quarta-feira, 30 de outubro de 2013

SP e RIO: quem aposta na violência - Por Antonio Martins


SP e RIO: quem aposta na violência
Obra de Banksy com a colaboração dos grafiteiros brasileiros Os Gêmeos, em sua passagem por New York

Assassinatos de garotos e ataques midiáticos a manifestações confirmam: há interessados em generalizar repressão. Black-bloc é complexo, mas pode estar sendo usado

I.
Uma espiral de fatos graves e estranhos está se sucedendo em São Paulo desde sexta-feira (25/10), quando mascarados agrediram, num ato de violência gratuita, um coronel da Polícia Militar. Comandantes da PM emitiram declarações como se fossem o governo do Estado. Quase duzentas pessoas foram presas de maneira arbitrária e, ao que tudo indica, a esmo. Um jovem de 17 anos foi assassinado domingo pela polícia em ação torpe, provavelmente com intuito de provocar reações de revolta. Ontem (28/10), caminhões e ônibus apareceram em chamas na rodovia Fernão Dias, em horário propício a exposição nos noticiários de maior audiência – sem que apareçam indícios de quem os incendiou.

Episódios anteriores sugerem: pode estar em gestação uma crise fabricada, em que a população, insegura e temerosa, clama pela ação das “forças da ordem” – seja quais forem a truculência e os desdobramentos. Por isso, é importante soar o sinal de alarme e convidar a um exame mais amplo do cenário. Talvez ele revele que certas formas de radicalização artificial têm efeito contrário ao que imagina quem nelas se envolve. Na aparência, elas desafiam o Estado; na realidade, libertam seus mecanismos mais brutais de controle social, repressão e destruição da democracia.

Vale a pena recompor a sequência dos fatos, para tentar interpretá-los e identificar seu sentido comum.

1. Talvez a agressão black bloc ao coronel Reynaldo Rossi, no terminal de ônibus D. Pedro II, sexta-feira, tenha sido mais que um ato grotesco e covarde. Na mídia, as imagens do espancamento estão sendo repetidas à exaustão. Mas qual o contexto em que se produziram? Presente à cena, o repórter Piero Locatelli, de Carta Capital, fez um relato perturbador (1 2), do qual se destacam os seguintes trechos-chaves: “A Polícia havia acompanhado a manifestação com um efetivo de 800 policiais [...] No terminal, mais cedo, manifestantes utilizando a tática black bloc haviam queimado um ônibus e destruído catracas. [...] A polícia pouco agiu para conter a depredação – uma fila de policiais assistia ao que acontecia no local”.

Foram quebrados bilheterias, banheiros, quiosques, orelhões, extintores e 15 caixas eletrônicos. Só mais tarde a repressão e as prisões começaram: na Praça da Sé, a quase um quilômetro dali, tendo por alvo não os “vândalos”, mas manifestantes pacíficos.

Locatelli prossegue: “Os 800 policias que acompanhavam o ato [no Terminal D. Pedro II] esperaram o fim dele para agir com contundência. Instantes depois de um jogral na praça da Sé, os militantes cantavam em clima de festa ‘violência é a tarifa, fascista é a policia’. Foi quando ocorreu uma chuva de gás lacrimogêneo, vinda de todos os lados da praça. Milhares de pessoas tentavam correr dela, sob disparos de balas de borracha, muitas delas sozinhas. A depredação na região se intensificou, e o medo era a regra pelas estreitas ruas do centro. A partir dali, ocorreu uma série de ‘detenções para averiguação’”.

2. Quem fala em nome do Estado, num regime democrático: as autoridades eleitas? Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin calou-se no sábado (27/10), um dia depois da agressão ao coronel Rossi. Mas o chefe do Centro de Comunicação Social da Polícia Militar, major Mauro Lopes, convocou entrevista coletiva em que assumiu ares de chefe de governo. “O Estado vai dar uma resposta muito forte a este bando de criminosos”, disse. O jornalista Luís Nassif captou a mensagem percebeu o risco: “Essa história da PM anunciar que vai até as últimas consequências – respaldada por uma condenação generalizada contra os vândalos – provoca calafrios maiores do que assistir a um quebra-quebra de black blocs. Na última vez que a PM se comportou assim, em maio de 2006, foram assassinadas mais de 500 pessoas”. Agora, a polícia começou a barbarizar menos de 24 horas após a fala do major Mauro Lopes.

