Relato da Segunda Anual Feira do Livro Anarquista de Los Angeles
Em Hollywood, pelo segundo ano consecutivo, em 24 de janeiro, anarquistas da região de Los Angeles realizaram uma feira de livros que, além de propiciar intercâmbios entre vendedores e leitores, possibilitou toda uma série de discussões, oficinas, e de suma importância, interações entre companheiro/as ativistas do movimento libertário.
Os preparativos se iniciaram alguns meses atrás, quando integrantes do coletivo coordenador da feira do livro anarquista do ano passado realizada na Livraria do Sul da Califórnia, começou a se reunir e pedir sugestões e contribuições de outros setores da comunidade. O coletivo começou a crescer, e medidas foram tomadas para realizar a feira deste ano no Parque de Arte Barnsdall, localizado no topo de uma colina e contando com tais luxos como um teatro, uma galeria de arte e um jardim de esculturas numa praça com gramado. O coletivo entrou em contato e falou sobre os possíveis palestrantes. Foi lançado um chamado de propostas para oficinas, e os pedidos começaram a chegar em massa. Eventos comunitários como mostras cinematográficas e shows foram planejados a fim de divulgar a feira e o anarquismo, assim como para arrecadar fundos. Após muita preparação, o dia chave finalmente chegou.
Uma semana inteira de chuvas fortes trouxe algumas preocupações referentes à realização da feira do livro, apesar do alívio em relação à escassez de água na região. Afortunadamente, o firmamento amanheceu cristalino e sem nuvens, um bom presságio que prenunciava um dia produtivo.
Por volta das nove horas começaram a chegar os organizadores e vendedores, montando as mesas, colocando placas, conectando os cabos e finalizando os detalhes logísticos. Os dançarinos da companhia Dança Azteca Cuauhtémoc chegaram e logo foram colocando os cocares de pena e as tornozeleiras, se preparando para a cerimônia inicial. Logo as pessoas começaram a chegar: ativistas comunitários, punks, veganos, estudantes, artistas, mães e pais de família, ativistas midiáticos, advogados, indígenas, mochileiros e anarquistas de todo tipo.
A companhia formalizou o começo do evento com uma dança tradicionalmente associada ao plantio de sementes, com a esperança de germinar uma consciência revolucionária entre o povo. Quando estavam dançando, o ar se encheu com o aroma de incenso. Os dançarinos deram graças pelas chuvas recentes, e logo fizeram homenagens aos conservadores da terra, os povos indígenas. Em seguida pediram perdão aos animais e às plantas pela violação humana de suas vidas e lares. No final, pediram para que todos compartilhassem com o sofrimento dos imigrantes que morrem ao enfrentar as fronteiras, a violência e a intempérie em sua busca pela dignidade que deveria ser garantida a todos. “Estas pessoas são como os beija-flores ou os veados. Também se mudam por motivos econômicos”, disse Judith, líder entre os dançarinos. “Então, nós não somos diferentes”.
A cerimônia foi concluída e o público começou a se dispersar para participar das primeiras oficinas, ir atrás de comida e compras.
Estava incluso na primeira rodada de oficinas uma discussão sobre o duplo poder e o anarquismo moderno realizada por Harjit y Adam W., um debate liderado por Raoul sobre o Autonomen Alemão, um movimento que precedeu o Bloco Negro, e uma apresentação sobre o anarquismo e a planificação urbana feita por Olympia. Na sala de vídeos, as Comunidades Revolucionárias Autônomas exibiram seu filme Ainda Estamos Aqui, Nunca Fomos Embora, um documentário sobre o ataque policial no Parque MacArthur no dia 1º de maio de 2007.
Na discussão sobre o duplo poder, na qual o público contribuiu bastante, Harjit começou com a idéia de que, ainda que os anarquistas peçam ao povo para abandonar o capitalismo, nos faz falta a infra-estrutura que permitiria ao povo tomar esse grande passo. Na seqüência, Tom Wetzel, da Aliança Solidariedade Obreira, esclareceu um dos mitos que rodeia o anarquismo, o da postura anarquista face ao poder.
