segunda-feira, 30 de abril de 2012
[Espanha] Crônica da manifestação ateísta em Madri - por ANA
[Espanha] Crônica da manifestação ateísta em Madri
A intimidação da delegada do Governo em Madri não impediu o desenvolvimento da manifestação [20 de abril] em um ambiente reivindicativo e festivo de um povo que em vez da exaltação de dor e sofrimento, com inteligência e razão escolheram os sentidos e a alegria.
As tentativas de criminalizar o protesto não alcançaram o objetivo de silenciar ou ocultar a principal razão para o mesmo: denunciar os 11.000 milhões de euros que, produto do nosso trabalho, vão para as mãos do clero, quantidade que confronta com os mais de 12.000 milhões em cortes nos benefícios sociais. Valores que precisam de atualização e, muito provavelmente, a diferença será maior para a Igreja.
O número de pessoas no protesto varia dependendo da parte do percurso a que nos referimos. Na hora de tráfego mais intenso, na rua Magdalena, havia cerca de mil pessoas.
Dois "passos" animaram a marcha: Si no lo ves es que no crees y La Tetera de Russell.
Alguns dos lemas cantados foram: Se Deus existe que envie um raio, A religião fora da escola, Fora das capelas da universidade, Até os ovários de muitos rosários... No fim não caiu nenhum raio, e mais, o tempo estava extraordinário.
Os contrastes não se limitam à economia. Esta manifestação tem sido duramente atacada pela delegada Cristina, desde os meios de comunicação representativos da extrema direita mais rançosa, de declarações cheias de juízos de valor depreciativos à intimidações por escrito de “tomada de conhecimento”, em que ameaçavam dissolver a manifestação. Esta atitude confronta com a impunidade do chefe dos sacerdotes de Alcalá em que, em um feriado católico, vestido de gala, estimula a homofobia na televisão estatal e também mantém o vídeo em seu site. Este caso não é único ou isolado nem excepcional. Nos arquivos de jornal se pode facilmente encontrar declarações de curas no mesmo sentido do anterior, mesmo, aparentemente, seu líder encobrir os casos de pedofilia.
Sem esquecer a questão econômica, não podemos deixar de lado o aspecto repressivo ou o contexto em que vivemos. A lei sobre a repressão nas manifestações que o governo visa fazer, a perseguição a que estão sendo submetidos os participantes na greve geral passada [29M], com detidos dias depois da mesma, o comportamento da Delegação do Governo para esta manifestação, a forte presença à paisano nas ruas realizando incursões de legalidade duvidosa, se não ilegais, etc., deve colocar-nos em alerta para reagir e responder à repressão.
Finalmente, lembrar que as razões para esta manifestação não é contra os crentes, a intenção é denunciar os 290 milhões para eventos religiosos, o patrimônio artístico de 500 milhões, os 4600 pagos a professores religiosos e escolas assistidas, os 2000 milhões de poupança no IBI, e assim até 11.000 milhões ao ano.
Em definitivo, exigimos: Quem quer a igreja que a pague.
Grupos e associações organizadoras da manifestação
agência de notícias anarquistas-ana
as ondas vêm
e vão para ninguém —
maré outonal
Eder Fogaça
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Desenvolvimentismo inglês, muito antes de Keynes - Por José Luís Fiori
Desenvolvimentismo inglês, muito antes de Keynes
Guerra anglo-holandesa, marco da construção do poderio britânico
A partir do século XVII, protecionismo, sistema financeiro muito avançado e expansão militar fizeram da Inglaterra primeira grande potência capitalista
O “milagre econômico inglês”, que deu origem ao capitalismo moderno, começou no século XVII, muito antes da chamada “revolução industrial”. De forma aproximada, pode-se dizer que seu início ocorreu entre a “República de Cromwell” (1649-1659) e o reinado de Guilherme III, o “rei holandês”, que governou a Inglaterra entre 1689 e 1702. Cromwell aumentou o poder naval da Inglaterra, fez guerra e venceu a Holanda (1652-1654) e a Espanha (1654-1660), as duas grandes potências marítimas do século XVII, e conquistou a ilha da Jamaica, em 1655, criando a primeira colônia do futuro Império Britânico. Além disto, Cromwell editou, em 1651, o 1º Ato da Navegação, que fechou os portos ingleses aos navios estrangeiros e se transformou no primeiro ato mercantilista agressivo da Inglaterra, fechando as fronteiras de sua economia nacional.
Três décadas depois, Guilherme III, enfrentou e venceu a França, na Guerra dos 9 Anos (1688-1697), iniciou a Guerra da Sucessão Espanhola (1702-1712), conquistou e submeteu a Irlanda e a Escócia. Ao mesmo tempo, no campo econômico, promoveu uma “fusão revolucionária” das instituições financeiras holandesas – que eram mais avançadas – com as finanças inglesas, criando o Banco da Inglaterra e um novo sistema de financiamento da dívida publica inglesa, atrelado à Bolsa de Valores e ao sistema de crédito da banca privada. Uma “revolução financeira” que deu à Inglaterra um poder de fogo econômico e militar – em qualquer lugar do mundo – muito superior ao das demais potências europeias.
Foi neste período que Wiliam Petty (1623-1687) – o pai da economia política clássica – escreveu dois ensaios que revolucionaram o pensamento econômico do século XVII: o Tratado sobre Impostos e Contribuições, publicado em 1662, e a Aritmética Política, publicado depois da sua morte, em 1690. No momento em que Petty publicou sua obra, a Inglaterra ainda era uma potência de segunda ordem e se sentia cercada pela Holanda, Espanha e França. Esta era sua preocupação fundamental, quando formulou o conceito de “excedente econômico”, e estabeleceu uma relação direta entre o tamanho deste “excedente” e o poder internacional de cada país.
O que Petty não propôs nem previu foi que a Inglaterra virasse uma potência agressiva, e que seu expansionismo se transformasse num motor fundamental para o próprio crescimento do “excedente interno” da economia inglesa, consagrando uma estratégia desenvolvimentista pioneira na história do capitalismo. Basta dizer que a Inglaterra participou de 110 guerras entre 1650 e 1950, dentro e fora da Europa, e financiou este seu expansionismo bélico, depois da “revolução financeira” de 1690, através da sua “dívida publica”, que cresceu de 17 milhões de libras, em 1690, para 700 milhões em 1800, sem perder, em nenhum momento, a sua “credibilidade” nacional e internacional.
Resumindo e apressando a história, já é possível identificar alguns traços fundamentais e específicos deste “desenvolvimentismo inglês”:
1.O desenvolvimento inglês foi ligado umbilicalmente à expansão do poder internacional da Inglaterra, e esta expansão foi muito importante para o aumento da “produtividade” e do “excedente” da economia inglesa.
2.Neste contexto, pode se entender por que as guerras e a “preparação para a guerra” ocuparam um lugar tão importante no desenho estratégico do desenvolvimentismo do estado e dos capitais ingleses.
3.O expansionismo inglês nunca foi liderado pela indústria ou pela burguesia industrial, e sim pelas suas elites ligadas à terra, às armas e às finanças. i
4.A estratégia de desenvolvimento da Inglaterra seguiu sendo basicamente a mesma, antes e depois da crítica ao mercantilismo, da economia política clássica, e também, antes e depois da “revolução industrial”.
5.O próprio protecionismo de Cromwell manteve-se até o século XIX e só foi abandonado depois que a Inglaterra já era a maior potencia militar e econômica mundial.
6.A finança, a dívida publica e a imposição progressiva da libra como moeda do “território econômico supranacional” da Inglaterra, foram os principais instrumentos de poder responsáveis pelo sucesso internacional do capitalismo inglês.
7.Por fim, o desenvolvimentismo inglês não teria sido o mesmo sem a complementaridade dos EUA, que foi sempre sua principal fronteira de expansão financeira, e depois se transformou no herdeiro direto deste mesmo modelo inglês de desenvolvimento e expansionismo contínuo. Só como ponto de comparação, entre 1783 e 2012, os EUA já fizeram ou participaram de cerca de 85 guerras, ou seja, em média, também uma a cada três anos, como no caso da Inglaterra.
Agora bem: este “desenvolvimentismo inglês” é o único caminho possível de sucesso? Não. Ele pode ser seguido por qualquer país? Também não. De qualquer forma, o importante é entender que este foi o caminho seguido pelas duas maiores potencias liberais da economia capitalista internacional.
i Vide: P.J. Cain and A.G. Hopkins, “British Imperialism, 1688-2000”, Longman, London, 2001
Fonte: http://www.outraspalavras.net/
O Terror da Crise - por Robert Kurz
O TERROR DA CRISE
Como se pretende fazer da Grécia um exemplo
No século XXI as forças do capital já não estão viradas para conquistas territoriais como tem sido dito. Que fariam elas com zonas económicas de terra queimada e populações supérfluas? Isso não significa que o imperialismo tenha acabado. No entanto, já não se trata de impérios e zonas de influência nacionais, mas sim da possibilidade de controlar a globalização enquanto crise. Os limites da valorização do capital devem ser redefinidos como limites de viabilidade para as massas de perdedores; o colapso das economias nacionais, como justaposição controlada de cidades em expansão financiada a crédito e regiões miseráveis abandonadas.
A produção de segurança para os negócios que restam nestas condições exige legitimação ideológica. Aqui calha bem admitir que os filhos abandonados e deserdados do capital não são pessoas melhores, mas caem sobre os seus concidadãos em vez de se virarem contra as suas condições de vida impossíveis. O paradigma do conflito no mundo decadente dos Estados não é a guerra externa, mas sim a guerra interna, com base em divisões étnicas e religiosas. As intervenções policiais globais das forças da ordem do centro capitalista contra os bárbaros da periferia precisam de um fundamento de idealismo democrático.
Esta imagem, naturalmente, foi apenas um instantâneo no processo de dissolução aos solavancos da estrutura da ordem global. Pelo menos desde a crise económica mundial iniciada em 2008 a situação alterou-se de novo no fundamental. Agora os limites da capacidade de financiamento foram atingidos também nos centros ocidentais. Em toda parte se manifestam crises de dívida que anteriormente apenas surgiam nas franjas do mercado global. Com isso está na ordem do dia uma mudança qualitativa na gestão da crise nas metrópoles, que desloca a importância da crise externa para a crise interna. Além das populações incalculáveis nos pátios abandonados das traseiras do capital mundial, também as próprias classes médias estão a ser cada vez mais visadas. O formalismo democrático vazio, que até os fascistas religiosos de diversos matizes reconheceram como princípio configurador do seu delírio, faz valer ainda mais a valorização forçada do capital como sua "base natural" (Marx) quando os seus limites internos são atingidos. A seiva da vida capitalista que é o dinheiro tem de ser desligada passo a passo não apenas aos novos pobres marginalizados, mas também à maioria do "povo soberano" das metrópoles.
Com isto, naturalmente, também se revela a crise de legitimação. Enquanto a NATO, invocando os valores democráticos, bombardeou a Sharia na vizinha Líbia, para as zonas centrais ocidentais da globalização a restrição material do sistema financeiro cambaleante pode para já fazer o papel de caça-bombardeiro. A execução deste imperativo económico em nome da democracia, contra os interesses vitais elementares da maioria do "soberano" formal, parece ter lugar primeiramente na UE porque aqui o constructo monetário do Euro já agudizou a contradição e existe uma instância de intervenção supranacional.
A Grécia, como caso de falência estatal de facto, transformou-se em precedente nas condições de crise globais. Um processo descontrolado mandaria pelos ares o sistema financeiro europeu, ultrapassando as consequências da falência do Lehman Brothers e não só. Mas um processo controlado só é possível se quase toda a população grega for empurrada para abaixo do limiar da pobreza. Desemprego em massa em dimensões novas, miséria profunda para a classe média, colapso da assistência médica e das infraestruturas públicas serão uma realidade. As elites gregas já não conseguem assumir por conta própria a responsabilidade por tal cobrança da lógica do capital. Há necessidade de uma intervenção do imperialismo de crise vinda de fora, assumida por uma troika da Comissão Europeia, do BCE e do FMI; agora já não contra um asilo de pobres do antigo terceiro mundo, mas pela primeira vez contra um país ocidental.
O governo de Merkel arvorou-se em cabecilha da linha dura, que tira as palavras da boca aos gestores, à classe política e mediática e até à camada inferior da raça superior deste país. Com o apoio do ajudante de xerife Sarkozy, nega-se a crise sistémica para fazer o papel de autoproclamado oficial de justiça do "sujeito automático" (Marx). Os gregos, desqualificados como irresponsáveis do ponto de vista capitalista, não devem ser anexados à Disneylândia de Berlim, mas é preciso puxar-lhes as rédeas até eles cuspirem sangue. Esteve mesmo em discussão um comissário alemão para o empréstimo à Grécia, ainda que a maioria da UE se tenha pronunciado contra, com um resto de sentimento de vergonha. O gesto de falsa superioridade resulta da posição provisória da Alemanha como vencedora da crise, porque o rolo compressor da exportação alemã beneficiou dos programas públicos que se espalharam por todo o mundo, da depreciação do Euro por causa da crise da dívida e da imposição interna de salários baixos desde o programa Hartz IV. Esconde-se que o conto de fadas da economia teutónica tem como pressuposto não só a própria dívida também a dos outros, tendo assim de chegar ao fim com a evaporação do poder de compra na recessão europeia e mundial. No entanto, pelo menos sabe-se que se pretende fazer da Grécia um exemplo, que terá de ser aplicado no próprio país se necessário; com esperança no masoquismo social histórico do "soberano" alemão, que já teve sempre dificuldade em funcionar com coragem cívica.
A Grécia também se apresenta como um campo experimental da nova gestão democrática da crise porque aí se pode encontrar como parceira de combate uma revolta juvenil tão isolada como sem perspetivas. Encaixa perfeitamente na imagem que o orçamento do Estado grego seja socialmente reduzido a zero, enquanto o orçamento militar para 2012 quase duplicou em relação ao ano passado. As dívidas relacionadas com isso também devem ser aceites favoravelmente pelos comissários do empréstimo, pois as encomendas de Atenas apesar de tudo constituem 15 por cento das vendas de armamento alemãs. Além disso, também se declarou assim que a máquina do estado de excepção democrático pode apresentar musculatura militar, máquina que apenas neste aspecto pode ser tão pseudo-independente na Grécia como só deverá ser no Afeganistão. Se a coisa realmente aquecer, o terror da crise sob liderança alemã poderá já mostrar do que é capaz. Tratando-se de mais que um magro produto nacional árabe, provavelmente até fará o regime de Assad parecer fraquinho.
Por agora, a classe política grega tem de regatear um pouco os termos da rendição e fingir alguma resistência para manter a custo a face reconhecível. A vontade do eleitorado já não sabe o que há-de querer e todo o sistema de partidos se desmantela também exemplarmente. O surto nacionalista convém aos gestores pós-nacionais da crise e pode servir como válvula de escape tanto mais quanto apenas digere a falência por assim dizer de modo adequado ao caso. A simples raiva anti-alemã dos gregos passa ao lado dos chauvinistas alemães da exportação, porque o pogrom que se aproxima dirige-se realmente contra os refugiados albaneses e africanos ou outros migrantes, como se viu há muito na prática na Grécia e não só. Também neste ponto a Alemanha, com serial killers neo-nazis mimados pela Stasi democrática, tem perfeitas qualidades de liderança para oferecer a toda a Europa.
Original NOTSTANDSTERROR in www.exit-online.org. Publicado em Konkret, 03/2012.
http://obeco.planetaclix.pt/
http://www.exit-online.org/
quinta-feira, 26 de abril de 2012
O que o capitalismo proporciona - por Richard D. Wolff
O que o capitalismo proporciona
A maior parte dos presidentes atravessam um ou mais períodos económicos maus (recessões, depressões, crises, etc). Todo presidente desde pelo menos Franklin Dellano Roosevelt gerou um "programa" para responder ao período mau – tal como era pedido pelos cidadãos e os negócios. FDR e todo presidente posterior prometiam que o seu programa iria "não só livrar os EUA das perturbações económicas actuais como também garantiria que nem nós nem os nossos filhos precisarão enfrentar tais períodos maus no futuro". Obama foi apenas o mais recente a dizer isso.
Nenhum presidente foi capaz de manter tal promessa. A actual crise capitalista, agora a meio caminho no seu quinto ano sem fim à vista, prova que o impedir de futuros períodos de baixa capitalista iludiu todo presidente do passado e todos os seus prestigiosos e bem pagos conselheiros económicos. Uma vez que o programa do presidente Obama não é basicamente diferente os anteriores programas presidenciais, não há razão para esperar que ele tenha êxito.
O fracasso em impedir crises capitalistas condenou milhões dos nossos companheiros cidadãos a repetidas devastações de perdas de empregos, benefícios e segurança além de lares arrestados e perspectivas negras para os nossos filhos. Os custos familiares e económicos do fracasso em lidar com crises capitalistas são estarrecedores. Hoje dezenas de milhões de americanos ou não têm trabalho ou devem aceitar empregos em tempo parcial quando precisam e querem trabalho a tempo inteiro. De acordo com o governo dos EUA, aproximadamente 30 por cento das ferramentas, equipamentos, fábricas, escritórios, espaço comercial e matérias-primas permanecem ociosos. Este sistema capitalista priva-nos da produção e riqueza que podia ser produzida se os empregos negados ao povo fossem combinados com os meios de produção ociosos.