3. As circunstâncias em que se deu o assassinato do garoto Douglas Rodrigues, na tarde de domingo, em Jaçanã (zona norte) são espantosas – mesmo para quem está acostumado com a banalidade do mal, nas periferias brasileiras. A impressão nítida é de incitação à revolta. A polícia foi chamada para uma ocorrência vulgar: uma caixa de som em volume alto demais (“perturbação do sossego”). Mas o PM Luciano Pinheiro Bispo “desceu do carro e pá”, no peito de Douglas, segundo testemunhas (1 2), que negam com veemência a hipótese de disparo acidental. O garoto – estudante, trabalhador e querido dos moradores – chegou a indagar ao algoz, segundo a mãe: “Senhor, por que o senhor atirou em mim”?

4. A previsível reação começou de imediato. Os moradores queimaram três carros e enfrentaram a pedradas a tropa de choque, enviada pra reprimi-los. Houve saques de lojas. Algo menos claro – porém, muito mais visível – deu-se ontem, na região. Cerca de 500 pessoas participaram, em protesto, do velório de Douglas, próximo ao local onde morreu. A manifestação pelo garoto quase não foi noticiada pela mídia. Nos jornais da noite, as telas de milhões de telespectadores, em todo o país, foram ocupadas por outras imagens. Na rodovia Fernão Dias (SP-Belo Horizonte), a centenas de metros de distância da multidão, três grandes caminhões e seis ônibus arderam. As fotos de quem os incendiou são escassas; e a polícia não parece ter sido capaz de identificá-los (embora tenha prendido mais 90 pessoas…). Mas hoje, os três jornais mais vendidos do país apontam, em manchete (1 2 3), os “responsáveis”. Em todos eles, as palavras “manifestantes” e “protesto” estão repetidamente associadas a “quebra-quebra”, “violência” e “saques”…

II.
O comportamento da PM nos últimos dias, em São Paulo, não é exceção. Uma vasta reportagem da jornalista Tânia Caliari revela que, desde as manifestações de junho, as polícias militares têm mantido um comportamento apenas aparentemente ambíguo. Elas alternam dois tipos de desvios complementares. Em certos momentos (como em 13/6, em São Paulo), agem com selvageria cega. Em outros (como em 7/10, no Rio), desaparecem ou assistem, impassíveis, a cenas de enorme gravidade – como a tentativa de atear fogo à Câmara Municipal.

As duas atitudes policiais retroalimentam-se uma à outra, em espiral. A brutalidade da tropa exalta os ânimos dos manifestantes e leva pequenos grupos a reagir de modo violento. As depredações promovidas por estes, nos momentos em que a polícia se omite, amedrontam a população e sugerem que a saída, diante dos protestos, é mais repressão.

Este esforço para instigar apoio à violência do Estado é reforçado pela mídia. Os jornais e TVs já não pedem abertamente repressão aos protestos, como ensaiaram sem sucesso em junho. Agora, agem por sugestão e omissão. Cenas como a do espancamento do coronel Reynaldo Rossi, ou da depredação de bens públicos, são repetidas exaustivamente na TV e decoram as capas dos jornais. Mas procure encontrar, após cada episódio, uma única matéria examinando criticamente o comportamento da polícia. As manifestações repetem-se há cinco meses; os abusos policiais de ambos os tipos, também. Os jornais e TVs fecham os olhos…

III.
O surgimento, no Brasil, dos black-blocs, que praticam atos destrutivos nas manifestações de rua, não pode ser analisado apenas à luz da ciência política clássica. Militantes de quase todos os partidos de esquerda (do PT ao PSTU), além de inúmeros ativistas autônomos, produziram, nos últimos meses, dezenas de textos críticos ao bloco negro. Lembram, com base em fartos exemplos históricos, que a ação violenta de pequenos grupos, sem apoio popular maciço, foi sempre manipulada pelas classes dominantes para legitimar a repressão. Muitos dos autores ressaltam que não propõem atitude pacifista incondicional. Defendem as rupturas, quando as maiorias, convictas de que é preciso estabelecer novas relações sociais, são impedidas de fazê-lo por leis e instituições retrógradas. Mas se opõem a atos narcísicos, cujos praticantes tentam assumir condição de libertadores da multidão.

Se todos estes argumentos têm sido insuficientes para aquietar os black-blocs; se o apoio a eles, embora ínfimo entre a sociedade, mantém-se expressivo entre os que se reconhecem como parte das “Jornadas de Junho”, é preciso sondar as razões. Duas hipóteses, em especial, parecem promissoras.

A primeira é o descolamento nítido entre duas gerações da ativistas anti-capitalistas. Uma militou ou milita no amplo arco de organizações políticas de esquerda, amplamente predominantes até a queda do “socialismo real”. Outra começou a se formar na virada do século, sob influência dos protestos de Seattle (1999), dos Fóruns Sociais Mundiais (2001-2009, no Brasil) ou dos ecos do levante zapatista (1994). Entre ambas, há um intervalo de dez anos. Mas, muito mais importantes, um abismo teórico e de inserção política e social.

A geração histórica teve influência reduzida nas Jornadas de Junho. PT e PCdoB tornaram-se partidos de atuação principalmente institucional. Os sindicatos tiveram sua força devastada pela reorganização produtiva do capital pós-moderno. PSTU e PSOL, por ora, parecem tão incapazes de dialogar com a nova geração quanto a esquerda radical europeia. Os movimentos sociais clássicos, muito atuantes na primeira década do século (do MST às grandes redes, como a que lutou contra a ALCA), ainda não conseguiram situar-se na segunda.

A nova geração anticapitalista é extremamente ativa. Mas com raras exceções (como o Movimento Passe Livre – MPL) não fazem parte de sua cultura e preocupações conceitos como correlação de forças; estratégias e táticas; momentos de avanços ou recuo. Mais: ela sente o esvaziamento da democracia e a impermeabilidade das instituições. Não viveu o suficiente para enxergar as mudanças tímidas, mas inéditas, vividas pelo país na última década. Para quem tem 25 anos, por exemplo, o Bolsa-Família e a redução da miséria não são uma conquista – mas um dado da paisagem política, que precisa ser transformada. Por isso, a nova geração tende a ver a geração histórica como mais um grupo acomodado e participante do condomínio das elites no poder.

Esta hipótese – a do choque de gerações anticapitalistas – articula-se com outra. A ação truculenta da polícia é indispensável para explicar a relevância do black-bloc brasileiro. Ele está muito longe de ser majoritário, entre as novas gerações. Reúne, no máximo, algumas centenas de ativistas, em cada uma das maiores capitais. As críticas que recebem são constantes, nas redes sociais: por legitimarem a violência; por se julgarem heróis e superiores; por não dialogarem. Mas cada novo ato de violência policial parece ressuscitar sua legitimidade.

Há aqui algo que deveria alegrar a velha geração: consciência de classe. A agressão ao coronel Reynaldo Rossi devastou a popularidade do black-bloc por alguns dias, nas redes sociais. Era comum ver mensagens de ira contra eles, mesmo nos comentários das comunidades dos Facebook que os apoiam. Mas isso se desfez após o assassinato do garoto Douglas. Nos últimos meses, em meio ao debate, um poema do marxista Bertolt Brecht foi citado inúmeras vezes, por quem se julga anarquista: “Diz-se violento o rio, que tudo arrasta; mas não as margens, que o oprimem…”.

IV.
Não há problema algum em que as culturas políticas anticapitalistas sejam muito distintas entre si: a longo prazo, esta diversidade pode ser uma riqueza. Mas, numa época de crises e instabilidades um pré-requisito para a sobrevivência e o futuro é saber identificar ameaças comuns. Estamos todos, neste momento preciso, sob uma delas.

Armou-se uma cilada. As grandes mobilizações de junho refluíram e não parece possível retomá-las, ao menos no momento. O ataque aos símbolos do capitalismo, promovido pelos black-blocs, não é eficaz contra o sistema, ao menos por enquanto. Não há razões para duvidar das pesquisas de opinião, segundo as quais 95% da população opõem-se a estes atos. Recua rapidamente, além disso, o apoio ao próprio sentido das manifestações. Em junho, em São Paulo, 89% eram a favor delas; em poucos meses, este índice caiu para 66%.

A polícia e a mídia perceberam a oportunidade. Na madrugada desta terça-feira (29/10), mais um garoto foi morto por PMs em São Paulo, em circunstâncias muito semelhantes às de Douglas. Pouco mais tarde, mais uma manifestação de protesto ocorreu. Nas próximas horas, os meios de comunicação que (ainda) dominam, voltarão a associar “manifestantes” e “protesto” a “vandalismo”, “saques” e “quebra-quebras”.

Está se consumando, rapidamente, o cenário desastroso previsto por Luís Nassif. Ele pode dar-se tanto como tragédia (na forma de um novo morticínio “corretivo” contra a periferia, semelhante ao de 2006) quanto como drama arrastado (um longo sangramento dos movimentos sociais de todos os tipos, até que percam legitimidade junto à maioria e tornem-se impotentes para influir em 2014, que será decisivo para o futuro do país).

Ser incapaz de mudar de tática revelaria inteligência reduzida – como a das moscas que se batem contra o vidro, recuando a cada choque mas insistindo no mesmo trajeto, condenado de antemão. É preciso buscar outros caminhos, e esta responsabilidade cabe a todos, solidariamente.
Para que todos sejamos capazes de escapar à cilada, ninguém pode ser humilhado. Haverá muito tempo para os debates político-ideológicos entre as várias culturas anticapitalistas e suas nuances – mas insistir neles agora seria desastroso para todos.

A violência simbólica nas manifestações precisa refluir, rapidamente. Como os black-blocs não estão inseridos nos debates que outros coletivos travam costumeiramente entre si, será decisiva para isso a ação de grupos que souberam manter diálogo com eles – em especial o Movimento Passe Livre (MPL), um caso notável, por ligar-se simultaneamente às duas culturas políticas de esquerda. Mas este silêncio da tática do bloco negro não pode (inclusive para que funcione) significar que foram derrotados. Ao contrário, deve abrir espaço para incorporá-los ao debate.

São Paulo e Rio estão em sintonia, desde junho: as mesmas lutas, repressão, esperanças e angústias. A grande manifestação preparada pelos cariocas para a próxima quinta-feira (31/10), contra a violência policial e prisões arbitrárias das últimas semanas pode ser um ponto de virada. Uma resposta semelhante às de 17/6, quando milhares demonstraram que as ruas, geridas autonomamente, podem ser um espaço “sem polícia e sem violência”.

| Imagem: Banksy e Gêmeos 
Fonte: http://outraspalavras.net/

“Machismo estrutural”, oculto e terrível - Por Marília Moschkovich


“Machismo estrutural”, oculto e terrível.
Opressão caricatural reduziu-se. Mas mulheres seguem discriminadas em posições de liderança ou forçadas a “ser como eles”. Por que?

No domingo passado, cerca de 7 milhões de pessoas, em sua maioria estudantes do ensino médio, realizaram as provas do Exame Nacional do Ensino Médio. Cerca de 58% delas eram mulheres. Em 2012, a proporção de mulheres entre os participantes foi quase um ponto percentual maior (cerca de 59%). Esses dados não surpreendem, quando consideramos a proporção de mulheres entre os estudantes de ensino médio no Brasil: segundo o INEP elas representam 54%. Já no ensino superior, são cerca de 55% do corpo estudantil. Será que estaríamos diante de uma situação em que a igualdade de gênero foi atingida (ou a desigualdade invertida)?

Parece que não.
Diversos estudos apontam que esse fenômeno é bastante comum em um bom tanto de países. A “ultrapassagem” das mulheres em relação aos homens no sistema escolar foi bem estudada nos EUA, na Argentina, no México, na Holanda, na Austrália, na França e em outros países mais (uma visita ao Google Acadêmico rende excelentes artigos sobre o tema). O sociólogo Christian Baudelot é um dos pesquisadores que mostram: a suposta “vantagem” das mulheres em relação à obtenção de diplomas não se converte em vantagens sociais como melhores salários ou acesso a posições de maior poder no mercado de trabalho.

No Brasil, diversos dados evidenciam que a situação também é essa: nós, mulheres, ganhamos cerca de 30% menos que os homens, para exercermos as mesmas funções, com as mesmas qualificações (às vezes até com qualificação superior)… Ocupamos menos de 1/4 das posições de liderança em empresas. Entre as 250 maiores empresas brasileiras, apenas 4% têm mulheres no comando, e os homens têm 20 vezes mais chances de se tornarem executivos-chefes (CEOs) do que as mulheres no país.

A discrepância entre escolarização feminina e acesso das mulheres a posições de prestígio e poder no mercado de trabalho mostra que melhores diplomas não são suficientes para que sejamos consideradas “iguais” a nossos colegas de profissão homens. Segundo a francesa Marlaine Cacouault-Bitaud, o mercado de trabalho é mais rígido com as mulheres do que com os homens. Homens com diplomas menos prestigiosos conseguem alcançar postos de trabalho inatingíveis para mulheres com o mesmo atestado. Para acessar altos cargos, além de possuírem diplomas do mais alto prestígio, as mulheres, em geral, precisam passar numa espécie de provação moral muito rígida. Isso acontece de maneira praticamente insconsciente – é o que chamamos de “machismo estrutural”. Ele funciona mais ou menos da seguinte maneira:

Todas e todos somos socializados na mesma sociedade, certo? Adquirimos, por meio da cultura, uma série de informações consolidadas socialmente. Essas informações nos dizem como classificar e hierarquizar coisas, ideias, pessoas, seres vivos ou inanimados, etc. Embora haja variações nessas classificações e hierarquias dentro de uma mesma cultura, aprendemos em geral as mesmas coisas. Desde sempre, estabelecemos as definições das coisas também pela sua posição em relação às outras. Quer dizer, em grande medida “ser mulher” significa, no nosso esquema de pensamento, “não ser homem”, e vice-versa. Esse esquema de pensamento também associa “ser mulher” e “ser homem” com uma série de características comportamentais, maneiras de pensar, escolhas que se pode ou não fazer ao longo da vida (não vou nem entrar na discussão sobre o corpo e expressões do corpo; essa fica pra outra hora). Até aí tudo bem? Pois continuemos.

Quando dizemos que nossa sociedade é “machista” em geral, não estamos falando de indivíduos declaradamente machistas. Nem de atitudes isoladas de machismo explícito, ou de discriminação proposital, racionalizada, das mulheres. Estamos falando das associações que fazemos com “ser mulher” e “ser homem” e o que elas significam em nossa sociedade. Por exemplo, nós associamos “ser mulher” a uma característica de “emotividade” e ensinamos as mulheres a “serem mulheres” portanto “emotivas”, reforçando positivamente esse tipo de comportamento. Isso poderia ser apenas uma diferença de gênero – e não uma desigualdade. A suposta diferença se converte em desigualdade quando essa “emotividade” (por exemplo) que associamos ao “ser mulher” é entendida como negativa em espaços que concentram poder e prestígio em nossa sociedade (topo da carreira corporativa e política, por exemplo).

Isso é, senhoras e senhores, o machismo estrutural: nossos esquemas mentais mais elementares entendem que diversas características que associamos às mulheres sejam negativas nas posições de maior poder em nossa sociedade. Assim, discriminamos sem perceber candidatas mulheres, exigindo mais delas do que de candidatos homens, especialmente em carreiras pouco feminizadas.
A escola, por outro lado, tem um sistema que, mal ou bem, avalia prioritariamente com base no desempenho acadêmico. Embora meninas sofram cotidianamente diversos tipos de opressão no ambiente escolar (de professores/as inclusive e talvez principalmente), na hora da avaliação – que é o que dá acesso aos diplomas –, o efeito do gênero é suavizado. Já numa entrevista de emprego, pelo contrário, o efeito do gênero é em geral maximizado. Essa percepção também explicaria por que 22% das mulheres empregadas no Brasil eram funcionárias públicas em 2011, enquanto apenas 10% dos homens ocupavam o mesmo tipo de cargo.

O fato de sermos maioria entre participantes do Enem, portanto, não denota uma vantagem social ou o prelúdio do fim das desigualdades de gênero. Infelizmente, essa ascensão feminina no sistema escolar só mostra que, sem romper de fato com a mentalidade machista e as categorias mais básicas do nosso entendimento sobre homens e mulheres, patinaremos nos primeiros degraus de uma escadaria quilométrica rumo ao verdadeiro buraco – que é (bem) mais embaixo.

Mulher Alternativa
Fonte: http://outraspalavras.net/

Descartes, versao @BlackBlocBRASIL - por Latuff

Fonte: http://latuffcartoons.wordpress.com/

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Exército dos Estados Unidos lista Earth First! como ameaça terrorista ao lado da Al-Qaeda - por Will Potter

Exército dos Estados Unidos lista Earth First! como ameaça terrorista ao lado da Al-Qaeda
Um manual de treinamento do exército dos Estados Unidos que instrui as tropas a reconhecer organizações terroristas, inclui grupos ambientalistas como Earth First!, e lista a Frente de Libertação Animal (Animal Liberation Front, ALF) ao lado da Al-Qaeda.
O manual não secreto foi criado pelo Comando de Treinamento e Doutrina do Exército dos Estados Unidos, que diz: “Este manual é projetado para fornecer aos treinadores, líderes e soldados uma referência de acesso à identificação dos logotipos conhecidos utilizados por insurgentes, terroristas, paramilitares e outros grupos militantes ao redor do mundo”.

Dentre as listagens há uma página sobre “Terroristas Ambientalistas”, com imagens de camisetas do Earth First! e bandagens, assim como camisetas de “libertação animal” que são vendidas por organizações não lucrativas nacionais desde os anos 90.

