Uma estória do México segundo Diego Rivera - por Débora CambéDiego Rivera, 1933 © Esther Born
Diego Rivera (1886-1957) foi um homem de paixões: sobejamente conhecido pela sua fama de mulherengo, nutria um grande afecto pelas suas raízes e expressava os seus ideais comunistas sem medos. A sua arte era a sua forma de comunicar com o povo. Não uma elite de intelectuais, mas todos os que no início do século XX tentavam sobreviver à guerra civil mexicana, que terá sido responsável pela morte de centenas de milhar de pessoas.
O seu talento precoce para as artes valeu-lhe uma bolsa de estudo que o levou ao epicentro da revolução cultural operada pelas vanguardas modernistas: a Europa. Ao percorrer países como Espanha, França, Bélgica, Holanda e Inglaterra, o artista integrou-se no círculo social próximo de personalidades como Amedeo Modigliani e experienciou de perto a obra de Henri Rousseau - "o único dos modernistas cujo trabalho mexe com cada fibra do meu ser", terá afirmado Rivera.
Em Paris, sobretudo, o pintor envolveu-se no movimento cubista, protagonizado por artistas como Paul Cézanne e Pablo Picasso, que terá expressado a sua admiração pelas pinturas de Diego Rivera quando ambos se conheceram em 1914, no seguimento da sua exposição na Societé des Artistes Indépendants. O sucesso começava, assim, a despontar na carreira de Rivera, também influenciado pela estética do fauvismo, cujo uso acentuado de cores vibrantes apelou muito naturalmente à sensibilidade do pintor de raízes mexicanas. Nesta altura, predominam nas suas obras retratos e representações de naturezas mortas.
Natureza morta, 1918
A partir de 1920, Diego Rivera viria a desenvolver a sua verdadeira identidade como pintor. Numa viagem por Itália, estudou com atenção a arte dos frescos renascentistas, motivando o seu posterior envolvimento no primeiro mural que haveria de assinar, já no México, em 1922. Juntamente com José Orozco e David Siqueiros deu início ao movimento muralista, que levou à produção de inúmeros murais de cariz interventivo, ao representar cenas sociais e políticas e de afinidade marxista.
"El Campesino Oprimido", 1935
Diego Rivera deixaria também a sua marca indelével nos Estados Unidos, onde pintou aquela que o próprio pintor considerava ser uma das suas obras mais bem sucedidas, intitulada "Detroit Industry". Instalado no museu do Instituto das Artes de Detroit, o conjunto de murais representa uma fábrica automóvel, onde homens de todas as raças estão lado a lado na linha de produção, observados por Henry Ford.
"Detroit Industry", 1933 © Ashley Street
Um dos seus murais mais emblemáticos, "Sueño de una tarde dominical en la Alameda Central" (1947), é uma peça de 65 metros quadrados que retrata, em síntese, a história da civilização mexicana, seguindo uma ordem cronológica. Vista da esquerda para a direita, a obra conta o episódio da conquista da então Nova Espanha, os massacres dos infiéis, a construção da Igreja de San Diego e a manifestação dos direitos da mulher - na figura da poetisa Juana Inés de la Cruz. Trata-se também de uma das mais polémicas obras do pintor, graças à inscrição da frase "Deus não existe", situação que remeteu o mural para a censura em grande parte dos círculos sociais daquela época. Apenas em 1956 o mural voltaria a ser exibido livremente, já depois de Rivera ter substituído a controversa frase por uma outra inscrição.
"Sueño de una tarde dominical en la Alameda Central", 1947
"Mercado de Tenochtitlan", 1945
Mas falar de Diego Rivera é também falar de Frida Kahlo, sua mulher e outra das mais influentes artistas do século XX. Pertenciam ambos ao partido comunista mexicano, mas as suas obras, tal como eles mesmos, diferiam na sua dimensão física e emocional; Frida, uma mulher frágil e debilitada, pintava quadros mais intimistas, enquanto Rivera procurava representar grandes temas históricos como a construção da civilização mexicana e o resgate do seu legado. O casal tinha uma relação tumultuosa, mas apaixonada, e Rivera não continha a admiração pela obra da mulher. "Frida Kahlo é a maior pintora mexicana. O seu trabalho será multiplamente reproduzido e, graças à literatura, vai comunicar com o mundo. É um dos mais formidáveis legados artísticos e o mais intenso testemunho da verdade humana dos nossos dias'', declarou Rivera numa entrevista concedida em 1953, um ano antes da morte de Frida.
Diego Rivera e Frida Kahlo em San Angel, 1940 © Nickolas Muray.
Fonte: http://obviousmag.org/
terça-feira, 2 de novembro de 2010
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