Cuba, direitos humanos e hipocrisia
A greve de fome de pessoa que cumpre pena em presídio é uma arma de desobediência e um desafio às determinações do Estado que pode assumir caráter político ou de reivindicação por melhores condições carcerárias. Manifestação de vontade individual ou coletiva, deve ser respeitada e criteriosamente avaliada.
Ao tomar, conscientemente, a grave decisão de iniciar a greve de fome, o preso sabe - e é informado - que a consequência pode ser fatal. Alguns entregam sua vida por um ideal mais nobre. Esses contam com defensores de fora da prisão que pressionam as autoridades a fim de que o objetivo da greve de fome seja alcançado. Outros priorizam sua própria vida e ainda assim esperam ver acatadas suas exigências. Quando ocorre a morte, os verdadeiros humanistas se condoem.
Contudo, a reação que se leu, viu e ouviu nesses dias a respeito do caso do cubano Orlando Zapata Tamayo passa longe da natural comiseração. O cadáver de Zapata é agora exibido como um troféu coletivo. Os grandes meios de comunicação já vinham antecipando o desenlace com intenções pouco dissimuladas de utilização com premeditados fins políticos.
Zapata não fazia parte dos chamados dissidentes que foram julgados em março de 2003, não era um dos 75. Tinha um longo histórico delitivo comum, nada vinculado à política. Transformado depois de muitas idas e vindas à prisão em ativista político, era um homem prescindível para os opositores da Revolução. Cumpria uma sentença de privação de liberdade de 25 anos depois de ter sido inicialmente sentenciado em 2004 a três anos por desordem pública, desacato e resistência. Vinculou-se aos dissidentes após contactos com Oswaldo Payá e Marta Beatriz Roque. Declarou-se em greve de fome em 18 de dezembro.
Apesar de se negar a tanto, recebeu, de acordo com o que estabelece o Tratado de Malta, a assistência médica necessária, inclusive terapia intermédia e intensiva e alimentação voluntária por via parenteral endovenosa e enteral. Transferido para um hospital geral foi-lhe diagnosticado pneumonia, tratada com os procedimentos mais avançados. Ao ter comprometidos ambos os pulmões, foi assistido com respiração artificial até que ocorreu o óbito.
Greves de fome na grande imprensa
Vou à história, curioso em saber como a grande imprensa cobriu greves de fome de presos que terminaram ou não em morte e como selecionam os direitos humanos.
Ao assumir o governo inglês em 1979, Margareth Thatcher deflagrou uma ofensiva militar e política contra os movimentos pela libertação da Irlanda do Norte. A virulenta tentativa de criminalização do republicanismo irlandês passava pela supressão de qualquer diferença entre o tratamento dispensado, nos cárceres, aos soldados do Exército Republicano Irlandês (IRA) e do Exército de Libertação Nacional Irlandês (INLA) e a criminosos comuns. Em resposta, combatentes irlandeses encerrados nos blocos H da prisão de Maze deflagram em 1º de março de 1981 uma greve de fome.
Suas reivindicações: não usar uniformes de presidiário; não realizar trabalhos forçados; liberdade de associação e organização de atividades culturais e educativas; direito a uma carta, uma visita e um pacote por semana; e que os dias de protesto não fossem descontados quando do cômputo do cumprimento da pena. Recusando-se a ser tratados como criminosos, defendiam, a um só tempo, sua dignidade pessoal e a legitimidade da luta pela libertação de seu país.
A um custo inimaginavelmente alto - 11 homens morreram de inanição após longa agonia de 63 dias -, os grevistas conseguiram uma vitória moral, ao fazer com que os ingleses retrocedessem quanto ao regime carcerário poucos meses após o fim do movimento; e uma vitória política, ao frustrar os planos de Thatcher de expor os que lutavam pela liberdade da Irlanda como criminosos aos olhos do mundo. O funeral de Bobby Sands, o líder do movimento, foi assistido por mais de 100 mil pessoas.
Thatcher, insensível, fez ouvidos moucos aos apelos. Teriam o “Estadão”, a “Folha” ou o “Globo” ou “El País”, “The New York Times”, “Die Welt”, “Le Fígaro”, “Clarín” estampado uma manchete principal acusando Thatcher de homicida? Evidentemente, não!
Em meio século, nada mudou na Turquia, onde os presos políticos continuam fazendo greve de fome, não pela liberdade, como Nazim Hikmet, mas para recuperar a dignidade.
Nazim Hikmet, o grande poeta turco, a quem a escritora Charlotte Kan chamou de “o comunista romântico”, condenado a uma pena pesada, em um longo processo construído nos mínimos detalhes, estava preso em Bursa havia 12 anos quando começou uma greve de fome para recuperar a liberdade. E ainda teve forças suficientes para escrever o poema “O quinto dia de uma greve de fome”, dedicado a seus amigos franceses que lutavam por sua libertação.
Acaso os editoriais da nossa imprensa acusaram os governantes turcos de perpetradores de um crime continuado? Nem pensar.
Guantánamo e Afeganistão
Na base militar de Guantanamo, aqueles que as autoridades norte-americanas chamam de “combatentes inimigos” fizeram, entre fevereiro de 2002 e fim de setembro de 2005, seis tentativas conhecidas - e talvez centenas ignoradas - de desafiar seus carcereiros do Pentágono com greves de fome. Alguém leu ou ouviu acusações a Obama de violador dos direitos humanos elementares por não ter cumprido a promessa de encerrar esse centro de tortura e humilhação?
Recentemente, a aviação norte-americana dizimou, no espaço de dias, famílias de cidadãos afegãos, a maioria mulheres e crianças. A mídia abriu espaço para o pedido de desculpas dos generais e nem um milímetro para acusá-los e a Washington de estar perpetrando uma política de terrorismo de Estado e de violação da Convenção de Genebra.
Passaportes britânicos de cidadãos israelenses de dupla nacionalidade foram utilizados pelo serviço secreto do Mossad para executar extrajudicialmente em Dubai o líder do Hamas, Mahmoud AL-Mabhouh. Por acaso a mídia abriu suas colunas para acusar o governo Netanyahu de criminoso e fora-de-lei?
Na confrontação de Estados Unidos e Cuba, ao largo de mais de meio século, milhares de cubanos foram vítimas de atos de terrorismo arquitetados em solo norte-americano com pleno conhecimento da Casa Branca, incluindo diplomatas assassinados no exterior. Quando Havana se dispôs a tomar medidas de inteligência para prevenir esses ataques, cinco de seus concidadãos foram presos e condenados, em processo totalmente viciado levado a cabo em Miami, a penas draconianas que chegaram a duas prisões perpétuas mais 15 anos para um deles. Jamais a mídia internacional e a nossa mídia trataram do assunto.
Os ataques virulentos a Cuba por parte da direita, das oligarquias, dos setores reacionários e dos segmentos conservadores e seus porta-vozes não são novidade. Não se conformam de a Revolução Cubana ter resistido sozinha, graças à firmeza de sua liderança e ao apoio valente de seu povo, à opressão e aos desígnios do Império.
Nenhum outro governo da região a apoiou. Hoje diversos governos da região a apoiam. A solidariedade, simpatia e defesa da gente simples e dos progressistas em todo o mundo nunca faltou.
Lula em Cuba
A visita de Lula a Havana coincidiu com a morte de Zapata. Nossa mídia rebaixou a assinatura de dez acordos de cooperação, entre os quais se destaca a modernização do porto de Mariel. No entanto, o criticou furiosamente pretendendo vinculá-lo ao desrespeito a direitos humanos. No fundo querem destruir sua imagem de grande líder nacional e internacional em proveito de seus interesses ideológicos permanentes e eleitorais de agora.
Lula soube se comportar como chefe de Estado. E pessoalmente foi leal àqueles que ao longo de décadas se constituíram numa referência de soberania, independência e autodeterminação, mas também de dignidade, heroismo e solidariedade.
* Max Altman é advogado e jornalista
Fonte: http://www.operamundi.com.br
domingo, 28 de fevereiro de 2010
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
ENTREVISTA RENATO DONISETE - FANZINE AVISO FINAL - ZINISMO
ENTREVISTA RENATO DONISETE - FANZINE AVISO FINAL - ZINISMO
Uma das características mais marcantes dos FANZINES é sua curta duração, difícil encontrar um que dure cinco, seis anos. Na contramão desse paradigma está o AVISO FINAL que completa em 2010 seus 20 anos. Aproveitando a nobre ocasião, o ZINISMO entrevistou o pai da criança, Renato Donisete, que merece toda nossa reverência!
O AVISO FINAL zine surgiu em 1990 idealizado pelo professor de educação física Renato Donisete Pinto, 37 anos, morador de São Caetano do Sul. Sua primeira edição (na época # 0) foi lançada em setembro daquele mesmo ano no projeto Rock in Rua em Santo André com shows com as bandas DZK e Insulto Oculto. Desde o início a proposta foi divulgar o trabalho musical das bandas punks da região do ABC paulista. Por suas páginas passaram bandas novas (como Leptus Pyróze, Sobreviventes do Aborto, FDS, etc) e bandas já consagradas (como Cólera, Garotos Podres, etc). Durante os primeiros anos o zine teve a preocupação de resgatar a memória de bandas extintas da região.
Foram feitos levantamentos históricos dos grupos Ulster, Hino Mortal, Varsóvia, Brigada do Ódio e Síndrome de Down. Alguns grupos internacionais também tiveram destaque na publicação. Foram feitas entrevistas com os italianos do This Side Up, os americanos do Rhythm Collision e matéria com os suecos do Wolfbrigade.
Durante o ano de 1996 o zine foi distribuído em Portugal pelo fanzine luso OVER12, num intercâmbio que envolvia os 2 zines. Em 1998 foi idealizada uma cooperativa que englobava 6 bandas da região, o zine, o artista gráfico Umberto Darós (criador do logo do Aviso Final), o fotógrafo Amarildo Corrêa e os selos ABC Records e Rasura Records. Dessa forma foi lançada em novembro a COLETÂNEA AVISO FINAL com os grupos FDS, Ação Direta, Censorshit, Overlife, Negative Control e Hino Mortal. Numa tiragem limitada de 500 cd´s este trabalho foi parar em Portugal, EUA, Alemanha e França, com críticas bem positivas da imprensa especializada.
No período de 2000 à 2003 o zine ficou disponível na Internet. No ano passado voltou a ser impresso, depois de vários pedidos. Em 2006, para comemorar os 15 anos do AVISO FINAL ZINE foi lançada a segunda coletânea, desta vez com as bandas punks DZK, Ação Direta, Gangrena, Aviso Final, FDS, Rebeldia Incontida, Leptus Pyróze, Insulto Oculto, Síndrome de Down? e Hino Mortal. Anexo ao cd um fanzine com o histórico destas bandas. Esse cd teve o objetivo de resgatar o trabalho destes grupos (alguns inclusive já acabaram) e divulgar um pouco o grito de insatisfação desta geração de filhos de operários do ABC paulista.
ZINISMO: Como foi seu começo com os fanzines?
RENATO: Comecei com esta história de fanzines em 1989. Já era um apreciador de fanzines neste tempo. Era colaborador do zine Mundo Underground da Vila Prudente. Depois de um tempo comecei a ficar insatisfeito com uma série de coisas; então, o Laércio Gonçalves na época guitarrista da banda Insulto Oculto falou o que fazia tempo queria ouvir: "Porquê você não faz um zine?". Em poucos meses estava lançando a edição número zero no show do próprio Insulto Oculto em setembro de 1990, no projeto Rock in Rua em Santo André. Neste show eu conheci o locutor e apresentador Miguel Anselmo, juntos fizemos uma única edição do zine TodaTribo em 1991. Este fanzine abrangia outros estilos musicais do rock.
Você já faz fanzines há duas décadas. Neste meio tempo surgiu a internet e muitas coisas mudaram na cena underground. Como você encara o papel dos fanzines em meio a estas mudanças? E atualmente?
Muita coisa mudou nestes 20 anos. Principalmente o avanço tecnológico, que nos favoreceu bastante. No começo os fanzines eram datilografados com colagens, xerox reduzido, etc. Hoje em qualquer micro você consegue fazer uma diagramação legal. Nesta brincadeira surgiu a internet e mudou tudo...Eu preferi manter o zine no formato impresso. Acho que tem até um fetiche de folhear, colecionar, etc. É como o LP, você coloca na vitrola, folheia o encarte, etc.Tem todo um ritual. Muita gente migrou para net, com blogs, fotologs, sites muito bons e conteúdos fantásticos. A informação acaba circulando muito mais rápida. Só que é tanta informação que muitas vezes não conseguimos digerir e fica um negócio cansativo. Neste tempo todo, especificamente com relação a cena- que aliás eu questiono se existe realmente -apareceram modismos, muitas coisas avançaram e houve diminuição de radicalismos e etc. O que eu posso afirmar que tudo que tinha uma verdade por trás continua aí. Veja o Ação Direta, o DZK e um monte de gente que continua na batalha e consegue manter esta cena (?) viva. Atualmente vejo com bons olhos o pessoal se organizando, fazendo festivais e fazendo as coisas acontecerem. Um exemplo é o belo trabalho do Cidadão do Mundo aqui no ABC. Eles promovem shows, festivais, oficinas, possuem uma web rádio e movimentam este cenário cultural. Isto é muito bom!
Um fator que faz muitos fanzines acabarem é o financeiro. Como tem feito para manter a longevidade do Aviso Final?
Com o apoio de selos e lojas que nos dão a maior força! Aproveito o espaço para agradecer o Marcelo da Absurd Records e loja Extreme Noise, o Xinês da Corsário Discos e loja Garimpo Cultural, o Alexandre da Cut Throat e o Carlos da Sensorial Discos. Além de gente como o Renan da Terrotten Records, Sérgio da No Fashion, Boka da Pecúlio que dão a maior força na divulgação. Sem eles não teria atingido a tiragem dos 1000 exemplares por edição. Além, é claro, do pessoal que escreve e manda selo. Nos dias de hoje ponho pouco menos dinheiro do bolso...
Um lance que está intrinsicamente ligado aos fanzines são os chamados "amigos de carta". Como funciona o lance seu com as correspondências, escreve todo dia? Sua caixa de correio fica entupida?