Essa produção poderia reconstruir nossas indústrias e cidades, poderia convertê-las em instituições ambientalmente respeitáveis e poderia aliviar a pobreza nos EUA e mais além. Se empregados, aqueles agora sem empregos podiam ter vidas melhores, manterem seus lares e serem produtivos. Todos nós poderíamos beneficiar-nos enormemente se não fosse o fracasso abjecto do capitalismo para combinar as pessoas que querem trabalhar com meios de produção não utilizados para o que precisamos.
O problema básico tão pouco tem a ver com políticas e programas governamentais. Afinal de contas, os principais partidos políticos, os políticos, lobistas e seus aliados nos media e na academia cantam todos em uníssono para celebrar o capitalismo. Eles têm insistido ao longo dos últimos cinquenta anos em que a crítica o capitalismo, não importa quão fraco seja o seu desempenho, era tola, sem fundamento, absurda, desleal ou pior. A sua lenga lenga tem sido "o capitalismo cumpre as promessas" ("capitalism delivers the goods").
Por trás da cobertura protectora de uma proibição da crítica quase total, o sistema capitalista estado-unidense deteriorou-se (o resultado habitual quando é proscrita a crítica pública de uma instituição social). Desde o desencadeamento desta crise em 2007, o capitalismo tem estado a "proporcionar dificuldades" à maior parte de nós. Ele ameaça de modo crescente proporcionar dificuldades ainda piores nos anos pela frente. Promotores acríticos do capitalismo estão agora a pressionar o governo a reduzir serviços públicos exactamente quando a massa de americanos os necessita mais do que nunca. O seu slogan e programa básico insistem: "recuperação" económica para poucos e austeridade para muitos.
Nas décadas de 1950 e 1960, o escalão de rendimento individual que tributava os americanos mais ricos era de 91%, ao passo que hoje é de 35%. Em 1977, o imposto que as pessoas pagavam sobre "ganhos de capital" (ao venderem activos como acções e títulos a preços superiores aos pagos por eles) era de 40%. Hoje aquela taxa é de 15%. A massa do povo nunca desfrutou de cortes fiscais tão maciços. Estes cortes fizeram os ricos ainda mais ricos enquanto forçavam o governo a tomar dinheiro emprestado para substituir o que já não podia ser obtido através dos impostos sobre os ricos. Como é grotesco que os ricos agora utilizem dívidas do governo como desculpa para eliminar serviços públicos para a massa dos americanos!
A solução para crises capitalistas como aquela que hoje nos aflige não é que o presidente promova outro programa de reformas, regulamentações, estímulos económicos e orçamentos deficitários. Já passámos por isso e já o fizemos. Isso nunca funcionou para impedir este sistema económico de condenar o povo a "tempos difíceis" infindavelmente repetidos. Há muito que se deve sujeitar o capitalismo à crítica séria, aberta e pública e debater o que nunca deveria ter sido reprimido. Precisamos examinar se e como os EUA podem fazer algo melhor do que o capitalismo.
Os sistemas económicos nascem, evoluem no tempo e morrem – como todas as instituições humanas. Em resultado do fim da escravidão e do feudalismo, nasceu o capitalismo. Ele prometia, nas palavras dos revolucionários franceses, "liberdade, igualdade e fraternidade". Fez alguns progressos genuínos rumo àqueles objectivos. Contudo, também ergueu alguns graves obstáculos para alguma vez alcançá-los. O principal deles foi a organização da produção no interior das empresas capitalistas.
Nas empresas corporativas capitalistas que hoje dominam a economia, os seus grandes accionistas e os conselhos de administração que eles seleccionam estão na não democrática posição exclusiva de tomarem todas as decisões chave. Os grandes accionistas e conselhos de administração constituem uma pequena minoria daqueles directamente ligados a empresas capitalistas. A maioria são os trabalhadores das empresas e as populações de comunidades dependentes das mesmas. Mas as decisões da minoria (acerca do que, como e onde produzir e o que fazer com os lucros) impactam a maioria – incluindo provocar crises – sem permitir à maioria qualquer papel directo na tomada de tais decisões. É então dificilmente surpreendente que a minoria exija e esteja em posição de tomar para si própria a riqueza e a fatia de rendimento do leão. Ela igualmente compra o controle da política a fim de impedir a maioria de utilizar o governo para rectificar as suas desvantagens e privações económicas. Eis porque agora temos salvamentos governamentais para os ricos e austeridade para o resto de nós.
A menos que a sociedade se movimente para além da organização capitalista da produção, as crises económicas continuarão a acontecer e a gerar falsas promessas de políticos de que as impedirão. É ingénuo esperar que a minoria responsável por um sistema que para ela ainda funciona bem democratize a economia e a política. Esta é a tarefa central dos 99%.
[*] Professor emérito da Universidade de Massachusetts-Amherst e professor visitante no Programa de Graduação em Assuntos Internacionais da New School University, Nova Yok. Autor de New Departures in Marxian Theory (Routledge, 2006) e do filme documentário Capitalism Hits the Fan, www.capitalismhitsthefan.com . Sítio web: www.rdwolff.com .
O original encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/2012/wolff160412.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
terça-feira, 24 de abril de 2012
A incrível hipótese do Jihad ferroviário - Por Rogério Centofanti
A incrível hipótese do Jihad ferroviário
Para membros do governo paulista e CPTM, trabalhadores que morreram em acidentes de trem podem ter praticado “sabotagem”…
Participei no início do mês passado, na condição de representante do Sindicato dos Ferroviários de Trens de Passageiros da Sorocabana – SINFERP -, de um programa de rádio em Osasco (SP), com feitio de roda viva. No centro da roda, fui bombardeado por questões sobre transporte de pessoas sobre trilhos em São Paulo, em especial na CPTM.
Foi muito bom, pois animado por condutores inteligentes, sérios, e dotados de uma competência cada dia mais rara: a indignação.A pergunta mais provocativa veio logo de início, e foi mais ou menos a seguinte: “Você não acha que há excesso de problemas justamente em ano eleitoral?”.
Sei que o jornalista nem mesmo acredita no que perguntou, mas valeu como provocação, e serviu para que eu começasse a preparar-me para lidar com a nova-velha “tendência”.
Respondi, com humor habitual, mais ou menos o seguinte:
Quando da morte de cinco ferroviários, e a imediata sentença de que eram culpados pela própria morte, decretada pela CPTM, não encontrei outra razão para tamanho nonsense do que imaginar que a empresa estivesse repleta de suicidas.
Divaguei, também, sobre a possibilidade de maquinistas homicidas, que saiam pelas linhas caçando colegas desatentos. Talvez uma relação sadomasoquista entre eles.
Agora, disse, você insinua a velha e famosa suspeita de que possam estar eventualmente praticando sabotagem, com o intuito de desestabilizar o governo de plantão. Esse apelo foi comum à época que a CPTM foi presidida por um carioca absolutamente desconhecido no meio metroferroviário paulista. Tudo, absolutamente tudo o que acontecia de errado na empresa, era depositado na vala comum da sabotagem.
Nem mesmo vandalismo – mas sabotagem.
Vandalismo, eu disse, significa apontar o dedo na direção de uma população difusa. Sabotagem, entretanto, pressupõe o ato intencional de produzir um dano e, nesse sentido, aponta de forma direta para uma pessoa ou grupo de pessoas com interesse bem definido quanto aos resultados de suas ações.
Não disse tudo isso exatamente com estas palavras, mas como o programa foi gravado, posso assegurar ao menos o espírito das colocações.
Pois bem: passado um mês dessa participação, e não é que CPTM e secretário dos Transportes Metropolitanos aparecem com suspeita de sabotagem – pelo excesso de coincidência de falhas – sobre o que pode ser devido a atos de vandalismo, ou falhas mesmo? Claro que, cautelosos, falam em “indícios”, mas plantam um clima de suspeição grave, e que recai de forma difusa sobre todos que, teoricamente, possam tirar algum proveito de problemas na empresa, tais como falhas ou mesmo acidentes.
Nessa medida, saem do corner em que estão acuados diante de pressões da opinião pública, e correm para o banco das vítimas. “Não somos nós, mas os sabotadores”. Esse era o desejo do emprego do termo, ao menos no passado.
A mera suspeita tornada pública é extremamente grave, e não pode ser lançada ao vento de modo indiscriminado. Motivo? Gera pânico, e de forma inconsequente. A simples suspeita é motivo para envolver setores especializados em investigações criminais – uma vez que se fala em crime -, encontrar os culpados e trazê-los a luz.
O sindicato nunca teve prática nem mesmo assemelhada.
Disse que foram removidos os sensores de descarrilamento dos trens novos, e foram. Disse que maquinistas eram obrigados a desligar o sistema automático de velocidade de bordo, e eram. Disse que algumas vezes os trens “sumiam” dos monitores dos controladores do CCO, e sumiam. Disse que havia problema em rede aérea e em subestações de energia, e agora estão sendo corrigidos. Diz ainda hoje que há problemas com sistema de sinalização e comunicação. Diz que é um equívoco deixar manutenção de trens aos cuidados de empresas terceirizadas. Diz que é arriscado reduzir o intervalo entre trens com as práticas e problemas acima apontados. O sindicato diz onde estão os problemas da empresa, e que podem redundar em falhas e acidentes. Não os inventa, e tampouco os cria. Apenas os aponta.
Fonte: http://rede.outraspalavras.net/pontodecultura/
segunda-feira, 23 de abril de 2012
1 ANO DE FANZINADA (COMEMORAÇÃO DO DIA INTERNACIONAL DO FANZINE) - 28.04.2012
1 ANO DE FANZINADA (COMEMORAÇÃO DO DIA INTERNACIONAL DO FANZINE)
Não há como negar! Os fanzines estão de volta!
Desde que comecei a me envolver na cena Underground e perceber que os fanzines eram a melhor ferramenta e meio de se comunicar e ter contato com outras pessoas de regiões. Com um certo tempo vi a falta que este canal de comunicação estava ficando caindo devido ao advento da internet e seus blogs, fotologs, comunidades e afins (não irei entrar neste merito de discusão sobre a internet x zine impresso).
Algumas pessoas que tenho dito ultimamente serem os "guerreiros do fanzine" estão ai para darem suas contribuições e cada vez mais agitar o underground com eventos, documentarios, anuarios que retratam o universo do fanzine e o fanzineiro.
Nestes formatos de difundir cada vez mais os fanzines para a massa, o FANZINADA surgiu para reunir cada vez mais a galera em eventos que os reunam, mesmo com universos diferentes porém com os mesmos propositos de desenhar, recortar, colar, escrever, xerocar, imprimir e distribuir.
Com um ano de ativdades o FANZINADA, que tem como mentoras a Thina Curtis e Fernanda Aragão, no dia 28/04 irá promover não apenas uma festa em comemoração ao Dia Internacional do Fanzine, mas também 1 ano de Fanzinada. Um ótimo momento de encontrar os novos e velhos zineiros.
Programação:
16h30: Bate-papo e lançamento do Livro "Câmera lenta" de Cristiano Onofre (RJ) e "Poesia Hardcore" de Eduardo Febo (SP). Palestra/ Bate-Papo com os escritores sobre Literatura Marginal.
18hs: Exibição do 2º Capitulo do Documentario: Fanzineiros do Seculo Passado - O Fanzine a serviço do Rock. Os fanzineiros desse século e os estimulos para produção impressa. (Doc. de Márcio Sno)
Durante todo o evento irá rolar exposições de
Ilustrações de Goma, "Tempo Seco", de Cledson Bauhaus, "Fabrica de Devaneios", e de Raven Ravenna, "Obscurarte".
Lançamentodo dos fanzines SPELL WORK #09 de Thina Curtis, LIVRO LINGUA CRÔNICA de Fernanda Aragão e o II ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES INDEPENDENTES da Ugra Press.
Todos os presentes irão tr a oportunidade de participar da produção coletiva de um fanzine. Todas as tecnicas, caracteristicas, assuntos serão incorporados na produção deste zine que marcará a data de 2 comemorações.
Portanto, compareça.
LOCAL:
Atelier Letra Corrida.
R.Vitor Dubugras, 44 - Vila Mariana/SP (proximo ao metro Vl. Mariana)
letracorrida.com.br
INFORMAÇÕES:
oficinadefanzine@gmail.com
fanzinada.com.br
Fonte: http://arttilldeath.blogspot.com.br/
Não há como negar! Os fanzines estão de volta!
Desde que comecei a me envolver na cena Underground e perceber que os fanzines eram a melhor ferramenta e meio de se comunicar e ter contato com outras pessoas de regiões. Com um certo tempo vi a falta que este canal de comunicação estava ficando caindo devido ao advento da internet e seus blogs, fotologs, comunidades e afins (não irei entrar neste merito de discusão sobre a internet x zine impresso).
Algumas pessoas que tenho dito ultimamente serem os "guerreiros do fanzine" estão ai para darem suas contribuições e cada vez mais agitar o underground com eventos, documentarios, anuarios que retratam o universo do fanzine e o fanzineiro.
Nestes formatos de difundir cada vez mais os fanzines para a massa, o FANZINADA surgiu para reunir cada vez mais a galera em eventos que os reunam, mesmo com universos diferentes porém com os mesmos propositos de desenhar, recortar, colar, escrever, xerocar, imprimir e distribuir.
Com um ano de ativdades o FANZINADA, que tem como mentoras a Thina Curtis e Fernanda Aragão, no dia 28/04 irá promover não apenas uma festa em comemoração ao Dia Internacional do Fanzine, mas também 1 ano de Fanzinada. Um ótimo momento de encontrar os novos e velhos zineiros.
Programação:
16h30: Bate-papo e lançamento do Livro "Câmera lenta" de Cristiano Onofre (RJ) e "Poesia Hardcore" de Eduardo Febo (SP). Palestra/ Bate-Papo com os escritores sobre Literatura Marginal.
18hs: Exibição do 2º Capitulo do Documentario: Fanzineiros do Seculo Passado - O Fanzine a serviço do Rock. Os fanzineiros desse século e os estimulos para produção impressa. (Doc. de Márcio Sno)
Durante todo o evento irá rolar exposições de
Ilustrações de Goma, "Tempo Seco", de Cledson Bauhaus, "Fabrica de Devaneios", e de Raven Ravenna, "Obscurarte".
Lançamentodo dos fanzines SPELL WORK #09 de Thina Curtis, LIVRO LINGUA CRÔNICA de Fernanda Aragão e o II ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES INDEPENDENTES da Ugra Press.
Todos os presentes irão tr a oportunidade de participar da produção coletiva de um fanzine. Todas as tecnicas, caracteristicas, assuntos serão incorporados na produção deste zine que marcará a data de 2 comemorações.
Portanto, compareça.
LOCAL:
Atelier Letra Corrida.
R.Vitor Dubugras, 44 - Vila Mariana/SP (proximo ao metro Vl. Mariana)
letracorrida.com.br
INFORMAÇÕES:
oficinadefanzine@gmail.com
fanzinada.com.br
Fonte: http://arttilldeath.blogspot.com.br/
FBI apreende servidor de coletivo técnico anticapitalista - por Riseup Network
FBI apreende servidor de coletivo técnico anticapitalistaO coletivo Riseup teve um servidor apreendido pelas Autoridades Federais dos Estados Unidos. Essa é a tradução da nota à imprensa. Por Riseup Network
Na tarde da quarta-feira, 18 de abril, agentes da polícia federal estadunidense, o FBI, através de um mandado de busca, apreenderam a máquina hospedada pelo Coletivo técnico Riseup. A máquina localizava-se num data center compartilhado em Nova Iorque e hospedava sites, contas e listas de e-mails de ativistas, universitários, ativistas de direitos humanos da Europa e, especificamente, da Itália. A polícia buscava informações sobre um remetente de um serviço de e-mail anônimo. Entretanto, nenhum serviço ou dados do Riseup foi afetado pela apreensão. Abaixo a nota oficial divulgada para a imprensa.
PELA LIBERTAÇÃO IMEDIATA
FBI apreende servidor de envio de emails anônimo e muitos outros serviços no espaço de colocation do Riseup [1].
Contatos
Riseup Networks, Devin Theriot-Orr, 206-708-8740, sunbird@riseup.net
May First/People Link, Jamie McClelland, 917-509-5734, jm@mayfirst.org
ECN: Isole Nella Rete, inr@riseup.net
Ataque ao anonimato
Na quarta-feira, 18 de Abril, aproximadamente às 16:00 (EST), as autoridades federais dos Estados Unidos removeram um servidor do colocation compartilhado pelo Riseup Networks e May First/People Link em Nova Iorque. O servidor apreendido era operado pela European Counter Network (“ECN”), o servidor independente de internet mais antigo na Europa, o qual, entre muitas outras coisas, fornecia um serviço de remailer (envio de emails anônimo), Mixmaster, que era alvo de investigação pelo FBI devido às ameaças de bombas contra a Universidade de Pittsburgh.
