Noam Chomsky: EUA matavam quem praticava o que prega Papa Francisco
Os Estados
Unidos declararam e lutaram uma amarga, brutal e violenta guerra contra a
igreja, disse Chomsky (Foto: Wikimedia Commons)
Os Estados
Unidos lutaram por décadas uma guerra contra católicos que praticavam os
ensinamentos que levaram o Papa Francisco a ser eleito personalidade do ano
pela Times, segundo o filósofo político Noam Chomsky.
Segundo
Chomsky, em 1962, a conferência Vaticano II reformou os ensinamentos da Igreja
Católica pela primeira vez desde o século IV, quando o Império Romano adotou o
cristianismo como sua religião oficial, e isso teve um profundo impacto nos
líderes religiosos da América Latina.
Na semana
passada, em uma entrevista com o ativista de justiça social Abel Collins,
Chomsky explicou que padres e laicos latino-americanos formaram grupos com
camponeses para estudar o Evangelho e reivindicar mais direitos das ditaduras
militares da região – que ficaram conhecidos como Teologia da Libertação.
“Há uma
razão porque cristãos foram perseguidos pelos primeiros três séculos,” disse
Chomsky. “Os ensinamentos são radicais – de um texto radical – que pregam
basicamente um pacifismo radical com opções preferenciais aos pobres.”
Ele
reafirmou que praticantes da Teologia da Libertação foram sistematicamente
martirizados, ao longo de mais de 20 anos por forças apoiadas pelos EUA, que
tentavam evitar que nações latino-americanas instalassem governos socialistas
em benefício de seus próprios povos, contrariando interesses norte-americanos.
“Os Estados
Unidos declararam e lutaram uma amarga, brutal e violenta guerra contra a
igreja,” disse Chomsky. “Se existisse imprensa livre, é assim que
representariam a historia.”
Ele
explicou que os EUA apoiaram a “posse de governos e instituições ditatoriais
com estilos neonazistas”, como parte de uma guerra que finalmente terminou em
1989 com a morte de seis jesuítas e duas mulheres na Universidade da América
Central por tropas salvadorenhas.
Chomsky
disse que aquelas tropas foram treinadas pelo governo norte-americano na Escola
Kennedy de Guerra Contra a Insurgência, e agiram sob ordens oficiais do comando
salvadorenho, que mantinha uma relação próxima com a embaixada norte-americana.
“Eu nem
tenho que atribuir isso ao governo,” disse ele. “Já é aceito. A Academia das
Américas, que treina oficiais militares latino-americanos – basicamente
assassinos – um dos seus pontos de discussão é que o exército norte-americano
ajudou a derrotar a Teologia da Libertação.”
O Papa
Francisco, um jesuíta argentino, tem feito gestos simbólicos para uma nova
aceitação da Teologia da Libertação na Igreja, depois de anos de condenação por
suas aspirações políticas pelos papas João Paulo II e Bento XVI.
Seu recente
Evangelii Gadium – ou Alegria do Evangelho – foi visto por muitos como um
ataque ao capitalismo e economia de mercado livre, mas Chomsky acredita que até
agora o Papa não transformou suas palavras em ações.
“Gosto do
fato de que o discurso mudou, e de que há uma melhora na discussão sobre
justiça social, mas temos que ver se isso chegará ao ponto de as pessoas se
organizarem e insistirem por seus direitos percorrendo o caminho da opção
preferencial pelos pobres, ou seja, de levar o Evangelho a sério.”
Tradução:
Ítalo Piva
Fonte: http://revistaforum.com.br/blog/
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