segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Ultra-capitalismo: do terrorismo ao calote mundial - por Marcelo Salles

Ultra-capitalismo: do terrorismo ao calote mundialPor que não podemos classificar o terrorista norueguês como ultra-capitalista? Por que temos que nos conformar com o rótulo na capa da revista Veja, que o chama de ultra-nacionalista, ou com as variantes usadas no restante das corporações de mídia (atirador, terrorista, extremista e outros tantos, que confundem muito mais do que explicam)? São confiáveis esses veículos de comunicação que imediatamente após o tiroteio sopravam que se tratava de um “extremista islâmico”? A versão amplamente divulgada não resistiu a 24 horas.

Mas estaria eu sendo radical? O capitalismo não prega genocídios? O capitalismo tem um lado humano? Vejamos:

Quando digo que o marginal norueguês é ultra-capitalista não estou pensando nos postulados de Adam Smith ou naquilo que é permitido que se publique a respeito do sistema que domina o mundo. Estou me referindo ao que é escondido (o trabalho escravo ou semi-escravo e a máquina de moer essa gente que trabalha por um salário mínimo de fome) e ao que está implícito, às sutis formas de produção e reprodução de subjetividades, que interferem nas formas de sentir, pensar e agir dos cidadãos e, conseqüentemente, da própria sociedade em que estes estão inseridos.

O assassino em massa que chocou o mundo agiu influenciado por doutrinas que pregam a concorrência violenta, o ódio ao próximo. Essa teoria que joga a culpa de tudo em estrangeiros, negros, gays, ou em qualquer um que seja diferente. É reducionista, mas funciona. Em vez de reconhecer os próprios defeitos, o que demanda tempo, reflexão e análise, basta jogar a culpa em alguém com quem a pessoa não se reconhece: o outro.

Não me parece casual que o alvo do assassino tenha sido um acampamento da juventude socialista, que reuniu centenas de jovens de todos os cantos do mundo – inclusive do Brasil. O bandido criticava o multiculturalismo e chegou a dizer que esse era o grande problema do nosso país. Essa seria a razão para sermos uma sociedade “disfuncional”, de segunda classe.

É evidente que o genocida norueguês nunca viu um Neymar da vida jogando. Muito menos teve a oportunidade de apreciar uma partida como a de quarta-feira, entre Flamengo e Santos. Ali, na Vila Belmiro, quando todos os deuses do futebol (que não são nórdicos, por suposto) baixaram simultaneamente em campo, ficou provada a existência de milagres. Esses milagres que permitem uma jogada como a do terceiro gol do Santos, quando o miscigenado Neymar fez com a bola algo que desafia a compreensão até mesmo dos deuses. Esses milagres que fizeram com que o Flamengo virasse uma partida após estar perdendo por três gols de diferença, sendo que o miscigenado Ronaldinho fez três e foi chamado de “gênio” pelo melhor jogador do mundo na atualidade. Foi um jogo que será lembrado daqui a cem anos. Deve ser duro para os racistas ouvirem isso, mas a verdade é que esses milagres nascem justamente com a miscigenação que as teorias nazistas repudiam. Futebol e música soam melhor quando tem mistura, é assim em qualquer lugar do mundo.

A propósito: o nazismo não era capitalista? Se não, o que era?

A dificuldade de se entender o discurso do premiê da Noruega é compreensível. Todos ficaram chocados quando ele afirmou que discursos de ultra-direita são legítimos. Isso porque as corporações de mídia não conseguiram traduzir para o bom português; preferiram fingir que ele não estava se referindo à ultra-direita, ou seja, a versão mais descarada do capitalismo. Para as corporações de mídia é melhor apostar na confusão do que mostrar ao povo brasileiro que seus sócios e amigos defendem, por exemplo, o cercamento de favelas. Ou o abandono da gente pobre. A tortura de traficantes varejistas.

