sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Agamben: O pensamento é a coragem do desespero... (Juliete Cerf entrevista)...


Agamben: O pensamento é a coragem do desespero... 
Nascido em Roma em 1942, Giorgio Agamben tem uma trajetória peculiar. Nos anos de formação, o jovem estudante de Direito andava com artistas e intelectuais agrupados em torno da autora Elsa Morante. Uma Dolce Vita? Um momento de amizades intensas, em todo caso. Giorgio Agamben apareceu como o apóstolo Filipe em O Evangelho segundo são Mateus (1964) de Pier Paolo Pasolini. Pouco a pouco, o jurista virou-se para a filosofia, após um seminário de Heidegger em Thor-en-Provence. Então ele lançou-se sobre a edição das obras de Walter Benjamin, um pensador que nunca esteve longe de seu pensamento, bem como Guy Debord e Michel Foucault. Giorgio Agamben tornou-se, assim, familiarizado com um sentido messiânico da História, uma crítica à sociedade do espetáculo, e uma resistência ao biopoder, o controle que as autoridades exercem sobre a vida – mais propriamente dos corpos dos cidadãos. Poético, tal como político, seu pensamento escava as camadas em busca de evidências arqueológicas, fazendo o seu caminho de volta através do turbilhão do tempo, até as origens das palavras. Autor de uma série de obras reunidas sob o título latino Homo sacer, Agamben percorre a terra da lei, da religião e da literatura, mas agora se recusa a ir… para os Estados Unidos, para evitar ser submetido a seus controles biométricos. Em oposição a essa redução de um homem aos seus dados biológicos, Agamben propõe uma exploração do campo de possibilidades. Nesta entrevista a Juliette Cerf em Trastevere, o filósofo italiano contesta quem o vê como pessimista, cita Marx e sustenta: “condições desesperadoras da sociedade em que vivo me enchem de esperança”. Confira:
*   *   *

Berlusconi caiu, como vários outros líderes europeus. Tendo escrito sobre a soberania, quais os pensamentos que esta situação sem precedentes provocar em você? 
O poder público está perdendo legitimidade. A suspeita mútua se desenvolveu entre as autoridades e os cidadãos. Essa desconfiança crescente tem derrubado alguns regimes. As democracias são muito preocupadas: de que outra forma se poderia explicar que elas têm uma política de segurança duas vezes pior do que o fascismo italiano teve? Aos olhos do poder, cada cidadão é um terrorista em potencial. Nunca se esqueça de que o dispositivo biométrico, que em breve será inserido na carteira de identidade de cada cidadão, em primeiro lugar, foi criado para controlar os criminosos reincidentes.

Essa crise está ligada ao fato de que a economia tem roubado um caminho na política? 
Para usar o vocabulário da medicina antiga, a crise marca o momento decisivo da enfermidade. Mas hoje, a crise não é mais temporária: é a própria condução do capitalismo, seu motor interno. A crise está continuamente em curso, uma vez que, assim como outros mecanismos de exceção, permite que as autoridades imponham medidas que nunca seriam capazes de fazer funcionar em um período normal. A crise corresponde perfeitamente – por mais engraçado que possa parecer – ao que as pessoas na União Soviética costumavam chamar de “a revolução permanente”.

A teologia desempenha um papel muito importante em sua reflexão de hoje. Por que isso? 
Os projetos de pesquisa que eu tenho recentemente realizado mostraram-me que as nossas sociedades modernas, que afirmam ser seculares, são, pelo contrário, regidas por conceitos teológicos secularizados, que agem de forma muito mais poderosa, uma vez que não estamos conscientes de sua existência. Nós nunca vamos entender o que está acontecendo hoje, se não entendermos que o capitalismo é, na realidade, uma religião. E, como disse Walter Benjamin, é a mais feroz de todas as religiões, porque não permite a expiação… Tome a palavra “fé”, geralmente reservado à esfera religiosa. O termo grego correspondente a este nos Evangelhos é pistis. Um historiador da religião, tentando entender o significado desta palavra, foi dar um passeio em Atenas um dia quando de repente ele viu uma placa com as palavras “Trapeza tes pisteos”. Ele foi até a placa, e percebeu que esta era de um banco: Trapeza tes pisteos significa: “banco de crédito”. Isto foi esclarecedor o suficiente.

O que essa história nos diz? 
Pistis, fé, é o crédito que temos com Deus e que a palavra de Deus tem conosco. E há uma grande esfera em nossa sociedade que gira inteiramente em torno do crédito. Esta esfera é o dinheiro, e o banco é o seu templo. Como você sabe, o dinheiro nada mais é que um crédito: em notas em dólares e libras (mas não sobre o euro, e que deveriam ter levantado as sobrancelhas…), você ainda pode ler que o banco central vai pagar ao portador o equivalente a este crédito. A crise foi desencadeada por uma série de operações com créditos que foram dezenas de vezes re-vendidos antes que pudessem ser realizados. Na gestão de crédito, o Banco – que tomou o lugar da Igreja e dos seus sacerdotes – manipula-se a fé e a confiança do homem. Se a política está hoje em retirada, é porque o poder financeiro, substituindo a religião, raptou toda a fé e toda a esperança. É por isso que eu estou realizando uma pesquisa sobre a religião e a lei: a arqueologia parece-me ser a melhor maneira de acessar o presente. Os europeus não podem acessar o seu presente sem julgarem o seu passado.

