulo onde se guardavam as ovelhas e as galinhas. Logo que entraram, Maria gritou de dor e a palestina, a que entretanto se juntara uma parteira vizinha, ajudou rapidamente a jovem mãe a deitar-se numa cama de palha.

E assim nasceu a criança, enquanto José assistia cheio de temor.

Aconteceu que passavam por ali alguns pastores, que regressavam do campo, e ouviram uma mistura de choro de bebé e de gritos de alegria e se apressaram a ir até ao estábulo levando as suas espingardas e leite fresco de cabra, sem saber se iam encontrar amigos ou inimigos, judeus ou árabes. Quando entraram no estábulo e depararam com a mãe e o menino, puseram de lado as armas e ofereceram o leite a Maria que lhes agradeceu tanto em hebreu como em árabe.

E os pastores ficaram estupefactos e pensaram: Quem seria aquela gente estranha, um pobre casal judeu, que chegara em paz com uma carroça com inscrições árabes?

As novas espalharam-se rapidamente sobre o estranho nascimento duma criança judia mesmo junto ao Muro, num estábulo palestino. Apareceram muitos vizinhos que contemplavam Maria, o menino e José.

Entretanto, soldados israelenses, equipados com óculos de visão nocturna, reportaram das suas torres de vigia que cobriam a vizinhança palestina: "Os árabes estão a reunir-se mesmo junto ao Muro, num estábulo, à luz das velas".

Abriram-se os portões por baixo das torres de vigia e de lá saíram camiões blindados com luzes brilhantes, seguidos por soldados armados até aos dentes que cercaram o estábulo, os aldeões reunidos e a casa da mulher palestina. Um altifalante disparou, "Saiam cá para fora com as mãos no ar ou disparamos". Saíram todos do estábulo, juntamente com José, que deu um passo em frente de braços virados para o céu e falou, "A minha mulher Maria não pode obedecer às vossas ordens. Está a amamentar o menino Jesus".

O original encontra-se em http://petras.lahaine.org/articulo.php?p=1831&more=1&c=1 . Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/