“A empresa responsável pelo espaço confirmou que o servidor foi removido por meio de um mandato de busca emitido pelo FBI”, disse Jamie McClelland, diretor de May First/People Link. “A apreensão do servidor não é apenas um ataque contra nós, mas um ataque contra todos os usuários da Internet que dependem da comunicação anônima”.
Os atingidos pela apreensão foram acadêmicos, artistas, historiadores, grupos feministas, grupos de direitos gays, centros comunitários, arquivos de softwares e de documentação e grupos de liberdade de expressão. O servidor incluía a lista de email de “cyber rights” (a mais antiga lista de discussão na Itália sobre o assunto), um grupo de solidariedade aos imigrantes mexicanos e outros grupos de solidariedade aos indígenas e trabalhadores da América Latina, Caribe e África. No total, mais de 300 contas de email, de 50 a 80 listas de email e vários outros sites foram tirados do ar por essa ação. Nenhum deles é acusado de estar envolvido nas ameaças anônimas de bombas.
“O FBI está usando de uma abordagem agressiva, fechando o serviço para centenas de usuários por conta das ações de uma única pessoa anônima”, disse Devin Theriot-Orr, um porta-voz do Riseup. “Isso é particularmente equivocado, pois não há qualquer informação no servidor sobre a origem dos emails de ameaça”.
“Nós nos solidarizamos com a comunidade da Universidade de Pittsburgh que teve de enfrentar esta assustadora ameaça por semanas. Nós nos opomos a tais ameaças. No entanto, retirar esse servidor não vai parar com ameaças de bombas. O único efeito que tem é o de paralisar sites e emails para milhares de pessoas sem ligação com o ocorrido”, continua Sr. Theriot-Orr. “Além disso, a rede de remailers anônimos que existe não foi prejudicada pela retirada dessa máquina. Assim, não podemos fazer outra coisa que não imaginar por que uma ação tão drástica foi tomada pelas autoridades quando elas já sabiam que o servidor não continha nenhuma informação útil que poderia auxiliá-las nas investigações”.
O FBI alegadamente apreendeu o servidor porque estava hospedando um software de email anônimo chamado Mixmaster. Remailers anônimos são usados para enviar emails anonimamente ou através de pseudônimos. Assim como outros serviços de anonimato, como a rede Tor, esses remailers são usados majoritariamente para proteger a identidade de ativistas de direitos humanos que colocam suas vidas e suas famílias em grande risco para divulgar informação sobre abusos. Remailers são importantes para quem denuncia empresas, ativistas pró-democracia em regimes repressores e para comunicar informação vital que de outra maneira poderia não ser noticiada.
O software Mixmaster é especificamente desenvolvido para tornar impossível que qualquer um rastreie os emails. O sistema não grava registros (logs) das conexões, nem detalhes de quem enviou as mensagens ou qual rota seguiu pela Internet. Isto porque a rede Mixmaster é especificamente projetada para resistir à censura e apoiar a privacidade e o anonimato. Infelizmente, algumas pessoas fazem mau uso da rede. No entanto, comparado com a taxa do uso legítimo, a utilização abusiva é muito baixa. Não há então nenhuma justificativa legítima para o FBI apreender o servidor, visto que eles não serão capazes de obter nenhuma informação do remetente. Isso é notadamente uma punição extra-judicial e um ataque à liberdade de expressão e ao anonimato na internet e serve como um efeito intimidador aos outros provedores de emails e outros serviços anônimos.
Na ausência de qualquer outra prova, o FBI precisa mostrar que está fazendo progressos no caso; e isto significa apreender um servidor para que eles pudessem orgulhosamente demonstrar que estão tomando alguma ação. Mas o que esse incidente mostra é que eles estão desesperados e dispostos a destruir pessoas inocentes para protegerem suas carreiras.
Sobre as organizações envolvidas
MayFirst/People Link (mayfirst.org) é uma organização política progressista que redefine o conceito de “Provedor de Internet” de maneira coletiva e colaborativa. Os membros do MayFirst/People Link são ativistas que elegem um Comitê de Coordenação para dirigir a organização. Como uma cooperativa, os membros pagam quotas, compram equipamentos e então compartilham-nos com sites, emails, listas de emails e outros serviços ligados à internet.
Riseup Networks (riseup.net) fornece ferramentas para comunicação online a pessoas e grupos que trabalham para a mudança social libertária. Riseup cria alternativas democráticas e práticas de auto-determinação controlando seus próprios meios de comunicação.
ECN (European Counter Network – ecn.org) é um antigo fornecedor independente de serviço de internet na Europa que provê contas gratuitas de email, listas de email e sites para organizações, ativistas e movimentos que estão envolvidos com direitos humanos, liberdade de expressão e informação na Itália e na Europa. ECN é anti-fascista e trabalha por uma sociedade justa e igual. Anos atrás, antes de sites como Youtube e Vimeo existirem, ECN criou uma plataforma chamada NGV onde pessoas podiam publicar e compartilhar videos independentes sobre violação dos direitos humanos. Hoje em dia, ECN trabalha principalmente com movimentos anti-fascistas e anti-nazistas em toda a Europa, fornecendo espaço e recursos para centros sociais e políticos.
Questões / Leia Mais
P: O Mixmaster/emails anônimos permitem que criminosos façam coisas ruins?
R: Os criminosos podem fazer coisas ruins. Desde que eles estejam dispostos a quebrar as leis, eles já tem diversas opções disponíveis que possibilitam maior privacidade que o mixmaster. Eles podem roubar telefones celulares, usá-los e jogá-los no lixo; eles podem invadir computadores na Coreia ou no Brasil e usá-los para atividades criminais; eles podem usar spywares, virus e outras técnicas para controlar literalmente milhões de máquinas com Windows em todo o mundo.
Mixmaster visa prover proteção para pessoas comuns que querem seguir a lei. Apenas os criminosos têm acesso à privacidade agora, e nós precisamos corrigir isso.
Alguns militantes do anonimato explicam que isso é apenas uma compensação – aceitar os maus usos para os bons -, mas há mais do que isso. Os criminosos e outras pessoas más têm a motivação para aprender como conseguir um bom anonimato e muitos têm a motivação para pagar bem para ter acesso. Ser capaz de roubar e reutilizar as identidades das vítimas inocentes (roubo de identidade) torna isso ainda mais fácil. As pessoas normais, por outro lado, não têm tempo ou dinheiro para gastar para descobrir como obter privacidade online. Este é o pior dos mundos possíveis.
Então sim, em teoria criminosos poderiam usar o mixmaster, mas eles já possuem opções melhores e parece improvável que retirar o mixmaster do mundo irá impedi-los de fazer coisas ruins. Ao mesmo tempo, mixmaster e outros meios de privacidade podem lutar contra roubo de identidade, crimes físicos como stalking e assim por diante. Veja a FAQ (Perguntas Frequentes) da rede Tor no item “abuso” para mais informações.
P: Como Mixmaster/ Remailer Anônimo funciona?
R: Remailers anônimos funcionam através da conexão de outras redes de remailers anônimos e cada um nessa rede remove as informações do cabeçalho do email tornando impossível descobrir quem foi o remetente real. O projeto Tor mantém uma lista dos típicos usuários desse serviços e de outros sistemas anônimos, assim como no site do Mixmaster.
[1] Colocation é o espaço físico onde estão localizados os servidores. Para mais detalhes ver wikipedia
Comunicado original disponível aqui.
Tradução por Passa Palavra – passapalavra.info – noticiar as lutas, apoiá-las, pensar sobre elas.
Fonte:http://passapalavra.info/
Na tarde da quarta-feira, 18 de abril, agentes da polícia federal estadunidense, o FBI, através de um mandado de busca, apreenderam a máquina hospedada pelo Coletivo técnico Riseup. A máquina localizava-se num data center compartilhado em Nova Iorque e hospedava sites, contas e listas de e-mails de ativistas, universitários, ativistas de direitos humanos da Europa e, especificamente, da Itália. A polícia buscava informações sobre um remetente de um serviço de e-mail anônimo. Entretanto, nenhum serviço ou dados do Riseup foi afetado pela apreensão. Abaixo a nota oficial divulgada para a imprensa.
PELA LIBERTAÇÃO IMEDIATA
FBI apreende servidor de envio de emails anônimo e muitos outros serviços no espaço de colocation do Riseup [1].
Contatos
Riseup Networks, Devin Theriot-Orr, 206-708-8740, sunbird@riseup.net
May First/People Link, Jamie McClelland, 917-509-5734, jm@mayfirst.org
ECN: Isole Nella Rete, inr@riseup.net
Ataque ao anonimato
Na quarta-feira, 18 de Abril, aproximadamente às 16:00 (EST), as autoridades federais dos Estados Unidos removeram um servidor do colocation compartilhado pelo Riseup Networks e May First/People Link em Nova Iorque. O servidor apreendido era operado pela European Counter Network (“ECN”), o servidor independente de internet mais antigo na Europa, o qual, entre muitas outras coisas, fornecia um serviço de remailer (envio de emails anônimo), Mixmaster, que era alvo de investigação pelo FBI devido às ameaças de bombas contra a Universidade de Pittsburgh.
“A empresa responsável pelo espaço confirmou que o servidor foi removido por meio de um mandato de busca emitido pelo FBI”, disse Jamie McClelland, diretor de May First/People Link. “A apreensão do servidor não é apenas um ataque contra nós, mas um ataque contra todos os usuários da Internet que dependem da comunicação anônima”.
Os atingidos pela apreensão foram acadêmicos, artistas, historiadores, grupos feministas, grupos de direitos gays, centros comunitários, arquivos de softwares e de documentação e grupos de liberdade de expressão. O servidor incluía a lista de email de “cyber rights” (a mais antiga lista de discussão na Itália sobre o assunto), um grupo de solidariedade aos imigrantes mexicanos e outros grupos de solidariedade aos indígenas e trabalhadores da América Latina, Caribe e África. No total, mais de 300 contas de email, de 50 a 80 listas de email e vários outros sites foram tirados do ar por essa ação. Nenhum deles é acusado de estar envolvido nas ameaças anônimas de bombas.
“O FBI está usando de uma abordagem agressiva, fechando o serviço para centenas de usuários por conta das ações de uma única pessoa anônima”, disse Devin Theriot-Orr, um porta-voz do Riseup. “Isso é particularmente equivocado, pois não há qualquer informação no servidor sobre a origem dos emails de ameaça”.
“Nós nos solidarizamos com a comunidade da Universidade de Pittsburgh que teve de enfrentar esta assustadora ameaça por semanas. Nós nos opomos a tais ameaças. No entanto, retirar esse servidor não vai parar com ameaças de bombas. O único efeito que tem é o de paralisar sites e emails para milhares de pessoas sem ligação com o ocorrido”, continua Sr. Theriot-Orr. “Além disso, a rede de remailers anônimos que existe não foi prejudicada pela retirada dessa máquina. Assim, não podemos fazer outra coisa que não imaginar por que uma ação tão drástica foi tomada pelas autoridades quando elas já sabiam que o servidor não continha nenhuma informação útil que poderia auxiliá-las nas investigações”.
O FBI alegadamente apreendeu o servidor porque estava hospedando um software de email anônimo chamado Mixmaster. Remailers anônimos são usados para enviar emails anonimamente ou através de pseudônimos. Assim como outros serviços de anonimato, como a rede Tor, esses remailers são usados majoritariamente para proteger a identidade de ativistas de direitos humanos que colocam suas vidas e suas famílias em grande risco para divulgar informação sobre abusos. Remailers são importantes para quem denuncia empresas, ativistas pró-democracia em regimes repressores e para comunicar informação vital que de outra maneira poderia não ser noticiada.
O software Mixmaster é especificamente desenvolvido para tornar impossível que qualquer um rastreie os emails. O sistema não grava registros (logs) das conexões, nem detalhes de quem enviou as mensagens ou qual rota seguiu pela Internet. Isto porque a rede Mixmaster é especificamente projetada para resistir à censura e apoiar a privacidade e o anonimato. Infelizmente, algumas pessoas fazem mau uso da rede. No entanto, comparado com a taxa do uso legítimo, a utilização abusiva é muito baixa. Não há então nenhuma justificativa legítima para o FBI apreender o servidor, visto que eles não serão capazes de obter nenhuma informação do remetente. Isso é notadamente uma punição extra-judicial e um ataque à liberdade de expressão e ao anonimato na internet e serve como um efeito intimidador aos outros provedores de emails e outros serviços anônimos.
Na ausência de qualquer outra prova, o FBI precisa mostrar que está fazendo progressos no caso; e isto significa apreender um servidor para que eles pudessem orgulhosamente demonstrar que estão tomando alguma ação. Mas o que esse incidente mostra é que eles estão desesperados e dispostos a destruir pessoas inocentes para protegerem suas carreiras.
Sobre as organizações envolvidas
MayFirst/People Link (mayfirst.org) é uma organização política progressista que redefine o conceito de “Provedor de Internet” de maneira coletiva e colaborativa. Os membros do MayFirst/People Link são ativistas que elegem um Comitê de Coordenação para dirigir a organização. Como uma cooperativa, os membros pagam quotas, compram equipamentos e então compartilham-nos com sites, emails, listas de emails e outros serviços ligados à internet.
Riseup Networks (riseup.net) fornece ferramentas para comunicação online a pessoas e grupos que trabalham para a mudança social libertária. Riseup cria alternativas democráticas e práticas de auto-determinação controlando seus próprios meios de comunicação.
ECN (European Counter Network – ecn.org) é um antigo fornecedor independente de serviço de internet na Europa que provê contas gratuitas de email, listas de email e sites para organizações, ativistas e movimentos que estão envolvidos com direitos humanos, liberdade de expressão e informação na Itália e na Europa. ECN é anti-fascista e trabalha por uma sociedade justa e igual. Anos atrás, antes de sites como Youtube e Vimeo existirem, ECN criou uma plataforma chamada NGV onde pessoas podiam publicar e compartilhar videos independentes sobre violação dos direitos humanos. Hoje em dia, ECN trabalha principalmente com movimentos anti-fascistas e anti-nazistas em toda a Europa, fornecendo espaço e recursos para centros sociais e políticos.
Questões / Leia Mais
P: O Mixmaster/emails anônimos permitem que criminosos façam coisas ruins?
R: Os criminosos podem fazer coisas ruins. Desde que eles estejam dispostos a quebrar as leis, eles já tem diversas opções disponíveis que possibilitam maior privacidade que o mixmaster. Eles podem roubar telefones celulares, usá-los e jogá-los no lixo; eles podem invadir computadores na Coreia ou no Brasil e usá-los para atividades criminais; eles podem usar spywares, virus e outras técnicas para controlar literalmente milhões de máquinas com Windows em todo o mundo.
Mixmaster visa prover proteção para pessoas comuns que querem seguir a lei. Apenas os criminosos têm acesso à privacidade agora, e nós precisamos corrigir isso.
Alguns militantes do anonimato explicam que isso é apenas uma compensação – aceitar os maus usos para os bons -, mas há mais do que isso. Os criminosos e outras pessoas más têm a motivação para aprender como conseguir um bom anonimato e muitos têm a motivação para pagar bem para ter acesso. Ser capaz de roubar e reutilizar as identidades das vítimas inocentes (roubo de identidade) torna isso ainda mais fácil. As pessoas normais, por outro lado, não têm tempo ou dinheiro para gastar para descobrir como obter privacidade online. Este é o pior dos mundos possíveis.
Então sim, em teoria criminosos poderiam usar o mixmaster, mas eles já possuem opções melhores e parece improvável que retirar o mixmaster do mundo irá impedi-los de fazer coisas ruins. Ao mesmo tempo, mixmaster e outros meios de privacidade podem lutar contra roubo de identidade, crimes físicos como stalking e assim por diante. Veja a FAQ (Perguntas Frequentes) da rede Tor no item “abuso” para mais informações.
P: Como Mixmaster/ Remailer Anônimo funciona?
R: Remailers anônimos funcionam através da conexão de outras redes de remailers anônimos e cada um nessa rede remove as informações do cabeçalho do email tornando impossível descobrir quem foi o remetente real. O projeto Tor mantém uma lista dos típicos usuários desse serviços e de outros sistemas anônimos, assim como no site do Mixmaster.
[1] Colocation é o espaço físico onde estão localizados os servidores. Para mais detalhes ver wikipedia
Comunicado original disponível aqui.
Tradução por Passa Palavra – passapalavra.info – noticiar as lutas, apoiá-las, pensar sobre elas.
Fonte:http://passapalavra.info/
[Alemanha] Manifestação pela liberdade de Mumia Abu-Jamal reúne centenas de pessoas em Berlim - por ANA
[Alemanha] Manifestação pela liberdade de Mumia Abu-Jamal reúne centenas de pessoas em BerlimCentenas de pessoas fizeram um ato público alegre e barulhento neste sábado (21) pela liberdade do jornalista radical e preso político afro-americano Mumia Abu-Jamal nas proximidades da Embaixada dos Estados Unidos no Portão de Brandemburgo, em Berlim.
Com faixas, panfletos e um carro de som os manifestantes também pediram a abolição da pena de morte, o fim do encarceramento em massa e a libertação dos presos políticos nos Estados Unidos e em todo lugar.