O que é este método arqueológico? 
É uma pesquisa sobre a archè, que em grego significa “início” e “mandamento”. Em nossa tradição, o início é tanto o que dá origem a algo como também é o que comanda sua história. Mas essa origem não pode ser datada ou cronologicamente situada: é uma força que continua a agir no presente, assim como a infância que, de acordo com a psicanálise, determina a atividade mental do adulto, ou como a forma com que o big bang, de acordo com os astrofísicos, deu origem ao Universo e continua em expansão até hoje. O exemplo que tipifica esse método seria a transformação do animal para o humano (antropogênese), ou seja, um evento que se imagina, necessariamente, deve ter ocorrido, mas não terminou de uma vez por todas: o homem é sempre tornar-se humano, e, portanto, também continua a ser inumano, animal. A filosofia não é uma disciplina acadêmica, mas uma forma de medir-se em direção a este evento, que nunca deixa de ter lugar e que determina a humanidade e a desumanidade da humanidade: perguntas muito importantes, na minha opinião.

Essa visão de tornar-se humano, em suas obras, não é bastante pessimista? 
Estou muito feliz que você me fez essa pergunta, já que muitas vezes eu encontro com pessoas que me chamam de pessimista. Em primeiro lugar, em um nível pessoal, isto não é verdade em todos os casos. Em segundo lugar, os conceitos de pessimismo e de otimismo não têm nada a ver com o pensamento. Debord citou muitas vezes uma carta de Marx, dizendo que “as condições desesperadoras da sociedade em que vivo me enchem de esperança”. Qualquer pensamento radical sempre adota a posição mais extrema de desespero. Simone Weil disse: “Eu não gosto daquelas pessoas que aquecem seus corações com esperanças vazias”. Pensamento, para mim, é exatamente isso: a coragem do desespero. E isso não está na altura do otimismo?

De acordo com você, ser contemporâneo significa perceber a escuridão de sua época e não a sua luz. Como devemos entender essa ideia? 
Ser contemporâneo é responder ao apelo que a escuridão da época faz para nós. No Universo em expansão, o espaço que nos separa das galáxias mais distantes está crescendo a tal velocidade que a luz de suas estrelas nunca poderia chegar até nós. Perceber, em meio à escuridão, esta luz que tenta nos atingir, mas não pode – isso é o que significa ser contemporâneo. O presente é a coisa mais difícil para vivermos. Porque uma origem, eu repito, não se limita ao passado: é um turbilhão, de acordo com a imagem muito fina de Benjamin, um abismo no presente. E somos atraídos para este abismo. É por isso que o presente é, por excelência, a única coisa que resta não vivida.

Quem é o supremo contemporâneo – o poeta? Ou o filósofo? 
Minha tendência é não opor a poesia à filosofia, no sentido de que essas duas experiências tem lugar dentro da linguagem. A casa de verdade é a linguagem, e eu desconfiaria de qualquer filósofo que iria deixá-la para outros – filólogos ou poetas – cuidarem desta casa. Devemos cuidar da linguagem, e eu acredito que um dos problemas essenciais com os meios de comunicação é que eles não mostram tanta preocupação. O jornalista também é responsável pela linguagem, e será por ela julgado.

Como é o seu mais recente trabalho sobre a liturgia nos dá uma chave para o presente? 
Analisar liturgia é colocar o dedo sobre uma imensa mudança em nossa maneira de representar existência. No mundo antigo, a existência estava ali – algo presente.  Na liturgia cristã, o homem é o que ele deve ser e deve ser o que ele é. Hoje, não temos outra representação da realidade do que a operacional, o efetivo. Nós já não concebemos uma existência sem sentido. O que não é eficaz – viável, governável – não é real. A próxima tarefa da filosofia é pensar em uma política e uma ética que são liberados dos conceitos do dever e da eficácia.

Pensando na inoperosidade, por exemplo?
A insistência no trabalho e na produção é uma maldição. A esquerda foi para o caminho errado quando adotou estas categorias, que estão no centro do capitalismo. Mas devemos especificar que inoperosidade, da forma como a concebo, não é nem inércia, nem uma marcha lenta. Precisamos nos libertar do trabalho, em um sentido ativo – eu gosto muito da palavra em francês désoeuvrer. Esta é uma atividade que faz todas as tarefas sociais da economia, do direito e da religião inoperosas, libertando-os, assim, para outros usos possíveis. Precisamente por isso é apropriado para a humanidade: escrever um poema que escapa a função comunicativa da linguagem; ou falar ou dar um beijo, alterando, assim, a função da boca, que serve em primeiro lugar para comer. Em sua Ética a Nicômaco, Aristóteles perguntou a si mesmo se a humanidade tem uma tarefa. O trabalho do flautista é tocar a flauta, e o trabalho do sapateiro é fazer sapatos, mas há um trabalho do homem como tal? Ele então desenvolveu a sua hipótese segundo a qual o homem, talvez, nasce sem qualquer tarefa, mas ele logo abandona este estado. No entanto, esta hipótese nos leva ao cerne do que é ser humano. O ser humano é o animal que não tem trabalho: ele não tem tarefa biológica, não tem uma função claramente prescrita. Só um ser poderoso tem a capacidade de não ser poderoso. O homem pode fazer tudo, mas não tem que fazer nada.