“Historicamente, uma das debilidades do anarquismo tem sido a grande ambigüidade em torno do poder. Há os que dizem que a gente se opõe ao poder, mas a verdade é que a maioria das pessoas, a classe trabalhadora, não pode se liberar sem criar novamente estruturas de poder para gerir as coisas. Administrar a sociedade, este é o poder. E penso que a idéia do poder popular, um poder que se baseia sobre “somos iguais”, um poder autogestionado, digo, assim é como conceituo uma substituição para o estado e as corporações, etc. Mas em relação ao desenvolvimento atual do poder, vale distinguir entre, por exemplo, o poder social que as pessoas constroem através de movimentos que participam em confrontações, como o fechamento dos lugares de trabalho. Ou seja, o povo comum está exercendo o poder, até certo grau. Mas é um poder que é alcançado através da luta, enfrentando aos que tem poder dentro do sistema. Mas se você está lidando com um coletivo, digamos uma distribuição de alimentos, isto não é o poder verídico, isto é manejar coletivamente um recurso. É diferente do poder social. E o que você dizia sobre uma transição à nova sociedade, que temos que ter coisas para fazer nessa transição, historicamente, isso foi parte da razão para o sindicalismo – se desenvolve um movimento da classe trabalhadora em que temos em todas as oficinas trabalhadores organizados em sindicatos revolucionários e autogeridos para que estes se encarreguem de administrar as oficinas, assegurando a nossa comida, transporte, serviços públicos, etc.”
Durante a hora seguinte foi realizado o primeiro painel de discussão. Autores de escritos anarquistas como Andrej Grubačić, autor de Wobblies e Zapatistas, Cindy Milstein, que escreveu Aspirações Anarquistas (a ser lançado em breve), Mitchell Cowen Verter, editor da compilação magonista Sonhos de Liberdade, e Gary Philiips, autor de The Jook, compartilharam reflexões sobre suas obras.
Enquanto isso foi realizada uma palestra sobre os esforços antifascistas na região do Sul da Califórnia que abarcou temas como a recente atividade neonazista no interior dessa região, a questão da raça dentro do movimento antifascista, e os movimentos atuais contra o novo Partido Americano Terceira Posição. Também abarcou sobre os antecedentes históricos da oposição anarquista ao fascismo.
Na sala de vídeos, foi feita uma apresentação de slides de cartazes anarquista da coleção do Centro para o Estudo da Gráfica Política.
Os próximos debatedores trataram sobre a questão dos presos políticos. Ojore Lutalo e Sherman Austin, ambos ex-presos políticos, dividiram o palco com Mapache, o facilitador, Matt, um organizador junto ao comitê de Los Angeles da Federação Cruz Negra Anarquista, e Benjamín, que falou dos presos políticos na América Latina.
Antes de começar o debate, Mapache pediu ao público para levarem em consideração certas perguntas. “Especialmente para os de origem européia, você se considera oprimido?”. Ele baseou sua definição de opressão sobre a de Julius Lester em sua obra Notas Revolucionárias, cópias da qual foram distribuídas durante a audiência. “Segunda pergunta para o público em geral, você se considera revolucionário ou progressista?” Outro folheto tocante a este tema foi compartilhado. “Terceira pergunta: você considera a droga como sendo revolucionária ou contra-revolucionária?
Começou Ojore: “Fui politizado no começo da década de setenta depois de uma vida de drogas e delinqüência de rua. Fui preso, e conheci o já falecido anarquista da Nova África Kuwasi Balagoon e outros presos políticos de guerra. Cerca de sete anos depois entrei na luta armada clandestina. Prenderam-me em 1975 por uma expropriação bancária armada, onde houve tiroteios com a polícia. Após uma sentença de 28 anos na Penitenciária Estatal de Trenton por minha atividade política, fui colocado em liberdade por ordem judicial em 26 de agosto de 2009”.