Hoje em dia nem tanto, afinal temos o e-mail para agilizar as coisas! No final dos anos 90 tive que abrir uma caixa postal, pois chegavam muitas cartas, cds e etc no meu prédio. O porteiro brincava que eu era o recordista de cartas. Recentemente, no 1º ENCONTRO DE ZINEIROS que aconteceu na loja Combat Rock, tive o privilégio de encontrar pessoalmente o Ricardo Knipl, que veio de Limeira prestigiar o evento e com o qual há muitos anos trocava correspondências. Este tipo de coisa é extremamente gratificante e é o que me mantém fazendo zines.
Se pudesse fazer uma lista com cinco grandes momentos (ou matérias) do Aviso Final, o que selecionaria?
Nestes anos eu destacaria o lançamento das duas coletâneas em cd com as bandas do ABC paulista e a repercussão que elas tiveram (resenha na Alemanha, EUA; tocaram na rádio italiana, etc). Gostei bastante da entrevista que fiz com o Português dos Garotos Podres quando voltaram da turnê européia. Cito também as conversas com o Xinês do Excomungados, o Fofão do Besthöven, o Dario Adamic da banda italiana This Side Up, o Gepeto do Ação Direta; e a inusitada entrevista com a Karina, garota de programa de luxo. Recentemente tive a felicidade de ganhar uma camisa e adesivos do Aviso Final feitos pelo grande amigo e zineiro Job Fernando. Desculpe, mas é muito difícil destacar só cinco grandes momentos...
Para terminar gostaria que você indicasse bons fanzines de papel que são feitos na atualidade para os leitores do ZINISMO.
Bom, muita coisa legal tem surgido com uma diversidade de temas imenso. Os que tenho mais curtido: Karta Bomba zino do Job Fernando (kartabombazino@yahoo.com.br), o Baskulho da Samanta Ribeiro (histeria_zine@yahoo.com.br),Visual Agression do Ricardo Chakal (ricardothrasher@hotmail.com) Spellwork da Thina (tinacurtis11@yahoo.com.br). Zine Zero Três dOs Cigarristas Jurema Barreto e Zhô Bertholini (acigarra@ig.com.br), FanzinEX do Xinês (excomungados@ig.com.br). o NFL zine do Hamilton Tadeu (nflzine@hotmail.com), e por fim, o Velho Rabugento do José Edílson (velhorabugento@gmail.com). Aproveito o espaço para divulgar o livro “Imprensa Alternativa do ABC” da Olga Defavari que trata muito bem da história dos fanzines na região. (olgadevari@yahoo.com.br) Vale muito a pena conhecê-lo...
Fonte: http://zinismo.blogspot.com/
Uma das características mais marcantes dos FANZINES é sua curta duração, difícil encontrar um que dure cinco, seis anos. Na contramão desse paradigma está o AVISO FINAL que completa em 2010 seus 20 anos. Aproveitando a nobre ocasião, o ZINISMO entrevistou o pai da criança, Renato Donisete, que merece toda nossa reverência!
O AVISO FINAL zine surgiu em 1990 idealizado pelo professor de educação física Renato Donisete Pinto, 37 anos, morador de São Caetano do Sul. Sua primeira edição (na época # 0) foi lançada em setembro daquele mesmo ano no projeto Rock in Rua em Santo André com shows com as bandas DZK e Insulto Oculto. Desde o início a proposta foi divulgar o trabalho musical das bandas punks da região do ABC paulista. Por suas páginas passaram bandas novas (como Leptus Pyróze, Sobreviventes do Aborto, FDS, etc) e bandas já consagradas (como Cólera, Garotos Podres, etc). Durante os primeiros anos o zine teve a preocupação de resgatar a memória de bandas extintas da região.
Foram feitos levantamentos históricos dos grupos Ulster, Hino Mortal, Varsóvia, Brigada do Ódio e Síndrome de Down. Alguns grupos internacionais também tiveram destaque na publicação. Foram feitas entrevistas com os italianos do This Side Up, os americanos do Rhythm Collision e matéria com os suecos do Wolfbrigade.
Durante o ano de 1996 o zine foi distribuído em Portugal pelo fanzine luso OVER12, num intercâmbio que envolvia os 2 zines. Em 1998 foi idealizada uma cooperativa que englobava 6 bandas da região, o zine, o artista gráfico Umberto Darós (criador do logo do Aviso Final), o fotógrafo Amarildo Corrêa e os selos ABC Records e Rasura Records. Dessa forma foi lançada em novembro a COLETÂNEA AVISO FINAL com os grupos FDS, Ação Direta, Censorshit, Overlife, Negative Control e Hino Mortal. Numa tiragem limitada de 500 cd´s este trabalho foi parar em Portugal, EUA, Alemanha e França, com críticas bem positivas da imprensa especializada.
No período de 2000 à 2003 o zine ficou disponível na Internet. No ano passado voltou a ser impresso, depois de vários pedidos. Em 2006, para comemorar os 15 anos do AVISO FINAL ZINE foi lançada a segunda coletânea, desta vez com as bandas punks DZK, Ação Direta, Gangrena, Aviso Final, FDS, Rebeldia Incontida, Leptus Pyróze, Insulto Oculto, Síndrome de Down? e Hino Mortal. Anexo ao cd um fanzine com o histórico destas bandas. Esse cd teve o objetivo de resgatar o trabalho destes grupos (alguns inclusive já acabaram) e divulgar um pouco o grito de insatisfação desta geração de filhos de operários do ABC paulista.
ZINISMO: Como foi seu começo com os fanzines?
RENATO: Comecei com esta história de fanzines em 1989. Já era um apreciador de fanzines neste tempo. Era colaborador do zine Mundo Underground da Vila Prudente. Depois de um tempo comecei a ficar insatisfeito com uma série de coisas; então, o Laércio Gonçalves na época guitarrista da banda Insulto Oculto falou o que fazia tempo queria ouvir: "Porquê você não faz um zine?". Em poucos meses estava lançando a edição número zero no show do próprio Insulto Oculto em setembro de 1990, no projeto Rock in Rua em Santo André. Neste show eu conheci o locutor e apresentador Miguel Anselmo, juntos fizemos uma única edição do zine TodaTribo em 1991. Este fanzine abrangia outros estilos musicais do rock.
Você já faz fanzines há duas décadas. Neste meio tempo surgiu a internet e muitas coisas mudaram na cena underground. Como você encara o papel dos fanzines em meio a estas mudanças? E atualmente?
Muita coisa mudou nestes 20 anos. Principalmente o avanço tecnológico, que nos favoreceu bastante. No começo os fanzines eram datilografados com colagens, xerox reduzido, etc. Hoje em qualquer micro você consegue fazer uma diagramação legal. Nesta brincadeira surgiu a internet e mudou tudo...Eu preferi manter o zine no formato impresso. Acho que tem até um fetiche de folhear, colecionar, etc. É como o LP, você coloca na vitrola, folheia o encarte, etc.Tem todo um ritual. Muita gente migrou para net, com blogs, fotologs, sites muito bons e conteúdos fantásticos. A informação acaba circulando muito mais rápida. Só que é tanta informação que muitas vezes não conseguimos digerir e fica um negócio cansativo. Neste tempo todo, especificamente com relação a cena- que aliás eu questiono se existe realmente -apareceram modismos, muitas coisas avançaram e houve diminuição de radicalismos e etc. O que eu posso afirmar que tudo que tinha uma verdade por trás continua aí. Veja o Ação Direta, o DZK e um monte de gente que continua na batalha e consegue manter esta cena (?) viva. Atualmente vejo com bons olhos o pessoal se organizando, fazendo festivais e fazendo as coisas acontecerem. Um exemplo é o belo trabalho do Cidadão do Mundo aqui no ABC. Eles promovem shows, festivais, oficinas, possuem uma web rádio e movimentam este cenário cultural. Isto é muito bom!
Um fator que faz muitos fanzines acabarem é o financeiro. Como tem feito para manter a longevidade do Aviso Final?
Com o apoio de selos e lojas que nos dão a maior força! Aproveito o espaço para agradecer o Marcelo da Absurd Records e loja Extreme Noise, o Xinês da Corsário Discos e loja Garimpo Cultural, o Alexandre da Cut Throat e o Carlos da Sensorial Discos. Além de gente como o Renan da Terrotten Records, Sérgio da No Fashion, Boka da Pecúlio que dão a maior força na divulgação. Sem eles não teria atingido a tiragem dos 1000 exemplares por edição. Além, é claro, do pessoal que escreve e manda selo. Nos dias de hoje ponho pouco menos dinheiro do bolso...
Um lance que está intrinsicamente ligado aos fanzines são os chamados "amigos de carta". Como funciona o lance seu com as correspondências, escreve todo dia? Sua caixa de correio fica entupida?
Hoje em dia nem tanto, afinal temos o e-mail para agilizar as coisas! No final dos anos 90 tive que abrir uma caixa postal, pois chegavam muitas cartas, cds e etc no meu prédio. O porteiro brincava que eu era o recordista de cartas. Recentemente, no 1º ENCONTRO DE ZINEIROS que aconteceu na loja Combat Rock, tive o privilégio de encontrar pessoalmente o Ricardo Knipl, que veio de Limeira prestigiar o evento e com o qual há muitos anos trocava correspondências. Este tipo de coisa é extremamente gratificante e é o que me mantém fazendo zines.
Se pudesse fazer uma lista com cinco grandes momentos (ou matérias) do Aviso Final, o que selecionaria?
Nestes anos eu destacaria o lançamento das duas coletâneas em cd com as bandas do ABC paulista e a repercussão que elas tiveram (resenha na Alemanha, EUA; tocaram na rádio italiana, etc). Gostei bastante da entrevista que fiz com o Português dos Garotos Podres quando voltaram da turnê européia. Cito também as conversas com o Xinês do Excomungados, o Fofão do Besthöven, o Dario Adamic da banda italiana This Side Up, o Gepeto do Ação Direta; e a inusitada entrevista com a Karina, garota de programa de luxo. Recentemente tive a felicidade de ganhar uma camisa e adesivos do Aviso Final feitos pelo grande amigo e zineiro Job Fernando. Desculpe, mas é muito difícil destacar só cinco grandes momentos...
Para terminar gostaria que você indicasse bons fanzines de papel que são feitos na atualidade para os leitores do ZINISMO.
Bom, muita coisa legal tem surgido com uma diversidade de temas imenso. Os que tenho mais curtido: Karta Bomba zino do Job Fernando (kartabombazino@yahoo.com.br), o Baskulho da Samanta Ribeiro (histeria_zine@yahoo.com.br),Visual Agression do Ricardo Chakal (ricardothrasher@hotmail.com) Spellwork da Thina (tinacurtis11@yahoo.com.br). Zine Zero Três dOs Cigarristas Jurema Barreto e Zhô Bertholini (acigarra@ig.com.br), FanzinEX do Xinês (excomungados@ig.com.br). o NFL zine do Hamilton Tadeu (nflzine@hotmail.com), e por fim, o Velho Rabugento do José Edílson (velhorabugento@gmail.com). Aproveito o espaço para divulgar o livro “Imprensa Alternativa do ABC” da Olga Defavari que trata muito bem da história dos fanzines na região. (olgadevari@yahoo.com.br) Vale muito a pena conhecê-lo...
Fonte: http://zinismo.blogspot.com/
MATILHA CONVIDA!
MATILHA CONVIDA!
O6/03 – VAGA VIVA E FESTA DE LANÇAMENTO DA MIXTAPE MATILHA
A Matilha reabre suas portas no dia 6 de março com a primeira VAGA VIVA do ano. estão todos convocados para uma tarde de confraternização e música.
A principal atração será o lançamento da primeira mixtape (coletânea musical) produzida pela Matilha. Com a participação do hip hop genuinamente nacional, são 12 faixas que misturam bases jamaicanas de dub step, ragga e dancehall com vocais. Com composições dos MCs Funk Buia, Dada Youth, Zulu, Criolo Doido, Sandrão&Va, Sombra e Bomba, mixagem dos DJs Tano, DanDan, Marco e Wotjila, e a produção musical é dos DJs Gustah, Zulu. Alexandre Basa e Ras Fya Dub. Show na festa de lançamento da mixtape e abertura da programação Matilha 2010!
Durante a tarde, na rua, em frente à Matilha, daremos continuidade ao projeto de ocupação de vagas de estacionamento de carros com bancos, plantas, oficinas, música e vida, na ação VAGA VIVA que acontece todo primeiro sábado de cada mês. A mensagem dessas praças de convivência improvisadas é a retomada do espaço público pelo cidadão. Durante as Vagas Vivas, a Matilha discute e promove a campanha ARBORIZAÇÃO do centro através de coleta de assinaturas, reuniões, oficinas culturais, cinema e música. Nesta primeira edição de 2010, haverá uma oficina de confecção de carteiras com embalagens tetrapack recicladas.
09/03- AQUECIMENTO CENTRAL : HAPPY HOUR NA MATILHA
Na terça, dia 9 de março, das 18h às 22h, acontece a primeira edição do AQUECIMENTO CENTRAL – happy hour na Matilha - sempre com programação musical especial. Neste mês, são os DJs do Clã Leste que comandam as pickups com hip hop, funk etc. Na estréia, Soares & Zinco fazem a trilha sonora. Integrantes do Clã Leste, quarteto de djs que, arraigado na brasilidade, utiliza técnicas de scratches, back to back e beat jugglings para montar suas performances de até seis minutos, influenciadas também pelo rap, r&b, funk & soul, MPB, jazz, rock e drum’n’bass. Um espaço para encontrar amigos, colocar conversa em dia e escutar um som no centro da cidade – e fugir do trânsito do fim de tarde.
13/03 - 17/04 ARTE: SALÃO DOS ARTISTAS SEM GALERIA
A partir do dia 13 de março, a MATILHA recebe o 1. Salão dos Artistas Sem Galeria, projeto do Mapa das Artes. A mostra acontecerá simultaneamente em dois espaços da cidade de São Paulo: na Casa da Xiclet e na Matilha. Organizado pelo jornalista Celso Fioravante, o salão teve 258 inscrições de 12 estados e contou com o curador Cauê Alves e galeristas Daniel Roesler e Monica Filgueiras no júri de seleção. A exposição apresenta trabalhos de dos dez artistas selecionados e pode ser visitada até o dia 17 de abril.
18/03 - CINEMA & MÚSICA: IN-EDIT
Entre os dias 18 e 28 de março, a MATILHA será uma das salas de cinema a receber o festival IN-EDIT, que apresenta documentários musicais com intuito de fomentar a produção do gênero. Para complementar, apresentações musicais também estão previstas. Aguardem programação completa.