Você estudou Direito, mas toda a sua filosofia procura, de certa forma, se libertar da lei. 
Saindo da escola secundária, eu tinha apenas um desejo – escrever. Mas o que isso significa? Para escrever – o que? Este foi, creio eu, um desejo de possibilidade na minha vida. O que eu queria não era a “escrever”, mas “ser capaz de” escrever. É um gesto inconscientemente filosófico: a busca de possibilidades em sua vida, o que é uma boa definição de filosofia. A lei é, aparentemente, o contrário: é uma questão de necessidade, não de possibilidade. Mas quando eu estudei direito, era porque eu não poderia, é claro, ter sido capaz de acessar o possível sem passar no teste do necessário. Em qualquer caso, os meus estudos de direito tornaram-se muito úteis para mim. Poder desencadeou conceitos políticos em favor dos conceitos jurídicos. A esfera jurídica não pára de expandir-se: eles fazem leis sobre tudo, em domínios onde isto teria sido inconcebível. Esta proliferação de lei é perigosa: nas nossas sociedades democráticas, não há nada que não é regulamentado. Juristas árabes me ensinaram algo que eu gostei muito. Eles representam a lei como uma espécie de árvore, em que em um extremo está o que é proibido e, no outro, o que é obrigatório. Para eles, o papel do jurista situa-se entre estes dois extremos: ou seja, abordando tudo o que se pode fazer sem sanção jurídica. Esta zona de liberdade nunca para de estreitar-se, enquanto que deveria ser expandida.

Em 1997, no primeiro volume de sua série Homo Sacer, você disse que o campo de concentração é a norma do nosso espaço político. De Atenas a Auschwitz… 
Tenho sido muito criticado por essa idéia, que o campo tem substituído a cidade como o nomos (norma, lei) da modernidade. Eu não estava olhando para o campo como um fato histórico, mas como a matriz oculta da nossa sociedade. O que é um campo? É uma parte do território que existe fora da ordem jurídico-política, a materialização do estado de exceção. Hoje, o estado de exceção e a despolitização penetraram tudo. É o espaço sob vigilância CCTV [circuito interno de monitoramento] nas cidades de hoje, públicas ou privadas, interiores ou exteriores? Novos espaços estão sendo criados: o modelo israelense de território ocupado, composto por todas essas barreiras, excluindo os palestinos, foi transposto para Dubai para criar ilhas hiper-seguras de turismo…

Em que fase está o Homo sacer? 
Quando comecei esta série, o que me interessou foi a relação entre a lei e a vida. Em nossa cultura, a noção de vida nunca é definida, mas é incessantemente dividida: há a vida como ela é caracterizada politicamente (bios), a vida natural comum a todos os animais (zoé), a vida vegetativa, a vida social, etc. Talvez pudéssemos chegar a uma forma de vida que resiste a tais divisões? Atualmente, estou escrevendo o último volume de Homo sacer. Giacometti disse uma coisa que eu realmente gostei: você nunca termina uma pintura, você a abandona. Suas pinturas não estão acabadas, seu potencial nunca se esgota. Gostaria que o mesmo fosse verdade sobre Homo sacer, para ser abandonado, mas nunca terminado. Além disso, eu acho que a filosofia não deve consistir-se demais em afirmações teóricas – a teoria deve, por vezes, mostrar a sua insuficiência.

É esta a razão pela qual em seus ensaios teóricos você tem sempre escrito textos mais curtos, mais poéticos?
Sim, exatamente isso. Estes dois registros de escrita não ficam em contradição, e espero que muitas vezes até mesmo se cruzem. Foi a partir de um grande livro, O Reino e a Glória, uma genealogia do governo e da economia, que eu fui fortemente atingido por essa noção de inoperosidade, o que eu tentei desenvolver de forma mais concreta em outros textos. Esses caminhos cruzados são todos o prazer de escrever e de pensar.

* Publicado originalmente em francês no Télérama, e em inglês no Blog da Verso, em 17 de junho de 2014; tradução de Pedro Lucas Dulci, para o Outras Palavras.
***
Giorgio Agamben nasceu em Roma em 1942. Considerado um dos principais intelectuais de sua geração, deu cursos em várias universidades europeias e norte-americanas, recusando-se a prosseguir lecionando na New York University em protesto à política de segurança dos Estados Unidos.

