Só 36 Deputados Foram Eleitos por Voto Direto e Nominal
Tiririca, na foto felizão, teve tanto voto no domingo que
arrastou consigo para o Congresso pelo menos outros dois colegas menos votados.
Crédito: José Cruz / ABr
Apenas 36 candidatos a deputado federal foram eleitos por
voto direto e nominal no domingo. Os outros 478 “ganharam” votos de candidatos
mais expressivos ou se beneficiaram com votos na legenda. A “mágica” se chama
“quociente eleitoral”, uma conta que determina quantos votos são necessários
para que um deputado se eleja. Isso varia entre os Estados, dividindo o número
de votos válidos pelo número de vagas a serem preenchidas. Em São Paulo, por
exemplo, são necessários 300 mil votos para que um candidato seja eleito
deputado federal. Quando o candidato excede esse quociente, os votos excedentes
passam para o segundo colocado na mesma coligação, para o terceiro, quarto ...
levando consigo uma corrente de candidatos menos votados.
Tiritica, por exemplo, precisava de quase 300 mil votos para
se reeleger deputado federal por São Paulo, mas reuniu cinco vezes isso. O que
sobrou, o palhaço deu de presente para pelo menos dois colegas de legenda que
entraram na Câmara de carona. O mesmo rolou com Celso Russomano (PRB-SP). Ele
também recebeu 1,5 milhão de votos e presenteou pelo menos quatro colegas de
menor fama com o excedente. É como naquelas pilhas de taças de champa em
casamento: você joga a champa no topo e ela vai descendo pirâmide abaixo,
quando enche uma taça, automaticamente escorre para as taças que estão na base.
Cada coligação é uma pirâmide de taças: seus "Tiriricas", como ganham
muitos votos, ficam no topo e, quando eles têm votos suficientes para encher a
própria taça começam a escorrer para as que estão logo abaixo, distribuindo os
votos excedentes dentro da coligação. Assim, por exemplo, se você é candidato
na mesma coligação do Tiririca e recebeu 299 mil votos, não se elegeria por
conta própria. Mas, como é o segundo mais votado, logo abaixo do Tiririca, ele
te passa um voto excedente. E segue fazendo isso com todos os que vêm logo
atrás de você, até que o excedente esgote. É meio complicado, mas é por aí.
Henrique Alves (PMDB-RN), presidente de um Congresso no qual
apenas 35 dos 513 deputados foram eleitos sem a ajuda da legenda ou de outros
candidatos da mesma coligação.
“Quando alguém puxa votos para candidatos do mesmo partido
não é tão grave porque, pelo menos em tese, deveria haver afinidade de
doutrina, de programa. O que está errado, muito errado, é quando isso acontece
na coligação. Você vota em alguém de um determinado partido, mas esse votos
acabam beneficiando alguém de um outro partido”, diz Antônio Augusto de
Queiroz, do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar),
órgão que desde 1983 faz o monitoramento do Congresso Nacional para um grupo de
900 entidades sindicais de trabalhadores.
Toninho cita como exemplo o Distrito Federal, onde o PT
recebeu 19 mil votos, o que ajudou a eleger o pastor evangélico Ronaldo
Fonseca, do PROS-DF, figura nada alinhada à ideologia petista.
A indignação com o pastor Marco Feliciano em 2014 não se
traduziu em votos. Diap diz que bancada dos direitos humanos diminuiu e a dos
evangélicos e policiais cresceu.
Em Roraima são necessários apenas 30 mil votos para
eleger-se deputado federal. Por isso, candidatos que tiveram votação
expressiva, como Roberto Freire (PPS-SP), ficaram de fora da Câmara por São
Paulo, mesmo que seu número total de votos – quase 63 mil – tenha sido suficiente
para elegê-lo duas vezes por Estados como o Acre, o Amapá ou Roraima.
O cientista político Cláudio Couto, da FGV (Fundação Getúlio
Vargas) compara tudo isso a um jogo de futebol – “No jogo, poucos jogadores
marcam o gol, mas o time inteiro ganha a partida”. Ele diz que na eleição é
assim também: alguns são atacantes goleadores e dividem seus méritos com toda a
equipe, do goleiro ao reserva que nem entra em campo. É tudo uma questão de
jogar em equipe, ou no partido político, na coligação.
Gente de votação expressiva, como Nilmário Miranda e
Domingos Dutra, ambos petistas e ferrenhos opositores ao pastor Marcos
Feliciano no Congresso, ficaram de fora esse ano embora tenham recebido
nominalmente mais votos que concorrentes de outras siglas. Por essa e por
outras, Toninho considera que elegemos desta vez “o Congresso mais conservador
desde a redemocratização”. Candidatos ligados aos direitos humanos e ao mundo
sindical caíram, enquanto os políticos do discurso da segurança pública e dos
evangélicos cresceram em representação, muitos deles puxados por
candidatos-estrela como Tiririca e Russomano.
Fonte: http://www.vice.com/pt_br/
2 comentários:
que horror, e ainda querem que eu vote....
Pense no contrário, se elegêssemos somente os mais votados nominalmente e não pelo número de votos obtidos pelo partido ou coligação, quantos eleitores ficariam sem nenhuma representação nas legislaturas? E, nas votações do legislativo, o voto do deputado Tiririca valeria três ou mais vezes o de seu colega? Ou sub-representaríamos seus eleitores?
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