Ressurge o anarquismo em Porto Rico
Um coletivo anarquista marchou durante a manifestação realizada em 18 de julho de 2010, onde milhares de manifestantes se mobilizaram para protestar contra o governo.
Para parte das pessoas que estavam presentes foi a primeira vez que vimos um grupo de anarquistas agrupados num coletivo, marchando junto à multidão, agitando a bandeira vermelha e preta e exibindo uma impressionante faixa onde podíamos ler seu nome: Ação Libertária.
Desde o ano passado e no transcorrer deste, em diferentes locais de Río Piedras podíamos encontrar cartazes que anunciavam debates sobre o anarquismo. Também em algumas manifestações de protesto se podia ver um indivíduo solitário agitando a bandeira, ou quando mais, duas ou três pessoas o acompanhando.
O anarquismo depois da greve
Não é por acaso que o grupo anarquista Ação Libertária tenha sido formado justamente no processo grevista da Universidade de Porto Rico (UPR). Durante esse processo estudantes simpatizantes do anarquismo no campus de Río Pedras se encarregaram de realizar debates, formais ou informais, sobre o tema. Também exibiram filmes, e alguns livros sobre anarquismo circularam de mão em mão.
Além disso, a forma horizontal de organização e a ênfase na democracia participativa que foi promovida durante todo o processo, assim como a autogestão e a falta de um organismo central que desse direção (ordens) ao movimento estudantil, são características próximas à filosofia anarquista que de alguma maneira ou outra foram colocadas em prática por trás das portas da universidade tomada. É claro que a greve não foi uma “greve anarquista”, mas com certeza foi posta em prática, de forma consciente ou inconsciente, muitas de suas idéias, ajudando na consolidação do coletivo.
Com a formação do Ação Libertária, grupo composto por estudantes da UPR e de outras instituições universitárias, surge uma nova alternativa de luta social, uma mina ideológica e filosófica que ainda não foi explorada em Porto Rico. Entretanto, o ideal anarquista, como toda filosofia política esboçada na era industrial do século XIX, enfrenta o desafio de se adequar à realidade local e encontra sua relevância no contexto pós-industrial que se vive hoje.
Outro problema para o anarquismo: a desinformação local com respeito a esta filosofia e a distorção histórica que sofreu a palavra anarquia.
A problemática sobre a desinformação ou a falta de atenção a esta filosofia foi abordada recentemente por vários membros do Coletivo que foram convidados a participar do Agenda de Hoje, programa de rádio da jornalista Norma Valles na Rádio Universidade de Porto Rico. Ali o/as ativistas questionaram o fato de que inclusive dentro dos cursos de história, sociologia e filosofia das universidades do país, onde se discutem textos como o Manifesto Comunista de Karl Marx, o tema sobre o anarquismo seja passado por alto.
Pelo fato mesmo desta discussão ter sido realizada às quatro da tarde pelas ondas de rádio da 89.7 FM, indica que a informação sobre o anarquismo começou novamente a se difundir.
O anarquismo em Porto Rico
O anarquismo, também chamado de socialismo libertário, não foi inexistente em Porto Rico. Rubén Dávila Santiago, em seu livro A Demolição das Muralhas – Origens Intelectuais do Socialismo em Porto Rico menciona que na Ilha o socialismo libertário foi a primeira expressão ideológica do socialismo.
Segundo Jorell, membro do Ação Libertária e vocalista da banda punk Anti-Sociales, durante a greve do jornal O Mundo houve uma ativa participação da União de Socialistas Libertários. Jorell, que há um ano investiga sobre o anarquismo em Porto Rico, aponta também que paralelamente existiam, dentro do contexto da Universidade de Porto Rico, outros grupos de tendência libertária como, por exemplo, o Oficina Libertária Luisa Capetillo e o Círculos de Estudos Alicia. Também mencionou que no começo do século XX em Porto Rico existiu uma grande produção literária, jornalística e de propaganda com intelectuais orgânicos como Venancio Cruz, José Juan López, Ángel Ma. Dieppa e Juan Vilar.
Em Porto Rico o Coletivo o Turbilhão, grupo de presença eminentemente virtual, produziu textos críticos desvinculados da retórica e propostas dos grupos da esquerda tradicional. Em um desses escritos, intitulado Carta à Sociedade: Tempos de Sublevação, o coletivo propõe:
Uma sociedade verdadeiramente livre onde a cooperação, a ajuda mútua e a solidariedade sejam os paradigmas regentes. Queremos um Porto Rico que esteja além do direito e do Estado, que pense em termos de amor e compromisso mútuo. Enquanto o Estado (liberal-burguês) promove a divisão e a repressão, o domínio de uma oligarquia excludente somente nos leva a mais tragédias como a de 21 de agosto. A sociedade situacionista antropofágica é uma em que todos e todas colaboramos com respeito e responsabilidade com a meta de alterar substancialmente as estruturas hierárquicas do liberalismo e do capital.
Por Joel Cintró Arbasetti
Blog Sementes Libertárias: http://semillaslibertarias.blogspot.com/
Tradução > Marcelo Yokoi
agência de notícias anarquistas-ana
a lua nos espreita
e toca, com seus braços
a alma
Wnors
domingo, 10 de outubro de 2010
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