O evento contou com a participação do afro-americano Harold Wilson, que viajou até Berlim para falar sobre suas experiências no corredor da morte, o significado político da pena de morte nos Estados Unidos, das lutas dos presos para sobreviver às condições carcerárias, do racismo no judiciário estadunidense e como ganhou a sua liberdade em 2005. Harold passou muitos anos no corredor da morte com Mumia, na Pensilvânia.
Reportagem fotográfica:
› http://www.flickr.com/photos/neukoellnbild/sets/72157629504005496/
Envie uma carta ou postal para Mumia Abu-Jamal:
Mumia Abu-Jamal
#AM 8335
SCI Mahanoy
301 Morea Road
Frackville, PA 17932
USA
Notícia relacionada:
› http://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2012/04/16/big-brother-legalizado-nos-eua-entrevista-exclusiva-de-mumia-abu-jamal-a-rt/
agência de notícias anarquistas-ana
Nem uma brisa:
o gosto de sol quente
nas framboesas
Betty Drevniok
Com faixas, panfletos e um carro de som os manifestantes também pediram a abolição da pena de morte, o fim do encarceramento em massa e a libertação dos presos políticos nos Estados Unidos e em todo lugar.
O evento contou com a participação do afro-americano Harold Wilson, que viajou até Berlim para falar sobre suas experiências no corredor da morte, o significado político da pena de morte nos Estados Unidos, das lutas dos presos para sobreviver às condições carcerárias, do racismo no judiciário estadunidense e como ganhou a sua liberdade em 2005. Harold passou muitos anos no corredor da morte com Mumia, na Pensilvânia.
Reportagem fotográfica:
› http://www.flickr.com/photos/neukoellnbild/sets/72157629504005496/
Envie uma carta ou postal para Mumia Abu-Jamal:
Mumia Abu-Jamal
#AM 8335
SCI Mahanoy
301 Morea Road
Frackville, PA 17932
USA
Notícia relacionada:
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agência de notícias anarquistas-ana
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sábado, 21 de abril de 2012
Encontro de estudantes libertários acontece entre 27 de abril e 1º de maio, em São Paulo - por ANA
Encontro de estudantes libertários acontece entre 27 de abril e 1º de maio, em São PauloO II Encontro de Estudantes Libertários acontecerá entre os dias 27 de abril e 1˚ de maio, na Universidade de São Paulo (USP), campus Butantã, em São Paulo. O Encontro terá como tema central: “Organização Libertária para o Movimento Estudantil”. O evento contará com uma vasta programação, indo de discussões com vários temas, oficinas, teatro, exibições de filmes...
Mais informações e programação completa do evento podem ser obtidas no blog do Encontro, através do endereço https://eel.milharal.org/.
agência de notícias anarquistas-ana
branco dos ipês
caem letras trêmulas
tecendo versos
Paladino
Mais informações e programação completa do evento podem ser obtidas no blog do Encontro, através do endereço https://eel.milharal.org/.
agência de notícias anarquistas-ana
branco dos ipês
caem letras trêmulas
tecendo versos
Paladino
No Afeganistão, os EUA à beira do adeus - por Immanuel Wallerstein
No Afeganistão, os EUA à beira do adeusImmanuel Wallerstein: guerra tornou-se insustentável e retirada quase certa diz algo sobre atual isolamento de Washington
Os dois candidatos para a presidência dos Estados Unidos parecem estar tentao ndo falar um mais alto que o outro, no que diz respeito ao Irã, Síria e Israel/Palestina. Cada um alega que está fazendo mais para apoiar os mesmos objetivos. Não é estranho que não exista a mesma competição verbal sobre o Afeganistão?
As coisas mudaram há pouco. Durante muito tempo, Democratas e Republicanos disputaram quem era mais macho do Afeganistão? Lembre-se de que o conceito de uma “ofensiva”, capaz de ganhar a guerra foi endossado pelo presidente Obama, em seu discurso na Academia Militar, em dezembro de 2009. De repente, desde março de 2012, parece que isso se tornou um assunto sobre o qual ninguém quer se posicionar de forma aberta.forxistem algumas explicações simples. Os Estados Unidos têm pouco para mostrar, na guerra mais longa em que já se envolveram. O inimigo, o Talibã, é uma força de enorme resilência, principalmente nas áreas Pashtun, a maior zona étnica do país.
Os Estados Unidos impuseram, de forma mais ou menos solitária, o presidente Hamid Karzai – um pashtun, não aliado ao Talibã. Karzai não foi, e não é, bem aceito pelos líderes de várias outras zonas étnicas no norte e oeste do país, que tentaram retirá-lo do poder. Esses outros grupos têm apoio de potências externas: Rússia, Irã e Índia, todos tão dispostos quanto os Estados Unidos a evitar que o Talibã volte ao poder. Mas os Estados Unidos não vão trabalhar com o Irã, têm dúvidas quanto a trabalhar com a Rússia e não parecem estar dispostos a coordenarem-se com a Índia.
Em fevereiro de 2012, alguns exemplares do Alcorão foram queimados por soldados norte-americanos, o que levou a violentos protestos públicos no Afeganistão. Então, 16 crianças, mulheres e homens afegãos foram massacrados por um soldado americano. Os Estados Unidos desculparam-se por ambos os atos, mas isso não acalmou a tempestade. Em 18 de março, o presidente Karzai denunciou os americanos no Afeganistão como “demônios”, envolvidos em “atos satânicos”. Ele disse que o Afeganistão estava rodeado por dois demônios – o Talibã e os americanos.
O New York Times citou um diplomata europeu anônimo dizendo “nunca na história, uma superpotência gastou tanto dinheiro, enviou tantas tropas para um país, e teve tão pouca influência sobre o que o presidente desse país faz e fala”.
Os Estados Unidos, tentando salvar sua posição, começaram a se retirar. O secretário de Defesa, Leon Panetta, já tinha dito em fevereiro que o país sairia de uma posição de combate não no fim de 2014, como era planejado, mas em meados de 2013. No começo de abril, Washington foi além. Anunciou que estava entregando o controle de operações especiais – por exemplo, uso de aviões não-tripulados (drones) e ataques noturnos – para as forças afegãs. As tropas americanas exerceriam agora apenas um papel de apoio”.
O ministro das relações exteriores do Afeganistão, Zalmai Rassoul, não pareceu agradecido. Ele anunciou que, uma vez que as tropas dos EUA e da OTAN saíssem do país, em 2014, Kabul não iria permitir que seu território fosse base de lançamento para ataques de drones contra o Paquistão.
Os paquistaneses, então, desferiram outro golpe contra os Estados Unidos. Em 12 de abril, o parlamento aprovou de forma “unânime” uma lista de condições para melhorar as relações entre os dois países e reabrir a rota de suprimentos da OTAN no Afeganistão. Eles incluíram um fim aos ataques de drones no território do Paquistão e um pedido de “desculpa incondicional” pela morte de 24 soldados paquistaneses no ataque aéreo da OTAN em novembro de 2011. Os EUA resistem a essas condições. Mas dado que agora é evidente a divergência entre os objetivos políticos americanos e paquistaneses no Afeganistão, não fica claro se Washington poderá prevalecer.
Então, em 14 de abril, Lawrence Korb, que foi assistente do secretário da Defesa no governo Reagan, publicou um artigo intitulado “Hora de deixar que Karzai nos bote para fora”. Korb argumentou que os Estados Unidos são, desde 1945, “muito melhores em começar guerras do que em acabá-las satisfatoriamente”. Ele chamou atenção para o que considerava uma perda desnecessária de vidas, nos dois últimos dois das guerras da Coreia e do Vietnam.
Segundo ele, a exceção é o Iraque, em que os Estados Unidos se retiraram por que “o primeiro-ministro iraquiano, Nouri Al-Malik, não nos deixou escolha”. Ele diz: “no Iraque, o governo dos EUA deu sorte”. Sua conclusão: ”assim como Al-Maliki nos forçou a fazer a coisa certa, deveríamos permitir que Karzai tome o controle de seu próprio país tão cedo quanto ele quiser”. Korb é um analista republicano conservador, que vê máxima vantagem no fato de os Estados Unidos serem forçados a sair do Afeganistão assim que possível.
Korb não está sozinho. Uma pesquisa do Washington Post / ABC News, publicada em 12 de abril, mostra que apenas 30% da população concorda que a guerra tem valido a pena. Ainda mais impressionante: pela primeira vez, uma maioria de republicanos opõe-se ao conflito. Duas coisas influenciam a opinião pública estadunidense. Primeiro, os afegãos não parecem solidários com os esforços ou perdas militares dos EUA. Muito pelo contrário. Em segundo lugar, os custos da guerra no Afeganistão são astronômicos nesse momento, quando os Estados Unidos, e principalmente os republicanos conservadores, estão tentando reduzir gastos drasticamente.
Minha previsão: sem alardes, mas com certeza, o presidente Obama irá seguir o conselho de Korb.
Tradução: Daniela Frabasile
Fonte: http://www.outraspalavras.net/
Os dois candidatos para a presidência dos Estados Unidos parecem estar tentao ndo falar um mais alto que o outro, no que diz respeito ao Irã, Síria e Israel/Palestina. Cada um alega que está fazendo mais para apoiar os mesmos objetivos. Não é estranho que não exista a mesma competição verbal sobre o Afeganistão?
As coisas mudaram há pouco. Durante muito tempo, Democratas e Republicanos disputaram quem era mais macho do Afeganistão? Lembre-se de que o conceito de uma “ofensiva”, capaz de ganhar a guerra foi endossado pelo presidente Obama, em seu discurso na Academia Militar, em dezembro de 2009. De repente, desde março de 2012, parece que isso se tornou um assunto sobre o qual ninguém quer se posicionar de forma aberta.forxistem algumas explicações simples. Os Estados Unidos têm pouco para mostrar, na guerra mais longa em que já se envolveram. O inimigo, o Talibã, é uma força de enorme resilência, principalmente nas áreas Pashtun, a maior zona étnica do país.
Os Estados Unidos impuseram, de forma mais ou menos solitária, o presidente Hamid Karzai – um pashtun, não aliado ao Talibã. Karzai não foi, e não é, bem aceito pelos líderes de várias outras zonas étnicas no norte e oeste do país, que tentaram retirá-lo do poder. Esses outros grupos têm apoio de potências externas: Rússia, Irã e Índia, todos tão dispostos quanto os Estados Unidos a evitar que o Talibã volte ao poder. Mas os Estados Unidos não vão trabalhar com o Irã, têm dúvidas quanto a trabalhar com a Rússia e não parecem estar dispostos a coordenarem-se com a Índia.
Em fevereiro de 2012, alguns exemplares do Alcorão foram queimados por soldados norte-americanos, o que levou a violentos protestos públicos no Afeganistão. Então, 16 crianças, mulheres e homens afegãos foram massacrados por um soldado americano. Os Estados Unidos desculparam-se por ambos os atos, mas isso não acalmou a tempestade. Em 18 de março, o presidente Karzai denunciou os americanos no Afeganistão como “demônios”, envolvidos em “atos satânicos”. Ele disse que o Afeganistão estava rodeado por dois demônios – o Talibã e os americanos.
O New York Times citou um diplomata europeu anônimo dizendo “nunca na história, uma superpotência gastou tanto dinheiro, enviou tantas tropas para um país, e teve tão pouca influência sobre o que o presidente desse país faz e fala”.
Os Estados Unidos, tentando salvar sua posição, começaram a se retirar. O secretário de Defesa, Leon Panetta, já tinha dito em fevereiro que o país sairia de uma posição de combate não no fim de 2014, como era planejado, mas em meados de 2013. No começo de abril, Washington foi além. Anunciou que estava entregando o controle de operações especiais – por exemplo, uso de aviões não-tripulados (drones) e ataques noturnos – para as forças afegãs. As tropas americanas exerceriam agora apenas um papel de apoio”.
O ministro das relações exteriores do Afeganistão, Zalmai Rassoul, não pareceu agradecido. Ele anunciou que, uma vez que as tropas dos EUA e da OTAN saíssem do país, em 2014, Kabul não iria permitir que seu território fosse base de lançamento para ataques de drones contra o Paquistão.
Os paquistaneses, então, desferiram outro golpe contra os Estados Unidos. Em 12 de abril, o parlamento aprovou de forma “unânime” uma lista de condições para melhorar as relações entre os dois países e reabrir a rota de suprimentos da OTAN no Afeganistão. Eles incluíram um fim aos ataques de drones no território do Paquistão e um pedido de “desculpa incondicional” pela morte de 24 soldados paquistaneses no ataque aéreo da OTAN em novembro de 2011. Os EUA resistem a essas condições. Mas dado que agora é evidente a divergência entre os objetivos políticos americanos e paquistaneses no Afeganistão, não fica claro se Washington poderá prevalecer.
Então, em 14 de abril, Lawrence Korb, que foi assistente do secretário da Defesa no governo Reagan, publicou um artigo intitulado “Hora de deixar que Karzai nos bote para fora”. Korb argumentou que os Estados Unidos são, desde 1945, “muito melhores em começar guerras do que em acabá-las satisfatoriamente”. Ele chamou atenção para o que considerava uma perda desnecessária de vidas, nos dois últimos dois das guerras da Coreia e do Vietnam.
Segundo ele, a exceção é o Iraque, em que os Estados Unidos se retiraram por que “o primeiro-ministro iraquiano, Nouri Al-Malik, não nos deixou escolha”. Ele diz: “no Iraque, o governo dos EUA deu sorte”. Sua conclusão: ”assim como Al-Maliki nos forçou a fazer a coisa certa, deveríamos permitir que Karzai tome o controle de seu próprio país tão cedo quanto ele quiser”. Korb é um analista republicano conservador, que vê máxima vantagem no fato de os Estados Unidos serem forçados a sair do Afeganistão assim que possível.
Korb não está sozinho. Uma pesquisa do Washington Post / ABC News, publicada em 12 de abril, mostra que apenas 30% da população concorda que a guerra tem valido a pena. Ainda mais impressionante: pela primeira vez, uma maioria de republicanos opõe-se ao conflito. Duas coisas influenciam a opinião pública estadunidense. Primeiro, os afegãos não parecem solidários com os esforços ou perdas militares dos EUA. Muito pelo contrário. Em segundo lugar, os custos da guerra no Afeganistão são astronômicos nesse momento, quando os Estados Unidos, e principalmente os republicanos conservadores, estão tentando reduzir gastos drasticamente.
Minha previsão: sem alardes, mas com certeza, o presidente Obama irá seguir o conselho de Korb.
Tradução: Daniela Frabasile
Fonte: http://www.outraspalavras.net/
sexta-feira, 20 de abril de 2012
EUA: Garoto que luta contra a leucemia doa suas economias para Associação Protetora de Animais - Por Graziella Belliato
EUA: Garoto que luta contra a leucemia doa suas economias para Associação Protetora de Animais
O jovem havia economizado para uma viagem, mas pensou que os animais precisavam mais do que ele. As informações são da IgualdadAnimal.Foto: Reprodução/IgualdadAnimal
Ian Himmelstein, um garoto de 8 anos que está lutando contra a leucemia, decidiu doar todas as suas economias à Sociedade Protetora de Animais do Condado de Suffolk, nos EUA, transformando-se, segundo a imprensa internacional, em um “herói dos animais”.
Apesar de estar vivendo uma situação muito difícil, em pleno tratamento de quimioterapia, Ian afirma que os animais necessitam desse dinheiro mais que ele próprio: “Tenho guardado dinheiro para uma viagem por causa do meu câncer, mas pensei que os animais necessitavam muito mais do que eu”.
No outono passado, Ian foi atacado e ferido pelo cachorro de um vizinho, mas, apesar disso, o garoto disse que seu amor pelos animais não mudou. “Eu adoro os cachorros, só não gosto daquele cachorro”, disse Ian.
Roy Gross, chefe da Sociedade Protetora à qual Ian doou seu dinheiro, afirma sentir-se profundamente tocado por saber que um garoto possa sentir tamanha paixão pelos animais, chegando a ter um gesto tão solidário e compassivo. Segundo ele: “Ian é um jovem maravilhoso”.
Parte da doação de Ian será utilizada de imediato para ajudar um abrigo criado para animais que, após um incêndio, ficaram sem lar.
Fonte: http://www.anda.jor.br/
O jovem havia economizado para uma viagem, mas pensou que os animais precisavam mais do que ele. As informações são da IgualdadAnimal.Foto: Reprodução/IgualdadAnimal
Ian Himmelstein, um garoto de 8 anos que está lutando contra a leucemia, decidiu doar todas as suas economias à Sociedade Protetora de Animais do Condado de Suffolk, nos EUA, transformando-se, segundo a imprensa internacional, em um “herói dos animais”.
Apesar de estar vivendo uma situação muito difícil, em pleno tratamento de quimioterapia, Ian afirma que os animais necessitam desse dinheiro mais que ele próprio: “Tenho guardado dinheiro para uma viagem por causa do meu câncer, mas pensei que os animais necessitavam muito mais do que eu”.
No outono passado, Ian foi atacado e ferido pelo cachorro de um vizinho, mas, apesar disso, o garoto disse que seu amor pelos animais não mudou. “Eu adoro os cachorros, só não gosto daquele cachorro”, disse Ian.
