segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Estado Assassino: Israel estende muros em redor - Por João Goulão


Israel estende muros em redor
José Goulão; 30 de Janeiro de 2010

O governo de Israel anunciou que vai construir uma barreira com aproximadamente 125 quilómetros de extensão na sua fronteira com o Egipto em zonas situadas entre Eilat, no Mar Vermelho, e o limite Sul da Faixa de Gaza.

As razões invocadas pelo executivo de Benjamin Netanyahu são a necessidade de conter «infiltrações terroristas», travar iniciativas da al-Qaida e evitar a entrada de refugiados oriundos de países africanos, nomeadamente a Eritreia e o Sudão. Trata-se, explicam os responsáveis israelitas, de manter o «carácter judaico e democrático» do Estado de Israel.

A utilização de muros como método para adiar e evitar a resolução de problemas que poderiam e deveriam ter soluções políticas, diplomáticas e negociadas é um recurso velho, traumático, violador de direitos humanos e comprovadamente inútil. Apesar disso, poucas semanas depois de assinalados os 20 anos da queda do Muro de Berlim, a opção parece mais actual do que nunca.

Mais ou menos contemporâneos, em termos latos, da situação de Berlim subsistem os muros de Chipre, da Península da Coreia, do Saara Ocidental. Depois deles nasceram a vedação que os Estados Unidos continua a implantar na sua fronteira com o México e a longa parede que está a ser erguida em zonas entre o Afeganistão e o Paquistão. A contenção de movimentos migratórios, no primeiro caso, e o combate a infiltrações terroristas, no segundo, são os argumentos para estas situações.

Os governos de Israel – e não apenas o actual de Netanyahu – são os que se revelam com maior apetência pelo culto do emparedamento, aparecendo neste caso como argumento suplementar a defesa do “carácter judaico” do Estado, uma preocupação de pureza étnica e nacionalista que nos remete para os casos dos bantustões e dos guetos no antigo Estado sul-africano de “carácter branco”, para não recuarmos um pouco mais no tempo.

A forma como os chamados “colonatos estratégicos” cercam Jerusalém Leste enquanto Israel continua a judaização e a anexação do sector árabe da cidade funciona como um emparedamento, mas normalmente não é considerada como tal, pelo que o mundo já se habituou a conviver com esta fortaleza ilegal inexpugnável até às ofensivas do direito internacional – se por absurdo as houvesse.

Há outros muros na região, menos elaborados, bem prosaicos, mais brutais.

O da Cisjordânia, por exemplo. Poucas ou nenhumas instâncias internacionais com poder efectivo se têm manifestado incomodadas com esta situação, mas ela é um dos mais flagrantes insultos contemporâneos não apenas à civilização mas também à inteligência e ao senso comum. Construído em betão, o muro deverá ter cerca de 700 quilómetros quando finalizado, de acordo com as autoridades israelitas. Ainda segundo estas, a barreira acompanha a linha de separação entre Israel e as áreas palestinianas.

São muitos os testemunhos internacionais que comprovam a inexactidão desta explicação. O muro tem um traçado sinuoso que passa muito pelo interior da Cisjordânia e que, na prática, concretiza uma ocupação israelita avaliada em cerca de 60 por cento do território.

A Cisjordânia, onde funcionam as instituições autonómicas palestinianas, é uma das áreas onde deveria assentar o futuro Estado palestiniano, pelo que a construção do muro por Israel torna ainda mais difíceis quaisquer negociações internacionais que venham hipoteticamente a ser retomadas.

Fontes oficiais israelitas argumentam em defesa do muro a sua comprovada eficácia contra infiltrações terroristas. Segundo as estatísticas, desde o início da construção da barreira os atentados no interior de Israel têm diminuído.

Em contrapartida, além da ocupação suplementar do território cisjordano – já sujeito a centenas de postos militares de controlo, a áreas de efectiva ocupação por tropas israelitas e a todo o progressivo processo de colonização – o muro torna ainda mais precária a existência dos palestinianos. Divide vilas, aldeias e cidades, separa famílias, veda a utilização de cuidados de saúde, afasta jovens das escolas, impede agricultores e pequenos empresários de acederem aos seus negócios, bloqueia o acesso de vida humana aos recursos naturais, em especial a água, transforma, em suma, muitas comunidades palestinianas em autênticos bantustões. O muro da Cisjordânia é um instrumento de apartheid.

Israel emparedou igualmente a Faixa de Gaza. O isolamento a que o território está sujeito e que obriga a população de mais de milhão e meio de pessoas a viver em condições infra-humanas, está garantido graças a uma barreira absolutamente inexpugnável do lado israelita e que adquire condições idênticas do lado egípcio. Num alinhamento cada vez mais evidente com o lado israelita, o regime ditatorial egípcio de Hosni Mubarak contribui para o cerco a Gaza e reforça-o ao encerrar com barreiras metálicas os túneis através dos quais circulavam os únicos bens que poderiam minorar o sofrimento e o desespero de uma população abandonada pelas instâncias oficiais internacionais. Mais do que um bantustão, a Faixa de Gaza é um campo de concentração.

O novo muro a erguer na fronteira entre Israel e o Egipto e que vedará cerca de metade da linha de separação, avaliada em 250 quilómetros, corresponde a uma nova fase do processo em que, isolando os vizinhos, o Estado israelita se cerca também a si próprio. Este passo poderá, aliás, não ser o único, tendo em conta palavras recentes do ministro da Defesa, Ehud Barak. O político que liquidou em 2000 as possibilidades de acordo com os palestinianos, então ainda em vida de Arafat, considera que «a fronteira ocidental é a única que não precisa de ser bloqueada». Barak fala, claro, do Mar Mediterrâneo. Daí que, interpretando estas palavras à letra, a edificação de barreiras nas fronteiras com o Líbano, a Norte, e com a Jordânia, a Leste, não seja de excluir.

Segundo as informações disponíveis, a barreira na fronteira com o Egipto deverá ser erguida a partir do porto de Eilat, no Mar Vermelho, para Norte; e da fronteira de Rafah, em Gaza, para Sul, prolongando assim a cerca que já envolve a pequena faixa palestiniana.

As autoridades israelitas alegam que através de Eilat tendem a infiltrar-se imigrantes fugidos de países africanos e que na zona do Sinai têm sido detectados movimentos de grupos alegadamente identificados com a al-Qaida.

O Egipto não manifestou qualquer incómodo perante o anúncio feito pelo governo de Israel de construir a barreira fronteiriça. Fonte governamental citada pela comunicação social afirmou que se trata de um assunto israelita desde que a vedação seja construída do lado de Israel. Na era da globalização e da livre circulação de capitais e mercadorias parece banal que um vizinho feche a fronteira com arame farpado e outros adereços. Para o regime do Cairo é mais importante ser uma espécie de mediador putativo – e virtual – de um processo de negociações apadrinhado pelos Estados Unidos, conduzido por Netanyahu e que na verdade não existe.

Fonte: http://infoalternativa.org/

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