“Mensalão”: os fatos e a farsa
Seletivo e
parcial, STF puniu PT mas omitiu-se diante da compra de votos por FHC,
privataria tucana e 400 corruptores da era Collor…
Há quem
diga ser uma farsa o julgamento do chamado “mensalão”. Não, não é uma farsa. É
fruto de fatos. Ou era mesada, o tal “mensalão”, ou era caixa dois. Mas não há
como dizer que há uma farsa. E quem fez, que pague o que fez. A farsa existe,
mas não está nestes fatos.
Farsa é, 14
anos depois, admitir a compra de votos para aprovar a reeleição em 98 —
Fernando Henrique –, mas dizer que não sabe quem comprou. Isso enquanto aponta
o dedo e o verbo para as compras agora em julgamento. A compra de votos existiu
em 97. Mas não deu em CPI, não deu em nada.
Farsa é
fazer de conta que em 98 não existiram as fitas e os fatos da privatização da
Telebras. É fazer de conta que a cúpula do governo não foi gravada em tramoias
escandalosas num negócio de R$ 22 bilhões. Aquilo derrubou um pedaço do governo
tucano. Mas não deu em CPI. Ninguém foi preso. Não deu em nada.
Farsa é
esquecer que nos anos PC Farias se falava em corrupção na casa do bilhão. Isso
no governo Collor; eleito com decisivo apoio da mídia. À época, a Polícia
Federal indiciou 400 empresas e 110 grandes empresários. A justiça e a mídia
esqueceram o inquérito de 100 mil páginas, com os corruptos e os corruptores.
Tudo prescreveu. Fora o PC Farias, ninguém pagou. Isso foi uma farsa.
Farsa foi,
é o silêncio estrondoso diante do livro “A Privataria Tucana”. Livro que, em
115 páginas de documentos de uma CPI e investigação em paraísos fiscais, expõe
bastidores da privatização da telefonia. Farsa é buscar desqualificar o autor e
fazer de conta que os documentos não existem ou “são velhos”. Como se novas
fossem as denúncias agora repisadas nas manchetes na busca de condenações a
qualquer custo.
Farsa é
continuar se investigando os investigadores e se esquecer dos fatos que levaram
à operação Satiagraha. Operação desmontada a partir da farsa de uma fita que
não existiu. Fita fantasma que numa ponta tinha Demóstenes Torres e a turma do
Cachoeira. E que, na outra ponta da conversa que ninguém ouviu, teve o ministro
Gilmar Mendes.
Farsa é,
anos depois de enterrada a Satiagraha, o silêncio em relação a US$ 550 milhões
de dólares. Sim, por não terem origem comprovada, US$ 550 milhões continuam
retidos pelo governo dos EUA e da Inglaterra. E o que se ouve, se lê ou se
investiga? Nada. Tudo segue enterrado. Em silêncio.
O
julgamento do chamado “mensalão” não é uma farsa. Farsa é isolá-lo desses
outros fatos todos e torná-lo único. Farsa é politizá-lo ainda mais. Farsesco é
magnificá-lo, chamá-lo de “maior julgamento da história do Brasil”.
Farsa não
porque esse não seja o maior julgamento. Farsa porque se esquecem de dizer que
esse é o “maior” porque não existiram outros julgamentos. Por isso, esse é o
“maior”. Existiram, isso sempre, alianças ideológicas, empresariais, na luta
pelo Poder. Farsa porque ao final prevaleceu, sempre, o estrondoso silêncio
cúmplice.
Fonte: http://outraspalavras.net/
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