Roy Gross, chefe da Sociedade Protetora à qual Ian doou seu dinheiro, afirma sentir-se profundamente tocado por saber que um garoto possa sentir tamanha paixão pelos animais, chegando a ter um gesto tão solidário e compassivo. Segundo ele: “Ian é um jovem maravilhoso”.
Parte da doação de Ian será utilizada de imediato para ajudar um abrigo criado para animais que, após um incêndio, ficaram sem lar.
Fonte: http://www.anda.jor.br/
Até onde irá o Partido Pirata - Por Detlef Gurtler*, em Presseurop
Até onde irá o Partido PirataUma organização identificada com temas e rebeliões da juventude tornou-se terceira mais popular da Alemanha. Mas quais seus horizontes?
É ainda muito cedo para dizer se os Piratas não vão passar de um pormenor na história da democracia europeia. No entanto, se não sucumbirem aos erros de juventude, têm boas chances de transformar a democracia do século XXI na sua forma, de contribuir para o fim de uma era de crescimento a qualquer custo, de resolver a intrincada equação demográfica e, como brinde, de se tornar o primeiro partido verdadeiramente europeu.
A ideia de representar o povo através de organizações ditas de “massas” é tão antiga e obsoleta como a era industrial. Confrontadas com o colapso da sua organização, outrora tão “quadrada”, atividades como a indústria fonográfica e o setor do turismo vivem um período de grande turbulência. E o sistema político vai ter o mesmo destino. Softwares online de participação cidadã, como o “Liquid Feedback”, do Partido Pirata, são capazes de dissolver com grande eficácia uma organização política surgida na remota era da “democracia mínima” (Paul Nolte).
A abolição da separação estrita entre produtores e consumidores vai estender-se à esfera política. Foi particularmente evidente no setor da comunicação social e está agora em curso na indústria energética. O fato de haver linhas inteligentes, nas quais as habitações particulares podem consumir mas também produzir e oferecer energia elétrica, vai acabar com o regime de quase monopólio dos atuais gigantes da indústria energética.
Transparência e participação dos cidadãos
À semelhança do que acontece com a energia elétrica alemã, empresas públicas [de geração de energia e distribuição de gás] como a RWE e a E.On e partidos como o SPD [social-democratas] e a CDU [partido de centro-direita, que se denomina cristão-democrata] têm de se reinventar, atendendo às novas circunstâncias. No seu papel de defensores da diversidade, no palco de operações dos antigos monopolistas, os Piratas irão garantir que isto aconteça exatamente assim.
Muitos dos que foram anteriormente considerados especialistas em política veem neste fenômeno apenas um nivelamento por baixo e uma “amadorização” da política. No entanto, ela é, talvez, a nossa melhor oportunidade para superar o cataclismo econômico que nos espera, por meio de uma democracia verdadeiramente eficaz. Porque, se é verdade que os sistemas políticos ocidentais sabem estruturar bastante bem a sociedade em tempos de crescimento econômico, rapidamente entram em alvoroço quando se trata de recuperar uma desaceleração continuada do PIB. Os problemas que abalaram a Grécia ou as greves realizadas em Espanha são uma pequena amostra do que acontece quando, após anos de austeridade e de cortes do Orçamento, continua a não aparecer nenhuma luz ao fundo do túnel.
Nesta “era do pouco” (“Age of Less”, David Bosshart) que se inicia, não voltaremos ao velho modelo de crescimento. Teremos, portanto, de criar um novo modelo político. Para manter-se democrático, esse modelo deve ser acompanhado por mais transparência e participação dos cidadãos do que os partidos tradicionais estão dispostos a conceder – não apenas na Alemanha, mas em toda a Europa.
Transparência e participação cidadã são a melhor maneira de tirar o euro e a União Europeia da rotina de que estão prisioneiras. Para a democracia, trata-se de encontrar uma maneira de superar o previsível fracasso dos tecnocratas. A solução não virá dos Piratas em si. Mas eles vão indicar um caminho a seguir.
Novos partidos desejosos de vingar
A juventude – essa franja da população que é hoje efetivamente excluída – pode ser assim integrada na sociedade e associada às tomadas de decisão no plano europeu. Praticamente em toda a parte, a crise econômica significou aumento acentuado do desemprego, especialmente dos jovens – com picos de mais de 50% na Grécia e Espanha. Filhos da geração do baby boom, os pais apegam-se aos seus empregos e privilégios, deixando aos filhos apenas a rua. São eles, os jovens, o alvo central do Partido Pirata.
Esta “geração perdida” já tentou uma primeira rebelião em 2011. Tudo começou em maio, com as manifestações pacíficas prolongadas dos Indignados em Espanha, antes de se espalhar a todo o continente, sob a forma do movimento Occupy. Os seguidores deste movimento estavam unidos por um sentimento comum de contestação, de que, no entanto, não saiu nenhum objetivo claro. Se não for capaz de projetar eco no processo político, esse sentimento poderá explodir em ações contraprodutivas. Para integrar esse movimento no sistema político, seria preciso inventar algo como o Partido Pirata, se ainda não existisse…
Os Piratas têm dois anos – até às eleições europeias da primavera de 2014 – para difundir-se em escala europeia. Ainda têm tempo para se dotar de uma estrutura internacional suficientemente significativa. As eleições do Parlamento Europeu serão simultaneamente importantes para que sua entrada em cena seja estrondosa e insignificantes para que muitos eleitores sejam tentados a votar noutros, em busca de mudança.
Até agora, as eleições europeias serviam de experiência a novos partidos desejosos de vingar a nível nacional. Em 2014, pela primeira vez, pode muito bem assistir-se ao surgimento de um novo partido europeu.
–
Detlef Gürtleré chefe de redação da revista suíçaGDI Impuls. E colaborador de Die Welt, Tageszeitung e La Vanguardia. Em 2011, publicou o e-book “Entschuldigung! Ich bin deutsch” [Desculpe! Sou alemão], em sete línguas.
Fonte: http://www.outraspalavras.net/
É ainda muito cedo para dizer se os Piratas não vão passar de um pormenor na história da democracia europeia. No entanto, se não sucumbirem aos erros de juventude, têm boas chances de transformar a democracia do século XXI na sua forma, de contribuir para o fim de uma era de crescimento a qualquer custo, de resolver a intrincada equação demográfica e, como brinde, de se tornar o primeiro partido verdadeiramente europeu.
A ideia de representar o povo através de organizações ditas de “massas” é tão antiga e obsoleta como a era industrial. Confrontadas com o colapso da sua organização, outrora tão “quadrada”, atividades como a indústria fonográfica e o setor do turismo vivem um período de grande turbulência. E o sistema político vai ter o mesmo destino. Softwares online de participação cidadã, como o “Liquid Feedback”, do Partido Pirata, são capazes de dissolver com grande eficácia uma organização política surgida na remota era da “democracia mínima” (Paul Nolte).
A abolição da separação estrita entre produtores e consumidores vai estender-se à esfera política. Foi particularmente evidente no setor da comunicação social e está agora em curso na indústria energética. O fato de haver linhas inteligentes, nas quais as habitações particulares podem consumir mas também produzir e oferecer energia elétrica, vai acabar com o regime de quase monopólio dos atuais gigantes da indústria energética.
Transparência e participação dos cidadãos
À semelhança do que acontece com a energia elétrica alemã, empresas públicas [de geração de energia e distribuição de gás] como a RWE e a E.On e partidos como o SPD [social-democratas] e a CDU [partido de centro-direita, que se denomina cristão-democrata] têm de se reinventar, atendendo às novas circunstâncias. No seu papel de defensores da diversidade, no palco de operações dos antigos monopolistas, os Piratas irão garantir que isto aconteça exatamente assim.
Muitos dos que foram anteriormente considerados especialistas em política veem neste fenômeno apenas um nivelamento por baixo e uma “amadorização” da política. No entanto, ela é, talvez, a nossa melhor oportunidade para superar o cataclismo econômico que nos espera, por meio de uma democracia verdadeiramente eficaz. Porque, se é verdade que os sistemas políticos ocidentais sabem estruturar bastante bem a sociedade em tempos de crescimento econômico, rapidamente entram em alvoroço quando se trata de recuperar uma desaceleração continuada do PIB. Os problemas que abalaram a Grécia ou as greves realizadas em Espanha são uma pequena amostra do que acontece quando, após anos de austeridade e de cortes do Orçamento, continua a não aparecer nenhuma luz ao fundo do túnel.
Nesta “era do pouco” (“Age of Less”, David Bosshart) que se inicia, não voltaremos ao velho modelo de crescimento. Teremos, portanto, de criar um novo modelo político. Para manter-se democrático, esse modelo deve ser acompanhado por mais transparência e participação dos cidadãos do que os partidos tradicionais estão dispostos a conceder – não apenas na Alemanha, mas em toda a Europa.
Transparência e participação cidadã são a melhor maneira de tirar o euro e a União Europeia da rotina de que estão prisioneiras. Para a democracia, trata-se de encontrar uma maneira de superar o previsível fracasso dos tecnocratas. A solução não virá dos Piratas em si. Mas eles vão indicar um caminho a seguir.
Novos partidos desejosos de vingar
A juventude – essa franja da população que é hoje efetivamente excluída – pode ser assim integrada na sociedade e associada às tomadas de decisão no plano europeu. Praticamente em toda a parte, a crise econômica significou aumento acentuado do desemprego, especialmente dos jovens – com picos de mais de 50% na Grécia e Espanha. Filhos da geração do baby boom, os pais apegam-se aos seus empregos e privilégios, deixando aos filhos apenas a rua. São eles, os jovens, o alvo central do Partido Pirata.
Esta “geração perdida” já tentou uma primeira rebelião em 2011. Tudo começou em maio, com as manifestações pacíficas prolongadas dos Indignados em Espanha, antes de se espalhar a todo o continente, sob a forma do movimento Occupy. Os seguidores deste movimento estavam unidos por um sentimento comum de contestação, de que, no entanto, não saiu nenhum objetivo claro. Se não for capaz de projetar eco no processo político, esse sentimento poderá explodir em ações contraprodutivas. Para integrar esse movimento no sistema político, seria preciso inventar algo como o Partido Pirata, se ainda não existisse…
Os Piratas têm dois anos – até às eleições europeias da primavera de 2014 – para difundir-se em escala europeia. Ainda têm tempo para se dotar de uma estrutura internacional suficientemente significativa. As eleições do Parlamento Europeu serão simultaneamente importantes para que sua entrada em cena seja estrondosa e insignificantes para que muitos eleitores sejam tentados a votar noutros, em busca de mudança.
Até agora, as eleições europeias serviam de experiência a novos partidos desejosos de vingar a nível nacional. Em 2014, pela primeira vez, pode muito bem assistir-se ao surgimento de um novo partido europeu.
–
Detlef Gürtleré chefe de redação da revista suíçaGDI Impuls. E colaborador de Die Welt, Tageszeitung e La Vanguardia. Em 2011, publicou o e-book “Entschuldigung! Ich bin deutsch” [Desculpe! Sou alemão], em sete línguas.
Fonte: http://www.outraspalavras.net/
quinta-feira, 19 de abril de 2012
Como devolver a infância às crianças-soldado - Por Andrew Green*
Como devolver a infância às crianças-soldadoSe o processo de reintegrá-los as suas vidas normais for feito em tempo e forma, as crianças-soldado do Sudão do Sul terão deixado de pertencer às milícias deste país em dois anos.
Se o processo de reintegrá-los as suas vidas normais for feito em tempo e forma, as crianças-soldado do Sudão do Sul terão deixado de pertencer às milícias deste país em dois anos. O Exército de Libertação Popular do Sudão (SPLA) havia se comprometido a liberar em março todas as crianças que combatiam em suas fileiras. Essa força, que é a ala militar do partido político sul-sudanês Movimento de Libertação Popular do Sudão, é uma das poucas no mundo que constam da lista da Organização das Nações Unidas (ONU) como parte de um conflito que recruta e usa crianças.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estima que no Sudão do Sul há duas mil crianças-soldado. Embora nenhuma esteja dentro do SPLA oficial, estão nas milícias que o governo anistiou, e integradas às Forças Armadas nacionais. O país pode ficar fora da lista em dois anos, se o SPLA seguir o plano de ação que traçou e assinou, que inclui retirar todas as crianças das milícias e trabalhar para lhes dar oportunidades educativas.
Entretanto, o processo de reintegração pode demorar muito mais no caso dos meninos, na medida em que entrarem em escolas ou aprenderem habilidades para poderem ganhar a vida fora dos barracões militares. O processo começará com a identificação e a garantia de liberação formal de todas as crianças-soldado, informou Fatuma H. Ibrahim, chefe da unidade de proteção à infância do Unicef no Sudão do Sul. Quando forem liberados, receberão roupas civis, porque “o que é militar fica com os militares”, afirmou.
Os garotos, com idades entre 12 e 18 anos, serão submetidos a sessões de terapia de grupo com trabalhadores sociais para tentar entender como chegaram a se integrar às milícias e para falar de qualquer tipo de violência que possam ter enfrentado. Segundo Ibrahim, será cerca de 1% que “realmente necessitará de acompanhamento clínico”, embora suas opções sejam limitadas em um país com poucos recursos psiquiátricos. “É um problema muito grande. A maioria recebe pílulas, e isso é tudo”, ressaltou.
Os familiares também se reunirão com trabalhadores sociais para falar sobre a reintegração e garantir que as crianças serão bem-vindas em seu regresso, desestimulando-as a voltarem às milícias. “Os pais têm que estar prontos para recebê-los”, destacou Ibrahim. Em algumas comunidades, isso inclui uma simbólica cerimônia de transição.
Em um país que viveu em guerra durante mais de duas décadas, frequentemente a força militar é uma das poucas oportunidades econômicas viáveis para os homens jovens. Muitas das crianças que o Unicef e seus aliados tiram das fileiras militares seguiram esse padrão, buscando um lugar em uma milícia para dar segurança financeira às suas famílias. Um dos grandes desafios dessa agência da ONU é dar oportunidades que estimulem as crianças que abandonam essas forças.
Após a realização das novas rodadas de liberação, será dada aos jovens a oportunidade de escolher entre ir à escola ou aprender um ofício. O limitado mercado de trabalho propicia que os jovens de mais idade se sintam incentivados a aprender habilidades como carpintaria, que tem cada vez maior demanda em localidades de rápido crescimento. No futuro lhes serão ensinadas duas habilidades, caso a primeira não seja rentável.
O Unicef e outras organizações também trabalham para dar incentivos a fim de impedir que as crianças-soldado voltem a se alistar. Ibrahim mencionou um projeto de criação de gado em que os rapazes recebem uma cabra para criar. Se o programa funcionar, os incentivos serão “significativos”, afirmou. O novo plano de ação para o Sudão do Sul foi assinado oficialmente em 16 de março pelo Ministério da Defesa, pela força de paz da ONU no país e pela representante especial do secretário-geral para a Questão das Crianças e dos Conflitos Armados, Radhika Coomaraswamy.
Desde que ficou independente no ano passado, o Sudão do Sul experimentou episódios esporádicos de violência em todo seu território. No norte, se mantêm as hostilidades com o Sudão. E em outras partes, especialmente no estado de Jonglei, há conflitos intertribais pelos direitos à terra e ao gado. Coomaraswamy informou que a maior parte das crianças-soldado do país estão no norte, onde a violência foi mais consistente.
O Sudão do Sul está na lista da ONU muito antes de sua independência, em julho de 2011. Em 2006, um Acordo Exaustivo de Paz foi assinado entre o norte e o sul do Sudão, pondo fim a décadas de enfrentamentos e cimentando o caminho para a independência sul-sudanesa. Nesse momento, o SPLA se comprometeu com um plano de ação para liberar suas crianças-soldado, embora não o tenha cumprido totalmente. Em 2009, as organizações de vigilância não haviam encontrado crianças-soldado em fileiras centrais do SPLA, embora ainda existissem nas milícias.
Segundo Coomaraswamy, o renovado compromisso do país procede do “poder da lista” e da pressão dos sócios internacionais. E, embora a ONU nunca tenha punido o Sudão do Sul pela inclusão nesta lista, a representante declarou que sempre havia a possibilidade de que isto ocorresse. A República Democrática do Congo, por exemplo, sofreu sanções por figurar na lista. Seu escritório negocia atualmente com a República Democrática do Congo, com a Birmânia e com a Somália, os únicos governos militares que ainda não assinaram um plano de ação.
* Andrew Green informa do Sudão do Sul no contexto de uma bolsa do International Reporting Project, um programa de jornalismo independente com sede em Washington, Estados Unidos.
Publicado por Envolverde
Fonte: http://www.revistaforum.com.br/
Se o processo de reintegrá-los as suas vidas normais for feito em tempo e forma, as crianças-soldado do Sudão do Sul terão deixado de pertencer às milícias deste país em dois anos. O Exército de Libertação Popular do Sudão (SPLA) havia se comprometido a liberar em março todas as crianças que combatiam em suas fileiras. Essa força, que é a ala militar do partido político sul-sudanês Movimento de Libertação Popular do Sudão, é uma das poucas no mundo que constam da lista da Organização das Nações Unidas (ONU) como parte de um conflito que recruta e usa crianças.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estima que no Sudão do Sul há duas mil crianças-soldado. Embora nenhuma esteja dentro do SPLA oficial, estão nas milícias que o governo anistiou, e integradas às Forças Armadas nacionais. O país pode ficar fora da lista em dois anos, se o SPLA seguir o plano de ação que traçou e assinou, que inclui retirar todas as crianças das milícias e trabalhar para lhes dar oportunidades educativas.