SERVIÇO
- sábado 6 de março
VAGA VIVA + LANÇAMENTO MIXTAPE
14h abertura
15h - 18h oficina de produção de carteirinhas com embalagens tetrapack (indicado para crianças a partir de 6 anos e todos que quiserem).
18h show de lançamento da primeira Mixtape Matilha. Participação dos músicos Funk Buia, Dada Youth, Zulu, Criolo Doido, Sandrão&Va, Sombra, Bomba, Tano, DanDan, Marco, Wotjila, Gustah, Ras Fya Dub, Alexandre Basa.
Programação gratuita.
- terça 9 de março
AQUECIMENTO CENTRAL - todas as terças
18h -22h Soares & Zinco (Clã Leste) fazem a trilha sonora do happy hour inaugural da Matilha.
- 13 de marco a 17 de abril
1. SALÃO DOS ARTISTAS SEM GALERIA
De terça a sábado. 12h - 22h. Grátis.
- 19 de março a 28 de março
FESTIVAL DE CINEMA IN-EDIT
Confira a programação, em brevem no site.
PROGRAMAÇÃO GRATUITA. TODOS SÃO BEM VINDOS. APOIE O ESPAÇO INDEPENDENTE DE CULTURA.
Malvinas: resquício de um império decadente
Malvinas: resquício de um império decadente
O imbróglio jurídico-político que envolve as Malvinas reflete o embate entre o direito à descolonização, invocado pela Argentina, e uma visão distorcida do direito à autodeterminação dos povos, utilizado pelo Reino Unido, confiando no fato de que a população das Ilhas é de maioria britânica. Não obstante, essa população fora importada para o arquipélago no processo de expansão mundial do império britânico. A posição britânica está respaldada na mais pura lógica do imperialismo e do colonialismo.
Larissa Ramina (*)
Data: 25/02/2010
As Ilhas Malvinas situam-se no Atlântico Sul, a 480 km da costa argentina e a 14 mil km do Reino Unido. No passado, o arquipélago foi palco de reivindicações territoriais por parte da França, que foi expulsa pela Espanha, que o cedeu ao Reino Unido, que por sua vez o deixou desabitado. A Argentina, desde a conquista de sua independência, reclama a soberania sobre as Ilhas, jamais aceitando a ocupação britânica que desde 1833 ali mantém uma colônia.
O grande movimento de descolonização que animou a Assembleia Geral da ONU favoreceu incontestavelmente as pretensões argentinas. Quando a Organização foi criada, em 1945, havia mais de 80 nações sujeitas a regime colonial, onde viviam cerca de 750 milhões de pessoas, representando 1/3 da humanidade na época. No decorrer da segunda metade do século XX, após as chamadas “ondas de descolonização”, essa situação foi drasticamente revertida.
A partir dos anos 60, a Assembleia Geral adotou a “Declaração sobre a concessão da independência aos países e povos coloniais”, e já em 1962 instituiu um Comitê de Descolonização com o objetivo de impulsionar o processo de independência de territórios sujeitos à exploração das potências coloniais. O Comitê elaborou uma lista de territórios não-autônomos que incluía as Ilhas Malvinas, sinalizando positivamente à pretensão argentina. Cedendo às pressões internacionais, o Reino Unido iniciou um processo de negociações.
Fora da Organização, o apoio à Argentina não foi menos importante. Em 1976, a OEA declarou o direito de soberania irrefutável da Argentina sobre as Malvinas, e no mesmo ano o Movimento dos Não-Alinhados reconheceu a Argentina como proprietária legítima daquele território. Entretanto, as negociações nunca avançaram, resultando em um afrontamento militar entre os dois países em 1982, que terminou favorável ao Reino Unido. É verdade que a intervenção armada arquitetada pelo General Galtieri, numa tentativa desesperada de salvar a ditadura militar, provocou o efeito de ocultar os direitos legítimos do país sobre o arquipélago. Todavia, esses direitos estão muito longe de serem frágeis como pretendem os britânicos.
O imbróglio jurídico-político que envolve as Malvinas reflete o embate entre o direito à descolonização, invocado pela Argentina, e uma visão distorcida do direito à autodeterminação dos povos, utilizado pelo Reino Unido, confiando no fato de que a população das Ilhas é de maioria britânica. Não obstante, essa população fora importada para o arquipélago no processo de expansão mundial do império britânico. De fato, não é fácil encontrar justificativas para que um país localizado em outro continente, a 14 mil km de distância, exerça sua soberania sobre as Malvinas. A posição britânica está respaldada na mais pura lógica do imperialismo e do colonialismo. O princípio invocado pela Argentina foi concebido justamente para transformar uma ordem jurídica internacional que protege interesses colonialistas, a partir de uma dialética entre legitimidade e legalidade.
Na primeira década do século XXI, persistem ainda muitos territórios coloniais que aguardam o seu direito à independência. A inércia da ONU no caso das Malvinas justifica-se, em parte, pela condição do Reino-Unido de membro permanente do Conselho de Segurança, com direito de veto. A mesma lógica aplica-se à China no caso do Tibete.
A crise nas Malvinas é muito mais do que um problema argentino. Trata-se de um resquício do império decadente na América Latina, e para nós, brasileiros, de um encrave colonial no espaço do Mercosul. Acertou a Unasul e os 32 países da Cúpula da Unidade da América Latina e do Caribe (Calc), que inclui membros da Commonwealth, em respaldar as reivindicações de nosso país irmão.
(*) Larissa Ramina, Doutora em Direito Internacional pela USP, Professora da UniBrasil.
Fonte: www.cartamaior.com.br
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Relato da Segunda Anual Feira do Livro Anarquista de Los Angeles - ANA
Relato da Segunda Anual Feira do Livro Anarquista de Los Angeles
Em Hollywood, pelo segundo ano consecutivo, em 24 de janeiro, anarquistas da região de Los Angeles realizaram uma feira de livros que, além de propiciar intercâmbios entre vendedores e leitores, possibilitou toda uma série de discussões, oficinas, e de suma importância, interações entre companheiro/as ativistas do movimento libertário.
Os preparativos se iniciaram alguns meses atrás, quando integrantes do coletivo coordenador da feira do livro anarquista do ano passado realizada na Livraria do Sul da Califórnia, começou a se reunir e pedir sugestões e contribuições de outros setores da comunidade. O coletivo começou a crescer, e medidas foram tomadas para realizar a feira deste ano no Parque de Arte Barnsdall, localizado no topo de uma colina e contando com tais luxos como um teatro, uma galeria de arte e um jardim de esculturas numa praça com gramado. O coletivo entrou em contato e falou sobre os possíveis palestrantes. Foi lançado um chamado de propostas para oficinas, e os pedidos começaram a chegar em massa. Eventos comunitários como mostras cinematográficas e shows foram planejados a fim de divulgar a feira e o anarquismo, assim como para arrecadar fundos. Após muita preparação, o dia chave finalmente chegou.
Uma semana inteira de chuvas fortes trouxe algumas preocupações referentes à realização da feira do livro, apesar do alívio em relação à escassez de água na região. Afortunadamente, o firmamento amanheceu cristalino e sem nuvens, um bom presságio que prenunciava um dia produtivo.
Por volta das nove horas começaram a chegar os organizadores e vendedores, montando as mesas, colocando placas, conectando os cabos e finalizando os detalhes logísticos. Os dançarinos da companhia Dança Azteca Cuauhtémoc chegaram e logo foram colocando os cocares de pena e as tornozeleiras, se preparando para a cerimônia inicial. Logo as pessoas começaram a chegar: ativistas comunitários, punks, veganos, estudantes, artistas, mães e pais de família, ativistas midiáticos, advogados, indígenas, mochileiros e anarquistas de todo tipo.
A companhia formalizou o começo do evento com uma dança tradicionalmente associada ao plantio de sementes, com a esperança de germinar uma consciência revolucionária entre o povo. Quando estavam dançando, o ar se encheu com o aroma de incenso. Os dançarinos deram graças pelas chuvas recentes, e logo fizeram homenagens aos conservadores da terra, os povos indígenas. Em seguida pediram perdão aos animais e às plantas pela violação humana de suas vidas e lares. No final, pediram para que todos compartilhassem com o sofrimento dos imigrantes que morrem ao enfrentar as fronteiras, a violência e a intempérie em sua busca pela dignidade que deveria ser garantida a todos. “Estas pessoas são como os beija-flores ou os veados. Também se mudam por motivos econômicos”, disse Judith, líder entre os dançarinos. “Então, nós não somos diferentes”.
A cerimônia foi concluída e o público começou a se dispersar para participar das primeiras oficinas, ir atrás de comida e compras.
Estava incluso na primeira rodada de oficinas uma discussão sobre o duplo poder e o anarquismo moderno realizada por Harjit y Adam W., um debate liderado por Raoul sobre o Autonomen Alemão, um movimento que precedeu o Bloco Negro, e uma apresentação sobre o anarquismo e a planificação urbana feita por Olympia. Na sala de vídeos, as Comunidades Revolucionárias Autônomas exibiram seu filme Ainda Estamos Aqui, Nunca Fomos Embora, um documentário sobre o ataque policial no Parque MacArthur no dia 1º de maio de 2007.
Na discussão sobre o duplo poder, na qual o público contribuiu bastante, Harjit começou com a idéia de que, ainda que os anarquistas peçam ao povo para abandonar o capitalismo, nos faz falta a infra-estrutura que permitiria ao povo tomar esse grande passo. Na seqüência, Tom Wetzel, da Aliança Solidariedade Obreira, esclareceu um dos mitos que rodeia o anarquismo, o da postura anarquista face ao poder.
“Historicamente, uma das debilidades do anarquismo tem sido a grande ambigüidade em torno do poder. Há os que dizem que a gente se opõe ao poder, mas a verdade é que a maioria das pessoas, a classe trabalhadora, não pode se liberar sem criar novamente estruturas de poder para gerir as coisas. Administrar a sociedade, este é o poder. E penso que a idéia do poder popular, um poder que se baseia sobre “somos iguais”, um poder autogestionado, digo, assim é como conceituo uma substituição para o estado e as corporações, etc. Mas em relação ao desenvolvimento atual do poder, vale distinguir entre, por exemplo, o poder social que as pessoas constroem através de movimentos que participam em confrontações, como o fechamento dos lugares de trabalho. Ou seja, o povo comum está exercendo o poder, até certo grau. Mas é um poder que é alcançado através da luta, enfrentando aos que tem poder dentro do sistema. Mas se você está lidando com um coletivo, digamos uma distribuição de alimentos, isto não é o poder verídico, isto é manejar coletivamente um recurso. É diferente do poder social. E o que você dizia sobre uma transição à nova sociedade, que temos que ter coisas para fazer nessa transição, historicamente, isso foi parte da razão para o sindicalismo – se desenvolve um movimento da classe trabalhadora em que temos em todas as oficinas trabalhadores organizados em sindicatos revolucionários e autogeridos para que estes se encarreguem de administrar as oficinas, assegurando a nossa comida, transporte, serviços públicos, etc.”
Durante a hora seguinte foi realizado o primeiro painel de discussão. Autores de escritos anarquistas como Andrej Grubačić, autor de Wobblies e Zapatistas, Cindy Milstein, que escreveu Aspirações Anarquistas (a ser lançado em breve), Mitchell Cowen Verter, editor da compilação magonista Sonhos de Liberdade, e Gary Philiips, autor de The Jook, compartilharam reflexões sobre suas obras.
Enquanto isso foi realizada uma palestra sobre os esforços antifascistas na região do Sul da Califórnia que abarcou temas como a recente atividade neonazista no interior dessa região, a questão da raça dentro do movimento antifascista, e os movimentos atuais contra o novo Partido Americano Terceira Posição. Também abarcou sobre os antecedentes históricos da oposição anarquista ao fascismo.
Na sala de vídeos, foi feita uma apresentação de slides de cartazes anarquista da coleção do Centro para o Estudo da Gráfica Política.
Os próximos debatedores trataram sobre a questão dos presos políticos. Ojore Lutalo e Sherman Austin, ambos ex-presos políticos, dividiram o palco com Mapache, o facilitador, Matt, um organizador junto ao comitê de Los Angeles da Federação Cruz Negra Anarquista, e Benjamín, que falou dos presos políticos na América Latina.
Antes de começar o debate, Mapache pediu ao público para levarem em consideração certas perguntas. “Especialmente para os de origem européia, você se considera oprimido?”. Ele baseou sua definição de opressão sobre a de Julius Lester em sua obra Notas Revolucionárias, cópias da qual foram distribuídas durante a audiência. “Segunda pergunta para o público em geral, você se considera revolucionário ou progressista?” Outro folheto tocante a este tema foi compartilhado. “Terceira pergunta: você considera a droga como sendo revolucionária ou contra-revolucionária?
Começou Ojore: “Fui politizado no começo da década de setenta depois de uma vida de drogas e delinqüência de rua. Fui preso, e conheci o já falecido anarquista da Nova África Kuwasi Balagoon e outros presos políticos de guerra. Cerca de sete anos depois entrei na luta armada clandestina. Prenderam-me em 1975 por uma expropriação bancária armada, onde houve tiroteios com a polícia. Após uma sentença de 28 anos na Penitenciária Estatal de Trenton por minha atividade política, fui colocado em liberdade por ordem judicial em 26 de agosto de 2009”.
Ele continuou com notícias sobre o Exército Libertador Negro: “Atualmente, o ELN está inativo devidos às atividades do COINTELPRO, atualmente Segurança Interna. Mas ainda há presos do ELN nas prisões que não recebem apoio e necessitam urgentemente de seu apoio. Por exemplo, Sekou Odinga acabou de cumprir 28 anos no sistema federal e foi transferido do sistema carcerário do estado de Nova Iorque há alguns meses. Sua sentença é de vinte anos de vida. Sua última esperança de liberdade depende de uma audiência pendente. Está buscando arrecadar 5.000 dólares para contratar um advogado para assessorá-lo em sua batalha legal”. Também falou de Sundiata Acoli, que no próximo mês terá uma audiência na comissão de liberdade condicional, Herman Bell, e a necessidade que eles têm de apoio.
