Brincando com fogo, excelências?
Sei que não esqueceram Junho de 2013 e estão com raiva. Mas
tentar barrar a Política de Participação Social pode ser insanidade
Srs. Deputados, por favor parem com esse mimimi sobre a
inconstitucionalidade do Decreto Presidencial Nº 8.243 . Afinal, qual foi a
surpresa, por que tanto espanto? Essa não foi a primeira (e nem última vez) que
recebem um decreto presidencial, e é fato notório que o executivo quase governa
por Decretos e Medidas Provisórias. Há quanto tempo e por quantas vezes vocês
os receberam e os aprovaram calmamente?
O tamanho desse incômodo parece mais um preciosismo para
esconder podridões. E, afinal, o que a participação social tem de “insana” ou a
ver com a “existência de 40 ministérios” ou com a escolha do staff
governamental? Que argumentação é essa? Os simulacros não se sustentam mais tão
facilmente.
Entendo que estejam irritados porque as pessoas comuns foram
às ruas, disputaram discursos, ideias. Entendo que Henrique Alves está chateado
por ter perdido as eleições, que metade do PMDB não gostou do resultado; que o
PSB está em crise de identidade e que PSDB e DEM, juntinhos, decidiram apertar
o governo. Entendo, mas não adianta mandar recados, faremos valer nossos
direitos.
Entendo também que a prática dos que rechaçaram o Decreto
tem a ver com interesses partidários pouco republicanos de muitos dos senhores,
e apenas corrobora com uma já generalizada desconfiança, partilhada por todas
as classes e meios, sobre os que legislam para poucos e ignoram a maioria.
Sim, a realidade não está fácil e o descontentamento paira
sobre muitas cabeças.
Entendo também que os que barraram a Política Nacional de
Participação Social (PNPS) devem estar mesmo com raiva. Saíram de alguma forma
derrotados pelas urnas e sabem o que acontece quando a sociedade ocupa as ruas.
Ruas sempre tão sedutoras… Sei que não esqueceram tão rápido de Junho de 2013.
Lembro bem como os senhores voltaram correndo de seus estados, trabalharam de
segunda a sexta em turnos regulares de trabalho, fazendo por pressão e no grito
o que sempre deveriam ter feito, e o que são mais do que bem-pagos para fazer.
Óbvio, estamos conscientes que fizeram muita fita, mas nós não somos meras
plateias, estamos ativas no processo.
Realmente detesto ter que concordar com os comentários
recentes sobre alguns partidos e parlamentares toscos e anacrônicos que temos,
cujas composturas indicam total desrespeito à democracia. Que feio, senhores.
Brincando com fogo?
Não vai ser tão difícil conseguir aliados. Seja de direitas,
de esquerdas, de centros ou independentes, ainda tem muita gente cujo voto não
tem preço. Pela PNPS, em todas as regiões e partidos será possível conseguir
aliados/as.
Desenhando: 40 milhões de pessoas que votaram em branco,
mais oito milhões que defendem o plebiscito sobre a Reforma Política não irão
divergir num tentativa tão óbvia de retrocesso democrático. Qualquer pessoa
sabe como funcionam as redes, o quanto as articulações sociais se multiplicam e
como as informações circulam entre bytes e bits rapidamente. Existem
organizações e movimentos, a sociedade é múltipla e nem sempre tem donos.
Finalmente, registro que refiro-me apenas aos “Senhores
Deputados” porque, de fato, essa maioria masculina na política deixa muito a
desejar. Tenho certeza de que se fossemos metade + 1 no Congresso, nós,
mulheres, iríamos aprovar sem grandes dramas esse Decreto, uma demanda de anos
de uma parte bem significativa da população brasileira. A situação é, pois,
muito grave: além de terem uma noção limitada e limitante de Democracia, ao que
parece, muitos dos Senhores sequer sabem fazer contas.
Sem meu voto e sem afeto, despeço-me.
Fonte: http://outraspalavras.net/