McDonald´s:
agora, sem sabor de passividade
Alastra-se,
nos EUA, luta dos trabalhadores de fast-food por salários e direitos. Detalhe:
eles ganham quatro vezes mais que no Brasil
Os quase
invisíveis funcionários de fast foods norte-americanos estão organizando-se
para chamar a atenção para que seus direitos sejam reconhecidos. Em 5 de
dezembro, atendentes de redes como McDonald’s, Burger King, KFC e Wendy’s de
mais de 100 cidades dos Estados Unidos não apareceram nas lanchonetes.
Organizaram-se, à sua maneira, em cada parte do país, exigindo melhores
salários e o direito de poderem se sindicalizar. De flash mobs a cartazes
luminosos e fantasias irônicas de Ronald McDonald e Tio Sam, levantaram uma
mesma bandeira: o aumento do salário mínimo para 15 dólares por hora — mais que
o dobro dos U$7,25 atuais, piso salarial norte-americano, equivalentes a R$
16,80.
O movimento
começou com uma pequena marcha em Nova York, em novembro de 2012, com
trabalhadores das redes KFC, McDonald’s e Burger King. Já protestavam pelo
aumento do salário para 15 dólares por hora, e chamavam a atenção para como é
impossível viver em condições materiais dignas com um destes empregos. Em
agosto deste ano, os protestos aumentaram: aconteceram em mais de 60 cidades
norte-americanas.
Você pode
não reparar, mas os sanduíches de aparência plastificada são montados e
servidos por mãos humanas. E, apesar de haver um mito de que este é um emprego
para jovens e profissionais iniciantes, os números mostram exatamente o
contrário: a maior parte dos funcionários têm mais de 25 anos e em torno de 68%
deles são os principais responsáveis pela renda de sua família. Muitos têm
filhos e cumprem jornada dupla para poder manter suas casas.
Paul
Krugman, Nobel de Economia, lembra
que, assim como a maioria dos trabalhadores pobres, os funcionários do varejo
têm sofrido perdas graves, nos Estados Unidos — uma nação cada vez mais
desigual. Apesar da crise, a economia é, hoje, muito maior do que há quarenta
anos. Porém, os salários nas empresas varejistas (algumas delas, gigantes
globais como McDonald’s e WalMart) representam, hoje, 30% menos do que em 1973
— quando já não eram grande coisa. O salário mínimo nacional nos EUA é de
U$7,25 por hora (em alguns estados é um pouco maior), e os atendentes de fast
food recebem, se tanto, apenas alguns centavos a mais. O Instituto de Políticas
Econômicas dos EUA concluiu que, se o mínimo aumentasse para U$10,10, beneficiaria
diretamente 30 milhões de trabalhadores.
Apesar da
crença de que salários mais altos resultariam num aumento do preço dos produtos
ou na inviabilidade financeira das cadeias de restaurantes, Krugman mostra, por
meio de pesquisas, que isso não é verdade. Para ele, é necessário que, além da
elevação do mínimo, existam e sejam ampliados programas de assistência médica e
alimentar (nos EUA, existem os food stamps, que são algo com um vale refeição
oferecido pelo governo aos mais pobres).
Mas afirmar
a inviabilidade do aumento do salário dos funcionários, sob o pretexto de que
os alimentos ficariam mais caros é, no mínimo, muito mesquinho. Isso fica
explícito quando se compara
o que ganham o caixa de um McDonald’s e o presidente da empresa. Um atendente
tem de trabalhar quase quatro meses para alcançar o que James Skinner, o útimo
CEO da rede cujos dados estão disponíveis, ganhava em uma hora. Segundo a Fast Food Forward, movimento de
trabalhadores de fast food novaiorquinos, a média de salário de um presidente
destes restaurantes é de U$25 mil por dia. E toda esta indústria recebe,
aproximadamente, 200 bilhões de dólares a cada ano.
É por causa
desta desigualdade que, normalmente, um funcionário não poderia parar para
fazer greve por um dia — isso significaria 50 dólares a menos em sua renda. Por
isso, grupos ativistas como a Fast Food Forward e Fight For 15, auxiliados por
sindicatos, fundações e organizações de base, financiaram
a paralisação.
O
McDonald’s, que costuma reprimir e penalizar trabalhadores que se organizam,
acredita cinicamente que eles têm melhores maneiras de aproveitar os poucos
dólares que ganham. Em um site de recursos humanos dirigido aos funcionários, sugeriu-se que
cortassem sua comida em pedaços, para que rendesse mais. E se estivessem com
problemas financeiros, a dica era vender alguns de seus bens em sites
especializados. Além disso, alertava-se: reclamar demais pode ser perigoso por
causar grande aumento do hormônio do stress — a recomendação era que cantassem,
para esquecer dos problemas.
Seria
interessante se o movimento reivindicatório dos EUA chegasse ao Brasil. Em São
Paulo, em maio do ano passado, o McDonald’s assinou
um acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Bares, Lanchonetes e
Restaurantes de São Paulo (Sinthoresp), regularizando as jornadas de trabalho e
salários fixos de seus funcionários. Antes disso, os funcionários tinham
horários de trabalho irregulares e eram obrigados a ficar à disposição da
empresa. Nesta época, o piso de um trabalhador de 44 horas semanais era quatro
vezes menor que o de seu colega nos EUA: R$ 769,26 — cerca de 4 reais por hora
(ou U$1,72, considerando o dólar a R$2,34). A exploração, como se vê, também é
devidamente exportada.
Fonte: http://outraspalavras.net/
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