Sherman Austin, preso por dois anos por administrar o sítio de internet raisethefist.com, foi o próximo a falar das táticas que foram utilizadas contra ele. “Como é curioso que o aniversário (da batida do FBI em sua casa) e a feira do livro anarquista sejam hoje. Não sei se isto foi intencional ou simplesmente aconteceu assim por causalidade. Os tipos de táticas que usaram contra mim foram as escutas telefônicas, monitoramento de conversas de comunicação instantânea, correios eletrônicos, e estacionaram carros no lado de fora de minha casa, me seguiram”. Esclareceu um mal-entendido que muitos têm em relação ao USA Patriot Act e seu caso. “Após ter acontecido tudo isto, se falou muito sobre como estavam arrepelando os direitos individuais pelo Patriot Act, mas o fato é que todas estas coisas já estavam em andamento muito antes do meu caso. O Patriot Act simplesmente declarava que o governo e o FBI já não iam mais ocultar suas atividades mas sim exercê-las abertamente, e não havia nada que pudesse fazer contra ela”.
Em seguida Matt falou sobre a diferença entre as opressões que enfrentam os brancos da classe trabalhadora e as comunidades de cor, citando Stokely Carmichael: “Os brancos são explorados, mas outras comunidades são colonizadas. Neste sentido, é dever dos brancos se dar conta de que, segundo o locutor, “Este é o nosso movimento também””.
No entanto, assinalou que é importante reconhecer a facilidade que os brancos têm de aproveitar o privilégio que a cor de sua pele os outorga para assim evitar as conseqüências de seu envolvimento na política revolucionária, enquanto que para as pessoas de cor, essa possibilidade não existe.
Sherman explicou que o interesse que o FBI teve nele foi o resultado das ações de um jovem branco que não assumiu a responsabilidade por colocar instruções para fabricar bombas num sítio da internet mantido no servidor de Sherman. Além do mais, o/as mesmo/as ativistas que mais fortemente falavam de revolução, logo que sentiram a pressão dos aparatos estatais, se transformaram em informantes. “Quando damos as costas uns aos outros, isso destrói nosso movimento”, resumiu.
Ojore disse que ele havia enfrentado uma situação semelhante em 1982, quando um ex-Pantera Negra com problema de drogas se tornou informante, feito que acabou com sua apreensão nas mãos do FBI e sua conseqüente prisão.
Ojore prosseguiu sua análise sobre o uso de drogas, na qual concluiu que é uma forma contra-revolucionária de auto-opressão e que o/as revolucionário/as não devem usar drogas, e os que ainda as usam devem buscar a ajuda de programas revolucionários antidrogas.
Em seguida Mapache lançou um desafio ao público, que estava refletindo sobre a distinção entre progressismo e revolução, para apoiarem os preso/as político/as, já que são ele/as que têm tomado os passos que outros não puderam tomar e agora já estão sofrendo pelo mesmo. Matt relatou a história de Thomas Warner, um Pantera Negra preso que se suicidou na prisão. “Parte da razão de ele ter se suicidado foi porque não tinha nenhum apoio. Se sentia só. Ele foi um preso político, e estava na lista de todas as organizações de apoio aos presos políticos, mas nenhuma delas sabia quem era esse homem. A gente se deu conta dois anos depois de sua morte. Dois anos depois. E fico pensando que se tivessem mais pessoas trabalhando com a questão dos presos políticos, talvez uma carta a mais chegasse a ele, e poderia ter mudado um pouco sua mentalidade”.
Deste ponto Benjamín destacou alguns detalhes de uma exposição sobre presos latino-americanos proporcionada por Rodolfo Montes de Oca, um companheiro venezuelano do coletivo coordenador da feira do livro e integrante do coletivo editorial do El Libertario. A América Latina vem sendo a região do mundo com a maior quantidade de anarquistas assassinados por atores estatais e paraestatais. Também houve um ressurgimento da atividade anarquista – principalmente denunciando o socialismo falso adotado pelos governos esquerdistas que atualmente predominam no continente sul americano. Estes anarquistas foram reprimidos cruelmente e muitos terminaram na prisão. Entre eles estão Diego Sebastián Petrissans, Leandro Sebastián Morel, Cristián Cancino, Marcelo Villarroel, Freddy Fuentevilla, Axel Osorio, Asel Luzárraga, Matías Castro, Pablo Carvajal, Víctor Hernández Govea, Emmanuel Hernández Hernández, Abraham López Martínez, Fermín Gómez Trejo, e Sabino Romero, todos eles necessitam de solidariedade e apoio.
Enquanto a discussão sobre presos políticos acontecia, Kaley, integrante do coletivo anarcofeminista Anarcha-LA e coordenadora dos cuidados infantis para a feira do livro, deu uma oficina sobre a criação de filhos para radicais. Numa outra sala estava passando um filme sobre abusos de trabalhadores imigrantes na indústria de ovelhas. Na sacada, Tom Wetzel e outros membros da Aliança Solidariedade Obreira apresentaram sua organização aos participantes interessado/as. Nas mediações do Centro Artístico Juvenil do Parque Barnsdall, um debate sobre saúde e veganismo foi assistido por mais de 30 pessoas. “Consegui falar com um nutricionista anarcovegano que me informou sobre as vantagens da dieta e me ajudou a garantir que estou comendo corretamente e que não iria prejudicar meu organismo, e gostei bastante porque respondeu a todas minhas perguntas”, sublinhou Francisco, um ex-estudante originário de Santiago do Chile e já radicado na Califórnia que teve que se retirar das aulas por causa do aumento dos preços.
Durante a hora seguinte o teatro para a discussão sobre a resistência indígena lotou completamente. Simultaneamente, Cindy Milstein dividiu o espaço com Andrew, membro do Instituto para Estudos Anarquistas e arquivos anarquistas. Também foi exibido um documentário sobre a criminalização dos participantes na rebelião de Oakland e foi feito um debate sobre anarquistas que profissionalmente atuam na área de saúde.
A discussão contou com a professora Andrea Smith da Nação Cherokee, Alex Soto da Nação Tohono O’odham, Mark e Jaime, tradicionalistas da Nação Diné, e Klee Benally, também da Nação Diné. Entre os temas estavam: a centralidade dos direitos indígenas a toda luta por libertação, o muro fronteiriço entre Estados Unidos e México, o genocídio cultural, e o infoshop Táala Hooghan.
Do lado de fora, Andrew falou da importância dos acervos anarquistas, mostrando exemplos de materiais do Arquivo Anarquista de Claremont. Enfatizou a necessidade de preservar a nossa própria história e de apoiar o trabalho de arquivistas de todo o mundo que conservam as evidências das nossas lutas. Sua fala se alinhou bem com a da Cindy sobre o Instituo para Estudos Anarquistas. Ela incentivou a todos os presentes para pedirem bolsas de estudos que o Instituo outorga aos escritores e tradutores.
O filme retratou a revolta que transpirou como resposta ao assassinato policial de Oscar Grant, 22 anos, no dia 1 de janeiro do ano passado. O processo jurídico de Johannes Mehserle, acusado do crime, foi transferido para Los Angeles, e ativistas locais estão seguindo o processo para afirmar o anseio popular por justiça no caso.
O último debate, que abordou a questão das ocupações de trabalhadores e estudantes, foi realizado durante a próxima hora. Sirena falou das ocupações de trabalhadores na Argentina, enquanto Chris, Eowyn, Gifford e Paul participaram na discussão que incidiu sobre os recentes esforços para se opor aos cortes orçamentários no sistema público educativo da Califórnia e para reclamar por espaços estudantis.
Nas proximidades Ned encabeçou uma oficina sobre a política radical da comunidade LBGT, desconstruindo os “ismos” experimentados pelos membros de dita comunidade, ao passo que Toi e Rebecca dirigiram uma oficina sobre o parto autônomo.
Entre as últimas atividades estavam: a turnê do Earth First!, a exibição de um filme sobre greves e ocupações, uma oficina sobre abolição carcerária dirigida pelo comitê de Los Angeles de Resistência e Crítica, e uma olhar profundo à anatomia feminina por Pati, uma parteira.
Ao longo do dia, debates espontâneos e oficinas improvisadas foram realizados. Numa oficina mecânica para bicicletas foram dadas lições sobre consertos de bicicleta. Illogic, artista canadense de hip-hop do coletivo punho levantado e co-apresentador com Testament, deu uma oficina de autodefesa. O comitê de Long Beach do Comidas Sim Bombas Não serviu lanches fornecidos pelo comitê de Los Angeles, e quando o lanche acabou, o comitê guerrilheiro chegou para alimentar aos que continuavam com fome ou que não conseguiram comprar as sopas veganas que Marina e sua família estavam vendendo. Um ecologista audaz, não desiludido pela falta de escalação de árvores prometida no convite, simplesmente decidiu subir numa árvore por si mesmo. Um artista de grafitti armou uma lona e começou a pintar. Ao agrado do público, foi rifada uma mercadoria doada por vendedores e companheiros. Músicos do folclore rebelde inspiraram as crianças e seus pais a dançar. E em todas as partes, pessoas conversaram, se conheceram, trocaram informações, e é claro, compraram.
As atividades do dia estavam chegando ao fim e foi montado um sistema de som. Os Outspoken Wordsmiths, outro grupo canadense de hip-hop que está em turnê com o Illogic e o Testament para promover a resistência aos jogos olímpicos de 2010, que serão realizados sob solos ocupados do povo Salish agora conhecido como Columbia Britânica, entraram em cena, e logo providenciaram um ritmo de beatbox para os raperos. Depois da apresentação, integrantes do coletivo coordenador da feira do livro agradeceram os assistentes, vendedores e convidados, em especial os que vieram de longe, e em seguida, abriram o microfone para os anúncios. Entre as mensagens estavam: os projetos das Comunidades Revolucionárias Autônomas, a anual Marcha por Zapata no leste de Los Angeles, e um show pós-feira no Café Tribal. Por último houve um pedido para as pessoas ajudarem com a limpeza do parque. Todos contribuíram, ajudaram e como numa revoada guardaram as mesas.
Sim, é possível reorganizar a sociedade assim como se organizou a feira do livro, com certeza podemos construir um mundo novo das cinzas do antigo.
Tradução > Marcelo Yokoi
agência de notícias anarquistas-ana
Bela madrugada
Céu, estrelas, pirilampos
Silêncio, nada!
Dasso
Em Hollywood, pelo segundo ano consecutivo, em 24 de janeiro, anarquistas da região de Los Angeles realizaram uma feira de livros que, além de propiciar intercâmbios entre vendedores e leitores, possibilitou toda uma série de discussões, oficinas, e de suma importância, interações entre companheiro/as ativistas do movimento libertário.
Os preparativos se iniciaram alguns meses atrás, quando integrantes do coletivo coordenador da feira do livro anarquista do ano passado realizada na Livraria do Sul da Califórnia, começou a se reunir e pedir sugestões e contribuições de outros setores da comunidade. O coletivo começou a crescer, e medidas foram tomadas para realizar a feira deste ano no Parque de Arte Barnsdall, localizado no topo de uma colina e contando com tais luxos como um teatro, uma galeria de arte e um jardim de esculturas numa praça com gramado. O coletivo entrou em contato e falou sobre os possíveis palestrantes. Foi lançado um chamado de propostas para oficinas, e os pedidos começaram a chegar em massa. Eventos comunitários como mostras cinematográficas e shows foram planejados a fim de divulgar a feira e o anarquismo, assim como para arrecadar fundos. Após muita preparação, o dia chave finalmente chegou.
Uma semana inteira de chuvas fortes trouxe algumas preocupações referentes à realização da feira do livro, apesar do alívio em relação à escassez de água na região. Afortunadamente, o firmamento amanheceu cristalino e sem nuvens, um bom presságio que prenunciava um dia produtivo.
Por volta das nove horas começaram a chegar os organizadores e vendedores, montando as mesas, colocando placas, conectando os cabos e finalizando os detalhes logísticos. Os dançarinos da companhia Dança Azteca Cuauhtémoc chegaram e logo foram colocando os cocares de pena e as tornozeleiras, se preparando para a cerimônia inicial. Logo as pessoas começaram a chegar: ativistas comunitários, punks, veganos, estudantes, artistas, mães e pais de família, ativistas midiáticos, advogados, indígenas, mochileiros e anarquistas de todo tipo.
A companhia formalizou o começo do evento com uma dança tradicionalmente associada ao plantio de sementes, com a esperança de germinar uma consciência revolucionária entre o povo. Quando estavam dançando, o ar se encheu com o aroma de incenso. Os dançarinos deram graças pelas chuvas recentes, e logo fizeram homenagens aos conservadores da terra, os povos indígenas. Em seguida pediram perdão aos animais e às plantas pela violação humana de suas vidas e lares. No final, pediram para que todos compartilhassem com o sofrimento dos imigrantes que morrem ao enfrentar as fronteiras, a violência e a intempérie em sua busca pela dignidade que deveria ser garantida a todos. “Estas pessoas são como os beija-flores ou os veados. Também se mudam por motivos econômicos”, disse Judith, líder entre os dançarinos. “Então, nós não somos diferentes”.
A cerimônia foi concluída e o público começou a se dispersar para participar das primeiras oficinas, ir atrás de comida e compras.
Estava incluso na primeira rodada de oficinas uma discussão sobre o duplo poder e o anarquismo moderno realizada por Harjit y Adam W., um debate liderado por Raoul sobre o Autonomen Alemão, um movimento que precedeu o Bloco Negro, e uma apresentação sobre o anarquismo e a planificação urbana feita por Olympia. Na sala de vídeos, as Comunidades Revolucionárias Autônomas exibiram seu filme Ainda Estamos Aqui, Nunca Fomos Embora, um documentário sobre o ataque policial no Parque MacArthur no dia 1º de maio de 2007.
Na discussão sobre o duplo poder, na qual o público contribuiu bastante, Harjit começou com a idéia de que, ainda que os anarquistas peçam ao povo para abandonar o capitalismo, nos faz falta a infra-estrutura que permitiria ao povo tomar esse grande passo. Na seqüência, Tom Wetzel, da Aliança Solidariedade Obreira, esclareceu um dos mitos que rodeia o anarquismo, o da postura anarquista face ao poder.