Entretanto, o processo de reintegração pode demorar muito mais no caso dos meninos, na medida em que entrarem em escolas ou aprenderem habilidades para poderem ganhar a vida fora dos barracões militares. O processo começará com a identificação e a garantia de liberação formal de todas as crianças-soldado, informou Fatuma H. Ibrahim, chefe da unidade de proteção à infância do Unicef no Sudão do Sul. Quando forem liberados, receberão roupas civis, porque “o que é militar fica com os militares”, afirmou.
Os garotos, com idades entre 12 e 18 anos, serão submetidos a sessões de terapia de grupo com trabalhadores sociais para tentar entender como chegaram a se integrar às milícias e para falar de qualquer tipo de violência que possam ter enfrentado. Segundo Ibrahim, será cerca de 1% que “realmente necessitará de acompanhamento clínico”, embora suas opções sejam limitadas em um país com poucos recursos psiquiátricos. “É um problema muito grande. A maioria recebe pílulas, e isso é tudo”, ressaltou.
Os familiares também se reunirão com trabalhadores sociais para falar sobre a reintegração e garantir que as crianças serão bem-vindas em seu regresso, desestimulando-as a voltarem às milícias. “Os pais têm que estar prontos para recebê-los”, destacou Ibrahim. Em algumas comunidades, isso inclui uma simbólica cerimônia de transição.
Em um país que viveu em guerra durante mais de duas décadas, frequentemente a força militar é uma das poucas oportunidades econômicas viáveis para os homens jovens. Muitas das crianças que o Unicef e seus aliados tiram das fileiras militares seguiram esse padrão, buscando um lugar em uma milícia para dar segurança financeira às suas famílias. Um dos grandes desafios dessa agência da ONU é dar oportunidades que estimulem as crianças que abandonam essas forças.
Após a realização das novas rodadas de liberação, será dada aos jovens a oportunidade de escolher entre ir à escola ou aprender um ofício. O limitado mercado de trabalho propicia que os jovens de mais idade se sintam incentivados a aprender habilidades como carpintaria, que tem cada vez maior demanda em localidades de rápido crescimento. No futuro lhes serão ensinadas duas habilidades, caso a primeira não seja rentável.
O Unicef e outras organizações também trabalham para dar incentivos a fim de impedir que as crianças-soldado voltem a se alistar. Ibrahim mencionou um projeto de criação de gado em que os rapazes recebem uma cabra para criar. Se o programa funcionar, os incentivos serão “significativos”, afirmou. O novo plano de ação para o Sudão do Sul foi assinado oficialmente em 16 de março pelo Ministério da Defesa, pela força de paz da ONU no país e pela representante especial do secretário-geral para a Questão das Crianças e dos Conflitos Armados, Radhika Coomaraswamy.
Desde que ficou independente no ano passado, o Sudão do Sul experimentou episódios esporádicos de violência em todo seu território. No norte, se mantêm as hostilidades com o Sudão. E em outras partes, especialmente no estado de Jonglei, há conflitos intertribais pelos direitos à terra e ao gado. Coomaraswamy informou que a maior parte das crianças-soldado do país estão no norte, onde a violência foi mais consistente.
O Sudão do Sul está na lista da ONU muito antes de sua independência, em julho de 2011. Em 2006, um Acordo Exaustivo de Paz foi assinado entre o norte e o sul do Sudão, pondo fim a décadas de enfrentamentos e cimentando o caminho para a independência sul-sudanesa. Nesse momento, o SPLA se comprometeu com um plano de ação para liberar suas crianças-soldado, embora não o tenha cumprido totalmente. Em 2009, as organizações de vigilância não haviam encontrado crianças-soldado em fileiras centrais do SPLA, embora ainda existissem nas milícias.
Segundo Coomaraswamy, o renovado compromisso do país procede do “poder da lista” e da pressão dos sócios internacionais. E, embora a ONU nunca tenha punido o Sudão do Sul pela inclusão nesta lista, a representante declarou que sempre havia a possibilidade de que isto ocorresse. A República Democrática do Congo, por exemplo, sofreu sanções por figurar na lista. Seu escritório negocia atualmente com a República Democrática do Congo, com a Birmânia e com a Somália, os únicos governos militares que ainda não assinaram um plano de ação.
* Andrew Green informa do Sudão do Sul no contexto de uma bolsa do International Reporting Project, um programa de jornalismo independente com sede em Washington, Estados Unidos.
Publicado por Envolverde
Fonte: http://www.revistaforum.com.br/
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Capitalismo, movimentos e a grande encruzilhada - Por Antonio Martins
Capitalismo, movimentos e a grande encruzilhadaNovo livro sobre revoltas de 2011 sugere: sistema continua à deriva; sua crise gerará pesadelos; projetos alternativos precisam amadurecer rápido
Saiu há semanas, na Inglaterra, um livro especialmente provocador, sobre os movimentos rebeldes de 2011. Seu título, em português, poderia ser Por que tudo está começando1. Seu autor, o jornalista britânico Paul Mason, cobriu quase todas as revoltas sociais que marcaram o ano passado: Cairo, Madri-Barcelona, Atenas, Londres, Madison, Nova York. Mas a obra vai muito além do relato factual. Mason, um repórter experimentado [aqui, seu blog e verberte na Wikipedia], hoje na BBC, é também estudioso incomum da história das revoluções e do movimento operário; das mutações do capitalismo; das teorias sobre redes, políticas horizontais e internet. Ao articular vivência real nas ruas rebeladas com ferramentas teóricas capazes potentes, ele pôde chegar a três grandes hipóteses – tão esperançosas quanto perturbadoras. Elas aparecem em duas entrevistas recentes: uma, ao site norte-americano Alternet; outra, à revista londrina Red Pepper, traduzida e reproduzida alguns parágrafos adiante.
A primeira hipótese de Mason está diretamente relacionada ao título do livro. Ele ressalta que, apesar de terem surgido em cenários políticos, sociais e culturais muito distintos – de um Egito empobrecido e governado com mão-de-ferro à opulenta e liberal Wall Street –, há uma identidade crucial entre as rebeliões de 2011. Todas elas foram deflagradas pelo “colapso” (aqui, não há meias palavras) do padrão de acumulação capitalista inaugurado no início dos anos 1980.
Mason julga que a crise devastou a capacidade do neoliberalismo para produzir algo sem o quê nenhum sistema se sustenta: esperanças e consensos. Até 2008, elas se mantinham, graças aos diversos aspectos que a financeirização das economias assumiu. O crédito fácil e barato mascarava a redução dos salários e o aumento das desigualdades. A perda de empregos industriais era amenizada por um setor de serviços vasto e, em alguns de seus segmentos, sofisticado e florescente. Os antigos vínculos com a empresa (“sou empregado da GM”), família e nação eram substituídos pela ideia de que, ao consumir produtos de uma determinada marca, garantia-se acesso a um mundo particular (“uso um Iphone”).
No momento em que estas ilusões caem por terra, ressurge (em Tunis, Telavive ou Santiago) um sujeito revolucionário particular. Mason identifica-o como “o jovem bem-formado e sem futuro”. Não é um personagem novo. Tipos assim, frisa o autor, foram centrais para que eclodisse a Revolução Francesa. O que os domesticou por séculos, mais tarde, foi a perspectiva de um trabalho decente e uma vida confortável. Ora, provoca Mason, “o que o neoliberalismo fez, nos últimos trinta anos, foi exatamente destruir estas barreiras”…
A segunda hipótese é terrível. Ao menos no momento, o capital não tem alternativas ao declínio de sua fase pós-industrial. No vácuo, pode emergir uma tragédia. Aqui, Mason parece um ultra-pessimista com alguma razão. Ele lembra, sempre com vasto conhecimento histórico: certas circunstâncias, que os movimentos muito jovens não preveem, acabam levando-os a impasses em que ambas as saídas são trágicas. Herdeira do marxismo, a social-democracia alemã dos anos 1890 esperava chegar ao poder, sem sobressaltos, num processo que se estenderia por trinta anos. A I Guerra Mundial despedaçou seus planos. De um dia para outro, foi preciso escolher entre “tornar-se um recrutador de soldados, para esmagar outros povos, ou cair na clandestinidade”. Pode ser ainda pior. Mason lembra que bastaram cinco anos, na década de 1930, para que Berlim regredisse “de capital liberal da Europa e paraíso dos clubes gays para o inferno fascista da queima de livros em praça pública”. Ele adverte: “não pense que os laços culturais podem evitar esta desgraça. A economia prevalece”.
A terceira hipótese é a mais polêmica e desafiante: ela refere-se à própria natureza dos novos movimentos – suas vantagens e os limites a superar. Para Mason, a horizontalidade que os marca foi até agora, uma enorme vantagem. Ela assegura “ruptura com as hierarquias que poderiam conter o movimento”. Ao mesmo tempo, facilita sua difusão, sua “replicabilidade por gente que não sabe nada sobre teoria”. É algo muito diferente do “conhecimento estruturado e difícil de adquirir dos anos 1970 e 80” – que, além disso, tinha como características “verticalismo, eliminação da dissidência, tentativa de apropriação partidária das lutas coletivas a burocratização”.
Também houve uma clara mudanças de projetos. O livro vê, nas rebeliões contemporâneas, uma postura centrada em valores, não no poder. Procura-se criar “áreas de civilização” – regidas por lógicas, relações e práticas não-capitalistas – em meio à selvageria oferecida pelo sistema. Já deu certo, no passado. Mason refere-se, por exemplo, ao Renascimento, que surgiu, desenvolveu-se e se impôs em meio à velha ordem feudal e eclesiástica. Mas há um problema, ele ressalta: até quando o capitalismo estará aberto a esta convivência?
Neste ponto, embora não abertamente, o livro está em confronto com ideias como as expressas, por exemplo, por Slavoj Zizek. Num dos artigos em que escreveu à época do auge do movimento Occupy, o filósofo esloveno sugeriu que a nova rebeldia não precisava apressar-se, para expressar o que queria; ela deveria dar a si mesmo o tempo de amadurecer seus projetos.
O que Mason parece contra-argumentar é que a História não espera. Nas entrevistas, ele relata que diversos movimentos, ligados à nova cultura política, acabaram perdendo força por não responderem, a tempo, a desafios que surgiram à sua frente. É o caso do Camp for Climate, uma sequência de acampamentos por novas relações sociais com o ambiente. Espalhou-se por vários países, no Norte do planeta, mas acabou se desfazendo. Ou, num exemplo ainda mais expressivo, do UK Uncut, a grande rede britânica de ação contra os cortes de serviços públicos decretados pelo governo David Cameron. Articulou mobilizações maciças e muito bem-humoradas, principalmente nas universidades, em 2010. Mas perdeu boa parte de sua força, quando não conseguiu assumir uma posição clara, diante dos atos de violência praticados por setores do movimento que diziam falar em nome da rede.
O novo cenário internacional que está se abrindo, sugere Mason, vai colocar em tensão o conjunto movimentos rebeldes. Diante da crise do neoliberalismo, as forças políticas e setores sociais retrógrados já têm uma resposta concreta. Na Europa, crescem as organizações de extrema-direita – apoiadas na tentativa de estigmatizar o outro (sejam imigrantes, homossexuais, dissidentes…) e responsabilizá-lo pela crise. Nos Estados Unidos, há o risco de o Partido Republicano conquistar a Casa Branca com um discurso que aponta para “um retorno ao capitaslimo do século 19”: crescimento e crise, laissez-faire, desigualdade, pobreza”.
Aqui, Mason lança sua pergunta crucial: “qual o equivalente a isso”, na esquerda ou nos novos movimentos? Que projeto de novo futuro está sendo apresentado a sociedades que precisam ouvir novos discursos – mas estão amedrontadas e, portanto, suscetíveis até aos apelos mais reacionários? Nas entrevistas, ou autor não sugere nenhum retorno ao verticalismo. Aponta dois, entre muitos caminhos possíveis e não contraditórios entre si. O primeiro, atuar fortemente no plano das soluções parciais e locais, pois “do contrario, a parte mais conservadora da sociedade vai impor suas ideias, apoiada em ligações seculares com a estrutura e a hierarquia do poder”. Outro é tirar proveito das brechas oferecidas pela institucionalidade e construir alternativas que a desafiam – como o Partido Política Pode Ser Diferente, na Hungria. Ou (num exemplo mais recente e ainda mais expressivo) o Partido Pirata alemão, que, após um crescimento meteórico, acaba de se converter no terceiro mais popular no país.
Em quatro semanas, os Indignados espanhóis celebram um ano da ocupação da Puerta del Sol, em Madri. Estão sendo preparados (para 12 de Maio, um sábado) protestos em todo o mundo, inclusive no Brasil. Os movimentos que se propõem a mudar o mundo (“nem políticos, nem banqueiros”, dizia-se em toda a Espanha) precisam refletir intensamente sobre si mesmos. O livro de Mason é uma excelente provocação para tanto. A entrevista do autor a Red Pepper vem a seguir.
Sobre o tema:
> Leia entrevista com Paul Mason, autor de Por que tudo está começando, aqui
> Inúmeras manifestações, sintonizadas com os movimentos de 2011, estão sendo organizadas no mundo todo, para 12 de Maio. Para uma pesquisa internacional (via Google)
–
1Why It’s Kicking Off Everywhere, Verso, Londres, 2012. 244 páginas, 19,95 dólares, à venda via internet.
Fonte: http://www.outraspalavras.net/
Saiu há semanas, na Inglaterra, um livro especialmente provocador, sobre os movimentos rebeldes de 2011. Seu título, em português, poderia ser Por que tudo está começando1. Seu autor, o jornalista britânico Paul Mason, cobriu quase todas as revoltas sociais que marcaram o ano passado: Cairo, Madri-Barcelona, Atenas, Londres, Madison, Nova York. Mas a obra vai muito além do relato factual. Mason, um repórter experimentado [aqui, seu blog e verberte na Wikipedia], hoje na BBC, é também estudioso incomum da história das revoluções e do movimento operário; das mutações do capitalismo; das teorias sobre redes, políticas horizontais e internet. Ao articular vivência real nas ruas rebeladas com ferramentas teóricas capazes potentes, ele pôde chegar a três grandes hipóteses – tão esperançosas quanto perturbadoras. Elas aparecem em duas entrevistas recentes: uma, ao site norte-americano Alternet; outra, à revista londrina Red Pepper, traduzida e reproduzida alguns parágrafos adiante.
A primeira hipótese de Mason está diretamente relacionada ao título do livro. Ele ressalta que, apesar de terem surgido em cenários políticos, sociais e culturais muito distintos – de um Egito empobrecido e governado com mão-de-ferro à opulenta e liberal Wall Street –, há uma identidade crucial entre as rebeliões de 2011. Todas elas foram deflagradas pelo “colapso” (aqui, não há meias palavras) do padrão de acumulação capitalista inaugurado no início dos anos 1980.
Mason julga que a crise devastou a capacidade do neoliberalismo para produzir algo sem o quê nenhum sistema se sustenta: esperanças e consensos. Até 2008, elas se mantinham, graças aos diversos aspectos que a financeirização das economias assumiu. O crédito fácil e barato mascarava a redução dos salários e o aumento das desigualdades. A perda de empregos industriais era amenizada por um setor de serviços vasto e, em alguns de seus segmentos, sofisticado e florescente. Os antigos vínculos com a empresa (“sou empregado da GM”), família e nação eram substituídos pela ideia de que, ao consumir produtos de uma determinada marca, garantia-se acesso a um mundo particular (“uso um Iphone”).
No momento em que estas ilusões caem por terra, ressurge (em Tunis, Telavive ou Santiago) um sujeito revolucionário particular. Mason identifica-o como “o jovem bem-formado e sem futuro”. Não é um personagem novo. Tipos assim, frisa o autor, foram centrais para que eclodisse a Revolução Francesa. O que os domesticou por séculos, mais tarde, foi a perspectiva de um trabalho decente e uma vida confortável. Ora, provoca Mason, “o que o neoliberalismo fez, nos últimos trinta anos, foi exatamente destruir estas barreiras”…
A segunda hipótese é terrível. Ao menos no momento, o capital não tem alternativas ao declínio de sua fase pós-industrial. No vácuo, pode emergir uma tragédia. Aqui, Mason parece um ultra-pessimista com alguma razão. Ele lembra, sempre com vasto conhecimento histórico: certas circunstâncias, que os movimentos muito jovens não preveem, acabam levando-os a impasses em que ambas as saídas são trágicas. Herdeira do marxismo, a social-democracia alemã dos anos 1890 esperava chegar ao poder, sem sobressaltos, num processo que se estenderia por trinta anos. A I Guerra Mundial despedaçou seus planos. De um dia para outro, foi preciso escolher entre “tornar-se um recrutador de soldados, para esmagar outros povos, ou cair na clandestinidade”. Pode ser ainda pior. Mason lembra que bastaram cinco anos, na década de 1930, para que Berlim regredisse “de capital liberal da Europa e paraíso dos clubes gays para o inferno fascista da queima de livros em praça pública”. Ele adverte: “não pense que os laços culturais podem evitar esta desgraça. A economia prevalece”.
