A BÍBLIA PASSADA A LIMPO*
Descobertas recentes da arqueologia indicam que a maior parte das escrituras sagradas não passa de lenda (Por Vinicius Romanini)
O ANTIGO TESTAMENTO
O DILÚVIO - Os filólogos (que estudam as línguas e os documentos escritos) conseguiram demonstrar que a narrativa do Gênesis é uma apropriação do mito mesopotâmico/babilônico de Gilgamesh - que narra uma enchente de proporções enormes que teria acontecido no Oriente Médio e na Ásia Menor. O povo hebreu entrou em contato com esse mito no século VI a.C., durante o exílio babilônico. O Gênesis teria sido re-escrito nessa época assimilando a lenda.
Ruinas achadas no Mar Negro mostram que houve uma catastrófica enchente por volta de 5.600 a.C. O nível do mar Mediterrâneo subiu e irrompeu pelo Estreito de Bósforo, inundando a planície onde hoje está localizado o Mar Negro. Sobreviventes migraram para a Mesopotâmia, surgindo assim a história do dilúvio no texto sumério de Gilgamesh.
O ÊXODO - Não há registro arqueológico ou histórico da pessoa de Moisés ou dos fatos ocorridos de Êxodo. O episódio foi incluído na Torá provavelmente no século VII a.C. por escribas do Templo de Jerusalém. Para combater o politeísmo e o culto das imagens, os rabinos inventaram um novo código de leis e histórias de patriarcas heróicos. A prova de que esses textos são lendas estaria nas inúmeras incongruências culturais e geográficas entre o texto e a realidade. Muitos reinos e locais mencionados no livro sequer existiam no século XIII a.C. e só surgiriam 500 anos depois.
MONTE SINAI - Não existe. A escolha do lugar que passou a ser conhecido como Monte Sinai ocorreu entre os séculos IV e VI d.C. por monges bizantinos.
AS MURALHAS DE JERICÓ - A arqueologia diz que Jericó nem tinha muralhas nesse período. A tomada de Canaã pelos hebreus aconteceu de forma gradual, quando as tribos hebraicas trocam o pastoreio pela agricultura dos vales férteis. A história da conquista foi escrita durante o século VII a.C., mais de 500 anos depois da chegada dos hebreus aos vales cananeus.
DAVI - Em 1993 foi encontrada uma pedra datada do século IX a.C. com escritos que mencionam um rei hebreu chamado Davi, mas não há qualquer evidência das conquistas narradas na Bíblia. Davi pode ter sido o líder de um grupo de rebeldes vindos de camadas pobres dos cananeus.
SALOMÃO - Não há sinal de arquitetura monumental em Jerusalém ou em qualquer das outras cidades citadas pela Bíblia em que o rei Salomão teria construído templos, palácios e fortalezas. Assim como Davi, Salomão seria apenas um pequeno líder tribal de Judá.
O NOVO TESTAMENTO
O NOVO TESTAMENTO - Seus textos não foram escritos pelos evangelistas em pessoa, como muita gente supõe, mas por seus seguidores, entre os anos 60 e 70, décadas depois da morte de Jesus, quando as versões estavam contaminadas pela fé e por disputas religiosas. Nessa época, os cristãos estavam sendo perseguidos e mortos pelos romanos, e alguns dos primeiros apóstolos estavam velhos e doentes. Havia, portanto, o perigo de que a mensagem cristã caisse no esquecimento se não fosse colocada no papel. Marcos foi o primeiro a fazer isso, e seus textos serviram de base para os relatos de Mateus e Lucas, que aproveitaram para tirar do texto anterior algumas situações que lhes pareceram heresias. "Em Marcos, Jesus é uma figura estranha que precisa fazer rituais de magia para conseguir um milagre", afirma o historiador e arqueólogo André Chevitarese.
JESUS - Jesus nasceu na Palestina, provavelmente no ano 6 a.C. ao final do reinado de Herodes Antibas (que acabou em 4 a.C.) - em conformidade com Lucas e Mateus que afirmam que Jesus nasceu "perto do fim do reino de Herodes". A diferença entre o nascimento real de Jesus e o ano zero do calendário cristão se deve a um erro de cálculo cometido por um monge no século VI, quando a Igreja resolveu reformular o calendário.
Além disso, é praticamente certo que Jesus nasceu em Nazaré e não em Belém. Lucas afirma que a anunciação ocorreu em Nazaré, onde José e Maria viviam, mas eles foram obrigados a viajar até Belém pelo censo "ordenado quando Quirino era governador da Síria". Os registros romanos mostram que Quirino só assumiu no ano 6 d.C. - 12 anos depois do ano de nascimento de Jesus. A explicação que o texto de Lucas dá para a viagem de Jesus ate Belém seria falsa. A história foi criada porque a tradição judaica considerava essa cidade o berço do rei Davi - e o messias deveria ser da linhagem do primeiro rei dos judeus.
OS APÓSTOLOS - Não há certeza quanto ao número de discípulos que viviam próximos de Jesus. Nos evangelhos, apenas os oito primeiros conferem (???) - os quatro últimos têm muitas variações. A hipótese mais provável é que o número "redondo" de 12 discípulos foi uma invenção posterior para espelhar, no Novo Testamento, as 12 tribos dos hebreus descritas no AT.
*Principais pontos da matéria veiculada na revista Super Interessante edição 178 de julho de 2002 – Agradeço ao leitor Fracisco Hierofante o envio do texto.
Fonte: http://blogdobourdoukan.blogspot.com/
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
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