“Historicamente, uma das debilidades do anarquismo tem sido a grande ambigüidade em torno do poder. Há os que dizem que a gente se opõe ao poder, mas a verdade é que a maioria das pessoas, a classe trabalhadora, não pode se liberar sem criar novamente estruturas de poder para gerir as coisas. Administrar a sociedade, este é o poder. E penso que a idéia do poder popular, um poder que se baseia sobre “somos iguais”, um poder autogestionado, digo, assim é como conceituo uma substituição para o estado e as corporações, etc. Mas em relação ao desenvolvimento atual do poder, vale distinguir entre, por exemplo, o poder social que as pessoas constroem através de movimentos que participam em confrontações, como o fechamento dos lugares de trabalho. Ou seja, o povo comum está exercendo o poder, até certo grau. Mas é um poder que é alcançado através da luta, enfrentando aos que tem poder dentro do sistema. Mas se você está lidando com um coletivo, digamos uma distribuição de alimentos, isto não é o poder verídico, isto é manejar coletivamente um recurso. É diferente do poder social. E o que você dizia sobre uma transição à nova sociedade, que temos que ter coisas para fazer nessa transição, historicamente, isso foi parte da razão para o sindicalismo – se desenvolve um movimento da classe trabalhadora em que temos em todas as oficinas trabalhadores organizados em sindicatos revolucionários e autogeridos para que estes se encarreguem de administrar as oficinas, assegurando a nossa comida, transporte, serviços públicos, etc.”
Durante a hora seguinte foi realizado o primeiro painel de discussão. Autores de escritos anarquistas como Andrej Grubačić, autor de Wobblies e Zapatistas, Cindy Milstein, que escreveu Aspirações Anarquistas (a ser lançado em breve), Mitchell Cowen Verter, editor da compilação magonista Sonhos de Liberdade, e Gary Philiips, autor de The Jook, compartilharam reflexões sobre suas obras.
Enquanto isso foi realizada uma palestra sobre os esforços antifascistas na região do Sul da Califórnia que abarcou temas como a recente atividade neonazista no interior dessa região, a questão da raça dentro do movimento antifascista, e os movimentos atuais contra o novo Partido Americano Terceira Posição. Também abarcou sobre os antecedentes históricos da oposição anarquista ao fascismo.
Na sala de vídeos, foi feita uma apresentação de slides de cartazes anarquista da coleção do Centro para o Estudo da Gráfica Política.
Os próximos debatedores trataram sobre a questão dos presos políticos. Ojore Lutalo e Sherman Austin, ambos ex-presos políticos, dividiram o palco com Mapache, o facilitador, Matt, um organizador junto ao comitê de Los Angeles da Federação Cruz Negra Anarquista, e Benjamín, que falou dos presos políticos na América Latina.
Antes de começar o debate, Mapache pediu ao público para levarem em consideração certas perguntas. “Especialmente para os de origem européia, você se considera oprimido?”. Ele baseou sua definição de opressão sobre a de Julius Lester em sua obra Notas Revolucionárias, cópias da qual foram distribuídas durante a audiência. “Segunda pergunta para o público em geral, você se considera revolucionário ou progressista?” Outro folheto tocante a este tema foi compartilhado. “Terceira pergunta: você considera a droga como sendo revolucionária ou contra-revolucionária?
Começou Ojore: “Fui politizado no começo da década de setenta depois de uma vida de drogas e delinqüência de rua. Fui preso, e conheci o já falecido anarquista da Nova África Kuwasi Balagoon e outros presos políticos de guerra. Cerca de sete anos depois entrei na luta armada clandestina. Prenderam-me em 1975 por uma expropriação bancária armada, onde houve tiroteios com a polícia. Após uma sentença de 28 anos na Penitenciária Estatal de Trenton por minha atividade política, fui colocado em liberdade por ordem judicial em 26 de agosto de 2009”.
Ele continuou com notícias sobre o Exército Libertador Negro: “Atualmente, o ELN está inativo devidos às atividades do COINTELPRO, atualmente Segurança Interna. Mas ainda há presos do ELN nas prisões que não recebem apoio e necessitam urgentemente de seu apoio. Por exemplo, Sekou Odinga acabou de cumprir 28 anos no sistema federal e foi transferido do sistema carcerário do estado de Nova Iorque há alguns meses. Sua sentença é de vinte anos de vida. Sua última esperança de liberdade depende de uma audiência pendente. Está buscando arrecadar 5.000 dólares para contratar um advogado para assessorá-lo em sua batalha legal”. Também falou de Sundiata Acoli, que no próximo mês terá uma audiência na comissão de liberdade condicional, Herman Bell, e a necessidade que eles têm de apoio.
Sherman Austin, preso por dois anos por administrar o sítio de internet raisethefist.com, foi o próximo a falar das táticas que foram utilizadas contra ele. “Como é curioso que o aniversário (da batida do FBI em sua casa) e a feira do livro anarquista sejam hoje. Não sei se isto foi intencional ou simplesmente aconteceu assim por causalidade. Os tipos de táticas que usaram contra mim foram as escutas telefônicas, monitoramento de conversas de comunicação instantânea, correios eletrônicos, e estacionaram carros no lado de fora de minha casa, me seguiram”. Esclareceu um mal-entendido que muitos têm em relação ao USA Patriot Act e seu caso. “Após ter acontecido tudo isto, se falou muito sobre como estavam arrepelando os direitos individuais pelo Patriot Act, mas o fato é que todas estas coisas já estavam em andamento muito antes do meu caso. O Patriot Act simplesmente declarava que o governo e o FBI já não iam mais ocultar suas atividades mas sim exercê-las abertamente, e não havia nada que pudesse fazer contra ela”.
Em seguida Matt falou sobre a diferença entre as opressões que enfrentam os brancos da classe trabalhadora e as comunidades de cor, citando Stokely Carmichael: “Os brancos são explorados, mas outras comunidades são colonizadas. Neste sentido, é dever dos brancos se dar conta de que, segundo o locutor, “Este é o nosso movimento também””.
No entanto, assinalou que é importante reconhecer a facilidade que os brancos têm de aproveitar o privilégio que a cor de sua pele os outorga para assim evitar as conseqüências de seu envolvimento na política revolucionária, enquanto que para as pessoas de cor, essa possibilidade não existe.
Sherman explicou que o interesse que o FBI teve nele foi o resultado das ações de um jovem branco que não assumiu a responsabilidade por colocar instruções para fabricar bombas num sítio da internet mantido no servidor de Sherman. Além do mais, o/as mesmo/as ativistas que mais fortemente falavam de revolução, logo que sentiram a pressão dos aparatos estatais, se transformaram em informantes. “Quando damos as costas uns aos outros, isso destrói nosso movimento”, resumiu.
Ojore disse que ele havia enfrentado uma situação semelhante em 1982, quando um ex-Pantera Negra com problema de drogas se tornou informante, feito que acabou com sua apreensão nas mãos do FBI e sua conseqüente prisão.
Ojore prosseguiu sua análise sobre o uso de drogas, na qual concluiu que é uma forma contra-revolucionária de auto-opressão e que o/as revolucionário/as não devem usar drogas, e os que ainda as usam devem buscar a ajuda de programas revolucionários antidrogas.
Em seguida Mapache lançou um desafio ao público, que estava refletindo sobre a distinção entre progressismo e revolução, para apoiarem os preso/as político/as, já que são ele/as que têm tomado os passos que outros não puderam tomar e agora já estão sofrendo pelo mesmo. Matt relatou a história de Thomas Warner, um Pantera Negra preso que se suicidou na prisão. “Parte da razão de ele ter se suicidado foi porque não tinha nenhum apoio. Se sentia só. Ele foi um preso político, e estava na lista de todas as organizações de apoio aos presos políticos, mas nenhuma delas sabia quem era esse homem. A gente se deu conta dois anos depois de sua morte. Dois anos depois. E fico pensando que se tivessem mais pessoas trabalhando com a questão dos presos políticos, talvez uma carta a mais chegasse a ele, e poderia ter mudado um pouco sua mentalidade”.
Deste ponto Benjamín destacou alguns detalhes de uma exposição sobre presos latino-americanos proporcionada por Rodolfo Montes de Oca, um companheiro venezuelano do coletivo coordenador da feira do livro e integrante do coletivo editorial do El Libertario. A América Latina vem sendo a região do mundo com a maior quantidade de anarquistas assassinados por atores estatais e paraestatais. Também houve um ressurgimento da atividade anarquista – principalmente denunciando o socialismo falso adotado pelos governos esquerdistas que atualmente predominam no continente sul americano. Estes anarquistas foram reprimidos cruelmente e muitos terminaram na prisão. Entre eles estão Diego Sebastián Petrissans, Leandro Sebastián Morel, Cristián Cancino, Marcelo Villarroel, Freddy Fuentevilla, Axel Osorio, Asel Luzárraga, Matías Castro, Pablo Carvajal, Víctor Hernández Govea, Emmanuel Hernández Hernández, Abraham López Martínez, Fermín Gómez Trejo, e Sabino Romero, todos eles necessitam de solidariedade e apoio.
Enquanto a discussão sobre presos políticos acontecia, Kaley, integrante do coletivo anarcofeminista Anarcha-LA e coordenadora dos cuidados infantis para a feira do livro, deu uma oficina sobre a criação de filhos para radicais. Numa outra sala estava passando um filme sobre abusos de trabalhadores imigrantes na indústria de ovelhas. Na sacada, Tom Wetzel e outros membros da Aliança Solidariedade Obreira apresentaram sua organização aos participantes interessado/as. Nas mediações do Centro Artístico Juvenil do Parque Barnsdall, um debate sobre saúde e veganismo foi assistido por mais de 30 pessoas. “Consegui falar com um nutricionista anarcovegano que me informou sobre as vantagens da dieta e me ajudou a garantir que estou comendo corretamente e que não iria prejudicar meu organismo, e gostei bastante porque respondeu a todas minhas perguntas”, sublinhou Francisco, um ex-estudante originário de Santiago do Chile e já radicado na Califórnia que teve que se retirar das aulas por causa do aumento dos preços.
Durante a hora seguinte o teatro para a discussão sobre a resistência indígena lotou completamente. Simultaneamente, Cindy Milstein dividiu o espaço com Andrew, membro do Instituto para Estudos Anarquistas e arquivos anarquistas. Também foi exibido um documentário sobre a criminalização dos participantes na rebelião de Oakland e foi feito um debate sobre anarquistas que profissionalmente atuam na área de saúde.
A discussão contou com a professora Andrea Smith da Nação Cherokee, Alex Soto da Nação Tohono O’odham, Mark e Jaime, tradicionalistas da Nação Diné, e Klee Benally, também da Nação Diné. Entre os temas estavam: a centralidade dos direitos indígenas a toda luta por libertação, o muro fronteiriço entre Estados Unidos e México, o genocídio cultural, e o infoshop Táala Hooghan.
Do lado de fora, Andrew falou da importância dos acervos anarquistas, mostrando exemplos de materiais do Arquivo Anarquista de Claremont. Enfatizou a necessidade de preservar a nossa própria história e de apoiar o trabalho de arquivistas de todo o mundo que conservam as evidências das nossas lutas. Sua fala se alinhou bem com a da Cindy sobre o Instituo para Estudos Anarquistas. Ela incentivou a todos os presentes para pedirem bolsas de estudos que o Instituo outorga aos escritores e tradutores.
O filme retratou a revolta que transpirou como resposta ao assassinato policial de Oscar Grant, 22 anos, no dia 1 de janeiro do ano passado. O processo jurídico de Johannes Mehserle, acusado do crime, foi transferido para Los Angeles, e ativistas locais estão seguindo o processo para afirmar o anseio popular por justiça no caso.
O último debate, que abordou a questão das ocupações de trabalhadores e estudantes, foi realizado durante a próxima hora. Sirena falou das ocupações de trabalhadores na Argentina, enquanto Chris, Eowyn, Gifford e Paul participaram na discussão que incidiu sobre os recentes esforços para se opor aos cortes orçamentários no sistema público educativo da Califórnia e para reclamar por espaços estudantis.
Nas proximidades Ned encabeçou uma oficina sobre a política radical da comunidade LBGT, desconstruindo os “ismos” experimentados pelos membros de dita comunidade, ao passo que Toi e Rebecca dirigiram uma oficina sobre o parto autônomo.
Entre as últimas atividades estavam: a turnê do Earth First!, a exibição de um filme sobre greves e ocupações, uma oficina sobre abolição carcerária dirigida pelo comitê de Los Angeles de Resistência e Crítica, e uma olhar profundo à anatomia feminina por Pati, uma parteira.
Ao longo do dia, debates espontâneos e oficinas improvisadas foram realizados. Numa oficina mecânica para bicicletas foram dadas lições sobre consertos de bicicleta. Illogic, artista canadense de hip-hop do coletivo punho levantado e co-apresentador com Testament, deu uma oficina de autodefesa. O comitê de Long Beach do Comidas Sim Bombas Não serviu lanches fornecidos pelo comitê de Los Angeles, e quando o lanche acabou, o comitê guerrilheiro chegou para alimentar aos que continuavam com fome ou que não conseguiram comprar as sopas veganas que Marina e sua família estavam vendendo. Um ecologista audaz, não desiludido pela falta de escalação de árvores prometida no convite, simplesmente decidiu subir numa árvore por si mesmo. Um artista de grafitti armou uma lona e começou a pintar. Ao agrado do público, foi rifada uma mercadoria doada por vendedores e companheiros. Músicos do folclore rebelde inspiraram as crianças e seus pais a dançar. E em todas as partes, pessoas conversaram, se conheceram, trocaram informações, e é claro, compraram.
As atividades do dia estavam chegando ao fim e foi montado um sistema de som. Os Outspoken Wordsmiths, outro grupo canadense de hip-hop que está em turnê com o Illogic e o Testament para promover a resistência aos jogos olímpicos de 2010, que serão realizados sob solos ocupados do povo Salish agora conhecido como Columbia Britânica, entraram em cena, e logo providenciaram um ritmo de beatbox para os raperos. Depois da apresentação, integrantes do coletivo coordenador da feira do livro agradeceram os assistentes, vendedores e convidados, em especial os que vieram de longe, e em seguida, abriram o microfone para os anúncios. Entre as mensagens estavam: os projetos das Comunidades Revolucionárias Autônomas, a anual Marcha por Zapata no leste de Los Angeles, e um show pós-feira no Café Tribal. Por último houve um pedido para as pessoas ajudarem com a limpeza do parque. Todos contribuíram, ajudaram e como numa revoada guardaram as mesas.
Sim, é possível reorganizar a sociedade assim como se organizou a feira do livro, com certeza podemos construir um mundo novo das cinzas do antigo.
Tradução > Marcelo Yokoi
agência de notícias anarquistas-ana
Bela madrugada
Céu, estrelas, pirilampos
Silêncio, nada!
