Arbitrariedade humana: Ursos famintos devido a enchentes serão mortos a tiros na Rússia
Ursos serão mortos na Rússia por estarem”famintos”. Foto: Reprodução
As chuvas
em volume “recorde” de Julho e Agosto encheram rios no leste da Rússia e
causaram inundações não vistas em um século. Yakutia, uma vasta região no
nordeste das florestas e regiões de tundra foi uma das áreas mais atingidas.
Mais de 100 mil pessoas foram afetadas, dez mil casas foram destruídas e
estima-se que os prejuízos cheguem a 91 milhões de dólares.
Como
sempre, também a vida selvagem está sofrendo tremendamente. Ursos ficaram
famintos uma vez que as inundações destruíram as árvores que fornecem as
blueberries, cranberries e lingonberries das quais eles usualmente se alimentam
no verão. Depois que foram reportados seis casos de ursos famintos que entraram
em casas e esvaziaram refrigeradores, autoridades de Yakutia estão respondendo aos
apelos dos moradores dizendo que irão atirar em ursos “agressivos”. As
informações são da Care2.
É incomum
ursos atacarem humanos e, de acordo com o chefe do departamento de caça da
região, Nikolai Smetanin, “é raro ursos serem caçados no local”. Por outro
lado, o cataclisma das enchentes e da perda dos frutos levou as autoridades a
dizerem que as pessoas podem contatá-las quando houver “uma situação
ameaçadora”.
A região
russa de Amur – lar de espécies ameaçadas incluindo o Tigre Siberiano, tem sido
a mais fortemente afetada pelas inundações, segundo reportagem do Moscow Times.
Enquanto as enchentes estão descendo para o Oblast Autônomo Judaico e
Khabarovsk, as águas não devem baixar na região de Amur por semanas. Rebanhos
de gado afogaram-se em massa ou foram mortos “para prevenir doenças”. O
exército russo juntou-se a trabalhadores e voluntários de resgate pra construir
barragens e bombear a água; soldados tem sido enviados para guardar casas
abandonadas de saqueadores.
Ambientalistas
estão relacionando as enchentes ao aquecimento global e também alertando para o
fato de que mais partes da Rússia podem vir a enfrentar sérias condições
climáticas. O Presidente Vladimir Putin chegou a comportar-se com ceticismo a
respeito do aquecimento global no passado, e uma vez emitiu uma comentário
jocoso de que os russos “precisariam comprar menos casacos de pele” e que
teriam estações de cultivo mais longas. Os incêndios florestais generalizados
em 2010 supostamente teriam levado Putin a afirmar que os russos estavam sendo
mais “mente aberta” sobre a possibilidade da atividade humana influenciar o
clima.
O
Presidente percorreu a região inundada de Khabarovsk na semana passada e assim
ficou “frente a frente” com as realidades da mudança climática. Mas ativistas e
ambientalistas dizem não esperar qualquer alteração nas políticas
governamentais que têm colocado consistentemente os negócios e a indústria na
frente das preocupações ambientais, de acordo com o Moscow Times.
Os ursos
têm sido um símbolo da Rússia desde o século XVII e frequentemente aparecem em
contos folclóricos, provérbios, literatura e cinema. Dizendo que “nós
respeitamos os ursos, nós os tratamos como se fossem outros caçadores”,
Smetanin, o diretor do departamento de caça de Yakutia, acrescentou que “a decisão
de atirar em ursos que estiverem agressivos não significa o extermínio de todos
os ursos”, tentando assim amenizar e justificar previamente quaisquer ações
nesse sentido e novamente adotando a velha postura humana de desconsiderar cada
vida animal como algo importante e digno do direito à vida.
A
reportagem da Care2 cita que, dadas as críticas globais dirigidas à Rússia por
temas sociais polêmicos como a repressão a homossexuais, talvez o governo venha
a estar “um pouco mais inclinado a salvar os seus ursos” (como se os animais
não tivessem importância simplesmente por suas vidas em si, e precisassem ser
bandeira de alavanca de imagem para pautar as ações de um governo).
Por fim, a
reportagem diz que, apesar de tudo, os ursos famintos da região de Yakutia
estão mais propensos a serem assassinados pelo mero fato de lutarem para
sobreviver em uma região alagada como nunca presenciaram antes.
Nota da
Redação: Matar os ursos que invadem casas à procura de alimentos é uma ação
imediatista, cruel e autoritária. Uma visão geral permite perceber que,
primeiramente, foi a própria ação humana que trouxe as condições ambientais
necessárias para que ursos entrassem em casas em busca de comida. É claro que
os culpados não são os moradores da região (afetados diretamente pela invasão
dos ursos, devido a fome e o desespero), mas sim a sociedade em geral e,
exatamente por isso, o Estado tem o dever de proteger e fornecer um lugar
adequado aos animais que são prejudicados pelas intervenções humanas.
Fonte: http://www.anda.jor.br/
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