Era uma noite de segunda-feira, depois de uma quase maratona que havia começado antes da Flip e que agora parecia chegar ao fim naquele encabulado auditório/teatro da Folha de São Paulo no interior do Shopping Pátio Higienópolis. (E afora esta contradição histórica de alguém que escreve sobre Palestina e Faixa de Gaza conceder entrevista num bairro com maioria judia organizada por um jornal idem, numa editora ibidem) Era 11 de julho, o dia em que tive oportunidade de estar próxima ao jornalista/quadrinista Joe Sacco. (Escrevo duas semanas depois para que não apareça o embreagamento que pude desfrutar por aquelas duas parcas horas, e este artigo vai ao ar exato um mês após).

Ele é um homem centrado, sério, respeitoso com a cultura alheia sem ser babaca. É uma lição de jornalismo no meio deste submundo das letras cotidianas. Sou realmente sua fã, sem medo de escrever isto e me decepcionar, porque fã também tem seus direitos. Eu quero todos os meus. Inclusive o de poder me decepcionar. Ele é comprometido. Logo de início, ao responder por que sentia atração por estes temas respondeu: “A razão central é pelas coisas que acontecem, são questões de justiça pessoal. Não é uma atração à violência em si”.

Joe contou que seus pais viviam em Malta, de onde ele é originário, e que presenciaram a II Guerra Mundial e que a preocupação deles é basicamente a mesma que o move. “Como os seus filhos ficariam na escola? Como as pessoas sobreviveriam na guerra? É a minha parte de interesse na guerra: os civis”.
Quando estava na faculdade, Joe lembra-se de ter uma visão, que ele considerava correta, sobre quem eram os terroristas a partir do ponto de vista do jornalismo estadunidense, “você define os padrões para o mundo e os jornalistas representam distorcidamente os fatos. Resolvi buscar por conta própria e dar voz aos palestinos. Tenho que ir para o meu lugar. Os Estados Unidos podem ser terroristas.”

Joe Sacco falou pacientemente em vários momentos sobre o seu método e o porquê não colore seus desenhos. Mas na prática, sem ser a parte em que estuda o quanto pode o povo que vai estar em contato para onde vai, ela disse que “fotografias ajudam. Mas tomo notas que me ajudam a reviver. Por exemplo: não esqueça de retratar as crianças”. É necessário habilidade para colorir. Como vou tirar esse tempo para aprender?”.
Sempre há esperança de que realmente se tenha um profissional honesto atuando onde quer que seja, e no jornalismo Sacco parece ser uma referência importante. Finalizo sobre sua opinião a respeito de Marjorie Sartapi (Persepólis): “Estamos ambos tentando humanizar pessoas que não são humanizadas”. Nós também.
Fonte: http://www.novae.inf.br/
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