Dasso
Arte postal para Mumia Abu-Jamal - ANA
Arte postal para Mumia Abu-Jamal
Inundemos a Casa Branca com arte postal para Mumia!
O ex-Pantera Negra, jornalista e ativista negro estadunidense Mumia Abu-Jamal, "símbolo internacional contra a pena de morte", um dos mais conhecidos e estimados prisioneiro político do mundo pode voltar a ser condenado à morte. Exijamos um novo julgamento justo para ele! Mande a sua solidariedade num cartão postal! Mumia livre já!
Envie o seu cartão pessoal, “Arte postal para Mumia”, à Casa Branca, a qualquer hora, durante a semana de 24 de abril de 2010. Nesta data, 24 de abril de 2010, acontecerá o 56º aniversário de Mumia Abu-Jamal.
Endereço para o envio do postal:
Barack Obama
The Whitehouse, 1600 Pennsylvania Ave ., Washington, D.C. 20500 - USA.
Envie pinturas, gravuras, desenhos, colagens, esculturas, fotos, letras desenhadas artisticamente e tudo mais que sua criatividade permitir.
Porquê enviar os cartões artísticos para a Casa Branca?
A arte é uma forma de expressão que não precisa de tradução. Ao enviar o seu pedido criativo para a Casa Branca demonstrará o apoio a nível mundial que ele tem, e chamar a atenção para a prisão injusta de Mumia. Também para dizer ao governo dos EUA que estamos com Mumia e esperamos que ele não seja EXECUTADO! Queremos Mumia vivo e livre!
Se possível envie uma foto, cópia ou algum tipo de registro do seu trabalho para: "Art Show. Mumia lives in Solitary Confinement one hour from Pittsburgh". Todas as contribuições serão respondidas.
Endereço: Mailart 4 Mumia, 3807 Melwood Ave, Pittsburgh, PA 15213 – USA.
E-mail: mailart4mumia@gmail.com
Mumia Abu-Jamal é um ex-integrante do Partido dos Panteras Negras, se tornou jornalista na Filadélfia e ficou popular com o seu programa de rádio "A voz dos sem-voz". Já escreveu seis livros. Está há quase 30 anos em isolamento total no corredor da morte nos EUA, falsamente acusado pela morte de um agente policial.
Em 27 de março de 2008, o Tribunal Federal de Apelações dos EUA anulou a sentença de morte, convertendo-a em prisão perpétua. Em abril de 2009 o Supremo Tribunal Federal dos EUA recusou o último recurso legal de Mumia Abu-Jamal para um novo julgamento, restando apenas por decidir um pedido da acusação para o restabelecimento da pena de morte a Mumia, o que poderá levar à sua execução imediata.
A seguir uma pequena lista de sítios com a história de Mumia Abu-Jamal, atualizações e informações sobre o caso, o panorama jurídico, entrevistas em áudio, filmes, vídeos do YouTube, e ensaios radiofônicos de Mumia.
Jornalistas pró-Mumia Abu-Jamal (ótimo sítio, repleto de links para outros, áudio e vídeo na coluna do lado direito: http://abu-jamal-news.com/
Liberdade para Mumia Coalition, NYC: http://www.freemumia.com/
Liberdade para Mumia, San Francisco: http://www.freemumia.org/
Educadores por Mumia: http://www.emajonline.com/
The MOVE Organization: http://onamove.com/
Rádio, informações e debates sobre Mumia, atualizado semanalmente: http://prisonradio.org/mumia.htm
Filmes Online:
Framing an Execution: Mumia Abu-Jamal e os meios de comunicação (escrito por Danny Glover): http://video.google.com/videoplay?docid=2537462601888502694#
"Um Caso de Dúvida Razoável, Documentário HBO: http://www.youtube.com/watch?v=uT3ubcPE1aU
Entrevistas com Mumia, em vídeo:
From Death Row: http://www.youtube.com/watch?v=KRGFZ1eLJO4
Mumia, sobre Partidos Politicos: http://www.youtube.com/watch?v=v_hLAmMM_aE
Mumia, sobre Economia: http://www.youtube.com/watch?v=kQjmHQU0VE4
Mumia, sobre Prisões: http://www.youtube.com/watch?v=37u3sPHjrro
Mumia, Lutando Pela Minha Vida: http://www.youtube.com/watch?v=OD130EKCOsE
Tradução > Liberdade à Solta
agência de notícias anarquistas-ana
passeio de madrugada
os meus sapatos
empapados de orvalho
Rogério Martins
Estado Assassino: Mossad tem licença de Israel para matar onde quiser. Por Luiz Eça
Mossad tem licença de Israel para matar onde quiser
Escrito por Luiz Eça - 24-Fev-2010
"Quando o mundo vai concluir que Israel foi longe demais – e fazer algo a respeito?" (Justin Raymondo, "Anti War, 19-2-2010)
Parece não haver dúvidas quanto à autoria do Mossad no assassinato de Dubai. Além das declarações do general Khaifan, chefe de polícia local, de que há 99% de chances, senão 100%, de o serviço secreto de Israel ser culpado, outras evidências se acumulam.
Em Israel, o ministro de Relações Exteriores, Lieberman, negou-se a confirmar ou desmentir o fato, alegando que a política de Israel nessas questões seria "ambígua". O que indiretamente incrimina seu país, pois em caso de inocência ele evidentemente a proclamaria.
Respeitado especialista em segurança nacional, o israelense Yossi Melman, comentou no jornal Haaretz: "A Inteligência (no assassinato de Dubai) foi confiável e precisa".
O Times de Londres citou Ehud Olmert, antigo primeiro-ministro de Israel, como tendo dito que o Mossad estaria desenvolvendo uma "guerra secreta no Oriente Médio, assassinando chefes do Hamas e do Irã".
E autoridades na área de segurança de Israel informaram, sob condição de anonimato, que o crime fora de fato uma operação do Mossad secreta e precisa (Steven Gutkin, AP News).
Com o que o Jerusalem Post concordou ao considerá-la "mais um golpe no eixo do mal".
Na verdade, foram três os crimes. Primeiro crime: roubo dos passaportes de cidadãos ingleses, irlandeses, alemães e franceses, com dupla nacionalidade. Segundo: falsificação, consistente na troca das fotos originais pelas dos agentes. Terceiro: tortura e estrangulamento do representante do Hamas na Síria.
A responsabilização do Mossad não é surpresa. Ele tem uma longa folha corrida de operações no estrangeiro que seguem o padrão do caso de Dubai.
Em 1987, agentes do Mossad foram presos na Inglaterra com passaportes do país falsificados. Israel prometeu que isso jamais se repetiria. Mas, 10 anos depois, seus agentes entraram na Jordânia com passaportes canadenses falsos e lá envenenaram Khaled Menshal, líder do Hamas. Foram presos em seguida e o rei Hussein exigiu que o governo de Telaviv enviasse o antídoto adequado, sob pena de rompimento das relações diplomáticas. Israel só conseguiu que os homens do Mossad fossem soltos mediante a libertação do xeique Ahmed Yassim, guia espiritual do Hamas, há 8 anos no cárcere. E, para acalmar o Canadá, jurou jamais voltar a falsificar passaportes.
Pela segunda vez descumpriram seu juramento, em 2004, na Nova Zelândia, quando dois agentes israelenses foram presos com passaportes neozelandeses falsos.
Em 1991, quatro agentes do Mossad foram pegos em flagrante ao tentar plantar microfones na embaixada do Irã, em Nicósia, Chipre. Israel pagou multa para eles serem libertados.
A polícia da Suíça, em 1998, prendeu cinco homens do Mossad quando instalavam um equipamento de escuta no porão da casa de um libanês. Quatro conseguiram fugir, o quinto foi encarcerado e condenado a 12 meses de prisão, pena suspensa antes do seu prazo final.
Novamente em Chipre, agora em 1998: dois agentes foram presos na região costeira de Zigi ao espionarem manobras das forças armadas cipriotas gregas. A polícia encontrou equipamentos de espionagem no apartamento deles. Libertados no ano seguinte.
Imad Mughniyeh, um alto comandante do Hezbollah, foi assassinado em 2008 por uma bomba que explodiu o carro em que viajava, em Damasco, Síria. Mais um crime atribuído ao Mossad. Israel negou sua culpa.
Outros assassinatos atribuídos ao Mossad, não confirmados por Telaviv:
- Wadie Hadad, chefe do braço armado da Frente Popular pela Libertação da Palestina, na Alemanha Oriental , em 1978;
- Fathi Shkaki, lider do grupo Jihad Islâmico, em Malta, em 1995;
- Abbas Mussawi, líder do Hezbollah, em Beirute, em 1992;
- Khalil al-Wazir, líder e fundador do Fatah, também conhecido pelo apelido de Abu Jihad, na Tunísia, em 1988.
Em todos esses casos, foram cometidos delitos capitulados no Direito Internacional, pois a país algum é dado assassinar adversários no território de outros países. Por sua vez, a falsificação de passaportes é muito grave, pois compromete a confiabilidade de todo um sistema, fundamental para garantir segurança nessa época de terrorismo.
Estranhamente, os países onde esses crimes foram cometidos, com exceção da Nova Zelândia, foram lenientes, aplicando penas leves, logo suspensas, ou multas, sem chamar o governo de Israel à responsabilidade.
Desta vez, pode ser diferente
O crime não feriu apenas os direitos dos Emirados Árabes (Dubai é lá). Israel não vacilou em violar a soberania de países aliados (Alemanha, Reino Unido, França e Irlanda), ao falsificar passaportes emitidos por eles. "Um ultraje", no dizer de David Miliband, ministro de Relações Exteriores do Reino Unido. Ele e os ministros desta pasta dos outros quatro países desrespeitados requereram explicações ao governo de Telaviv.
Miliband chegou a recusar que o assunto fosse tratado sigilosamente como o embaixador israelense solicitou. E ainda ordenou que o SOCA (Agência de Investigações do Crime Organizado) procedesse a uma rigorosa investigação. Por enquanto, Israel limitou-se a dizer que não há provas.
É o que a polícia de Dubai acha que já encontrou. Segundo seu chefe, o general Khalfan: "Temos mais evidências, além dos vídeos e fotos já revelados. Os próximos dias trarão surpresas que não deixarão mais espaço para dúvidas".
Quando isso acontecer, Khalfan garante que pedirá à Interpol a prisão do chefe do Mossad.
Poderia incluir também o primeiro-ministro Netanyahu. Afinal, "Bibi" tem antecedentes que o incriminam. Sabe-se que, na primeira vez em que foi primeiro-ministro, autorizou uma ação análoga do Mossad: o envenenamento de Khaleed Menshal, na Jordânia. O que torna crível a informação do Sunday Times de Londres, em sua edição de 21 de fevereiro último: o primeiro-ministro teria desejado "boa sorte" aos membros do esquadrão da morte nas vésperas de sua partida para Dubai.
Como autêntico 007, o Mossad tem licença dos escalões superiores de Israel para matar onde quiser. Não é um procedimento aceitável num mundo civilizado.
Mesmo assim autoridades israelenses têm demonstrado confiança em que o crime de Dubai ficará por isso mesmo. Afinal, os países do Ocidente não iriam brigar com Israel só por causa da morte de um chefe do Hamas...
É bem capaz de terem razão.
Certo, o crime de Dubai envolve lesões graves às leis internacionais, aos direitos humanos, à soberania...
Mas, a verdade é que o Ocidente só costuma dar valor a esses princípios quando é para atacar seus adversários.
Luiz Eça é jornalista
Fonte: http://www.correiocidadania.com.br/
Nova denúncia da Folha é desmentida pelo Estadão
Nova denúncia da Folha é desmentida pelo Estadão
Na terça-feira, matéria de Márcio Aith, na Folha de São Paulo, denunciou que a decisão do governo de recuperar a rede de fibras óticas da Eletronet - massa falida administrada pela Justiça do Rio - permitiria a Nelson Santos, ex-acionista, receber R$ 200 milhões. E relacionava essa operação com a consultoria que lhe foi prestada por José Dirceu. Os fatos foram amplamente desmentidos no decorrer do dia. Matéria do Estadão acabou expondo o factóide. O blog do Nasif conta essa história.
Luis Nassif
Data: 24/02/2010
Do blog do Nassif
Veja em que lamaçal se meteu a Folha.
Aqui, um resumo. Na sequência, a descrição:
1. Ontem matéria do notório Márcio Aith denunciou que a decisão do governo de recuperar a rede de fibras óticas da Eletronet – massa falida administrada pela Justiça do Rio – permitiria a Nelson Santos, ex-acionista, receber R$ 200 milhões. E relacionava essa operação com a consultoria que lhe foi prestada por José Dirceu.
2. Os fatos foram amplamente desmentidos no decorrer do dia. Mostrou-se que seria impossível qualquer pagamento a Nelson, já que o governo retomou a rede de fibras óticas da empresa e as pendências remanescentes são com os credores, não com os ex-acionistas.
Hoje, o notório Aith volta ao tema, não toca mais no assunto Nelson Santos. Substituiu o escândalo anterior por um novo: a operação, na verdade, destinava-se a permitir a Oi, em conluio com o governo, assumir a rede da Eletronet.
É outro factóide desmentido pelos fatos: o governo quer que a Telebras se incumba da rede de banda larga, contrariando os interesses das operadoras. Quais os dados objetivos que fundamentam a acusação de Aith? Nenhum. Ou melhor, uma tentativa da Oi de negociar com os credores da Eletronet. E que não deu certo, porque, segundo a OI, chegou-se a um «impasse comercial».
3. Aí a reportagem do Estadão driblou o controle do aquário e mostrou a razão do impasse comercial: a tentativa da OI foi vetada pela Eletrobras, controlada pelo governo. Com isso, impediu-se a OI de assumir a empresa e o Nelson de embolsar R$ 70 milhões.
Fonte: www.cartamaior.com.br
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Metrô-SP : Publicidade traz jingle, plágio e promessas
Publicidade traz jingle, plágio e promessas
Anúncios do Metrô são feitos por empresa de Duda Mendonça; oposição vê abuso
18/02/2010
Renato Godoy de Toledo da Redação
A linha-4 do Metrô e a expansão de outros trechos têm sido anunciadas exaustivamente em horário nobre da televisão brasileira. Durante o tradicional especial de final de ano do cantor Roberto Carlos na TV Globo, os intervalos comerciais continham até dois filmes de 30 segundos do Metrô e do governo estadual.