A terceira hipótese é a mais polêmica e desafiante: ela refere-se à própria natureza dos novos movimentos – suas vantagens e os limites a superar. Para Mason, a horizontalidade que os marca foi até agora, uma enorme vantagem. Ela assegura “ruptura com as hierarquias que poderiam conter o movimento”. Ao mesmo tempo, facilita sua difusão, sua “replicabilidade por gente que não sabe nada sobre teoria”. É algo muito diferente do “conhecimento estruturado e difícil de adquirir dos anos 1970 e 80” – que, além disso, tinha como características “verticalismo, eliminação da dissidência, tentativa de apropriação partidária das lutas coletivas a burocratização”.
Também houve uma clara mudanças de projetos. O livro vê, nas rebeliões contemporâneas, uma postura centrada em valores, não no poder. Procura-se criar “áreas de civilização” – regidas por lógicas, relações e práticas não-capitalistas – em meio à selvageria oferecida pelo sistema. Já deu certo, no passado. Mason refere-se, por exemplo, ao Renascimento, que surgiu, desenvolveu-se e se impôs em meio à velha ordem feudal e eclesiástica. Mas há um problema, ele ressalta: até quando o capitalismo estará aberto a esta convivência?
Neste ponto, embora não abertamente, o livro está em confronto com ideias como as expressas, por exemplo, por Slavoj Zizek. Num dos artigos em que escreveu à época do auge do movimento Occupy, o filósofo esloveno sugeriu que a nova rebeldia não precisava apressar-se, para expressar o que queria; ela deveria dar a si mesmo o tempo de amadurecer seus projetos.
O que Mason parece contra-argumentar é que a História não espera. Nas entrevistas, ele relata que diversos movimentos, ligados à nova cultura política, acabaram perdendo força por não responderem, a tempo, a desafios que surgiram à sua frente. É o caso do Camp for Climate, uma sequência de acampamentos por novas relações sociais com o ambiente. Espalhou-se por vários países, no Norte do planeta, mas acabou se desfazendo. Ou, num exemplo ainda mais expressivo, do UK Uncut, a grande rede britânica de ação contra os cortes de serviços públicos decretados pelo governo David Cameron. Articulou mobilizações maciças e muito bem-humoradas, principalmente nas universidades, em 2010. Mas perdeu boa parte de sua força, quando não conseguiu assumir uma posição clara, diante dos atos de violência praticados por setores do movimento que diziam falar em nome da rede.
O novo cenário internacional que está se abrindo, sugere Mason, vai colocar em tensão o conjunto movimentos rebeldes. Diante da crise do neoliberalismo, as forças políticas e setores sociais retrógrados já têm uma resposta concreta. Na Europa, crescem as organizações de extrema-direita – apoiadas na tentativa de estigmatizar o outro (sejam imigrantes, homossexuais, dissidentes…) e responsabilizá-lo pela crise. Nos Estados Unidos, há o risco de o Partido Republicano conquistar a Casa Branca com um discurso que aponta para “um retorno ao capitaslimo do século 19”: crescimento e crise, laissez-faire, desigualdade, pobreza”.
Aqui, Mason lança sua pergunta crucial: “qual o equivalente a isso”, na esquerda ou nos novos movimentos? Que projeto de novo futuro está sendo apresentado a sociedades que precisam ouvir novos discursos – mas estão amedrontadas e, portanto, suscetíveis até aos apelos mais reacionários? Nas entrevistas, ou autor não sugere nenhum retorno ao verticalismo. Aponta dois, entre muitos caminhos possíveis e não contraditórios entre si. O primeiro, atuar fortemente no plano das soluções parciais e locais, pois “do contrario, a parte mais conservadora da sociedade vai impor suas ideias, apoiada em ligações seculares com a estrutura e a hierarquia do poder”. Outro é tirar proveito das brechas oferecidas pela institucionalidade e construir alternativas que a desafiam – como o Partido Política Pode Ser Diferente, na Hungria. Ou (num exemplo mais recente e ainda mais expressivo) o Partido Pirata alemão, que, após um crescimento meteórico, acaba de se converter no terceiro mais popular no país.
Em quatro semanas, os Indignados espanhóis celebram um ano da ocupação da Puerta del Sol, em Madri. Estão sendo preparados (para 12 de Maio, um sábado) protestos em todo o mundo, inclusive no Brasil. Os movimentos que se propõem a mudar o mundo (“nem políticos, nem banqueiros”, dizia-se em toda a Espanha) precisam refletir intensamente sobre si mesmos. O livro de Mason é uma excelente provocação para tanto. A entrevista do autor a Red Pepper vem a seguir.
Sobre o tema:
> Leia entrevista com Paul Mason, autor de Por que tudo está começando, aqui
> Inúmeras manifestações, sintonizadas com os movimentos de 2011, estão sendo organizadas no mundo todo, para 12 de Maio. Para uma pesquisa internacional (via Google)
–
1Why It’s Kicking Off Everywhere, Verso, Londres, 2012. 244 páginas, 19,95 dólares, à venda via internet.
Fonte: http://www.outraspalavras.net/
Apelo contra a caça: Ativistas protestam em frente a hospital onde rei espanhol está internado - Por Natalia Cesana
Apelo contra a caça:Ativistas protestam em frente a hospital onde rei espanhol está internado Foto: Reprodução/Trust.org
Ativistas em defesa dos animais protestaram do lado de fora do hospital onde o rei da Espanha Juan Carlos segue internado, segurando imagens onde era possível ler “Vítimas da caçada real” e “Pelo fim da caçada”.
Alguns manifestantes pediram que o rei renuncie ao cargo de presidente honorário do World Wildlife Fund espanhol após ter vazado a informação de que ele participou de uma caçada a elefantes durante viagem à África.
A viagem do monarca a Botswana na semana passada só foi revelada quando ele voltava para Madri para atendimento médico depois de ter escorregado e quebrado o quadril.
As informações são da Reuters.
Fonte: http://www.anda.jor.br/
Ativistas em defesa dos animais protestaram do lado de fora do hospital onde o rei da Espanha Juan Carlos segue internado, segurando imagens onde era possível ler “Vítimas da caçada real” e “Pelo fim da caçada”.
Alguns manifestantes pediram que o rei renuncie ao cargo de presidente honorário do World Wildlife Fund espanhol após ter vazado a informação de que ele participou de uma caçada a elefantes durante viagem à África.
A viagem do monarca a Botswana na semana passada só foi revelada quando ele voltava para Madri para atendimento médico depois de ter escorregado e quebrado o quadril.
As informações são da Reuters.
Fonte: http://www.anda.jor.br/
terça-feira, 17 de abril de 2012
Eleições na França e nos Estados Unidos: iguais e tão diferentes - Por Immanuel Wallerstein
Eleições na França e nos Estados Unidos: iguais e tão diferentes
O sistema francês parece funcionar melhor para a esquerda radical, o dos EUA, para a extrema-direita. Mas o motivo principal são as diferentes regras eleitorais
Em 2012, duas eleições presidenciais muito importantes e altamente disputadas ocorrem na França (22 de abril) e nos Estados Unidos (6 de novembro). As mesmas questões estão sendo praticamente debatidas nos dois países, e quase da mesma forma. Em ambos, o presidente é a figura política mais poderosa. Mas há uma diferença muito grande: não na ideologia, mas nas regras eleitorais. A diferença de regras dá origem a táticas eleitorais muito diferentes.
Em ambos os países, há dois partidos principais que historicamente se apresentaram como essencialmente de centro-direita e de centro-esquerda. Observadores das mais variadas opiniões políticas estão de acordo em que as verdadeiras políticas dos dois partidos, uma vez que chegam ao poder, não são tão diferentes. E, no entanto, existem de fato algumas diferenças que cada um considera cruciais, e elas motivam cada grupo a disputar ferozmente as presidenciais.
Em ambos os países, existe o que se pode chamar de extrema-direita e de esquerda radical. A extrema-direita e a esquerda radical denunciam estes dois partidos “centristas” como “farinha do mesmo saco” e defendem uma plataforma política que seja verdadeiramente de direita e verdadeiramente de esquerda. Porém, esta defesa é levada a cabo de forma bastante diferente, devido às grandes diferenças dos sistemas eleitorais.
Nos Estados Unidos, a eleição ocorre em 50 unidades separadas – os estados – numa base de quem ganha leva tudo, para obter um número específico de votos no que é chamado de “colégio eleitoral”. Este sistema torna extremamente difícil a possibilidade de os “terceiros partidos” terem uma influência real na decisão de quem é eleito. Ainda assim, há sempre alguns que não se importam com isto e lançam candidatos, de qualquer modo. Às vezes, essa decisão afeta os resultados nalguns estados, afetando assim os resultados finais. Por exemplo, em 2000, alguns analistas argumentam que a candidatura de Ralph Nader retirou votos do candidato democrata, Al Gore, que foram suficientes para impedi-lo de ganhar em dois estados. Por isso, diz-se por vezes que a candidatura de Nader resultou na eleição de Bush.
No passado, a extrema-direita nos Estados Unidos tendeu a abster-se da participação eleitoral, argumentando que o Partido Republicano era demasiado “liberal” para o gosto deles. Mas, há 20 anos, este grupo decidiu que a grande forma de influenciar o futuro era entrar no Partido Republicano e forçá-lo a escolher candidatos mais “conservadores”. Nestes dias, este grupo está em grande parte reunido sob a etiqueta do “Tea Party”. Esta tática de “entrismo” teve um enorme sucesso, e o Partido Republicano virou significativamente à direita nos últimos cerca de doze anos.
Em França, as eleições funcionam de forma muito diferente. Por uma grande distinção: são nacionais; não há subunidades eleitorais. Em segundo lugar, a menos que um candidato receba mais de 50% da votação, há sempre um segundo turno, no qual os dois partidos com as maiores percentagens no primeiro turno passam a ser a única opção de escolha.
Este sistema permite – na verdade, encoraja – grupos de todas as variedades políticas a apresentarem um candidato presidencial no primeiro turno, já que os eleitores sabem que podem dar o seu voto no segundo turno a um dos dois principais partidos. O primeiro turno funciona como uma demonstração da força popular, servindo principalmente para influenciar, esperam, as políticas do partido vencedor depois do segundo turno.
O sistema francês tem uma falha. Ambos os principais partidos têm de ter uma votação suficiente para estar no segundo turno. Em 2002, e muito excecionalmente, o partido de centro-esquerda, os socialistas, ficaram, por pouco, atrás do partido de extrema-direita, a Frente Nacional, e por isso foram eliminados. Por isso, este ano os socialistas estão enfatizando a importância do “voto útil” para que isso não volte a acontecer. O trauma dos democratas nos Estados Unidos provocado pela votação em 2000 equivale ao trauma de 2002 dos socialistas em França.
Em que ficamos? Nos Estados Unidos, o eventual candidato republicano apresentar-se-á como “muito” conservador graças às pressões do Tea Party, e por isso arriscam-se a perder votos para os chamados “moderados”, que são mais “centristas”. O candidato democrata, que será o presidente Obama, desiludiu muitos dos seus mais ardentes apoiadores virando fortemente à direita durante o seu primeiro mandato. Agora está a tentando ganhá-los de volta para uma plataforma mais “populista”, mas teme que, neste processo, possa perder alguns dos moderados republicanos “desiludidos”. Em 2012, não há candidatos significativos dos partidos menores à vista.
Na França, a situação é mais complicada. As sondagens atuais mostram que os candidatos dos dois maiores partidos – Nicolas Sarkozy, pelo partido de centro-direita, a UMP, e François Hollande, pelo da centro-esquerda, os socialistas – estão praticamente empatados no primeiro turno. Contudo, cada um tem menos de 30% dos votos. Os restantes 40-50% devem dividir-se entre três outros candidatos: Marine Le Pen da Frente Nacional, de extrema-direita, François Bayrou, de um partido centrista (que condena tanto a UMP quanto os socialistas por não serem suficientemente centristas), e Jean-Luc Mélenchon pela Frente de Esquerda, que conseguiu reunir em torno de si a maioria dos votos da esquerda radical apesar da participação de outros partidos de extrema-esquerda na eleição.
LePen, Bayrou, e Mélenchon têm cada um entre 14 e 18% dos votos, por enquanto. Assim, nenhum deles parece ter possibilidades de chegar ao segundo turno. O desempenho de Mélenchon tem sido a grande surpresa das eleições. Mas também se prevê que se as sondagens mostrarem uma grande queda de Hollande, talvez metade dos eleitores de Mélenchon votem em Hollande, para evitar o risco de Le Pen ou Bayrou afastarem o socialista do segundo turno.
Contudo, se Mélenchon obtiver uma grande votação e Hollande mesmo assim for ao segundo turno, duas coisas serão verdade. Uma, terá havido uma clara mensagem aos socialistas de que precisam virar à esquerda politicamente. A segunda é que a maioria dos eleitores de Mélenchon votarão em Hollande no segundo turno. À direita, porém, a maioria dos eleitores de Le Pen ficarão relutantes de votar em Sarkozy, e o Front National não dará essa indicação de voto. Se o fizessem, minariam a sua própria base de existência.
O sistema francês parece funcionar melhor para a esquerda radical. O sistema dos EUA parece funcionar melhor para a extrema-direita. Mas o motivo principal são as diferentes regras eleitorais. Immanuel Wallerstein
Tradução, revista pelo autor, de Luis Leiria para o Esquerda.net
Fonte: http://www.revistaforum.com.br/
O sistema francês parece funcionar melhor para a esquerda radical, o dos EUA, para a extrema-direita. Mas o motivo principal são as diferentes regras eleitorais
Em 2012, duas eleições presidenciais muito importantes e altamente disputadas ocorrem na França (22 de abril) e nos Estados Unidos (6 de novembro). As mesmas questões estão sendo praticamente debatidas nos dois países, e quase da mesma forma. Em ambos, o presidente é a figura política mais poderosa. Mas há uma diferença muito grande: não na ideologia, mas nas regras eleitorais. A diferença de regras dá origem a táticas eleitorais muito diferentes.
Em ambos os países, há dois partidos principais que historicamente se apresentaram como essencialmente de centro-direita e de centro-esquerda. Observadores das mais variadas opiniões políticas estão de acordo em que as verdadeiras políticas dos dois partidos, uma vez que chegam ao poder, não são tão diferentes. E, no entanto, existem de fato algumas diferenças que cada um considera cruciais, e elas motivam cada grupo a disputar ferozmente as presidenciais.
Em ambos os países, existe o que se pode chamar de extrema-direita e de esquerda radical. A extrema-direita e a esquerda radical denunciam estes dois partidos “centristas” como “farinha do mesmo saco” e defendem uma plataforma política que seja verdadeiramente de direita e verdadeiramente de esquerda. Porém, esta defesa é levada a cabo de forma bastante diferente, devido às grandes diferenças dos sistemas eleitorais.
Nos Estados Unidos, a eleição ocorre em 50 unidades separadas – os estados – numa base de quem ganha leva tudo, para obter um número específico de votos no que é chamado de “colégio eleitoral”. Este sistema torna extremamente difícil a possibilidade de os “terceiros partidos” terem uma influência real na decisão de quem é eleito. Ainda assim, há sempre alguns que não se importam com isto e lançam candidatos, de qualquer modo. Às vezes, essa decisão afeta os resultados nalguns estados, afetando assim os resultados finais. Por exemplo, em 2000, alguns analistas argumentam que a candidatura de Ralph Nader retirou votos do candidato democrata, Al Gore, que foram suficientes para impedi-lo de ganhar em dois estados. Por isso, diz-se por vezes que a candidatura de Nader resultou na eleição de Bush.
No passado, a extrema-direita nos Estados Unidos tendeu a abster-se da participação eleitoral, argumentando que o Partido Republicano era demasiado “liberal” para o gosto deles. Mas, há 20 anos, este grupo decidiu que a grande forma de influenciar o futuro era entrar no Partido Republicano e forçá-lo a escolher candidatos mais “conservadores”. Nestes dias, este grupo está em grande parte reunido sob a etiqueta do “Tea Party”. Esta tática de “entrismo” teve um enorme sucesso, e o Partido Republicano virou significativamente à direita nos últimos cerca de doze anos.
Em França, as eleições funcionam de forma muito diferente. Por uma grande distinção: são nacionais; não há subunidades eleitorais. Em segundo lugar, a menos que um candidato receba mais de 50% da votação, há sempre um segundo turno, no qual os dois partidos com as maiores percentagens no primeiro turno passam a ser a única opção de escolha.
Este sistema permite – na verdade, encoraja – grupos de todas as variedades políticas a apresentarem um candidato presidencial no primeiro turno, já que os eleitores sabem que podem dar o seu voto no segundo turno a um dos dois principais partidos. O primeiro turno funciona como uma demonstração da força popular, servindo principalmente para influenciar, esperam, as políticas do partido vencedor depois do segundo turno.