Fonte: http://blogdaboitempo.com.br/

São Paulo: Nem perseguições, nem montagens: LUTAR NÃO É CRIME! Prévia do III Festival do Filme Anarquista e Punk de São Paulo, 2014 - ANA


São Paulo: Nem perseguições, nem montagens: LUTAR NÃO É CRIME! Prévia do III Festival do Filme Anarquista e Punk de São Paulo, 2014.
C o m u n i c a d o:
 
Em junho de 2013, uma multidão tomou as ruas de São Paulo para exigir a anulação do aumento das tarifas de transporte. Durante anos denunciando o controle privado das catracas do transporte público, o Movimento Passe Livre protagonizou uma onda de protestos que logo tomaria as ruas de outras capitais do país. Os vinte centavos a mais na tarifa foram a gota d’água para mostrar aos donos do poder que nunca se deve subestimar a capacidade de indignação do povo. Herdeiro de movimentos sociais sem liderança definida, assembleísta, organizado horizontalmente, reunindo os de baixo e os mais diversos coletivos, organizações e sujeitos, todo mundo “contra o aumento” da passagem. Manifestações chamadas rapidamente pelas redes digitais, em curto espaço de tempo e cada vez maiores, paralisando a capital mais acelerada do país, de imediato foi dura e seguidamente reprimida pela Polícia Militar com o apoio de grandes veículos de comunicação. Dias depois, os donos do poder recuaram e anularam o aumento das tarifas.
E veio a Copa do Mundo de 2014 e com ela leis e ordem de exceção. E para o desespero dos donos do poder vieram também mais protestos. Orientada, equipada e determinada a impedir que os protestos ganhassem a mesma proporção do ano anterior, as policias atuaram em conjunto para reprimir, prender e fichar manifestantes. Outro componente entrou em cena para intimidar os protestos, o Judiciário. Por um lado, a polícia efetua prisões, forja flagrantes, recicla o entulho jurídico da ditadura, transforma objetos de uso doméstico em armas mais letais que as suas próprias, dificulta o acesso da defesa e intimida manifestantes em suas casas e emite chamados para depor no mesmo dia e hora das manifestações. Por outro, promotores públicos acolhem as montagens e sem nenhum questionamento fazem a denúncia para juízes que determinam prisões.
Qualquer ativista terá sempre uma história como essa para contar. Hoje ela se passa numa grande cidade. Mas amanhã, ela poderá bater na sua porta e quem sabe até você poderá ser alçado a personagem de uma história de perseguição e montagem.
A Prévia do III Festival do Filme Anarquista e Punk de São Paulo exibirá três produções documentais recentes, um curta e dois longas, sendo um da Espanha, um do Chile e um da Bolívia, exibidos no Brasil apenas na II edição do Festival (2013), na qual foram destaques, que abordam a criminalização das lutas sociais naqueles países e o revide em forma de solidariedade e resistência coletiva.
Para discutir o tema “Lutar não é crime”, o Festival convida militantes do Movimento Passe Livre de São Paulo e Rodolfo Valente, da Rede 2 de Outubro, para um bate papo mediado por Igor Carvalho, jornalista da Revista Fórum e SPressoSP, depois das sessões. E para fechar a programação, o punkjazzrock libertário da Ordinária Hit!
Programação
15h | De Montagem em Montagem (2013, Doc., 9m16s., Chile – legendas em português)
Montagem: Caso Bombas (2013, Doc., 81m., Chile – legendas em português)
16h30 | Intervalo
17h | 4F – Nem esquecimento, nem perdão (2013, Doc., 110m., Espanha – legendas em português)
19h | Bate papo: Lutar não é crime, com Militantes do Movimento Passe Livre São Paulo e Rede 2 de Outubro.
21h | Apresentação: Ordinária Hit (SP)

Sinopses:
De Montagem em Montagem
(Documentário | 9:16 min. | Productora de Comunicación Social | Chile – legendas em português)
O curta “De Montagem em Montagem” denuncia as fraudes de montagens policiais na tentativa de incriminar judicialmente anarquistas apoiadores da luta dos povos do TIPNIS. No dia 29 de maio de 2012 em La Paz e Cochabamba, Bolívia, 12 casas particulares foram invadidas pela polícia à procura de 13 pessoas. Elxs estavam sendo acusados de tentativa de homicídio e terrorismo, além de lhe atribuírem a fabricação de artefatos explosivos. Tudo isto construído num contexto de mobilização social pela luta dos povos indígenas em defesa do TIPNIS e antes da reunião da OEA, em Cochabamba. A operação policial invadiu as casas sem a presença de alguns dos acusados, oferecendo a opinião pública provas insuficientes, tais como máscaras ou patches punks.
Montagem: Caso Bombas
(Documentário | 81 min | 2013 | Chile – legendas em português)
Através de diversos depoimentos, o documentário “Montagem: caso bombas” constrói um sólido relato que narra de forma crítica e explicativa as diversas situações e acontecimentos relacionados com o conhecido “Caso Bombas”, um caso de montagem político-policial contra diversos grupos e anarquistas no Chile que recentemente teve seu desfecho.
4F – Nem esquecimento, nem perdão
(Documentário | 110 min | 2013 | Espanha – legendas em português)
Barcelona: uma festa em um prédio ocupado termina em conflito com a polícia e um policial fica em estado vegetativo após ser golpeado na cabeça por um vaso que cai de uma das sacadas. Sem que se pudesse encontrar culpados para o acidente, a polícia inicia todo um processo de montagem policial e criminalização que levou ao cárcere companheirxs envolvidxs com o movimento okupa na Espanha. Este documentário trás a tona a verdade sobre o caso 4F, um caso emblemático que gerou intensa mobilização de apoio por parte de movimentos sociais espanhóis.
Movimento Passe Livre São Paulo
O Movimento Passe Livre (MPL) é um movimento social horizontal, autônomo, independente e apartidário que luta pela adoção da Tarifa Zero para o transporte público. Protagonizou os protestos de junho de 2013 que resultou no cancelamento do aumento das tarifas em São Paulo.
Rede 2 de Outubro
A Rede 2 de Outubro é composta por um conjunto de organizações, movimentos sociais e grupos culturais que partilham a percepção de que a dinâmica social que produziu o Massacre do Carandiru (1992) ainda continua vigente e segue a fomentar massacres cotidianamente. A Rede promove reuniões, seminários, debates e outras atividades com o objetivo de denunciar e debater as origens e o significado das terríveis condições de encarceramento, do caráter seletivo do sistema penal e prisional, do uso desmedido da violência pelo Estado com evidente corte racial e de classe, entre outras questões.