A série de comerciais é comandada pelo ator global Dan Stulbach, que anuncia as vantagens da expansão do Metrô paulista. Os usuários, em festa, soltam bexigas, erguem os braços e comemoram as inaugurações. Uma inserção de 2 minutos veiculada no intervalo do dominical “Fantástico” contém um claro plágio da cena final do filme indiano “Quem quer ser um milionário”, com dezenas de pessoas realizando coreografias na plataforma de uma estação.
O texto lido pelo ator parece não temer a acusação de propaganda eleitoral antecipada. “A partir de agora é assim: uma inauguração atrás da outra”, promete a voz do ator, enquanto as imagens mostram a alegria na estação Sacomã, recém-inaugurada.
Essas inserções são produzidas pela Duda Propaganda, empresa do marqueteiro político Duda Mendonça, que ganhou do governo estadual um contrato de R$ 14 milhões por seis meses de serviços prestados. A empresa do marqueteiro Nizan Guanaes, filiado ao PSDB, recebeu R$ 11 milhões para outros comerciais.
Em 2008, o governo planejou um gasto de R$ 57 milhões em publicidade do Metrô e da CPTM, que opera os trens urbanos na região metropolitana de São Paulo. Segundo a Secretaria de Transportes, o objetivo das inserções comerciais é realizar “campanhas de esclarecimento e informação dos usuários e da população em geral, assim como para comunicar as medidas de modernização e ampliação da rede de transporte coletivo sobre trilhos na região metropolitana de São Paulo”.
Antecipação de campanha
Para o Sindicato dos Metroviários, no entanto, as peças publicitárias configuram campanha eleitoral antecipada. “É um momento pré-eleitoral. É muito ruim para a população a forma como isso vem sendo feito. Se tivessem a mesma agilidade e contundência na execução do orçamento, não teria problema nenhum. Mas depois de outubro quando acabarem as eleições, não sabemos o que vai acontecer”, afirma Manuel Xavier.
A bancada do PT na Assembléia Legislativa de São Paulo já entrou com três representações no Ministério Público Estadual para barrar propagandas do governo do Estado que exaltam a gestão tucana em vez de prestar esclarecimentos e informações sobre serviços.
Num dos casos, o PT exige que o governo devolva aos cofres públicos o dinheiro que foi investido em publicidades da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado) veiculadas em Estados do Norte-Nordeste, onde a empresa não tem qualquer atuação – e o governador goza de pouco prestígio eleitoral.
Só em ano eleitoral
Nos quase 16 anos de governo do PSDB em São Paulo, foram entregues 15 novas estações, sendo que apenas uma delas, a Alto do Ipiranga, foi entregue em um ano impar (2007). Ou seja, todas as outras foram concluídas em anos eleitorais.
A linha Amarela 4 – Amarela deve começar a operar com apenas duas estações, Paulista-Faria Lima, até o final de março. Em abril, o governador José Serra deve se licenciar do cargo para se candidatar à presidência. Mais quatro estações serão inauguradas até o final do ano. As outras cinco previstas devem ser concluídas em 2012 e 2014.
Mais lotado do mundo
O ritmo acelerado propagandeado pela publicidade contrasta com os dados dos 16 anos de PSDB. Foram apenas 28 km de Metrô construídos. Desse total, 8 km são da linha lilás, que liga o Capão Redondo, na Zona Sul, ao Largo Treze, na mesma região. Esse trecho não tem conexão com nenhuma outra linha do Metrô. As outras ampliações se deram na linha verde e vermelha.
Esse crescimento tímido da malha viária não tem comportado o crescimento da demanda pelo transporte. O Metrô de São Paulo é considerado pela CoMET (Comunidade de Metrôs) como o mais lotado do mundo, com 10 milhões de passageiros por quilômetro de linha. Mesmo com o incremento que será propiciado com a linha-4, o Metrô paulista continuará ostentando esse título e ainda será o menor entre as 10 maiores metrópoles do mundo.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
ll Encontro de Zineiros/As!!! Dia 06/03/2010 - São Paulo
Segundo encontro de zineiros/as
Local: Combat Rock !
A idéia é dar continuidade nesses encontros, e tentar encontrar soluções para manter o zine impresso circulando no Brasil. Quem quiser trazer seu zine para trocar/vender, fazer parte dos debates ou simplesmente para apoiar o evento vai ser muito bem-vindo!
Data: Dia 6 de março / 14hs
Endereço: Combat Rock Discos - loja 66 - Rua Barão de Itapetininga, 37 - Galeria Nova Barão.
CAZP - 8 anos / Alagoas e a construção do Poder Popular
CAZP - 8 anos / Alagoas e a construção do Poder Popular
O Coletivo Anarquista Zumbi dos Palmares (CAZP) completa agora em março 8 anos realizando debate, com lançamento de material e uma singela confraternização com comes e bebes.
Fazemos o convite a todos os companheiros e companheiras de luta. Aproveitando a data estaremos debatendo e lançando o documento "Alagoas e a construção do Poder Popular" sintetizando alguns debates a respeito da realidade alagoana, de nossos lutadores e de que maneira concebemos um processo de transformação social pensado desde a nossa realidade.
05/03 (sexta-feira) às 17h.
Local: Sintufal, no Centro.
Fonte: http://cazp-al.blogspot.com/
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Falência do Estado e assalto aos bancos - Por Robert Kurz
Falência do Estado e assalto aos bancos
O pior já passou, assim reza a fórmula oficial de exorcismo. Na realidade, apenas se estreitou o horizonte da percepção. Já não se quer pensar em períodos cíclicos (muito menos históricos), mas apenas em valores mensais. Também é tabu o tema das relações estruturais no mercado mundial, tal como o do relacionamento entre o Estado e a economia. Apenas têm saída as pretensas histórias de sucesso de empresas e sectores económicos. Mas não adianta enterrar a cabeça na areia. O “caso Grécia" trouxe à luz do dia que agora, sem grande surpresa, o verme da crise vai roendo as finanças públicas. A primeira insolvência de facto de um importante Estado membro da União Europeia é um sinal fatídico para a evolução futura. Espanha, Portugal, Irlanda, Itália e naturalmente o leste da Europa são os próximos candidatos a ficar na corda bamba, e não só. Já se podem ouvir os sussurros de que também a condição financeira dos centros capitalistas, E.U.A., Grã-Bretanha, França e Alemanha, poderá ter-se agravado dramaticamente. As consequências dos pactos de salvamento sem precedentes e dos programas de apoio económico, que deveriam estimular e simular a retoma do crescimento, ameaçam repercutir-se a curto e médio prazo no sistema financeiro e na conjuntura económica.
A União Europeia quer tapar as fissuras no vigamento, colocando sob curatela o orçamento de Estado da Grécia. De trimestre em trimestre devem tornar-se obrigatórias drásticas medidas de contenção. Isso vai levar ao colapso dos sistemas sociais e da economia doméstica, num país já perturbado. Se o caso é apresentado como exemplo, pode-se calcular o que acabará por chegar, mais cedo ou mais tarde, a todos os países centrais, dentro e fora da União Europeia (incluindo o milagre económico chinês). Na Alemanha, o aperto da tarraxa nas contribuições do seguro de saúde é apenas uma pequena prova antecipada. Uma nova onda de desmantelamento dos sistemas de previdência estaduais e das infra-estruturas públicas junta-se com a onda iminente de falências de empresas e de despedimentos. Também neste aspecto a Grécia pode ser pioneira.
Ao mesmo tempo, a zona euro está sujeita a um teste de resistência. Revela-se como ilusão a ideia de que pudesse ascender a nova moeda mundial a construção artificial do Euro, implantada no contexto da concorrência da globalização, com base em níveis nacionais de acumulação e de produtividade completamente diferentes. A travagem de emergência nas finanças gregas mostra a fragilidade do sistema monetário europeu. No apuro em que se encontram, os países da União Europeia deitam mão a meios musculados para impor rédea curta aos paraísos fiscais, há muito tolerados nas suas fileiras. Um debate animado, no primeiro canal da televisão alemã, sobre o novo “assalto aos bancos na Suíça", é bem eloquente. Depois de Steinbrück, por maioria de razão também Schäuble gostaria de limpar os cofres suíços. Perante a montanha da dívida, na ordem de grandeza dos biliões de euros, o “assalto aos bancos” feito pelo Estado, que poderá trazer 200 milhões na melhor das hipóteses, só pode ser descrito como desespero. Assim se tornam também evidentes as contradições entre o sistema jurídico nacional e o internacional. Neste ponto, os problemas agora são resolvidos, por assim dizer, a murro. A crise económica mundial está longe de terminada. Depois dos mercados financeiros, são as finanças públicas que constituem o próximo catalisador duma desestabilização económica, em que a desvalorização geral do capital vai abrindo caminho aos solavancos.
Original STAATSBANKROTT UND BANKÜBERFALL in www.exit-online.org. Publicado Neues Deutschland, 05.02.2010
http://obeco.planetaclix.pt/
http://www.exit-online.org/
Dubai pede prisão de espião-chefe do Mossad - 19.02.2010
Dubai pede prisão de espião-chefe do Mossad
Serviço secreto israelense estaria por trás da morte de líder do Hamas
O chefe da polícia de Dubai, general Dahi Jalfan Tamin, pediu ontem que a Interpol emita uma ordem internacional de captura contra o chefe do Mossad, serviço secreto de Israel no exterior, Meir Dagá, pelo assassinato de Mahmoud Abdel al-Mabhouh, um dos líderes do braço armado do Hamas, cujo corpo foi encontrado no dia 20, num hotel de Dubai.
"Se o chefe do Mossad está envolvido (no assassinato), pedirei que ele seja incluído na lista de pessoas procuradas" pela Interpol, disse Tamin em entrevista a uma rádio local.
Ontem, a Interpol emitiu ordem de captura contra 11 pessoas supostamente envolvidas no assassinato. Três usavam passaporte irlandês; seis, britânico; um, francês; e um, alemão. Tamin disse que o grupo pertence ao Mossad. Mas a identidade real dos assassinos ainda é uma incógnita.
Os governos da Grã-Bretanha e da França pediram explicações oficiais aos embaixadores de Israel nos dois países sobre o uso dos passaportes britânicos e franceses na operação. Paris e Londres dizem que os passaportes seriam falsos, mas se refeririam a identidades reais. Entre eles, estaria o documento do francês Peter Elvinger, cujo nome teria sido usado na ação por um agente responsável pela logística da operação.
"O encarregado de Assuntos de Estado de Israel na França foi recebido no Ministério das Relações Exteriores da França. A ele foram pedidas explicações sobre a utilização de um passaporte francês, durante uma operação recente de assassinato de um dirigente do Hamas em um hotel de Dubai", confirmou em Paris a porta-voz Celine Musikas-Opimbi, sem revelar a resposta israelense. "O ministério expressou a profunda preocupação da França quanto à utilização mal-intencionada e fraudulenta de documentos oficiais franceses."
Em Londres, o embaixador israelense também foi convocado a dar explicações. Ron Prosor afirmou "não estar em condições de aportar informações complementares" sobre o tema. David Miliband, ministro das Relações Exteriores, afirmou que espera a colaboração plena de Israel com a investigação e reforçou que cobrará pessoalmente explicações sobre a operação na segunda-feira, em Bruxelas, quando se encontrará com o chanceler israelense, Avigdor Lieberman.
Também em Dublin, na Irlanda, autoridades israelenses foram convocadas a dar explicações sobre as suspeitas.
Apesar da reação severa dos governos europeus, a policia de Dubai duvida que os passaportes utilizados na ação - que permitiram o ingresso dos agentes no país - sejam falsificados, uma suspeita que levanta dúvidas sobre a colaboração em algum nível de parte dos governos do Ocidente.
Em entrevista ao jornal The National, de Dubai, Tamin foi direto sobre a originalidade dos documentos: "Os funcionários do serviço de imigração são treinados por especialistas de segurança europeus para detectar os passaportes falsos."
Tamin disse que já não tem nenhuma dúvida sobre o envolvimento israelense no assassinato de Al-Mabhouh. "Com 99% de certeza, senão com 100%, o Mossad está por trás do crime."
OPERAÇÕES ISRAELENSES
Noruega: Após a morte de 11 atletas israelenses na Olimpíada de Munique em 1972, Israel tenta assassinar os chefes do movimento palestino Setembro Negro, responsável pelo atentado. Em julho de 1973, agentes do Mossad matam por engano Ahmed Bushuki, um garçom de origem marroquina na Noruega, ao confundi-lo com um dos integrantes do grupo
Chipre: Em abril de 1991, um policial do Chipre prende quatro agentes do Mossad que queriam colocar escutas na Embaixada do Irã em Nicósia. Chipre e Israel solucionam a questão pela diplomacia
Jordânia: Dois agentes israelenses são descobertos em setembro de 1997 na Jordânia quando tentavam assassinar o chefe do braço político do Hamas, Khaled Meshaal, aplicando veneno
Nova Zelândia: Em março de 2004, agentes do Mossad são presos pela polícia quando tentavam retirar um passaporte feito com documentos falsos. O caso faz com que o país suspenda seus contatos mais próximos com Israel
Fonte: Estadão
Israel exportando a opressão – Por Latuff
Em novembro,durante a vista do presidente Shimon Peres ao Brasil,Israel e Brasil fecharam um acordo de USD 350 milhões para o fornecimento de 14 mísseis israelenses "heron havs", para diversas agências armadas brasileiras.
"Agora nós poderemos matar os brasileiros pobres com a mesma eficiência que vocês matam os palestinos!"
Estado Assassino: Soldados de Israel relatam ‘rotina de humilhação’ de palestinos
Soldados de Israel relatam ‘rotina de humilhação’ de palestinos
Por Redação, 21.02.2010
Guila Flint - De Tel Aviv para a BBC Brasil
Uma ONG israelense divulgou pela primeira vez os depoimentos de mulheres que serviram como soldados de Israel sobre a realidade nos territórios ocupados, denunciando uma “rotina de humilhação” a que são submetidos os palestinos nessas regiões.
A organização Breaking the Silence (“Quebrando o Silêncio”, em tradução livre), formada por reservistas israelenses, publicou os depoimentos escritos e gravados de 96 mulheres que serviram em batalhões de combate na Cisjordânia.
De acordo com elas, a prática de abusos e a humilhação de civis palestinos pelas tropas israelenses é “rotineira” e as soldados, querendo demonstrar que são tão capazes quanto os soldados homens, também participam de atos que são definidos pelo Exército como “inusitados”.