Ele continuou com notícias sobre o Exército Libertador Negro: “Atualmente, o ELN está inativo devidos às atividades do COINTELPRO, atualmente Segurança Interna. Mas ainda há presos do ELN nas prisões que não recebem apoio e necessitam urgentemente de seu apoio. Por exemplo, Sekou Odinga acabou de cumprir 28 anos no sistema federal e foi transferido do sistema carcerário do estado de Nova Iorque há alguns meses. Sua sentença é de vinte anos de vida. Sua última esperança de liberdade depende de uma audiência pendente. Está buscando arrecadar 5.000 dólares para contratar um advogado para assessorá-lo em sua batalha legal”. Também falou de Sundiata Acoli, que no próximo mês terá uma audiência na comissão de liberdade condicional, Herman Bell, e a necessidade que eles têm de apoio.
Sherman Austin, preso por dois anos por administrar o sítio de internet raisethefist.com, foi o próximo a falar das táticas que foram utilizadas contra ele. “Como é curioso que o aniversário (da batida do FBI em sua casa) e a feira do livro anarquista sejam hoje. Não sei se isto foi intencional ou simplesmente aconteceu assim por causalidade. Os tipos de táticas que usaram contra mim foram as escutas telefônicas, monitoramento de conversas de comunicação instantânea, correios eletrônicos, e estacionaram carros no lado de fora de minha casa, me seguiram”. Esclareceu um mal-entendido que muitos têm em relação ao USA Patriot Act e seu caso. “Após ter acontecido tudo isto, se falou muito sobre como estavam arrepelando os direitos individuais pelo Patriot Act, mas o fato é que todas estas coisas já estavam em andamento muito antes do meu caso. O Patriot Act simplesmente declarava que o governo e o FBI já não iam mais ocultar suas atividades mas sim exercê-las abertamente, e não havia nada que pudesse fazer contra ela”.
Em seguida Matt falou sobre a diferença entre as opressões que enfrentam os brancos da classe trabalhadora e as comunidades de cor, citando Stokely Carmichael: “Os brancos são explorados, mas outras comunidades são colonizadas. Neste sentido, é dever dos brancos se dar conta de que, segundo o locutor, “Este é o nosso movimento também””.
No entanto, assinalou que é importante reconhecer a facilidade que os brancos têm de aproveitar o privilégio que a cor de sua pele os outorga para assim evitar as conseqüências de seu envolvimento na política revolucionária, enquanto que para as pessoas de cor, essa possibilidade não existe.
Sherman explicou que o interesse que o FBI teve nele foi o resultado das ações de um jovem branco que não assumiu a responsabilidade por colocar instruções para fabricar bombas num sítio da internet mantido no servidor de Sherman. Além do mais, o/as mesmo/as ativistas que mais fortemente falavam de revolução, logo que sentiram a pressão dos aparatos estatais, se transformaram em informantes. “Quando damos as costas uns aos outros, isso destrói nosso movimento”, resumiu.
Ojore disse que ele havia enfrentado uma situação semelhante em 1982, quando um ex-Pantera Negra com problema de drogas se tornou informante, feito que acabou com sua apreensão nas mãos do FBI e sua conseqüente prisão.
Ojore prosseguiu sua análise sobre o uso de drogas, na qual concluiu que é uma forma contra-revolucionária de auto-opressão e que o/as revolucionário/as não devem usar drogas, e os que ainda as usam devem buscar a ajuda de programas revolucionários antidrogas.