Ordinária Hit (SP)
A vida ordinária tocada em hit. Prática conforme a música, ordenada em duas vias. Não ligue, é barulho convencional: não canto sem refrão, eletricidade, bateria, guitarra, baixo e um pouco mais de corda… Só que tudo de ponta cabeça, punk e a ética do faça-você mesm@.
Festival do Filme Anarquista e Punk de São Paulo
Do Morro Produções, Imprensa Marginal & Projeto Espremedor
Matilha Cultural

Agenda
31 de agosto (domingo), às 15h
Matilha Cultural, Rua Rego Freitas, nº 542, República, centro de SP
Telefone: (11) 3256-2636

GRATUITO!
• No local haverá venda de bebidas e alimentos veganos e vegetarianos.
• Haverá também distribuição e venda de materiais “faça você também” da cultura libertária (fanzines, livros, discos, etc.) a preços populares.
• Espaço amigo da criança, ciclistas e cachorros.

Notícia relacionada:

agência de notícias anarquistas-ana
As cores da noite
recamadas de silêncio
preparam o dia.
Eolo Yberê Libera

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Resumo do DebateDaBand em uma única imagem - por Latuff

Fonte: http://latuffcartoons.wordpress.com/

(EUA) PM Press: Punk, Política e Publicações - Por Rick Kleffel (ANA)


(EUA) PM Press: Punk, Política e Publicações

Não é segredo que o mundo das publicações está sendo arrancado por forças bem além de seu controle. Entre a capacidade cada vez menor de atenção do americano médio e a chegada de uma geração inteira criada por meio de histórias contadas em vídeo games, internet e televisão, o livro como um meio de entretenimento parece muito pitoresco, quase uma afetação.

Mas não se engane, diz Ramsey Kanaan da PM Press, “os livros e a leitura continuam sendo o mais potente meio de transmissão de ideias”, e ele tem um armazém em Oakland cheio de livros para provar isto.

Com o conglomerado de corporações “blue chip” sediado em Nova Iorque, agora a publicação de livros é talvez mais praticada por pessoas com paixão por impressão. São os homens e mulheres do mundo das publicações independentes, e a PM Press, com três escritórios caseiros e um armazém em Oakland, é um grande exemplo.

O fundador Ramsey Kanaan criou a PM Press (pmpress.org) no início de 2008, das cinzas da AK Press, que ele fundou na Escócia nos anos 80. Mesmo antes disto, quando era adolescente nos anos 70, Kanaan distribuía literatura. Ele vinha para os EUA e eventualmente a Oakland, fazendo turnê com sua banda punk “Political Asylum”. Entre os burritos e o clima, ele foi facilmente seduzido e mudou para Bay Area.

Sentei para conversar com ele em seu escritório caseiro em Oakland, aonde trabalha enquanto seus gêmeos aprendem a andar, falar, e eventualmente a ler. A PM Press, ele diz, “cresceu do meu amor por literatura e meu amor por ideias”. Os bebês balbuciam em segundo plano. “Como nós transmitimos ideias? Como disseminamos ideias? Eu acho que é isso que tenho tentado fazer de uma forma ou outra. Tenho feito isso nos últimos trinta e tantos anos”.

O escritório caseiro de Kanaan oferece ainda fortes contrastes. Muito na casa é intocável, bonito e definitivamente à prova de crianças. Não é nada do que você espera do mundo das publicações, além das estantes forradas de livros. Seu escritório, por outro lado, seguramente separado por portas para crianças, é uma torrente de pacotes, papéis, computadores, cartões e envelopes. Se parece com uma zona de crise, isto é apenas um reflexo do negócio em que ele está. “Para cada década em que estive envolvido com publicações e distribuição de ideias, eles balançaram de uma crise para outra”.

As capas dos livros dão uma ideia bem clara sobre a PM Press. “Eu acho que a PM Press é indubitavelmente, explicitamente e declaradamente de esquerda, ou progressista, poderíamos dizer. Nós certamente pendemos a várias correntes radicais e mesmo revolucionárias de pensamento político, eu acho… Que seria, você sabe, Marxismo, Anarquismo, então somos definitivamente radicais neste sentido. Mas também gostaria de dizer que temos uma ênfase em qualidade e atualidade, fazendo bons livros”.

