segunda-feira, 2 de abril de 2012

Estado Assassino: Exército de Israel: assassinatos não muito seletivos - por Luiz Eça

Exército de Israel: assassinatos não muito seletivos A mídia do Brasil passa a idéia de que foram os palestinos quem começaram os recentes conflitos com Israel. Foram eles que lançaram dezenas de foguetes contra o território israelense, obrigando o governo de Tel-aviv a retaliar. E ainda assim os aviões israelenses lançaram mísseis com precisão cirúrgica, somente matando terroristas prestes a atacar Israel. Não foi bem isso.

Quem atacou primeiro foi Israel, assassinando Zuhair al-Qaissi, um dos líderes do Comitê de Resistência Popular (PRC), grupo integrado por militantes de vários partidos palestinos. Um drone destruiu o carro em que viajava.

A reação dos palestinos, como sempre, foi ineficaz: lançaram foguetes artesanais, cujo dano maior foi assustar os moradores judeus das cidades próximas à fronteira com Gaza, além de ferir levemente alguns trabalhadores, por sinal, estrangeiros.

Já a aviação de Israel fez um serviço muito mais completo: 22 palestinos mortos, sendo quatro comprovadamente civis, e dezenas de feridos, que tiveram o azar de estar nas proximidades dos alvos humanos. Sem falar numa série de edifícios arrasados, total ou parcialmente.

Israel justificou-se. Foi por razões de segurança que atacou, pois a vítima tinha sido o autor dos ataques ocorridos em 2011 na fronteira com o Egito e estaria planejando novas ações terroristas. O PRC desmentiu categoricamente. De fato, já era sabido que os ataques de 2011 não tinham partido de Gaza e sim do Sinai.

Quanto à acusação de que al-Qaissi estaria planejando atentados sinistros, Israel não se preocupou em provar. Disse que era verdade, e pronto!

Afinal, é assim que funciona sua política de assassinatos seletivos (“targeted killings”). Reagir contra eles, como os palestinos fizeram, é voltar-se contra políticas militares israelenses que, para Tel-aviv, têm força de lei. Portanto, é um crime, castigado com mísseis, bombas e drones.

A política de “assassinatos seletivos” não é obra de Netanyahu. Existia desde 2000, ano em que Ehud Barak, do Partido Trabalhista, era o primeiro-ministro.

Seu objetivo era eliminar terroristas que o governo israelense não teria condições de prender. Israel empregou esta tática especialmente na faixa de Gaza, onde aviões e helicópteros disparavam mísseis para atingir indivíduos, previamente selecionados por constituírem ameaça à segurança da população israelense. O exército afirmava que, dada a precisão cirúrgica dos ataques, as chances de matarem palestinos inocentes eram mínimas.

Não era o que acontecia, protestou a B’Tselem, entidade de direitos humanos judaica. Ela rejeitou as estatísticas oficiais e procedeu a uma investigação por conta própria. Apurou que, entre setembro de 2000 e agosto de 2011, os “assassinatos seletivos” liquidaram 425 palestinos, dos quais 174 (40,9%) eram civis inocentes, inclusive crianças. Isso dava uma proporção de 1 “inocente” para 1,44 vítima.

Indignados, grupos de direitos humanos palestinos entraram na justiça requerendo a proibição dessa tática israelense, sob alegação de que se tratava de execuções extralegais. Mas a Suprema Corte rejeitou o pedido. No entanto, estabeleceu algumas restrições e limitações, e que as evidências deveriam ser avaliadas caso a caso.

Como as evidências nunca são reveladas, não era possível verificar se as diretivas da Suprema Corte foram respeitadas. E os “assassinatos seletivos” continuaram na mesma.

Assim, não havendo transparência, a decisão da Suprema Corte permanece como letra morta. Na seleção e eliminação dos alvos humanos, as autoridades de segurança israelenses têm poderes totais: funcionam, ao mesmo tempo, como acusadores, juízes e carrascos.

Simplesmente confia-se nos critérios de indivíduos que podem ser “falcões”, para quem mesmo militantes pacíficos de movimentos pró-libertação da Palestina representam ameaças potenciais de terrorismo e merecem ser liquidados.

Quando cometem erros não são responsabilizados. Mortes de inocentes nos ataques são consideradas apenas danos colaterais.

Depois dos quatro dias de ataques aéreos contra a indefesa Gaza, o Observatório Euro-Mediterrâneo de Direitos Humanos criticou o assassinato seletivo que deu origem ao conflito, taxando-o de flagrante violação da lei internacional e de “assassinato fora da lei e sem julgamento.”

Pode ser escolhido o nome que você quiser: execução, assassinato, liquidação, o que for. O importante é que os “targeted killings” de Israel representam a negação do direito de defesa perante uma autoridade judiciária.

Embora seja moda excluir esse direito, como os EUA de Barack Obama andam fazendo, ele continua essencial na democracia.

Luiz Eça é jornalista.
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br/

Nenhum comentário: