Estado Assassino: Israel derruba negociações com palestinos - por Mel Frykberg, da IPS
Jerusalém, Israel, 22/12/2010 – Cada vez mais palestinos pagam o preço da paralisação das conversações sobre a construção ilegal de assentamentos que Israel leva adiante na Cisjordânia e na ocupada Jerusalém oriental. Mohammad Robin Alyyan, de 27 anos, observa a pilha de escombros e metais retorcidos no instável bairro de Issaweya, em Jerusalém oriental. Não restou nada dos dez anos de duro trabalho e poupança junto com seus dois irmãos para montar uma gráfica produtiva.
A oficina dos irmãos Alyyan e numerosas casas de palestinos em Jerusalém oriental foram demolidas pelas forças de segurança em novembro porque não tinham autorização para construir, segundo as autoridades. Organizações de direitos humanos denunciaram o quanto é difícil para os palestinos conseguir a documentação necessária. Israel complica o trâmite de propósito e incentiva o assentamento de judeus para que sejam maioria no leste da cidade.
“Perdemos mais de US$ 200 mil em poucas horas. Minha mulher está grávida de sete meses. Não sei como vou mantê-los, onde vou conseguir outro trabalho? Muitos palestinos estão desempregados na cidade. Meus irmãos têm seis filhos e mulheres”, disse Mohammad à IPS. Durante a operação, a polícia algemou Mohammad, bateu nele e jogou gás de pimenta em seu rosto. Nos protestos que se seguiram na semana seguinte em Issaweya, 15 pessoas ficaram feridas e foram hospitalizadas. Um jovem perdeu um olho, atingido por uma bala de borracha.
As autoridades israelenses demoliram várias casas e expulsaram muita gente da Cisjordânia e de Jerusalém oriental nas últimas semanas, deixando dezenas de palestinos sem teto. Centenas de licitações foram publicadas para realizar construções ilegais nesta parte da cidade. Dois grupos de colonos israelenses ocuparam dois apartamentos em Jerusalém oriental e expulsaram a família que ocupava um deles com escolta policial. Pouco depois ocorreram vários confrontos entre jovens palestinos e as forças de segurança.
A justiça criticou a atuação policial que permitiu a entrada dos colonos quando a propriedade de uma das moradias não estava resolvida. Os apartamentos foram comprados pela Lowell Investments, empresa criada pela organização de colonos de direita Elad, dedicada a apropriar-se de terras e bens palestinos em Jerusalém oriental. Os palestinos são expulsos de suas casas e, além disso, as forças de segurança destroem casas e outras propriedades suas no vale do Rio Jordão, nas colinas do sul de Hebron e no norte e centro da Cisjordânia.
Washington ofereceu a Israel um grande pacote de incentivos para ampliar em três meses a moratória sobre os assentamentos, que venceu em setembro. O pacote incluía 20 aviões de combate F-35, material para as Forças de Defesa Israelenses, US$ 205 milhões para comprar sistemas de defesa antiaérea e um significativo aumento dos programas de capacitação militar. Os Estados Unidos também prometeram vetar no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) toda resolução contra Israel e rejeitar toda tentativa da Autoridade Nacional Palestina (ANP) de propor a criação de um Estado na ONU. Mas o governo israelense rejeitou a oferta.
Washington “recompensa Israel por mau comportamento”, escreveu no The Washington Post Dan Kurtzer, ex-embaixador norte-americano em Israel e especialista em política do Oriente Médio. A proposta foi uma “má ideia”, afirmou. Os últimos acontecimentos exacerbaram a já frágil posição da ANP, cuja autoridade pende por um fio e se mantém graças à enorme ajuda estrangeira e a uma presença onipresente de sua segurança, que controla todas as críticas e a oposição política.
A “ANP considera propor a criação de um Estado palestino diretamente à ONU sem a aprovação de Israel e Estados Unidos”, disse à IPS Samir Awad, da Universidade de Birzeit, perto de Ramalá. “O primeiro-ministro da ANP, Salaam Fayyad, trabalha para criar um Estado palestino em agosto de 2011”, acrescentou. “A proposta existe há dois anos e se concentra na criação das instituições estatais com crescente apoio da comunidade internacional. As negociações não andam para nenhum lado. A ANP precisa encontrar alternativas que incluam a ONU, mas sem limitar-se a ela”, acrescentou.
Fonte: Envolverde/IPS
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