[México] Subcomandante
Marcos e @s anarquistas
[O diário
“La Jornada” (México D.F.), em sua edição do último dia 3 de novembro, divulgou
um comunicado sobre a primeira volta da "la Escuelita", que o EZLN
(Exército Zapatista de Libertação Nacional) organizou em Chiapas em agosto
passado. Dentro desse informe, intitulado "Malas y no tan malas
noticias", o subcomandante Marcos dedica um trecho do comunicado a movida
anarquista e a atual onda de histeria antianarquista que o Estado e o Capital
promovem naquele país. A seguir, extrato do pronunciamento.]
CASOS
ESPECIAIS: @s Anarquistas
Visto a
campanha Anti Anarquismo que levantam as boas consciências e a esquerda
bem comportada, unidas em santa cruzada com a direita ancestral para acusar
jovens e velh@s anarquistas de desafiar o sistema (como se o anarquismo tivesse
outra opção), além de descompor suas cenografias (o apagar da luz é para não
ver @s anarquistas?), e que é levada ao delírio com qualificativos como
“anarco-falcões”, “anarco-provocadores”, “anarco-porro” [baseado, banza],
“anarco-etcetera” (por aí li o qualificativo “anarco-anarquista”, não é
sublime?), nós, as zapatistas e os zapatistas não podemos ignorar o clima de
histeria que, com tanta firmeza, demanda e exige que se respeitem os cristais
(que não mostram, senão ocultam o que passa justo atrás do mostrador: condições
laborais escravistas, higiene nula, má qualidade, baixo nível nutricional,
lavagem de dinheiro, fraudes fiscais, fuga de capitais).
Porque
agora resulta que, essas ratoeiras mal dissimuladas chamadas “reformas
estruturais”, que o despojo laboral ao magistério, que a venda outlet do
patrimônio da Nação, que o roubo que o governo perpetra contra os governados
pelos impostos, que a asfixia fiscal - que favorece só aos grandes monopólios
-, que tudo isso é culpa d@s anarquistas.
Que a gente
mal sai às ruas a protestar (ouça, mas sim aí estão as marchas, as greves, os
bloqueios, as pichações, os panfletos. Sim, mas são de
professor@s-motoristas-ambulantes-estudantes-ou-seja-nacos-e-nacas-e-de-província
[nacxs é uma gíria mexicana para moradores da periferia, em especial
descendentes de indígenas], eu digo gente bem bem bem do DF. Ah, a mítica
classe média, tão cortejada e ao mesmo tempo depreciada e defraudada por todo o
espectro midiático e político), que a esquerda institucional também despoja os
espaços de manifestação, que o “único opositor ao regime” foi tornado opaco
pelos sem nome uma e outra vez, que a imposição arbitrária se chama agora
“diálogo e negociação”, que o assassinato de migrantes, de mulheres, de jovens,
de trabalhadores, de crianças, que tudo é culpa d@s anarquistas.
Para
aqueles que militam e se reivindicam como da “A”, bandeira sem nação nem
fronteiras, e que são parte da SEXTA [Sexta declaração de Lancadona], mas que
em verdade militam e não como moda de vestir ou de calendário, temos, além de
um abraço companheiro, um pedido especial:
Compas
Anarquistas: nós os zapatistas, nós as zapatistas, não os vamos achacar nossas
deficiências (incluindo a falta de imaginação), nem os vamos fazer responsáveis
de nossos erros, nem muito menos os vamos perseguir por ser quem são. E mais,
conto vos que vários convidados em agosto cancelaram suas vindas porque
disseram que não poderiam compartir a aula com “jovens anarquistas, andrajosos,
punks, aretudos [cheio de piercings], e cheios de tatuagens”, que esperavam (os
que não são jovens, nem anarquistas, nem andrajosos, nem punks, nem aretudos,
nem cheios de tatuagens) uma desculpa e que se depurasse o registro. Seguem
esperando inutilmente.
O que
queremos é pedir que, no momento do registro, entreguem um texto, de no máximo
uma página de extensão, onde respondam as criticas e acusações que se lhes tem
feito nos meios de comunicação. Esse texto será publicado em uma seção especial
de nossa pagina eletrônica (enlacezapatista.ezln.org.mx) e em uma
revista-fanzine-como-se-chame pronta para aparecer no mundo mundialmente
mundial, dirigida e escrita por indígenas zapatistas. Será uma honra para nós
que em nosso primeiro número esteja sua palavra junto à nossa.
Eh?
Sim, também
vale uma página com uma só palavra que ocupe todo o espaço: algo como
“MENTEM!”. Ou algo mais extenso como “Lhes explicaria o que é o Anarquismo se
pensasse que vão entender”, ou “O Anarquismo é incompreensível para anões de
pensamento”; ou “As transformações reais primeiro aparecem na nota vermelha”;
ou “Me cago pra polícia de pensamento”; ou a seguinte citação do livro “Golpes
y contragolpes” de Miguel Amorós: “Todo o mundo deveria saber que o Black Bloc
não é uma organização, senão uma tática de luta similar à Kale Borroka [forma
de guerrilha urbana dos radicais bascos], que uma constelação de grupos
libertários, “autônomos” ou alternativos, vinha praticando desde as lutas dos
squats (okupações) nos anos 80 em várias cidades alemãs” e agregar algo como
“se vão a criticar algo, primeiro investiguem bem. A ignorância bem redatada é
como uma idiotice bem pronunciada: igual de inútil”.
Enfim,
estou seguro de que não lhes faltarão ideias.
Vale. Saúde
e, creiam ou não, o mundo é maior que o titular midiático mais escandaloso. É
questão de ampliar o passo, o olhar, o ouvido... e o abraço.
Desde as
montanhas do Sudeste Mexicano,
O subcomandante
Marcos.
Zelador da
Escolinha e encarregado de dar más notícias.
México,
novembro de 2013.
Tradução
> Caróu
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