Uma visita ao armazém da editora nos confins industriais de Oakland confirma isso. Escondida em uma rua por detrás de um shopping center levemente arruinado, está um prédio de concreto esbranquiçado, pontuado por docas e portas. Na deslumbrante e acinzentada luz do sol do início da tarde, nós abrimos uma porta que levava a um longo corredor de aço, repleto de mais portas. Duas voltas, não é? E encontramos Dan Fedorenko e Steven Stothard, parceiros de Ramsey no crime da impressão, escondido em um local que deixa pouco espaço para se mover e muito para os livros, cada bloco com ideias mais perigosas do que qualquer arma.

“Enquanto as políticas, ou a arte, ou a literatura são o critério, nós definitivamente nos esforçamos para fazer bons livros”. Kanaan é bastante orgulhoso pelos mais recentes, do selvagem e pouco nítido “World War 3 Illustrated”, editado por Peter Kuger e Seth Tobocman ao “The Cost of Lunch”  de Marge Piercy, etc. O primeiro é uma enorme coleção de arte e histórias da “World War 3”, uma revista fundada em 1979, dedicada “às guerras em curso que estão sendo travadas por todo o mundo, em nossas portas, ou por vezes em nossas mentes”, explica a contracapa. O livro tem 312 páginas inteligentes em quatro cores.

Marge Piercy vai do mesmo lugar mas para uma direção oposta. Delicada e indelevelmente inteligente, a coleção de histórias de Piercy analisa as vidas cotidianas das mulheres desde dentro. Pode ser mais recatada no aspecto, mas não menos revolucionária na intenção. Piercy e sua editora buscam compartilhar ideias que não são encontradas em nenhum outro lugar no meio intimista da impressão.

“Existem sete pessoas pagas na PM Press”, diz Kanaan, “e um grupo de outras pessoas — não pagas — que doam seu tempo”. Nestes dias de romances auto-publicados e best-sellers de sucesso, Kanaan vê seu papel como “basicamente curatorial. Como você A, encontra algo bom, e então B, faz com que fique melhor”.

A PM Press está claramente fazendo um grande trabalho em ambos. Para todas as suas reivindicações de radicalismo, sua definição do termo cobre um amplo território. Sim, eles publicam “Signal”, “um jornal de gráficos políticos internacionais e cultural”. Mas também publicam a série “Outspoken Authors”, com “escritores de ficção atuais [mostrando] suas histórias mais provocativas e politicamente desafiadoras”. Os pequenos livretos incluem um conto (ou mais) pelos gostos de Ursula K. Leguin, Karen Joy Fowler, Michael Moorcock e Rudy Rucker, junto a uma entrevista com profundidade feita pelo renomado autor Terry Bisson, o editor da série. Há também uma nova linha de noir e re-impressões difíceis de encontrar do trabalho de Piercy e Moorcock.

A PM Press é de muitas formas o retrato perfeito de uma editora da “Costa Esquerda”. Eles estão correndo sob o radar e conseguindo lucro em um mundo onde a publicação é cada vez mais uma empresa sem fins lucrativos. São apaixonados por arte, políticas e qualidade. Em última instância, Kanaan confirma que: “O que matou as editoras e gerou a crise no negócio dos livros não é a mudança de formatos, cujos efeitos são altamente exagerados, mas fundamentalmente, que as pessoas não leem mais”.

Ouvir isto de um homem em uma sala cheia de livros, com dois cômodos de armazém para todo o resto, confronta a estranha realidade de nossa época. Não importa o quão rápido a tecnologia avance, livros são meios de transferir ideias complexas de forma mais eficiente do que qualquer outra invenção.

E a PM Press é uma prova de que editoras pequenas e localizadas, tão comuns aqui na Bay Area, podem ter uma influência sentida para além das fronteiras desta ou de qualquer nação.
Tradução > Anarcopunk.org

agência de notícias anarquistas-ana

Num banco de praça
a sombra de um velho assombra
o vento que passa.
Luciano Maia

Durante abordagem policial, PM atira em indígenas Kaingang em Iraí (RS) via @ciminacional - por Latuff

Via Conselho Indigenista Missionário.

Na tarde de sábado quando um casal de indígenas da aldeia de Irai – município do Rio Grande do Sul que faz divisa com Santa Catarina – trafegava com um veículo numa estrada vicinal do município foram abordados por policiais militares. Exigiram a documentação do veículo e do condutor. Foram-lhes apresentados. Um dos documentos-do veículo- estava atrasado. O policial militar passou a agir com truculência. A esposa do condutor, ao tentar sair de dentro do veículo, foi agredida com coronhadas de revolver por um dos policiais militares. O condutor, Valter dos Santos – que é professor na área indígena – tentou impedir as agressões contra sua esposa e neste momento um segundo policial passou a disparar contra os indígenas. Valter levou pelo menos dois tiros, um na perna e outro no braço. Um terceiro indígena -menor de idade – que estava próximo também foi alvejado com um tiro na perna. Valter está internado em um hospital na cidade de Erechim.

