2.500 Animais por ano: Matança ameaça botos da Amazônia
Pescadores brasileiros matam o boto cor-de-rosa (acima) para
usar sua carne como isca na pesca da piracatinga (Foto: Yasuyochi Chiba/AFP)
As águas escuras do Rio Amazonas e seus afluentes estão
manchadas de sangue. A cada ano, cerca de 10% dos botos, ou seja, 660
animais, são assassinados, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia (Inpa), do governo federal. As informações são do site Infosur Hoy.
Já o Instituto Piagaçu, formado por estudiosos da Amazônia,
tem números ainda mais pessimistas: cerca de 2.500 botos são mortos a cada 12
meses.
A matança acontece porque a carne do boto é usada como isca
na pesca da piracatinga (Colophysius macroptreus). Também conhecido como “urubu
d’água”, o piracatinga é um peixe necrófago, ou seja, se alimenta de animais
mortos em decomposição.
“A matança dos botos começou em 2000, quando o peixe capaz (Pimelodus
grosskopfii), de sabor parecido ao da piracatinga, começou a sumir dos rios da
Amazônia colombiana”, explica Nívia do Carmo, presidente da Associação Amigos
do Peixe-Boi (Ampa).
Para pescar o capaz, os colombianos já usavam a carne do
boto, segundo o Ampa. A escassez do peixe fez com que os colombianos fossem ao
Brasil ensinar os pescadores a capturar a piracatinga da mesma forma para
vender no mercado latino-americano.
Além de ser uma figura lendária, o boto é protegido pela Lei
nº 7.643/1987, que determina pena de dois a cinco anos de reclusão e multa para
quem for flagrado pescando ou molestando esses animais.
Décadas atrás, o boto vermelho ou cor-de-rosa (Inia
geoffrensis), o boto cinza (Sotalia guianensis) e o tucuxi (Sotalia fluviatilis)
eram abundantes nas bacias do Rio Orinoco, que cruza a Venezuela e a Colômbia,
e do Rio Amazonas, que abrange os territórios brasileiro, boliviano,
colombiano, equatoriano, peruano e venezuelano, além das Guianas.
Esses mamíferos são na verdade golfinhos de água doce, com
características diferentes entre si e seu primos da água salgada. Agora eles
correm o risco de desaparecer, por causa da caça intensiva e da baixa taxa de
reprodução – as fêmeas dão à luz a um filhote por vez, amamentam por um ano e
cuidam do filhote por até quatro anos.
Na tentativa de impedir a matança, o procurador do
Ministério Público Federal no Amazonas (MPF/AM) Rafael da Silva Rocha estuda
formas de responsabilizar o poder público e aqueles que estão envolvidos neste
massacre mediante inquérito civil público.
Em 2007, o governo brasileiro foi cobrado formalmente pela
matança dos botos na 59ª Reunião da Comissão Internacional da Baleia (CIB). A
CIB recomendou medidas urgentes de prevenção e fiscalização. “Numa
audiência pública, em outubro de 2013, o IBAMA informou que realizou três
operações de fiscalização neste ano, mas que em nenhuma delas conseguiu flagrar
a atividade ilegal”, diz Rocha.
O procurador lamenta que atualmente, não há “nenhuma ação
significativa em curso” para coibir a matança de botos no estado. “Nem
mesmo o constrangimento internacional do relatório elaborado pela CIB
surtiu efeito para que uma ação realmente efetiva, conduzida pelos órgãos de
fiscalização do Amazonas, fosse implementada”, diz ele.
Nota da Redação: A pescaria é um ato violência, que causa a
morte não só dos botos, mas também, não menos importante, a de milhares de peixes
que têm o direito de viver livres em seu habitat sem a interferência humana.
Fonte: http://www.anda.jor.br/
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