Ataque impetrado por Marrocos pode significar genocídio saharauí
A situação no Sahara Ocidental ocupado está se deteriorando gravemente. A monarquia marroquina de Mohamed VI apertou o cerco contra os ocupantes e iniciou ontem (segunda-feira, 8) uma ofensiva contra os mais de 20 mil saharauís que moram no acampamento Gdeim Izik, a quinze quilômetros da capital, El Aiún.
Por Luana Bonone
As forças de segurança marroquinas fecharam no último domingo (7) o único acesso ao acampamento de protesto saharauí (“Acampamento da Independência”, onde mais de 7 mil tendas e 20 mil pessoas se têm concentrado desde o dia 10 de outubro), situado a leste de El Aiún, enquanto continuavam a chegar efetivos policiais e militares para uma intervenção violenta, que teve início ontem (segunda-feira, 8).
A polícia e as forças auxiliares marroquinas atacam cidadãos que habitam o acampamento Gdeim Izik. Uma parte do campo está em chamas e helicópteros jogam gás e água quente sobre os cidadãos, que enfrentam um desigual combate corpo-a-corpo com as forças militares. Muitos reagem com pedras aos tanques e soldados armados.
Os saharauís realizam protestos em El Aiún e em outras cidades, como Dajla, Smara e Bojador, mas as autoridades marroquinas desmantelam pela força esses acampamentos.
Solidariedade internacional
O Conselho Mundial da Paz (CMP), por meio da sua presidente, Socorro Gomes, manifestou seu “mais forte repúdio a mais esta agressão brutal contra o povo saharauí por parte do colonialismo exercido pelo Marrocos”. Para Socorro Gomes, “o ataque de centenas de caminhões e tanques contra um povo desarmado e pacífico que de longa data luta pela sua independência e autodeterminação viola a carta da ONU e dos direitos humanos". "Estão sendo assassinados civis, entre eles crianças vítimas da agressão colonialista”, completa a presidente do CMP, que é também presidente do Centro Brasileiro de Luta pela Paz (Cebrapaz).
Diante da constatação, Socorro faz um chamado aos movimentos sociais em todo o mundo: “conclamos a todos os movimentos pela paz e a solidariedade que intercedam junto à ONU no sentido de garantir os direitos do povo saharaui a seu território livre e em paz. Estes crimes, por outro lado, não podem cair no esquecimento e devem ser rigosamente punidos. Manifestamos, nossa irrestrita solidariedade ao povo Saharaui em sua heróica luta pela autodeterminação e liberdade”.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) lançou, na segunda (8), manifesto também com uma convocatória, direcionada a “todo o povo brasileiro, a participar ativamente da campanha internacional pelo reconhecimento da República Árabe Saaraui Democrática (RASD-Saara Ocidental)”. No documento, o MST apresenta a história da ocupação e exige posição do governo brasileiro.
Espanhóis marcaram ato de solidariedade na segunda-feira (8), a partir das 18h30 na Embaixada de Marrocos em Madrid e entidades brasileiras lançam manifesto de solidariedade ao povo saharaui.
Em Portugal, nesta terça-feira (9), o reitor da Universidade de Coimbra, professor Fernando Seabra Santos, entregará a Medalha da Universidade à ativista saharaui dos Direitos Humanos Aminetu Haidar, como reconhecimento pela sua contribuição para a defesa dos Direitos Humanos.
O objetivo das variadas manifestações de solidariedade é garantir uma intervenção imediata da ONU em defesa da população civil que sofre ataque militar.
Repressão anunciada
O deputado europeu Willy Meyer já havia sido impedido de desembarcar em Marrocos pelas autoridades do país neste domingo (7). Assim que o espanhol, deputado do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia e da Esquerda Nórdica Verde, Willy Meyer, aterrissou no aeroporto de El Aaiún, vários polícias marroquinos entraram no avião empurrando e agredindo ao deputado e a vários jornalistas que viajavam no mesmo vôo, não permitindo que nenhum dos cidadãos espanhóis saísse da aeronave.
Apenas após o comandante da aeronave, Javier Guzman, lembrar aos polícias que estavam em território espanhol e exigir a sua saída imediata, cessou a agressão. Entretanto, das janelas do avião, Willy Meyer e os jornalistas espanhóis puderam ver um grupo de cerca de 40 soldados com bandeiras marroquinas que aguardavam a sua chegada e se preparavam para os receber de forma violenta. O deputado europeu e os jornalistas provavelmente também não puderam visitar o acampamento saharauí de Gdeim Izik.
Barreira rompida
Segundo informaram fontes da resistência, apesar do “forte bloqueio das forças de ocupação marroquinas, uma caravana saharaui conseguiu forçar a barreira policial, sofrendo porém um ataque que produziu dezenas de feridos graves. Por fim, a caravana conseguiu entrar no acampamento”.
Segundo as mesmas fontes, em vários bairros da cidade de El Aiún (a capital do Sahara Ocidental ocupado por Marrocos) sucedem-se as manifestações que são violentamente reprimidas pela polícia.
“A situação é um inferno”, referem. Segundo vários testemunhos foram contados 172 veículos militares (caminhões Gacel), e outros da marca Toyota, repletos de efetivos do exército deslocados do muro defensivo de Amgale, que pertencem ao 6º Regimento de Infantaria motorizada, para El Aiún.
El Aiún, cidade sitiada
El Aiún está totalmente bloqueada. Ninguém pode entrar ou sair. Centenas de efetivos bloqueiam todas as saídas da cidade e todas as entradas ao acampamento de Gdeim Izik. Dezenas de caminhões-tanque, forças de intervenção, forças policiais e militares cercam o acampamento e a cidade.
Centenas de jovens de saharauís tentam forçar as barreiras de acesso ao acampamento, mas são dispersados com gás lacrimogêneo. Na cidade, os saharauís retiram as bandeiras marroquinas que enxameavam El Aiún devido à celebração da Marcha Verde.
Foi decretado um toque recolher e foram fechados todos os estabelecimentos da avenida Bucraa, a qual se encontra sitiada, assim como os bairros de Raha, Wifag, Elauda e Alamal. Nas ruas é constante a movimentação de um grande número de militares.
Fonte: http://www.revistaforum.com.br/
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