Outras ameaças terroristas identificadas nos Estados Unidos incluem o “Weather Underground”, que foi dissolvido nos anos 70.

O guia, que possui mais de 60 páginas, inclui informações de grupos que, ao contrário do Earth First!, de fato feriram seres humanos. Entretanto, este guia de treinamento não oferece informação sobre os tipos de ameaça que estes grupos representam, e assim apresentam ativistas não violentos enquanto ameaças violentas. Por exemplo, na página sobre grupos terroristas na Grã-Bretanha, a ALF está colocada ao lado da Al-Qaeda.

Como Ali Abunimah percebe nas notas contidas em ElectronicIntifida.net, o guia também combina grupos insurgentes com comunidades inteiras:

Na página 31 do próprio guia do exército, uma simples bandeira Palestina aparece próxima ao nome “Organização Abu Nidal (Sunni)”.

O grupo, notório nos anos 70, é designado como “inativo” pelo Departamento dos EUA de Segurança Nacional financiado pelo Consórcio Nacional para o Estudo do Terrorismo e Respostas ao Terrorismo na Universidade de Maryland…

De qualquer forma, mesmo se a bandeira Palestina fosse de fato o logotipo de qualquer organização específica, o guia não fornece nenhuma notificação ou advertência de que a bandeira Palestina por si só não deveria ser “reconhecida” como símbolo de um grupo “terrorista, insurgente ou militante”, dado seu reconhecimento global como a bandeira de um país.

O que é especialmente problemático sobre guias como esse é que são criados “para dar assistência à unidades na identificação de grupos através de seus logotipos encontrados em vídeos, revistas, jornais, grafites e outros tipo de mídia”. Em outras palavras, é projetado para ser uma cifra para decodificar atividades da Primeira Emenda [da Constituição dos Estados Unidos] que podem ser criadas por “terroristas”.

Isso possui consequências no mundo real, visto que grupos como o Earth First! colocam seus corpos a vista através de assentamentos [subidas] em árvores, bloqueio de rodovias, e desobediência civil não violenta para parar a destruição ambiental. A campanha de Marcellus Shale contra a fraturação hidráulica é apenas um exemplo. Ensinar aos militares e a observância da lei que estes ativistas são equivalentes à Al Qaeda, e que qualquer um que utilize estes logotipos são parte desta ameaça, pode resultar em consequências desastrosas.

Tradução: Malobeo

Notícia relacionada:


agência de notícias anarquistas-ana

sob o sol se pondo
como alfinete no lago
descansa a garça

Marcelo Santos Silvério

A solidariedade seletiva da presidenta @DilmaBR - por Latuff

Fonte: http://latuffcartoons.wordpress.com/

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Brasil: Lista de instituições que usam animais em testes só aumenta – por ANDA


Brasil: Lista de instituições que usam animais em testes só aumenta
                                                                 (Foto: Alan Morici/Diário SP)

A quantidade de laboratórios ou faculdades que utilizam animais em experiências científicas poderá ser seis vezes maior em alguns anos, se comparado com os 65 institutos que atualmente possuem autorização do governo federal para tal prática no Brasil. Os dados são do Concea (Conselho Nacional de Experimentação Animal), do Ministério de Ciência e Tecnologia. Hoje estão na fila do conselho pedidos de registros de mais de 300 instituições.

Segundo o coordenador do Consea, Marcelo Morales, muitos dos pedidos estão pendentes por falta de documentação. “Não temos dados de pedidos negados ou números de pedidos. Mas seriam mais de 400 instituições que possuem ou pediram a licença”, disse Morales. Apesar do número crescente, ele explicou que a tendência, com base na legislação brasileira, de 2008, é o uso cada vez menor de animais em experimentos.

Na contramão do uso de cosméticos ou perfumes feitos a partir da experimentação animal, o empresário Robson Trindade, do salão Red Door, somente utiliza os chamado produto “vegan” (que não usa animais) há 12 anos. “Se um shampoo normal sai por R$ 10, o vegan sai por R$ 70. Se o tempo de validade é de cinco anos, um vegan tem dois. Por outro lado, o produto é natural e não causa males a seres humanos e nem animais”, disse.

Carência
A carência e o estresse dos cachorros resgatados no Instituto Royal na madrugada de sexta-feira são algumas das preocupações dos ativistas que levaram os animais da sede do laboratório. Uma delas, Giuliana Stefanini, disse que alguns beagles são medrosos e entram em pânico facilmente. A hora das refeições é um dos momentos mais tensos. Para ela, isso é uma prova de que os animais sofriam maus-tratos no local.

