terça-feira, 15 de junho de 2010

Juventude: Pós-modernidade e Capitalismo - Por Rico

Juventude: Pós-modernidade e Capitalismo

Não pensamos mais a juventude como uma época onde a inventividade conquistava o seu último grau. A idéia de juventude como “época de ouro para a criação”, onde tudo aflora, as grandes mudanças acontecem, a criatividade canta, o desejo de novos ares transgride as fronteiras da individualidade para se ver expresso numa coletividade dançante, já não existe mais, agora é outra idéia que se tem da juventude, bem como a própria juventude, sendo tomada por essa idéia nova, transforma-se em outra coisa. Não se trata aqui de uma descoberta alegre, mas antes, de um derradeiro diagnóstico. Seria justo perguntarmos: o que fez a pós-modernidade, o capitalismo pós-moderno, com nossa juventude? Ora, o que se sabe, o que sempre se soube, é que ele a roubou, a violentou, a interiorizou, transformou-a em mais uma engrenagem constitutiva de sua máquina doentia. O capitalismo, na pós-modernidade, engloba tudo (efeito sistêmico da globalização), engole implacavelmente toda a vida. Ele nos roubou até mesmo o ato de criar; a criatividade foi também interiorizada pelo capitalismo e direcionada ao consumo: para vender é preciso criar e criar é inventar rótulos mais chamativos que conquistem o consumidor, propagandas que despertem o desejo de consumo nas pessoas etc.

Retornando à pergunta inicial: o que diabos fez o capitalismo com nossa juventude? Ele a transformou em mercadoria, ele a coisificou; Marx estará sempre certo ao apontar os mecanismos do capital que transformam a vida em mercadoria. A juventude bem como a vida passa a constituir coisas das quais o capitalismo extrai a força necessária a sua maquinaria. No capitalismo, a juventude não tem outro fim que não servir ao capital – capital como fim em si mesmo. Onde encontramos a juventude? Numa embalagem de achocolatado ou de refrigernate, nas boy banbs da indústria cultural, nas espetaculazirações das novelas televisivas, nas revistas de moda, nos slogans das grandes corporações etc. Como tudo na pós-modernidade, a juventude se dissolveu em caracteres fragmentados, em lixo, em item de uma prateleria de supermercado: consome-se juventude quando se assisti a um filme juvenil (Crepúsculo, por exemplo), ou quando se compra uma roupa ou um tênis. O capitalismo não se contenta em produzir mercadorias, mas em produzir a própria vida enquanto mercadoria. Nesse caso, trata-se de vender modos de vida, de pensamento – vida enlatada no processo de consumo massificado; é a vida voltada unicamente para o consumo, como dir-nos-á Bauman.

Esse movimento apropriador do capital, que se apropria da vida para submetê-la às leis do mercado, à massificação dos modos de viver, à lógica do espetáculo da mercadoria, agrava-se e torna a vida cada vez mais doente, cada vez mais horrível. Tanto na legalidade quanto na ilegalidade o capitalismo participa e funciona, ele não pode deixar de funcionar. Quiçá seja daí que venha a irracionalidade da máquina capitalista, que, no entanto, longe de refutar a sua racionalidade, a comprova. Como diz Deleuze “o racional é sempre a racionalidade de um irracional”, logo, antes do irracional refutar o racional, ele o supõe, “no fundo de toda razão, o delírio, a deriva”. Não devemos nos espantar quando percebemos o quão demente são os mecanismos capitalistas, ao contrário, é “precisamente por serem simultaneamente dementes e funcionarem muito bem” que devemos nos espantar.

Embora a pós-modernidade esteja aí para enterrar o desejo de uma juventude renovada, voltada para outras coisas que não o consumo, o acúmulo de capital, o funcionamento da máquina capitalista, penso ainda ser possível tocar músicas alegres. Um piano muito tímido ainda toca em meio às explosões e tiros de metralhadora, quebrando essa harmonia grotesca, de corpos caindo, de gente morrendo, de sangue sendo derramado aos litros. Os focos de resistência são como uma pequena e tímida esperança de dias vindouros. Toda sociedade possui suas linhas de fuga, mesmo que essas linhas de fuga não sejam facilmente percebidas ou estejam em perigo de serem contidas pelos movimentos apropriadores. O que não pode de modo algum ocorrer, é entender aquilo que se sabe sobre o atual estado de coisas, como justificativa para novos conformismos e resignações. Deixar-se subjugar, curvar-se diante dos poderes e aceitar toda opressão, tudo isso é atitude dos fracos de espírito, dos que já estão demasiado enfermos para buscarem modificar o estado deplorável de suas vidas.

Fonte: http://rizomafilosofia.blogspot.com

2 comentários:

Anônimo disse...

Lendo esse artigo fico refletindo sobre a necessidade da adequação a uma sociedade de consumo, não como é contruida atualmente mas uma nova sociedade de consumo, com os valores invertidos, primeiro o ser, depois o ter.

Provos Brasil disse...

Obrigado pela visita!

Cara acho que todos nós de alguma forma esperamos por outra “sociedade”, por outro tipo de consumo, talvez.... quem sabe... um lugar aonde o "Ser" seja mais importante e o "Nós" seja fundamental, um lugar aonde o conceito de liberdade seja livre!

Provos Brasil