Os tiros disparados na Noruega também ecoam nos Estados Unidos. O extremismo do assassino nórdico tem tudo a ver com o fundamentalismo neoliberal de mercado. Ambos reivindicam para si a verdade, como se existisse apenas uma, a deles. Ambos consideram-se pertencentes a uma casta superior. E ambos agiram com planejamento, método e frieza.

Agora a maior economia do mundo anuncia tranqüilamente que pode dar um calote amplo, geral e irrestrito, mas não aparece um economista para entoar os cânticos de “irresponsável”. Onde estão os fiscais dos fundamentos da economia? Onde os que diziam que Lula quebraria o Brasil? Cadê a turma que defendia o modelo estadunidense como digno de ser seguido? Estão todos quietinhos, debaixo da cama, morrendo de medo das conseqüências, imprevisíveis, de uma moratória dos Estados Unidos.

O mundo não está nessa situação porque de vez em quando aparece um lunático disposto a tudo para fazer valer sua irracionalidade. Chegamos a este ponto porque o modelo de sociedade adotado pela maior parte do mundo não presta. Quem sabe a União de Nações Sul-Americanas – Unasul – aponte uma nova direção.
Fonte: http://www.fazendomedia.com/

Em tempo:
Coletivo KRISIS: [tio.taz] o ultra-capitalismo prega à voz aberta que todos sejamos lobos, abutres e chacais, onde só os mais fortes e espertos sobreviverão. Sub-repticiamente o discurso é a manutenção da ignorância entre cordeiros e ovelhas, como consideram, os verdadeiros ricos, os 7bi de seres humanos que sobram nesse planeta. Mas - e eles sabem - debaixo da pele de cordeiro existem seres humanos que aos poucos vão saturando-se de tanta mentira e hipocrisia, ao passo que sentimentos de solidariedade vão sendo ressuscitados após décadas (ou até mesmo séculos!) de imbecilidade econômica e política. Grécia, Espanha, Chile, México, Itália... em todo lugar insurgem-se os cansados, os indispostos, os enraivecidos. Sabemos que os poderosos já conhecem os passos e já estão preparados para enfrentá-los: mas somos cada vez mais, aos poucos beiramos à países inteiros! O próprio capitalismo é imbecil em si mesmo, vai engolir-se pelo próprio rabo. Excelente texto do Marcelo Salles, mesmo. Recomendo o documentário "Tratamento de Choque", baseado no livro homônimo de Naomi Klein, tratando do homem mais "importante" do período pós-guerra... Friedman, e toda a desgraça decorrente de suas idéias ultra-capitalistas, neoliberais...
Fonte: http://coletivokrisis.blogspot.com/

Um comentário:

Coletivo KRISIS disse...

[tio.taz] o ultra-capitalismo prega à voz aberta que todos sejamos lobos, abutres e chacais, onde só os mais fortes e espertos sobreviverão. Sub-repticiamente o discurso é a manutenção da ignorância entre cordeiros e ovelhas, como consideram, os verdadeiros ricos, os 7bi de seres humanos que sobram nesse planeta. Mas - e eles sabem - debaixo da pele de cordeiro existem seres humanos que aos poucos vão saturando-se de tanta mentira e hipocrisia, ao passo que sentimentos de solidariedade vão sendo ressuscitados após décadas (ou até mesmo séculos!) de imbecilidade econômica e política. Grécia, Espanha, Chile, México, Itália... em todo lugar insurgem-se os cansados, os indispostos, os enraivecidos. Sabemos que os poderosos já conhecem os passos e já estão preparados para enfrentá-los: mas somos cada vez mais, aos poucos beiramos à países inteiros! O próprio capitalismo é imbecil em si mesmo, vai engolir-se pelo próprio rabo. Excelente texto do Marcelo Salles, mesmo. Recomendo o documentário "Tratamento de Choque", baseado no livro homônimo de Naomi Klein, tratando do homem mais "importante" do período pós-guerra... Friedman, e toda a desgraça decorrente de suas idéias ultra-capitalistas, neoliberais...