“Eles têm medo até de comer”, disse a ativista, que levou os cães para casa e continua com eles até hoje, apesar do risco de ser processada por furto.

Outra diferença é a lágrima amarelada dos olhos e o cheiro forte de produtos químicos. Alguns, segundo Giuliana, já foram internados em clínicas veterinárias para tratamento.

MP aguarda inquérito sobre cachorros levados do instituto
O Ministério Público de São Paulo aguarda a conclusão das investigações da Polícia Civil para dar prosseguimento ao procedimento que apura eventuais irregularidades em experimentações com animais no Instituto Royal.

“Vamos analisar o que aconteceu. Ainda é prematuro dizer exatamente qual será a atuação, mas já temos um procedimento cível aberto para apurar a atuação do laboratório”, disse o promotor Wilson Velasco Júnior.

Os responsáveis pelo laboratório negam os maus-tratos e dizem que sua atuação era regular. Independentemente da apuração sobre a atuação do instituto, os ativistas deverão responder por furto. Ontem também, o diretor científico do Instituto Royal, João Antônio Pegas Henrique, disse à que os cães levados vão ser colocados para adoção após serem devolvidos.

Os animais, segundo ele, estavam recebendo aplicações de antibióticos e pomadas. “Eles estavam em testes que nós não conseguimos terminar. Mesmo se forem recuperados, não poderemos começar os testes do zero novamente”, explicou.

Ratos são ‘queridinhos’ dos pesquisadores
O uso de ratos e camundongos representam até 90% da experimentação de animais em laboratórios em todo o mundo, segundo a ONG Peta (sigla em inglês para pessoas que defendem o tratamento ético para os animais). O uso desses animais, no entanto, é vista como pouco eficaz na busca por novos medicamentos ou cosméticos.

ONG vai tentar contato com instituto brasileiro
Segundo dados de diversos institutos europeus, cerca de 90% dos medicamentos testados nos roedores falham ao serem aplicados em humanos. Ontem, o Peta informou que entrará em contato com o Royal para sugerir o uso de formas alternativas ao uso de animais em experimentos científicos.

Prática ainda é bastante comum no país
65 empresas possuem a licença do Consea (incluindo o Instituto Royal)
No total, mais de 400 universidades e laboratórios possuem ou aguardam a licença para a realização de pesquisa com animais
US$ 14 bilhões de dólares (R$ 30 bilhões) são gastos em pesquisas com animais
115 milhões de animais são mortos por ano em pesquisa
Cerca de 90% dos animais utilizados em laboratórios são ratos ou camundongos
200 animais são mortos por segundo em pesquisas

Para que servem os testes
Desenvolvimentos dos fármacos (medicamentos e outros)
Produção de vacinas
Pesquisa contra o câncer

Os mais praticados
Animais são forçados a comer ou inalar um ingrediente de cosmético
Administra um determinado produto tóxico na pele ou em algum orgão e observa a reação animal
Chamado de teste de base letal (UB 50), é a exposição do animal a um produto químico em uma
dose quase letal. Após a medicação, é verificado convulsões ou se o animal regurgita.
Microorganismo é injetado no animal para avaliar a resistência imunológica
Teste de produto com possível propriedade cancerígena por um ou dois anos. Depois, o animal é morto.

Substitutivos mais comuns
Simulação em computador (conhecidos por encílicos)
Chamado teste “in vitro”, ou seja, a partir de células ou substâncias retiradas do órgão animal
A adoção dos dois procedimentos

Outras possibilidades
Nanotecnologia
Microdosagem em seres humanos
Ressonância magnética

Retirado: http://www.anda.jor.br/

Periferia luta! Contra as catracas! Contra os despejos! - Por Passa Palavra


Periferia luta! Contra as catracas! Contra os despejos!
Após a repressão policial, 30 manifestantes foram detidos e passaram a madrugada no 101º DP sem receber qualquer acusação. Por Passa Palavra

O dia 23 de outubro, quarta-feira, foi marcado por mais uma manifestação que envolve a jornada de lutas do Movimento Passe Livre. Com ações em todo o Brasil, o Passe Livre São Paulo e a Rede Extremo Sul chamaram um ato com concentração às 17h em frente à Escola Estadual Carlos Ayres, localizada no bairro do Grajaú, zona sul.

