Wikileaks: Israel trabalha para estrangular economia de Gaza, mostram telegramas
Ações para
manter economia da região "em nível precário, pouco acima de uma crise
humanitária", vêm sendo discutidas há pelo menos cinco anos.
Criança refugiada em hospital de Gaza; Israel trabalha para minar economia da
região, dizem documentos/ Agência Efe
“Autoridades
israelenses confirmaram diversas vezes aos funcionários da Embaixada (dos EUA)
que a intenção do governo de Israel é manter a economia de Gaza funcionando em
nível precário, pouco acima de uma crise humanitária”. Este é o primeiro
parágrafo de um telegrama enviado pela Embaixada dos EUA em Tel Aviv
para Washington em 3 de novembro de 2008, vazado pelo site Wikileaks nesta
segunda-feira, 4 de agosto.
O telegrama
faz parte de uma série de documentos vazados pelo site dirigido pelo
australiano Julian Assange sobre o conflito entre Israel e Palestina. Dentre os
assuntos abordados na correspondência da Embaixada em Tel Aviv estão a criação
do Hamas, o uso de palestinos como escudos humanos pelas Forças de Defesa
israelenses, o ataque deliberado a alvos civis em Gaza, o bombardeio de
hospitais e o corte de suprimento de remédios aos habitantes de Gaza.
De acordo
com o documento, o Conselho de Segurança Nacional de Israel controla a
quantidade de dinheiro a ser liberada mensalmente para a Autoridade Palestina.
O governo da Autoridade Palestina requisitava cerca de US$ 30 milhões ao mês no
ano de 2009 como piso básico de transferência, de modo a garantir os serviços
básicos para a população palestina – 4 milhões de pessoas. A ideia era a de
manter serviços essenciais, mas sem o estabelecimento de comércio e negócios em
Gaza.
Autoridade
Palestina x Hamas
No
telegrama, a embaixada sugere ao governo do EUA o encorajamento das relações
entre Israel e a Autoridade Palestina. Para os diplomatas, uma economia e um
sistema bancário frágeis seriam adequados aos radicais do Hamas. No entanto, o
governo israelense prefere repassar menos dinheiro aos palestinos de modo que o
Hamas não tenha acesso à moeda israelense e que a população de Gaza não tenha
benefícios econômicos, mesmo ao custo do fortalecimento do Hamas.
Em outro
telegrama, datado de 23 de setembro de 1988, um diplomata americano
fala sobre a visão política dos habitantes da Cisjordânia: “Muitos habitantes
da Cisjordânia acreditam que Israel apoiou nos bastidores a criação do Hamas,
ainda na década de 1980. O objetivo era dividir politicamente os palestinos.
Philip Wilcox, responsável pelo consulado em Jerusalém, afirmava: “Não há apoio
concreto, mas Israel faz vista grossa às atividades do Hamas”.
Militantes da brigada Al Quds vão ao funeral de comandante em Gaza nesta
quarta-feira (06/08)/ Agência Efe
A
estratégia israelense, segundo os documentos, era enfraquecer os partidos
palestinos seculares, mostra um telegrama de 29 de setembro de 1989. Com a ascensão do Hamas, mais
radical e de orientação sunita, haveria menos espaço para entidades como a
Organização para a Libertação da Palestina, órgão liderado por Yasser Arafat no
passado, e atualmente do Fatah e da Autoridade Palestina. Sem a atuação de
partidos moderados, Israel não precisaria negociar com os palestinos.
Suprimento
alimentar
Além da
força militar, o bloqueio israelense a Gaza limita o acesso a gêneros
alimentícios, combustíveis e remédios ao território palestino. Com isso, a
infraestrutura local opera no limite, informa um telegrama enviado em 18 de setembro de 2009. A falta de remédios compromete o
setor de saúde em Gaza e a estrutura elétrica e de saneamento no fim de 2009
regrediu ao mesmo nível no qual estava em 2008.
Para se ter
ideia, o suprimento alimentar na região em agosto de 2009 era de 2.600
caminhões. Isso representava 20% do total de alimentos que entravam em Gaza em
junho de 2007. O ingresso de combustível era capaz de prover apenas dois terços
da usina elétrica local. Para iluminar Gaza, os palestinos usavam petróleo
egípcio, trazido através dos túneis na fronteira com custo de US$ 0,60 por
litro. Já o petróleo israelense custa US$ 1,80 por litro.
O
abastecimento de água e o saneamento também eram precários: cerca de 10 mil
habitantes de Gaza não tem acesso à agua. Outros 60% da população não têm
acesso diário, com fornecimento intermitente. Apenas 10% dos 1,8 milhões de
habitantes em Gaza tem água de acordo com os padrões estabelecidos pela
Organização Mundial de Saúde. Quando não são atacados militarmente, os
palestinos estão sem água, sem luz e com fome: são economicamente estrangulados
por Israel.
Instalações
da ONU e alvos civis
Já um outro
telegrama confidencial, despachado em 7 de maio de 2009, fala sobre uma carta enviada por Ban
Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, confirmando ataques das forças
israelenses às instalações da ONU em Gaza. “Sete dos nove ataques contra nossas
instalações em Gaza foram feitas pelo Exército de Israel, violando as
instalações da ONU. As forças de Israel não tiveram precaução de proteger a
ONU, nem os civis refugiados nesses locais”. Esses ataques custaram US$ 11
milhões aos cofres das Nações Unidas.
Israel,
conforme mostra um documento secreto de 30 de julho de 2009, usou palestinos como escudos humanos.
A prática ocorreu na Operação Chumbo Fundido, uma ofensiva contra Gaza entre
dezembro de 2008 e janeiro de 2009. Além disso, o Exército israelense usou
bombas de fósforo branco contra uma população civil. Essas atitudes culminaram
com a criação de uma entidade chamada “Quebrando o silêncio”.
Palestinos descansam próximos a escombros de praia na Faixa de Gaza/ Agência
Efe (05.jun.14)
Por meio
dessa entidade, foram coletados os testemunhos anônimos de 26 soldados
envolvidos na Operação Chumbo Fundido. Os depoimentos confirmaram o uso
desproporcional de força militar, causando mortes e prejuízos econômicos
desnecessários para a população de Gaza. Outros documentos mostram como esse
incidente não foi um fato isolado.
Ataque como
política deliberada
Uma comunicação de 15 de outubro de 2008 mostra como o
ataque a áreas civis era uma política deliberada de Israel. O documento faz
referência à Doutrina Dahiya – assim batizada pelo general Gadi Eizenkot por
conta do bairro de Beirute bombardeado durante a segunda guerra do Líbano em
2006. Na ocasião, Israel atacou a capital libanesa, destruindo a infraestrutura
urbana e causando problemas para a população civil.
Nas
palavras de Eizenkot, “Israel vai usar força militar desproporcional contra
qualquer vila que ataque forças israelenses, causando grande destruição”. O
general foi específico: não é apenas recomendação, mas um plano aprovado pelo
governo de Tel Aviv – na perspectiva de Israel, não são apenas povoados, mas
bases militares dos palestinos”. Para Eizenkot, a segunda guerra do Líbano se
estendeu demais: “um outro conflito deverá ser resolvido de forma rápida e com
vigor”.
Fonte: http://operamundi.uol.com.br/
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