Em seguida Mapache lançou um desafio ao público, que estava refletindo sobre a distinção entre progressismo e revolução, para apoiarem os preso/as político/as, já que são ele/as que têm tomado os passos que outros não puderam tomar e agora já estão sofrendo pelo mesmo. Matt relatou a história de Thomas Warner, um Pantera Negra preso que se suicidou na prisão. “Parte da razão de ele ter se suicidado foi porque não tinha nenhum apoio. Se sentia só. Ele foi um preso político, e estava na lista de todas as organizações de apoio aos presos políticos, mas nenhuma delas sabia quem era esse homem. A gente se deu conta dois anos depois de sua morte. Dois anos depois. E fico pensando que se tivessem mais pessoas trabalhando com a questão dos presos políticos, talvez uma carta a mais chegasse a ele, e poderia ter mudado um pouco sua mentalidade”.
Deste ponto Benjamín destacou alguns detalhes de uma exposição sobre presos latino-americanos proporcionada por Rodolfo Montes de Oca, um companheiro venezuelano do coletivo coordenador da feira do livro e integrante do coletivo editorial do El Libertario. A América Latina vem sendo a região do mundo com a maior quantidade de anarquistas assassinados por atores estatais e paraestatais. Também houve um ressurgimento da atividade anarquista – principalmente denunciando o socialismo falso adotado pelos governos esquerdistas que atualmente predominam no continente sul americano. Estes anarquistas foram reprimidos cruelmente e muitos terminaram na prisão. Entre eles estão Diego Sebastián Petrissans, Leandro Sebastián Morel, Cristián Cancino, Marcelo Villarroel, Freddy Fuentevilla, Axel Osorio, Asel Luzárraga, Matías Castro, Pablo Carvajal, Víctor Hernández Govea, Emmanuel Hernández Hernández, Abraham López Martínez, Fermín Gómez Trejo, e Sabino Romero, todos eles necessitam de solidariedade e apoio.
Enquanto a discussão sobre presos políticos acontecia, Kaley, integrante do coletivo anarcofeminista Anarcha-LA e coordenadora dos cuidados infantis para a feira do livro, deu uma oficina sobre a criação de filhos para radicais. Numa outra sala estava passando um filme sobre abusos de trabalhadores imigrantes na indústria de ovelhas. Na sacada, Tom Wetzel e outros membros da Aliança Solidariedade Obreira apresentaram sua organização aos participantes interessado/as. Nas mediações do Centro Artístico Juvenil do Parque Barnsdall, um debate sobre saúde e veganismo foi assistido por mais de 30 pessoas. “Consegui falar com um nutricionista anarcovegano que me informou sobre as vantagens da dieta e me ajudou a garantir que estou comendo corretamente e que não iria prejudicar meu organismo, e gostei bastante porque respondeu a todas minhas perguntas”, sublinhou Francisco, um ex-estudante originário de Santiago do Chile e já radicado na Califórnia que teve que se retirar das aulas por causa do aumento dos preços.
Durante a hora seguinte o teatro para a discussão sobre a resistência indígena lotou completamente. Simultaneamente, Cindy Milstein dividiu o espaço com Andrew, membro do Instituto para Estudos Anarquistas e arquivos anarquistas. Também foi exibido um documentário sobre a criminalização dos participantes na rebelião de Oakland e foi feito um debate sobre anarquistas que profissionalmente atuam na área de saúde.
A discussão contou com a professora Andrea Smith da Nação Cherokee, Alex Soto da Nação Tohono O’odham, Mark e Jaime, tradicionalistas da Nação Diné, e Klee Benally, também da Nação Diné. Entre os temas estavam: a centralidade dos direitos indígenas a toda luta por libertação, o muro fronteiriço entre Estados Unidos e México, o genocídio cultural, e o infoshop Táala Hooghan.
Do lado de fora, Andrew falou da importância dos acervos anarquistas, mostrando exemplos de materiais do Arquivo Anarquista de Claremont. Enfatizou a necessidade de preservar a nossa própria história e de apoiar o trabalho de arquivistas de todo o mundo que conservam as evidências das nossas lutas. Sua fala se alinhou bem com a da Cindy sobre o Instituo para Estudos Anarquistas. Ela incentivou a todos os presentes para pedirem bolsas de estudos que o Instituo outorga aos escritores e tradutores.