Apesar das aulas do período noturno serem canceladas neste dia, as batucadas esquentaram as pessoas que passavam pela região. Surge então o prenúncio de que a população não se contenta somente com a derrubada do aumento da tarifa de R$3,20 para R$3,00. Entre os muitos outros pedidos, destacam-se a criação de linhas entre os bairros durante as 24 horas do dia. Também é exigida a construção imediata das estações de trem nos terminais de Varginha e Parelheiros, além da volta das linhas diretas que interligam os bairros com o centro. Esta última demanda vem se tornando algo comum diante de uma política de fracionamento das linhas de ônibus na cidade de São Paulo, dificultando o acesso às regiões centrais do município, ao mesmo tempo que concilia o aumento do lucro do empresariado devido à maior quantidade de transporte coletivo que o usuário deve utilizar.
Nem os fortes indícios de chuva foram suficientes para diminuir a presença da população. Com cerca de 300 pessoas, a concentração foi marcada pela intervenção da Brava Companhia, grupo teatral da região. Após a encenação sobre a dificuldade enfrentada pelos usuários de um transporte lotado que não contempla as necessidades da população, os manifestantes partiram por volta das 18h30 pela avenida Belmira Marin. O início do ato foi conturbado devido à presença de cerca de 15 pessoas ligadas aos serviços de vans, mais conhecidas como lotações. Após a provocação desses indivíduos, que insistiram em acompanhar o trajeto, parte dos manifestantes se apressaram em continuar com o combinado os deixando para trás.

Deixado de lado esta hostilização, um cospe-fogo incendiava a população que acompanhava com gritos a extorsão sofrida diariamente. Ao parar a avenida Senador Teotônio Vilela, foi decidido em assembleia a espera de uma outra manifestação com integrantes da Ocupação do Anchieta. Também foi contemplada pela maioria a ida até à ponte do Socorro. O cospe-fogo atingiu a tradicional catraca que foi se queimando lentamente através de saltos diante de sua queda.
Com a polícia no encalço, cerca de 600 manifestantes seguiram pela avenida Robert Kennedy. Não demorou muito tempo para que os policiais começassem a atirar balas de borracha e  lançar bombas de gás lacrimogênio e efeito moral. Após algumas tentativas de dispersão, a manifestação prosseguiu seu destino. Visto que as bombas e balas não surtiram o efeito esperado, um carro preto com uma sirene acionada avançou pela parte de trás da manifestação. Ao manobrar o carro para cima dos manifestantes, o motorista deste estranho carro viu que estava sendo filmado e logo procurou se refugiar dentro de um posto de gasolina. Mesmo após esta típica provocação da polícia, a manifestação prosseguiu seu caminho. O clima ficou insustentável quando o reforço da força tática chegou fornecendo uma chuva de bombas e balas diante da população.

Após a repressão policial, 30 manifestantes foram detidos e passaram a madrugada no 101º DP. Por volta das 7 horas da manhã todos foram liberados, sem receber nenhuma acusação ou assinar boletim de ocorrência.

As próximas ações da jornada de luta do MPL São Paulo podem ser encontradas aqui.

Fonte: http://passapalavra.info/ 

Amigo da Onça completa 70 anos, atualíssimo! - por Latuff

Fonte: http://latuffcartoons.wordpress.com/

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Pode ter ligação com instituto royal: Cemitério clandestino de animais é encontrado em São Roque (SP) – por ANDA

Pode ter ligação com instituto royal: Cemitério clandestino de animais é encontrado em São Roque (SP).
Um cemitério clandestino de animais foi localizado na cidade de São Roque, interior de São Paulo, neste final de semana. A descoberta levou a polícia a uma investigação sobre uma possível ligação entre os supostos maus-tratos de animais em pesquisas feitas pelo Instituto Royal e o local onde foram encontrados os despojos dos bichos.

O instituto é alvo de investigação da Polícia Civil. Na madrugada da última sexta-feira (18), um grupo de ativistas invadiu o local e retirou 178 cães da raça Beagle.

Até o momento não há indícios de que o local esteja ligado ao Instituto Royal. Para o delegado geral Luis Maurício Blasek, este é o momento ideal para investigar a ação de ambas as partes.
“São duas situações distintas. Uma é a situação da empresa. A outra é a manifestação que ocorreu com ações e o confronto. Ambas estão sendo analisadas”, disse.

Dois cães da raça Beagle, que foram encontrados abandonados na cidade de São Roque, estão sob a guarda do deputado Ricardo Trípoli. O parlamentar recebeu da justiça o direito de cuidar dos bichos até que o caso seja resolvido.

Fonte: Jovem Pan

Retirado: http://www.anda.jor.br