A comunidade indígena, ao saber do fato, ficou revoltada. Algumas lideranças se dirigiram para a cidade a fim de fazer um boletim de ocorrência. Os policiais militares não permitiram. A delegacia de polícia foi fechada e eles impedido de fazer o relato dos acontecimentos violentos. Revoltados e com o objetivo de serem ouvidos conduziram dois policiais militares que estavam em frente ao posto policial para a aldeia. Depois de duas horas os policiais foram liberados pelos indígenas e nenhuma agressão foi praticada contra os agentes da PM.

Mais tarde, Sandro, professor da aldeia Iraí, juntamente com a esposa e outras pessoas dirigiam-se para o hospital do município para saber o estado de saúde dos feridos (alvejados pelos disparos dos policiais). Foram interceptados por policiais que estavam num outro veículo da PM -uma camionete – que disparam vários tiros contra o veículo por ele conduzido. Sua esposa ficou ferida em função dos estilhaços de vidros das janelas e para-brisa atingidos pelos disparos.

No final do dia, de acordo com relatos das comunidades dois policiais em um veículo da Brigada Militar disparam vários tiros sobre a aldeia.

Sugerimos que os indígenas façam uma denúncia de todos os fatos ao MPF de Erexim e acompanhados por servidores da Funai.

Fonte: http://latuffcartoons.wordpress.com/

Como Gaza resistiu ao massacre – por Paul Mason


Como Gaza resistiu ao massacre
Gaza comemora (em 26/8) fim dos ataques de Israel. Paul Mason escreve: “Para o mundo, esta sociedade tornou-se sinônimo de desespero e impossibilidade. Mas ninguém combinou isso com os moradores. Encontrei-os cheios de esperança.”

Reportagem pouco antes da trégua. Bombardeios, mortes e desabastecimento não abalaram dignidade de população instruída, criativa e acolhedora

Palestinos e Israelenses acabam de anunciar (26/8) uma trégua por tempo indefinido em Gaza. A decisão encerra os bombardeios mantidos durante cinquenta dias por Telaviv e está sendo celebrada intensamente pela população que deles foi vítima (veja foto). Como foi possível frear a ofensiva? Que consequências ela deixa? De que modo reconstruir um território vinte vezes menor que o município de São Paulo, onde estão cercadas, em condições desumanas, 1,8 milhões de pessoas?
Tenho reportado de Gaza continuamente. Em meio à torrente de civis mortos e feridos que passam por mim, transportados em carrinhos de mão, as pessoas que gesticulam freneticamente na minha cara e as noites passadas em uma cidade às escuras, sob bombardeio, cheguei a uma conclusão que não esperava: Gaza “funciona”.

Quero dizer que, se lhe fossem dados os recursos, conexões com o mundo exterior e tempo, esta minúscula entidade política poderia funcionar normalmente. Com sua areia macia, céu e mar azuis, poderia até mesmo tornar-se um destino turístico. Já tem até um grupo enorme de gente treinada e instruída – infelizmente, porém, a maioria dos seus especialistas são cirurgiões de trauma. Na situação atual, os hotéis ao longo da praia na Cidade de Gaza mantêm-se desertos. Seus garçons, envergonhados, lutam para fazer café numa chama de fogareiro. Os pescadores do porto avançam em canoas por uns vinte metros, talvez, enquanto as hostilidades continuam, e em barcos a motor a cem metros, durante os esporádicos cessar-fogos.

A vida cotidiana, mesmo para quem tem dinheiro e amigos no Ocidente, está se tornando impossível. Formam-se filas para água, e os postos de gasolina estão vazios. Igualmente inquietante para os jovens e as crianças urbanizadas, a internet é esporádica. Conheci duas mulheres, profissionais formadas: o andar de cima do seu bloco de apartamentos foi demolido por um foguete israelense. Agora, elas também estavam no mundo das filas, falta de higiene, falta de moradia. Ter dinheiro não as isentam disso. A moeda é o shekel, mas a maior preocupação é o ouro. Os palestinos mantêm sua riqueza em ouro e jóias. Cerca de 250 mil pessoas foram desalojadas e deslocadas para escolas lotadas e sujas. Dormir junto com os jumentos dos pobres não é mais chocante, para quem possui ouro, do que ficar à espera da explosão das granadas.

Gaza funciona por causa do povo de Gaza. Desde que o Hamas passou a governar, em 2007, o território vem sendo administrado por um grupo designado de terrorista, e sob a lei islâmica. Na impossibilidade de reconstruir o local após a invasão israelense de 2008-9, eles construíram túneis – ninguém sabe de que comprimento – onde o braço militar do Hamas, as Brigadas Qassam, vivem, armazenam seus foguetes e lutam. Os túneis são também usados para trazer os suprimentos essenciais que foram proibidos durante o cerco a Gaza, que já dura sete anos.

Por isso, durante a maior parte do dia parece, estranhamente, que o Hamas não existe. Nenhuma polícia do grupo está ali para manter a ordem; mulheres sem hijabs movimentam-se livremente, assim como mulheres de véu; médicos que voltaram da Alemanha e do Canadá serram os ossos quebrados de jovens que vivem e podem morrer nesta pequena faixa de terra. E dois terços da população pula e brinca – pois são crianças.