O sistema francês tem uma falha. Ambos os principais partidos têm de ter uma votação suficiente para estar no segundo turno. Em 2002, e muito excecionalmente, o partido de centro-esquerda, os socialistas, ficaram, por pouco, atrás do partido de extrema-direita, a Frente Nacional, e por isso foram eliminados. Por isso, este ano os socialistas estão enfatizando a importância do “voto útil” para que isso não volte a acontecer. O trauma dos democratas nos Estados Unidos provocado pela votação em 2000 equivale ao trauma de 2002 dos socialistas em França.
Em que ficamos? Nos Estados Unidos, o eventual candidato republicano apresentar-se-á como “muito” conservador graças às pressões do Tea Party, e por isso arriscam-se a perder votos para os chamados “moderados”, que são mais “centristas”. O candidato democrata, que será o presidente Obama, desiludiu muitos dos seus mais ardentes apoiadores virando fortemente à direita durante o seu primeiro mandato. Agora está a tentando ganhá-los de volta para uma plataforma mais “populista”, mas teme que, neste processo, possa perder alguns dos moderados republicanos “desiludidos”. Em 2012, não há candidatos significativos dos partidos menores à vista.
Na França, a situação é mais complicada. As sondagens atuais mostram que os candidatos dos dois maiores partidos – Nicolas Sarkozy, pelo partido de centro-direita, a UMP, e François Hollande, pelo da centro-esquerda, os socialistas – estão praticamente empatados no primeiro turno. Contudo, cada um tem menos de 30% dos votos. Os restantes 40-50% devem dividir-se entre três outros candidatos: Marine Le Pen da Frente Nacional, de extrema-direita, François Bayrou, de um partido centrista (que condena tanto a UMP quanto os socialistas por não serem suficientemente centristas), e Jean-Luc Mélenchon pela Frente de Esquerda, que conseguiu reunir em torno de si a maioria dos votos da esquerda radical apesar da participação de outros partidos de extrema-esquerda na eleição.
LePen, Bayrou, e Mélenchon têm cada um entre 14 e 18% dos votos, por enquanto. Assim, nenhum deles parece ter possibilidades de chegar ao segundo turno. O desempenho de Mélenchon tem sido a grande surpresa das eleições. Mas também se prevê que se as sondagens mostrarem uma grande queda de Hollande, talvez metade dos eleitores de Mélenchon votem em Hollande, para evitar o risco de Le Pen ou Bayrou afastarem o socialista do segundo turno.
Contudo, se Mélenchon obtiver uma grande votação e Hollande mesmo assim for ao segundo turno, duas coisas serão verdade. Uma, terá havido uma clara mensagem aos socialistas de que precisam virar à esquerda politicamente. A segunda é que a maioria dos eleitores de Mélenchon votarão em Hollande no segundo turno. À direita, porém, a maioria dos eleitores de Le Pen ficarão relutantes de votar em Sarkozy, e o Front National não dará essa indicação de voto. Se o fizessem, minariam a sua própria base de existência.
O sistema francês parece funcionar melhor para a esquerda radical. O sistema dos EUA parece funcionar melhor para a extrema-direita. Mas o motivo principal são as diferentes regras eleitorais. Immanuel Wallerstein
Tradução, revista pelo autor, de Luis Leiria para o Esquerda.net
Fonte: http://www.revistaforum.com.br/
[Croácia] Zagreb: Breve crônica da 8ª Feira do Livro Anarquista - por ANA
[Croácia] Zagreb: Breve crônica da 8ª Feira do Livro AnarquistaA 8ª Feira do Livro Anarquista em Zagreb, que aconteceu entre os dias 31 de março e 1º de abril, foi um bom espaço de encontro com muitas pessoas ativas na região, como aconteceu nos anos anteriores e com alguns debates interessantes e troca de material.
A Feira contou com a presença de diversas iniciativas, como a da Active Distribution, da editora Sto Citas, e outras vindas de Londres, Sérvia, Estônia, República Checa e a nossa, desde Hamburgo, com alguns fanzines e material do Café Libertad.
No primeiro dia foram realizados debates sobre iniciativas locais e temas históricos, e podemos relaxar no jardim, enquanto que os cartazes que difundiam a Feira eram visíveis em muitas das livrarias da cidade. Como todos os anos, as atividades do segundo dia não se realizaram somente em ambientes fechados, pois a Feira mudou-se para o Parque Central da cidade. No mesmo dia houve um protesto no marco das manifestações do dia europeu de ações contra o capitalismo, o 31M, que começou na Universidade de Zagreb e terminou no Parque onde havia sido montada a Feira.
Pessoalmente estava responsável, junto com uma pessoa da Universidade de Zagreb, de realizar um debate sobre tecnologia, anarquismo e movimentos sociais. Os eixos principais deste debate foram:
• A apresentação de algumas iniciativas que usam twitter ou googlemaps para o seu trabalho político, o debate foi polêmico.
• É um problema que as pessoas se concentrem mais no ativismo "virtual" ao invés da ação e nas relações "reais"?
• Como podemos tratar a dependência das infraestruturas dominadas pelo Estado e pelas empresas, como por exemplo, o hardware para a Web?
Claro que o tempo não dava para falar em detalhes sobre tudo isto, mas certamente se trata de um debate muito importante que deve ser aberto num contexto anarquista, sobre o bom e mau uso das tecnologias.
No terceiro dia, um ativista oriundo da Rússia fez uma apresentação sobre a situação atual em geral na Rússia, a luta antifascista e as iniciativas anarquistas. Em seguida, o debate centrou-se na situação jurídica, o “departamento contra o extremismo”, a postura que toma, em geral, as pessoas na Rússia perante a violência nazi e os tipos de apoio que têm os neonazistas por parte da sociedade.
A Feira foi uma boa oportunidade para entrar em contato com os anarquistas da região, e passamos um grande momento em Zagreb, na esperança de voltar no próximo ano.
Mais infos: http://www.ask-zagreb.org/
agência de notícias anarquistas-ana
quantos pirilampos
posso contar esta noite?
caminho enluarado
José Marins
A Feira contou com a presença de diversas iniciativas, como a da Active Distribution, da editora Sto Citas, e outras vindas de Londres, Sérvia, Estônia, República Checa e a nossa, desde Hamburgo, com alguns fanzines e material do Café Libertad.
No primeiro dia foram realizados debates sobre iniciativas locais e temas históricos, e podemos relaxar no jardim, enquanto que os cartazes que difundiam a Feira eram visíveis em muitas das livrarias da cidade. Como todos os anos, as atividades do segundo dia não se realizaram somente em ambientes fechados, pois a Feira mudou-se para o Parque Central da cidade. No mesmo dia houve um protesto no marco das manifestações do dia europeu de ações contra o capitalismo, o 31M, que começou na Universidade de Zagreb e terminou no Parque onde havia sido montada a Feira.
Pessoalmente estava responsável, junto com uma pessoa da Universidade de Zagreb, de realizar um debate sobre tecnologia, anarquismo e movimentos sociais. Os eixos principais deste debate foram:
• A apresentação de algumas iniciativas que usam twitter ou googlemaps para o seu trabalho político, o debate foi polêmico.
• É um problema que as pessoas se concentrem mais no ativismo "virtual" ao invés da ação e nas relações "reais"?
• Como podemos tratar a dependência das infraestruturas dominadas pelo Estado e pelas empresas, como por exemplo, o hardware para a Web?
Claro que o tempo não dava para falar em detalhes sobre tudo isto, mas certamente se trata de um debate muito importante que deve ser aberto num contexto anarquista, sobre o bom e mau uso das tecnologias.
No terceiro dia, um ativista oriundo da Rússia fez uma apresentação sobre a situação atual em geral na Rússia, a luta antifascista e as iniciativas anarquistas. Em seguida, o debate centrou-se na situação jurídica, o “departamento contra o extremismo”, a postura que toma, em geral, as pessoas na Rússia perante a violência nazi e os tipos de apoio que têm os neonazistas por parte da sociedade.
A Feira foi uma boa oportunidade para entrar em contato com os anarquistas da região, e passamos um grande momento em Zagreb, na esperança de voltar no próximo ano.
Mais infos: http://www.ask-zagreb.org/
agência de notícias anarquistas-ana
quantos pirilampos
posso contar esta noite?
caminho enluarado
José Marins
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Reunião: Encontro Movimento Sair do Capitalismo - por Rosa Fonseca
Companheir@s
Somente hoje tive de volta meu computador com os arquivos, razão pela qual só agora estou mandando o convite, cartaz e folder convocando o Encontro do MOVIMENTO SAIR DO CAPITALISMO (05 e 06 de maio) e renovando o convite para a reunião amanhã, às 09 horas, na Arquitetura da UFC.
ENCONTRO DO MOVIMENTO SAIR DO CAPITALISMOAté aqui não se contava com uma ideia desenvolvida de um movimento social de ruptura com a ordem estabelecida.
Não havia uma nova ideia de revolução para formar um polo oposto à barbárie reinante.
Não existia uma proposta para apreender e combater a totalidade capitalista no sentido de suplantar o moderno sistema patriarcal produtor de mercadorias.
Em decorrência disso, os movimentos sociais existentes como os Indignados da Europa, da Primavera Árabe, do Occupy Wall Street, o MST, os sindicatos, os partidos e vários outros no Brasil permaneceram (e permanecem) presos à imanência do sistema. O que faz com que as simples lutas defensivas, mesmo as reivindicações modestas e imediatas não tenham possibilidade de vitória por não se colocarem numa perspectiva de suplantação do sistema. O resultado, como se sabe, foi (e continua sendo) a manutenção da luta pela modernização do capitalismo.
Mas o capitalismo já alcançou a sua modernização. Hoje, ele se depara, na crise atual, com sua fronteira histórica. E quem administra a crise dessa fronteira, administra a sua barbárie. Eis porque a persistência da teoria e da prática desses movimentos na atualidade se reveste de um caráter retrógrado. E isso torna os movimentos sociais impossibilitados de pôr um paradeiro no genocídio da humanidade e no ecocídio do planeta.
Não havia, como consequência disso, uma proposta de um movimento social inovador. Mas, agora, irrompeu uma ideia em Fortaleza, que provoca a humanidade - a ideia da gente sair do capitalismo. Trata-se da ideia de um movimento capaz de transformar a relação social existente e construir a sociedade pós-capitalista. A saída prá vida plena de sentido.
Os anos na persistência da luta; a (re)descoberta da dinâmica capitalista (valorização do valor, do dinheiro), ou seja, da sua essência, da sua lógica, do fundamento do sistema; as contribuições teóricas inestimáveis de várias pessoas; o limite histórico do caráter destrutivo e autodestrutivo do capitalismo; o colapso do sistema e o insight do devir histórico de um movimento transcendente contribuíram para dar vida a essa nova proposta.
Sua concretização supera as concepções teóricas e práticas que reinavam, até aqui, afirmando que a crítica ao sistema só poderia ser exercida no horizonte do próprio modo de produção capitalista.
Com isso, chega ao fim a capitulação incondicional às regras, normas, princípios, organização e funções do Mercado, Estado e demais categorias fundantes do capitalismo.
Entra na ordem do dia a vontade consciente do ser humano para o iniciar da construção de um modo superior de sociabilidade que vai muito além das formas fetichistas da mercadoria, da política, do trabalho e do dinheiro. Aqui a pré-modernidade, a modernidade, a pós-modernidade e a ultramodernidade se revelam como pré-históricas.
Quem optou por nem ver, nem ouvir e nem falar sobre isso se depara agora com o iniciar concreto desta façanha histórica.
Dê asas às suas instigações. Participe da construção e realização desta proposta. Declare seu amor à humanidade e ao planeta!
Para enfrentar, equacionar e suplantar tanto a barreira econômica como a ecológica do sistema impõe-se a realização de um encontro. Um encontro que não pode prescindir da sua colaboração. A partir de agora você está mais do que convidado(a)!_____________________________
Aproveito para enviar o convite para o ato que acontecerá domingo, dia 15/04/2012, às 09hs da manhã, ao lado da Igreja Santíssima Trindade no Conj. José Walter, na Av. C (ao lado do Colégio Otávio de Farias). Na ocasião será plantado um pé de IPÊ simbolizando a luta do CARLINHOS em defesa do meio ambiente e da vida, que É A NOSSA LUTA.
O Carlos Henrique foi assassinado no dia 01/04/2012. Ele era geógrafo ambiental, integrante do INSTITUTO AMBIENTAL VIRAMUNDO, funcionário da AMMA, Autarquia do Meio Ambiente da Prefeitura de Eusébio e já havia participado de 02 reuniões do Movimento Sair do Capitalismo. Tem fotos no meu facebook, do Crítica Radical e da Sandra Helena Freitas (Sandrinha).
Contamos com você.
Abs.
Rosa Fonseca (rosaradical@uol.com.br)
Somente hoje tive de volta meu computador com os arquivos, razão pela qual só agora estou mandando o convite, cartaz e folder convocando o Encontro do MOVIMENTO SAIR DO CAPITALISMO (05 e 06 de maio) e renovando o convite para a reunião amanhã, às 09 horas, na Arquitetura da UFC.
ENCONTRO DO MOVIMENTO SAIR DO CAPITALISMOAté aqui não se contava com uma ideia desenvolvida de um movimento social de ruptura com a ordem estabelecida.
Não havia uma nova ideia de revolução para formar um polo oposto à barbárie reinante.
Não existia uma proposta para apreender e combater a totalidade capitalista no sentido de suplantar o moderno sistema patriarcal produtor de mercadorias.
Em decorrência disso, os movimentos sociais existentes como os Indignados da Europa, da Primavera Árabe, do Occupy Wall Street, o MST, os sindicatos, os partidos e vários outros no Brasil permaneceram (e permanecem) presos à imanência do sistema. O que faz com que as simples lutas defensivas, mesmo as reivindicações modestas e imediatas não tenham possibilidade de vitória por não se colocarem numa perspectiva de suplantação do sistema. O resultado, como se sabe, foi (e continua sendo) a manutenção da luta pela modernização do capitalismo.
Mas o capitalismo já alcançou a sua modernização. Hoje, ele se depara, na crise atual, com sua fronteira histórica. E quem administra a crise dessa fronteira, administra a sua barbárie. Eis porque a persistência da teoria e da prática desses movimentos na atualidade se reveste de um caráter retrógrado. E isso torna os movimentos sociais impossibilitados de pôr um paradeiro no genocídio da humanidade e no ecocídio do planeta.
Não havia, como consequência disso, uma proposta de um movimento social inovador. Mas, agora, irrompeu uma ideia em Fortaleza, que provoca a humanidade - a ideia da gente sair do capitalismo. Trata-se da ideia de um movimento capaz de transformar a relação social existente e construir a sociedade pós-capitalista. A saída prá vida plena de sentido.
Os anos na persistência da luta; a (re)descoberta da dinâmica capitalista (valorização do valor, do dinheiro), ou seja, da sua essência, da sua lógica, do fundamento do sistema; as contribuições teóricas inestimáveis de várias pessoas; o limite histórico do caráter destrutivo e autodestrutivo do capitalismo; o colapso do sistema e o insight do devir histórico de um movimento transcendente contribuíram para dar vida a essa nova proposta.
Sua concretização supera as concepções teóricas e práticas que reinavam, até aqui, afirmando que a crítica ao sistema só poderia ser exercida no horizonte do próprio modo de produção capitalista.
Com isso, chega ao fim a capitulação incondicional às regras, normas, princípios, organização e funções do Mercado, Estado e demais categorias fundantes do capitalismo.
Entra na ordem do dia a vontade consciente do ser humano para o iniciar da construção de um modo superior de sociabilidade que vai muito além das formas fetichistas da mercadoria, da política, do trabalho e do dinheiro. Aqui a pré-modernidade, a modernidade, a pós-modernidade e a ultramodernidade se revelam como pré-históricas.
Quem optou por nem ver, nem ouvir e nem falar sobre isso se depara agora com o iniciar concreto desta façanha histórica.
Dê asas às suas instigações. Participe da construção e realização desta proposta. Declare seu amor à humanidade e ao planeta!
Para enfrentar, equacionar e suplantar tanto a barreira econômica como a ecológica do sistema impõe-se a realização de um encontro. Um encontro que não pode prescindir da sua colaboração. A partir de agora você está mais do que convidado(a)!_____________________________
Aproveito para enviar o convite para o ato que acontecerá domingo, dia 15/04/2012, às 09hs da manhã, ao lado da Igreja Santíssima Trindade no Conj. José Walter, na Av. C (ao lado do Colégio Otávio de Farias). Na ocasião será plantado um pé de IPÊ simbolizando a luta do CARLINHOS em defesa do meio ambiente e da vida, que É A NOSSA LUTA.
O Carlos Henrique foi assassinado no dia 01/04/2012. Ele era geógrafo ambiental, integrante do INSTITUTO AMBIENTAL VIRAMUNDO, funcionário da AMMA, Autarquia do Meio Ambiente da Prefeitura de Eusébio e já havia participado de 02 reuniões do Movimento Sair do Capitalismo. Tem fotos no meu facebook, do Crítica Radical e da Sandra Helena Freitas (Sandrinha).
Contamos com você.
Abs.
Rosa Fonseca (rosaradical@uol.com.br)
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