Judaísmo não é sionismo
Governos
sionistas fizeram Israel ocupar territórios que não lhe pertencem, impedindo a
soberania de outro povo, o palestino.
O
presidente da Confederação Israelita do Brasil, Claudio Lottenberg, publicou na
Folha um artigo instigante. O título embute uma premissa fundamental:
"Antissionismo é antissemitismo". Trata-se de conveniente cláusula
para interdição do debate: não seria possível confrontar as ideias de Theodore
Herzl sem se confundir com os que levaram seis milhões de judeus ao extermínio.
Tal escudo moral, amparado na vitimização, resvala para o cinismo. Sucessivos governos sionistas, afinal, transformaram Israel em país ocupante de territórios alheios, impedindo a soberania de outro povo, o palestino. Os requintes de brutalidade para manter essa dominação colonial, nos últimos anos, ofendem a comunidade internacional. O álibi do Holocausto, nessas circunstâncias, constitui insulto à humanidade e à memória judaica.
Tal escudo moral, amparado na vitimização, resvala para o cinismo. Sucessivos governos sionistas, afinal, transformaram Israel em país ocupante de territórios alheios, impedindo a soberania de outro povo, o palestino. Os requintes de brutalidade para manter essa dominação colonial, nos últimos anos, ofendem a comunidade internacional. O álibi do Holocausto, nessas circunstâncias, constitui insulto à humanidade e à memória judaica.
Netanyahu
afirmou que a incursão militar de Israel em Gaza é “justificada” e
“proporcional”/ Agência Efe
Lottenberg nem sequer se refere ao massacre de Gaza, mesmo diante dos corpos de mulheres e crianças. Prefere apresentar versão edulcorada do sionismo, que seria "a expressão moderna da autodeterminação nacional judaica". Não faz qualquer questão de se diferenciar dos bandos mais reacionários, como o Likud de Benjamin Netanyahu.
O autor vai ainda mais longe. Para ele, os judeus "definem-se por uma religião (o judaísmo), uma língua (o hebraico) e uma terra (Israel)". De uma penada, expurgou, por exemplo, os judeus que são ateus, aqueles cuja língua é a do país no qual vivem e os que não consideram primordial a existência de Israel.
Atualmente hegemônico entre os judeus, o sionismo é apenas uma corrente de opinião, que se caracteriza por abordagem nacionalista. Não equivale a eventual código histórico-cultural dos povos judeus. Trata-se tão somente de uma orientação político-ideológica fundida à religião e ao Estado.
O epicentro de seu discurso sempre foi a criação de uma "pátria judaica". Vários dos fundadores do sionismo eram agnósticos, mas selaram aliança com chefes religiosos para reforçar seu poderio, ainda que às custas de construir o Estado de Israel como entidade confessional.
Ao contrário da autodeterminação dos negros na África do Sul pós-Mandela, forjando uma república laica e não racial, o nacionalismo sionista pressupõe supremacia judaica e religião estatal. Essa concepção levou a uma nação com tripla personalidade: democracia para judeus, cidadania de segunda classe para árabes-israelenses e regime de apartheid para palestinos dos territórios ocupados.
Lottenberg nem sequer se refere ao massacre de Gaza, mesmo diante dos corpos de mulheres e crianças. Prefere apresentar versão edulcorada do sionismo, que seria "a expressão moderna da autodeterminação nacional judaica". Não faz qualquer questão de se diferenciar dos bandos mais reacionários, como o Likud de Benjamin Netanyahu.
O autor vai ainda mais longe. Para ele, os judeus "definem-se por uma religião (o judaísmo), uma língua (o hebraico) e uma terra (Israel)". De uma penada, expurgou, por exemplo, os judeus que são ateus, aqueles cuja língua é a do país no qual vivem e os que não consideram primordial a existência de Israel.
Atualmente hegemônico entre os judeus, o sionismo é apenas uma corrente de opinião, que se caracteriza por abordagem nacionalista. Não equivale a eventual código histórico-cultural dos povos judeus. Trata-se tão somente de uma orientação político-ideológica fundida à religião e ao Estado.
O epicentro de seu discurso sempre foi a criação de uma "pátria judaica". Vários dos fundadores do sionismo eram agnósticos, mas selaram aliança com chefes religiosos para reforçar seu poderio, ainda que às custas de construir o Estado de Israel como entidade confessional.
Ao contrário da autodeterminação dos negros na África do Sul pós-Mandela, forjando uma república laica e não racial, o nacionalismo sionista pressupõe supremacia judaica e religião estatal. Essa concepção levou a uma nação com tripla personalidade: democracia para judeus, cidadania de segunda classe para árabes-israelenses e regime de apartheid para palestinos dos territórios ocupados.
Nem todos
os sionistas, é verdade, são defensores do colonialismo. Muitos, como o próprio
Lottenberg, são partidários da solução dos dois Estados e da retirada para as
fronteiras anteriores a 1967. Constitui manobra repulsiva, porém, afirmar que
seja antissemitismo a contraposição ao sionismo. Essa é a lógica que dirigentes
sionistas sempre quiseram impor aos críticos da política belicista e
expansionista de Israel.
Não é ser antissemita negar aos grupos dominantes do sionismo o direito de cometer crimes de limpeza étnica, discriminação e agressão armada contra o povo palestino.
Não são definitivamente antissemitas os judeus que, honrando longa história de participação nas lutas pela emancipação dos povos e pela paz, se apresentam para combater a doutrina supremacista que rege o Estado de Israel.
* Breno Altman é jornalista e diretor do site Opera Mundi
** Artigo publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo desta sexta-feira (08/08).
Não é ser antissemita negar aos grupos dominantes do sionismo o direito de cometer crimes de limpeza étnica, discriminação e agressão armada contra o povo palestino.
Não são definitivamente antissemitas os judeus que, honrando longa história de participação nas lutas pela emancipação dos povos e pela paz, se apresentam para combater a doutrina supremacista que rege o Estado de Israel.
* Breno Altman é jornalista e diretor do site Opera Mundi
** Artigo publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo desta sexta-feira (08/08).
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