Quando a guerra acabar, nada de bom acontecerá a Gaza – até que o cerco e o bloqueio do território tenham fim De fato, com 40% da área urbana inabitáveis devido à destruição, haverá uma crise humana maciça durante meses. Resolver essa crise não é trabalho apenas para ONGs. A forma como ela será enfrentada vai determinar se Gaza vai sobreviver. A Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), que abriu as portas de suas limpas escolas azul-e-branco a uma explosão caótica e suja de humanidade deslocada, diz que Gaza está “à beira do precipício”. O hospital em que estive há pouco tem 95 feridos a bala ou explosivos para tratar, e seis leitos de terapia intensiva.

A lógica diz que ou vem ajuda em escala sem precedentes para o interior do território, ou as pessoas vão para o exterior – não amanhã, mas à medida em que as semanas passem sem saneamento ou energia. Os palestinos temem que uma crise humanitária seja usada para expulsá-los permanentemente da terra, capturada pelos israelenses. 

Estive em países muçulmanos onde há profundo conservadorismo, pouca educação e desconfiança do Ocidente. Este não é o caso. Encontro frequentemente pessoas com alto nível educacional, pessoas que falam inglês; pessoas alegres e amigáveis – o que é incrível, dado o horror trazido pela noite. O mundo não é tão povoado com pessoas educadas e cheias de recursos para que possa desperdiçar as vidas de 1,8 milhões de palestinos atrás das grades de ferro e paredes de concreto que delimitam Gaza. Perdi a conta de quantas vezes já conheci um cara jovem, de 18 ou 19 anos, orgulhoso de não ser um combatente, um militante ou um ingênuo artista de rua. Quando você pergunta qual é o seu trabalho, a resposta mais comum é “carpinteiro”. Trabalhar com madeira – não com metal ou computador – é o máximo que o bloqueio tem permitido, aqui, ao trabalhador manual qualificado.

Em face de tal desesperança, naturalmente muitos tornam-se resignados: “Viver é o mesmo que morrer” é uma frase que se ouve entre homens jovens. É o raciocínio perfeito para a organização militar niilista a que alguns decidem aderir. Mas seu oposto é a desenvoltura que reestrutura uma casa depois que sua frente foi arrancada; que senta num tapete fazendo pão numa panela quente depois de ter a casa reduzida a pó.

Há apenas duas rotas econômicas para a vida voltar a fluir em Gaza e, dada a amargura deste conflito, a rota de Israel não será a principal. O Egito detém a chave para a integração econômica de Gaza com a economia global. Abra-se a passagem de Rafah, e desaparece a necessidade dos túneis. Para o mundo, esta sociedade desamparada, empobrecida e totalmente violentada tornou-se sinônimo de desespero e impossibilidade. Mas ninguém combinou isso com os moradores de Gaza. Encontrei-os cheios de esperança.

The Guardian | Tradução: Inês Castilho

Subida de Marina nas pesquisas - por Latuff

Fonte: http://latuffcartoons.wordpress.com/

"Trensalão tucano" e o cinismo de Serra – por Altamiro Borges


"Trensalão tucano" e o cinismo de Serra

José Serra, que agora postula uma vaga no Senado, resolveu debochar: "cartel não é sinônimo de delito. Você não pode olhar do ponto de vista moral". 

Intimado pela Polícia Federal na investigação do "trensalão tucano" – o bilionário esquema de propina montado pelos governos do PSDB de São Paulo com poderosas multinacionais do setor de transporte –, o eterno candidato José Serra, que agora postula uma vaguinha no Senado, resolveu debochar da sociedade.

Para Serra, "cartel não é sinônimo de delito. Você não pode olhar do ponto de vista moral. As empresas se articulam... Isso é uma fenômeno super-comum no mundo inteiro", afirmou. A declaração desrespeita a legislação existente no Brasil e desacata o próprio Cade (Conselho Administrativo de Direito Econômico), mas não gerou maior escarcéu da mídia tucana. Não deu nem chamada de capa nos jornalões!

Na prática, o "trensalão tucano" – que foi carinhosamente batizado pela imprensa chapa-branca de "cartel dos trens" – já sumiu do noticiário. A cínica resposta do ex-governador, que beira a ilegalidade, apenas evidencia a cumplicidade do PSDB com este esquema criminoso que sugou os cofres públicos nas gestões de Mário Covas, Geraldo Alckmin e do próprio Serra. Ele agora só voltou à tona – não na mídia, que mantém a discrição na cobertura do escândalo – graças à decisão da Polícia Federal de intimar os acusados de envolvimento no caso. José Serra foi chamado para depor sobre as denúncias de que teria participado diretamente das negociações com as multinacionais na licitação de trens.

O envolvimento do ex-governador nas negociatas apareceu no depoimento de um executivo da Siemens e também em e-mails trocados pelas multinacionais com pessoas do Palácio dos Bandeirantes. Além de José Serra, a PF deverá ouvir outras 44 pessoas acusadas de participarem do "trensalão" – como o ex-secretário dos Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, o atual presidente da estatal CPTM, Mário Bandeira, e o ex-presidente do Metrô, Sérgio Avelleda.

Curiosamente, porém, o depoimento do candidato tucano ao Senado ficou marcado para 7 de outubro, dois dias após as eleições para a vaga paulista. Até lá, José Serra poderá continuar debochando da sociedade com suas respostas cínicas!

Créditos da foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/