quarta-feira, 6 de novembro de 2013

[México] Subcomandante Marcos e @s anarquistas - por ANA



[México] Subcomandante Marcos e @s anarquistas

[O diário “La Jornada” (México D.F.), em sua edição do último dia 3 de novembro, divulgou um comunicado sobre a primeira volta da "la Escuelita", que o EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional) organizou em Chiapas em agosto passado. Dentro desse informe, intitulado "Malas y no tan malas noticias", o subcomandante Marcos dedica um trecho do comunicado a movida anarquista e a atual onda de histeria antianarquista que o Estado e o Capital promovem naquele país. A seguir, extrato do pronunciamento.]

CASOS ESPECIAIS: @s Anarquistas

Visto a campanha Anti Anarquismo que levantam as boas consciências e a esquerda bem comportada, unidas em santa cruzada com a direita ancestral para acusar jovens e velh@s anarquistas de desafiar o sistema (como se o anarquismo tivesse outra opção), além de descompor suas cenografias (o apagar da luz é para não ver @s anarquistas?), e que é levada ao delírio com qualificativos como “anarco-falcões”, “anarco-provocadores”, “anarco-porro” [baseado, banza], “anarco-etcetera” (por aí li o qualificativo “anarco-anarquista”, não é sublime?), nós, as zapatistas e os zapatistas não podemos ignorar o clima de histeria que, com tanta firmeza, demanda e exige que se respeitem os cristais (que não mostram, senão ocultam o que passa justo atrás do mostrador: condições laborais escravistas, higiene nula, má qualidade, baixo nível nutricional, lavagem de dinheiro, fraudes fiscais, fuga de capitais).

Porque agora resulta que, essas ratoeiras mal dissimuladas chamadas “reformas estruturais”, que o despojo laboral ao magistério, que a venda outlet do patrimônio da Nação, que o roubo que o governo perpetra contra os governados pelos impostos, que a asfixia fiscal - que favorece só aos grandes monopólios -, que tudo isso é culpa d@s anarquistas.

Que a gente mal sai às ruas a protestar (ouça, mas sim aí estão as marchas, as greves, os bloqueios, as pichações, os panfletos. Sim, mas são de professor@s-motoristas-ambulantes-estudantes-ou-seja-nacos-e-nacas-e-de-província [nacxs é uma gíria mexicana para moradores da periferia, em especial descendentes de indígenas], eu digo gente bem bem bem do DF. Ah, a mítica classe média, tão cortejada e ao mesmo tempo depreciada e defraudada por todo o espectro midiático e político), que a esquerda institucional também despoja os espaços de manifestação, que o “único opositor ao regime” foi tornado opaco pelos sem nome uma e outra vez, que a imposição arbitrária se chama agora “diálogo e negociação”, que o assassinato de migrantes, de mulheres, de jovens, de trabalhadores, de crianças, que tudo é culpa d@s anarquistas.

Para aqueles que militam e se reivindicam como da “A”, bandeira sem nação nem fronteiras, e que são parte da SEXTA [Sexta declaração de Lancadona], mas que em verdade militam e não como moda de vestir ou de calendário, temos, além de um abraço companheiro, um pedido especial:

Compas Anarquistas: nós os zapatistas, nós as zapatistas, não os vamos achacar nossas deficiências (incluindo a falta de imaginação), nem os vamos fazer responsáveis de nossos erros, nem muito menos os vamos perseguir por ser quem são. E mais, conto vos que vários convidados em agosto cancelaram suas vindas porque disseram que não poderiam compartir a aula com “jovens anarquistas, andrajosos, punks, aretudos [cheio de piercings], e cheios de tatuagens”, que esperavam (os que não são jovens, nem anarquistas, nem andrajosos, nem punks, nem aretudos, nem cheios de tatuagens) uma desculpa e que se depurasse o registro. Seguem esperando inutilmente.

O que queremos é pedir que, no momento do registro, entreguem um texto, de no máximo uma página de extensão, onde respondam as criticas e acusações que se lhes tem feito nos meios de comunicação. Esse texto será publicado em uma seção especial de nossa pagina eletrônica (enlacezapatista.ezln.org.mx) e em uma revista-fanzine-como-se-chame pronta para aparecer no mundo mundialmente mundial, dirigida e escrita por indígenas zapatistas. Será uma honra para nós que em nosso primeiro número esteja sua palavra junto à nossa.

Eh?

Sim, também vale uma página com uma só palavra que ocupe todo o espaço: algo como “MENTEM!”. Ou algo mais extenso como “Lhes explicaria o que é o Anarquismo se pensasse que vão entender”, ou “O Anarquismo é incompreensível para anões de pensamento”; ou “As transformações reais primeiro aparecem na nota vermelha”; ou “Me cago pra polícia de pensamento”; ou a seguinte citação do livro “Golpes y contragolpes” de Miguel Amorós: “Todo o mundo deveria saber que o Black Bloc não é uma organização, senão uma tática de luta similar à Kale Borroka [forma de guerrilha urbana dos radicais bascos], que uma constelação de grupos libertários, “autônomos” ou alternativos, vinha praticando desde as lutas dos squats (okupações) nos anos 80 em várias cidades alemãs” e agregar algo como “se vão a criticar algo, primeiro investiguem bem. A ignorância bem redatada é como uma idiotice bem pronunciada: igual de inútil”.

Enfim, estou seguro de que não lhes faltarão ideias.

Vale. Saúde e, creiam ou não, o mundo é maior que o titular midiático mais escandaloso. É questão de ampliar o passo, o olhar, o ouvido... e o abraço.

Desde as montanhas do Sudeste Mexicano,

O subcomandante Marcos.

Zelador da Escolinha e encarregado de dar más notícias.

México, novembro de 2013.

Tradução > Caróu

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agência de notícias anarquistas-ana

o rio ondulando
a figueira frondosa
no espelho da água.

Alaor Chaves

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