O filme retratou a revolta que transpirou como resposta ao assassinato policial de Oscar Grant, 22 anos, no dia 1 de janeiro do ano passado. O processo jurídico de Johannes Mehserle, acusado do crime, foi transferido para Los Angeles, e ativistas locais estão seguindo o processo para afirmar o anseio popular por justiça no caso.
O último debate, que abordou a questão das ocupações de trabalhadores e estudantes, foi realizado durante a próxima hora. Sirena falou das ocupações de trabalhadores na Argentina, enquanto Chris, Eowyn, Gifford e Paul participaram na discussão que incidiu sobre os recentes esforços para se opor aos cortes orçamentários no sistema público educativo da Califórnia e para reclamar por espaços estudantis.
Nas proximidades Ned encabeçou uma oficina sobre a política radical da comunidade LBGT, desconstruindo os “ismos” experimentados pelos membros de dita comunidade, ao passo que Toi e Rebecca dirigiram uma oficina sobre o parto autônomo.
Entre as últimas atividades estavam: a turnê do Earth First!, a exibição de um filme sobre greves e ocupações, uma oficina sobre abolição carcerária dirigida pelo comitê de Los Angeles de Resistência e Crítica, e uma olhar profundo à anatomia feminina por Pati, uma parteira.
Ao longo do dia, debates espontâneos e oficinas improvisadas foram realizados. Numa oficina mecânica para bicicletas foram dadas lições sobre consertos de bicicleta. Illogic, artista canadense de hip-hop do coletivo punho levantado e co-apresentador com Testament, deu uma oficina de autodefesa. O comitê de Long Beach do Comidas Sim Bombas Não serviu lanches fornecidos pelo comitê de Los Angeles, e quando o lanche acabou, o comitê guerrilheiro chegou para alimentar aos que continuavam com fome ou que não conseguiram comprar as sopas veganas que Marina e sua família estavam vendendo. Um ecologista audaz, não desiludido pela falta de escalação de árvores prometida no convite, simplesmente decidiu subir numa árvore por si mesmo. Um artista de grafitti armou uma lona e começou a pintar. Ao agrado do público, foi rifada uma mercadoria doada por vendedores e companheiros. Músicos do folclore rebelde inspiraram as crianças e seus pais a dançar. E em todas as partes, pessoas conversaram, se conheceram, trocaram informações, e é claro, compraram.
As atividades do dia estavam chegando ao fim e foi montado um sistema de som. Os Outspoken Wordsmiths, outro grupo canadense de hip-hop que está em turnê com o Illogic e o Testament para promover a resistência aos jogos olímpicos de 2010, que serão realizados sob solos ocupados do povo Salish agora conhecido como Columbia Britânica, entraram em cena, e logo providenciaram um ritmo de beatbox para os raperos. Depois da apresentação, integrantes do coletivo coordenador da feira do livro agradeceram os assistentes, vendedores e convidados, em especial os que vieram de longe, e em seguida, abriram o microfone para os anúncios. Entre as mensagens estavam: os projetos das Comunidades Revolucionárias Autônomas, a anual Marcha por Zapata no leste de Los Angeles, e um show pós-feira no Café Tribal. Por último houve um pedido para as pessoas ajudarem com a limpeza do parque. Todos contribuíram, ajudaram e como numa revoada guardaram as mesas.
Sim, é possível reorganizar a sociedade assim como se organizou a feira do livro, com certeza podemos construir um mundo novo das cinzas do antigo.
Tradução > Marcelo Yokoi
agência de notícias anarquistas-ana
Bela madrugada
Céu, estrelas, pirilampos
Silêncio, nada!
Dasso
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