(EUA) PM Press: Punk, Política e Publicações
Não é
segredo que o mundo das publicações está sendo arrancado por forças bem além de
seu controle. Entre a capacidade cada vez menor de atenção do americano médio e
a chegada de uma geração inteira criada por meio de histórias contadas em vídeo
games, internet e televisão, o livro como um meio de entretenimento parece
muito pitoresco, quase uma afetação.
Mas não se
engane, diz Ramsey Kanaan da PM Press, “os livros e a leitura continuam sendo o
mais potente meio de transmissão de ideias”, e ele tem um armazém em Oakland
cheio de livros para provar isto.
Com o
conglomerado de corporações “blue chip” sediado em Nova Iorque, agora a
publicação de livros é talvez mais praticada por pessoas com paixão por
impressão. São os homens e mulheres do mundo das publicações independentes, e a
PM Press, com três escritórios caseiros e um armazém em Oakland, é um grande
exemplo.
O fundador
Ramsey Kanaan criou a PM Press (pmpress.org)
no início de 2008, das cinzas da AK Press, que ele fundou na Escócia nos anos
80. Mesmo antes disto, quando era adolescente nos anos 70, Kanaan distribuía
literatura. Ele vinha para os EUA e eventualmente a Oakland, fazendo turnê com
sua banda punk “Political Asylum”. Entre os burritos e o clima, ele foi
facilmente seduzido e mudou para Bay Area.
Sentei para
conversar com ele em seu escritório caseiro em Oakland, aonde trabalha enquanto
seus gêmeos aprendem a andar, falar, e eventualmente a ler. A PM Press, ele
diz, “cresceu do meu amor por literatura e meu amor por ideias”. Os bebês
balbuciam em segundo plano. “Como nós transmitimos ideias? Como disseminamos
ideias? Eu acho que é isso que tenho tentado fazer de uma forma ou outra. Tenho
feito isso nos últimos trinta e tantos anos”.
O
escritório caseiro de Kanaan oferece ainda fortes contrastes. Muito na casa é
intocável, bonito e definitivamente à prova de crianças. Não é nada do que você
espera do mundo das publicações, além das estantes forradas de livros. Seu
escritório, por outro lado, seguramente separado por portas para crianças, é
uma torrente de pacotes, papéis, computadores, cartões e envelopes. Se parece
com uma zona de crise, isto é apenas um reflexo do negócio em que ele está.
“Para cada década em que estive envolvido com publicações e distribuição de
ideias, eles balançaram de uma crise para outra”.
As capas
dos livros dão uma ideia bem clara sobre a PM Press. “Eu acho que a PM Press é
indubitavelmente, explicitamente e declaradamente de esquerda, ou progressista,
poderíamos dizer. Nós certamente pendemos a várias correntes radicais e mesmo
revolucionárias de pensamento político, eu acho… Que seria, você sabe,
Marxismo, Anarquismo, então somos definitivamente radicais neste sentido. Mas
também gostaria de dizer que temos uma ênfase em qualidade e atualidade,
fazendo bons livros”.
Uma visita
ao armazém da editora nos confins industriais de Oakland confirma isso.
Escondida em uma rua por detrás de um shopping center levemente arruinado, está
um prédio de concreto esbranquiçado, pontuado por docas e portas. Na
deslumbrante e acinzentada luz do sol do início da tarde, nós abrimos uma porta
que levava a um longo corredor de aço, repleto de mais portas. Duas voltas, não
é? E encontramos Dan Fedorenko e Steven Stothard, parceiros de Ramsey no crime
da impressão, escondido em um local que deixa pouco espaço para se mover e
muito para os livros, cada bloco com ideias mais perigosas do que qualquer
arma.
“Enquanto
as políticas, ou a arte, ou a literatura são o critério, nós definitivamente
nos esforçamos para fazer bons livros”. Kanaan é bastante orgulhoso pelos mais
recentes, do selvagem e pouco nítido “World War 3 Illustrated”, editado por
Peter Kuger e Seth Tobocman ao “The Cost of Lunch” de Marge Piercy, etc.
O primeiro é uma enorme coleção de arte e histórias da “World War 3”, uma
revista fundada em 1979, dedicada “às guerras em curso que estão sendo travadas
por todo o mundo, em nossas portas, ou por vezes em nossas mentes”, explica a
contracapa. O livro tem 312 páginas inteligentes em quatro cores.
Marge
Piercy vai do mesmo lugar mas para uma direção oposta. Delicada e
indelevelmente inteligente, a coleção de histórias de Piercy analisa as vidas
cotidianas das mulheres desde dentro. Pode ser mais recatada no aspecto, mas
não menos revolucionária na intenção. Piercy e sua editora buscam compartilhar
ideias que não são encontradas em nenhum outro lugar no meio intimista da
impressão.
“Existem
sete pessoas pagas na PM Press”, diz Kanaan, “e um grupo de outras pessoas —
não pagas — que doam seu tempo”. Nestes dias de romances auto-publicados e
best-sellers de sucesso, Kanaan vê seu papel como “basicamente curatorial. Como
você A, encontra algo bom, e então B, faz com que fique melhor”.
A PM Press
está claramente fazendo um grande trabalho em ambos. Para todas as suas
reivindicações de radicalismo, sua definição do termo cobre um amplo
território. Sim, eles publicam “Signal”, “um jornal de gráficos políticos
internacionais e cultural”. Mas também publicam a série “Outspoken Authors”,
com “escritores de ficção atuais [mostrando] suas histórias mais provocativas e
politicamente desafiadoras”. Os pequenos livretos incluem um conto (ou mais)
pelos gostos de Ursula K. Leguin, Karen Joy Fowler, Michael Moorcock e Rudy
Rucker, junto a uma entrevista com profundidade feita pelo renomado autor Terry
Bisson, o editor da série. Há também uma nova linha de noir e re-impressões
difíceis de encontrar do trabalho de Piercy e Moorcock.
A PM Press
é de muitas formas o retrato perfeito de uma editora da “Costa Esquerda”. Eles
estão correndo sob o radar e conseguindo lucro em um mundo onde a publicação é
cada vez mais uma empresa sem fins lucrativos. São apaixonados por arte,
políticas e qualidade. Em última instância, Kanaan confirma que: “O que matou
as editoras e gerou a crise no negócio dos livros não é a mudança de formatos,
cujos efeitos são altamente exagerados, mas fundamentalmente, que as pessoas
não leem mais”.
Ouvir isto
de um homem em uma sala cheia de livros, com dois cômodos de armazém para todo
o resto, confronta a estranha realidade de nossa época. Não importa o quão
rápido a tecnologia avance, livros são meios de transferir ideias complexas de
forma mais eficiente do que qualquer outra invenção.
E a PM
Press é uma prova de que editoras pequenas e localizadas, tão comuns aqui na
Bay Area, podem ter uma influência sentida para além das fronteiras desta ou de
qualquer nação.
Tradução
> Anarcopunk.org
agência de
notícias anarquistas-ana
Num banco
de praça
a sombra de um velho assombra
o vento que passa.
a sombra de um velho assombra
o vento que passa.
Luciano
Maia
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