As ex-soldados descrevem cenas de espancamentos gratuitos de civis palestinos em pontos de checagem, de humilhação arbitrária e até de mortes de civis e falsificação dos fatos para encobrir atos ilegais das tropas.
Dana Golan, diretora da ONG, afirmou que “a sociedade israelense não quer pensar em nossas namoradas, filhas e irmãs participando ativamente na ocupação, exatamente como os soldados (homens)”. “Queremos acreditar que as soldados não são tão agressivas e não sujam as mãos, porém os depoimentos das mulheres provam que as soldados são tão corruptas quanto os homens e não poderia ser diferente”, acrescentou.
Depoimentos
A organização colheu mais de 700 depoimentos de militares israelenses, homens e mulheres, que serviram nos territórios ocupados desde o inicio da Intifada, em 2000. “Os depoimentos demonstram que as violações dos direitos humanos nos territórios não são resultado de um comportamento excepcional de poucos, mas decorrem do próprio domínio de uma população civil”, afirma a Breaking the Silence.
Segundo o relatório da ONG, os casos de violação dos direitos humanos de civis palestinos são muitas vezes resultado do “simples tédio” dos soldados que servem em centenas de pontos de checagem na Cisjordânia. Em um dos depoimentos, uma ex-soldado descreve uma cena, em um dos pontos de checagem, em que uma oficial ensinou civis palestinos a cantarem o hino do batalhão e em seguida, os civis, inclusive idosos e crianças, foram obrigados a cantar e dançar o hino militar.
“Uma sociedade que envia seu Exército para cumprir missões deve saber o que se passa em seu quintal e deve ouvir as vozes de suas filhas e filhos, mesmo se as historias não são agradáveis”, afirma a Breaking the Silence.
Treinamento especial
O Exército israelense descartou o relatório da ONG, afirmando que trata-se de “depoimentos anônimos”. Os autores, entretanto, afirmam que não revelaram a identidade das testemunhas para não prejudicá-las.
De acordo com um porta-voz militar, “os depoimentos não têm especificação de tempo ou local e é impossível examinar sua credibilidade”. “No Exército de Israel existem vários órgãos cuja função é investigar suspeitas de atos contrários às ordens e é obrigação de todo soldado ou oficial se dirigir a esses órgãos, caso sinta que alguma atividade foi cometida de maneira contrária às ordens”, disse o porta-voz.
“As tropas recebem um treinamento especial sobre o contato com a população palestina e as soldados recebem o mesmo treinamento que os soldados (homens)”, afirmou.
•Clique aqui para acessar o original desta matéria
•Site da ONG Breaking the Silence em inglês
Fonte: www.fazendomedia.com/
Por Redação, 21.02.2010
Guila Flint - De Tel Aviv para a BBC Brasil
Uma ONG israelense divulgou pela primeira vez os depoimentos de mulheres que serviram como soldados de Israel sobre a realidade nos territórios ocupados, denunciando uma “rotina de humilhação” a que são submetidos os palestinos nessas regiões.
A organização Breaking the Silence (“Quebrando o Silêncio”, em tradução livre), formada por reservistas israelenses, publicou os depoimentos escritos e gravados de 96 mulheres que serviram em batalhões de combate na Cisjordânia.
De acordo com elas, a prática de abusos e a humilhação de civis palestinos pelas tropas israelenses é “rotineira” e as soldados, querendo demonstrar que são tão capazes quanto os soldados homens, também participam de atos que são definidos pelo Exército como “inusitados”.
As ex-soldados descrevem cenas de espancamentos gratuitos de civis palestinos em pontos de checagem, de humilhação arbitrária e até de mortes de civis e falsificação dos fatos para encobrir atos ilegais das tropas.
Dana Golan, diretora da ONG, afirmou que “a sociedade israelense não quer pensar em nossas namoradas, filhas e irmãs participando ativamente na ocupação, exatamente como os soldados (homens)”. “Queremos acreditar que as soldados não são tão agressivas e não sujam as mãos, porém os depoimentos das mulheres provam que as soldados são tão corruptas quanto os homens e não poderia ser diferente”, acrescentou.
Depoimentos
A organização colheu mais de 700 depoimentos de militares israelenses, homens e mulheres, que serviram nos territórios ocupados desde o inicio da Intifada, em 2000. “Os depoimentos demonstram que as violações dos direitos humanos nos territórios não são resultado de um comportamento excepcional de poucos, mas decorrem do próprio domínio de uma população civil”, afirma a Breaking the Silence.
Segundo o relatório da ONG, os casos de violação dos direitos humanos de civis palestinos são muitas vezes resultado do “simples tédio” dos soldados que servem em centenas de pontos de checagem na Cisjordânia. Em um dos depoimentos, uma ex-soldado descreve uma cena, em um dos pontos de checagem, em que uma oficial ensinou civis palestinos a cantarem o hino do batalhão e em seguida, os civis, inclusive idosos e crianças, foram obrigados a cantar e dançar o hino militar.
“Uma sociedade que envia seu Exército para cumprir missões deve saber o que se passa em seu quintal e deve ouvir as vozes de suas filhas e filhos, mesmo se as historias não são agradáveis”, afirma a Breaking the Silence.
Treinamento especial
O Exército israelense descartou o relatório da ONG, afirmando que trata-se de “depoimentos anônimos”. Os autores, entretanto, afirmam que não revelaram a identidade das testemunhas para não prejudicá-las.
De acordo com um porta-voz militar, “os depoimentos não têm especificação de tempo ou local e é impossível examinar sua credibilidade”. “No Exército de Israel existem vários órgãos cuja função é investigar suspeitas de atos contrários às ordens e é obrigação de todo soldado ou oficial se dirigir a esses órgãos, caso sinta que alguma atividade foi cometida de maneira contrária às ordens”, disse o porta-voz.
“As tropas recebem um treinamento especial sobre o contato com a população palestina e as soldados recebem o mesmo treinamento que os soldados (homens)”, afirmou.
•Clique aqui para acessar o original desta matéria
•Site da ONG Breaking the Silence em inglês
Fonte: www.fazendomedia.com/
Cabul afirma que ataque da Otan matou 33 civis
Cabul afirma que ataque da Otan matou 33 civis
Pelo menos 33 civis morreram no domingo quando três veículos foram bombardeados por engano pela Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf) da Otan na região central do Afeganistão, anunciou nesta segunda-feira o governo do Afeganistão, que qualificou o ataque de "injustificável".
De acordo com o ministério afegão do Interior, a Isaf acreditava ter bombardeado um grupo de talebans.
Os aviões da Isaf abriram fogo contra os veículos na manhã de domingo na província de Oruzgan, segundo o porta-voz do ministério, Zemaraï Bashary. Ele disse ainda que entre as vítimas estão mulheres e crianças.
Em comunicado, a força Isaf explicou que as tropas localizaram um grupo de supostos insurgentes quando supostamente se encontravam "em rota" para lançar um ataque contra uma patrulha militar.
A força Isaf interceptou o grupo e disparou contra ele com armas aéreas. Quando os soldados chegaram ao local do confronto encontraram mulheres e crianças e transportaram os feridos a um hospital de campanha, diz a nota.
O comando da Otan abriu uma investigação para esclarecer o acontecido.
O incidente não é parte da Operação Mushtarak, a maior ofensiva liderada pela Otan para retirar integrantes do Taleban da província de Helmand, também no sul do país.
Ainda assim, ele pode afetar os esforços da Otan e do governo do Afeganistão para conquistar apoio da população local, parte de um plano para obter o controle de locais dominados pelo Taleban antes do início de uma retirada gradual das tropas norte-americanas do país em 2011.
* Com AFP, Reuters e EFE
Estado Assassino: Israel estende muros em redor - Por João Goulão
Israel estende muros em redor
José Goulão; 30 de Janeiro de 2010
O governo de Israel anunciou que vai construir uma barreira com aproximadamente 125 quilómetros de extensão na sua fronteira com o Egipto em zonas situadas entre Eilat, no Mar Vermelho, e o limite Sul da Faixa de Gaza.
As razões invocadas pelo executivo de Benjamin Netanyahu são a necessidade de conter «infiltrações terroristas», travar iniciativas da al-Qaida e evitar a entrada de refugiados oriundos de países africanos, nomeadamente a Eritreia e o Sudão. Trata-se, explicam os responsáveis israelitas, de manter o «carácter judaico e democrático» do Estado de Israel.
A utilização de muros como método para adiar e evitar a resolução de problemas que poderiam e deveriam ter soluções políticas, diplomáticas e negociadas é um recurso velho, traumático, violador de direitos humanos e comprovadamente inútil. Apesar disso, poucas semanas depois de assinalados os 20 anos da queda do Muro de Berlim, a opção parece mais actual do que nunca.
Mais ou menos contemporâneos, em termos latos, da situação de Berlim subsistem os muros de Chipre, da Península da Coreia, do Saara Ocidental. Depois deles nasceram a vedação que os Estados Unidos continua a implantar na sua fronteira com o México e a longa parede que está a ser erguida em zonas entre o Afeganistão e o Paquistão. A contenção de movimentos migratórios, no primeiro caso, e o combate a infiltrações terroristas, no segundo, são os argumentos para estas situações.
Os governos de Israel – e não apenas o actual de Netanyahu – são os que se revelam com maior apetência pelo culto do emparedamento, aparecendo neste caso como argumento suplementar a defesa do “carácter judaico” do Estado, uma preocupação de pureza étnica e nacionalista que nos remete para os casos dos bantustões e dos guetos no antigo Estado sul-africano de “carácter branco”, para não recuarmos um pouco mais no tempo.
A forma como os chamados “colonatos estratégicos” cercam Jerusalém Leste enquanto Israel continua a judaização e a anexação do sector árabe da cidade funciona como um emparedamento, mas normalmente não é considerada como tal, pelo que o mundo já se habituou a conviver com esta fortaleza ilegal inexpugnável até às ofensivas do direito internacional – se por absurdo as houvesse.
Há outros muros na região, menos elaborados, bem prosaicos, mais brutais.
O da Cisjordânia, por exemplo. Poucas ou nenhumas instâncias internacionais com poder efectivo se têm manifestado incomodadas com esta situação, mas ela é um dos mais flagrantes insultos contemporâneos não apenas à civilização mas também à inteligência e ao senso comum. Construído em betão, o muro deverá ter cerca de 700 quilómetros quando finalizado, de acordo com as autoridades israelitas. Ainda segundo estas, a barreira acompanha a linha de separação entre Israel e as áreas palestinianas.
São muitos os testemunhos internacionais que comprovam a inexactidão desta explicação. O muro tem um traçado sinuoso que passa muito pelo interior da Cisjordânia e que, na prática, concretiza uma ocupação israelita avaliada em cerca de 60 por cento do território.
A Cisjordânia, onde funcionam as instituições autonómicas palestinianas, é uma das áreas onde deveria assentar o futuro Estado palestiniano, pelo que a construção do muro por Israel torna ainda mais difíceis quaisquer negociações internacionais que venham hipoteticamente a ser retomadas.
Fontes oficiais israelitas argumentam em defesa do muro a sua comprovada eficácia contra infiltrações terroristas. Segundo as estatísticas, desde o início da construção da barreira os atentados no interior de Israel têm diminuído.
Em contrapartida, além da ocupação suplementar do território cisjordano – já sujeito a centenas de postos militares de controlo, a áreas de efectiva ocupação por tropas israelitas e a todo o progressivo processo de colonização – o muro torna ainda mais precária a existência dos palestinianos. Divide vilas, aldeias e cidades, separa famílias, veda a utilização de cuidados de saúde, afasta jovens das escolas, impede agricultores e pequenos empresários de acederem aos seus negócios, bloqueia o acesso de vida humana aos recursos naturais, em especial a água, transforma, em suma, muitas comunidades palestinianas em autênticos bantustões. O muro da Cisjordânia é um instrumento de apartheid.
Israel emparedou igualmente a Faixa de Gaza. O isolamento a que o território está sujeito e que obriga a população de mais de milhão e meio de pessoas a viver em condições infra-humanas, está garantido graças a uma barreira absolutamente inexpugnável do lado israelita e que adquire condições idênticas do lado egípcio. Num alinhamento cada vez mais evidente com o lado israelita, o regime ditatorial egípcio de Hosni Mubarak contribui para o cerco a Gaza e reforça-o ao encerrar com barreiras metálicas os túneis através dos quais circulavam os únicos bens que poderiam minorar o sofrimento e o desespero de uma população abandonada pelas instâncias oficiais internacionais. Mais do que um bantustão, a Faixa de Gaza é um campo de concentração.
O novo muro a erguer na fronteira entre Israel e o Egipto e que vedará cerca de metade da linha de separação, avaliada em 250 quilómetros, corresponde a uma nova fase do processo em que, isolando os vizinhos, o Estado israelita se cerca também a si próprio. Este passo poderá, aliás, não ser o único, tendo em conta palavras recentes do ministro da Defesa, Ehud Barak. O político que liquidou em 2000 as possibilidades de acordo com os palestinianos, então ainda em vida de Arafat, considera que «a fronteira ocidental é a única que não precisa de ser bloqueada». Barak fala, claro, do Mar Mediterrâneo. Daí que, interpretando estas palavras à letra, a edificação de barreiras nas fronteiras com o Líbano, a Norte, e com a Jordânia, a Leste, não seja de excluir.
Segundo as informações disponíveis, a barreira na fronteira com o Egipto deverá ser erguida a partir do porto de Eilat, no Mar Vermelho, para Norte; e da fronteira de Rafah, em Gaza, para Sul, prolongando assim a cerca que já envolve a pequena faixa palestiniana.
As autoridades israelitas alegam que através de Eilat tendem a infiltrar-se imigrantes fugidos de países africanos e que na zona do Sinai têm sido detectados movimentos de grupos alegadamente identificados com a al-Qaida.
O Egipto não manifestou qualquer incómodo perante o anúncio feito pelo governo de Israel de construir a barreira fronteiriça. Fonte governamental citada pela comunicação social afirmou que se trata de um assunto israelita desde que a vedação seja construída do lado de Israel. Na era da globalização e da livre circulação de capitais e mercadorias parece banal que um vizinho feche a fronteira com arame farpado e outros adereços. Para o regime do Cairo é mais importante ser uma espécie de mediador putativo – e virtual – de um processo de negociações apadrinhado pelos Estados Unidos, conduzido por Netanyahu e que na verdade não existe.
Fonte: http://infoalternativa.org/
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