quarta-feira, 27 de agosto de 2014

(EUA) PM Press: Punk, Política e Publicações - Por Rick Kleffel (ANA)


(EUA) PM Press: Punk, Política e Publicações

Não é segredo que o mundo das publicações está sendo arrancado por forças bem além de seu controle. Entre a capacidade cada vez menor de atenção do americano médio e a chegada de uma geração inteira criada por meio de histórias contadas em vídeo games, internet e televisão, o livro como um meio de entretenimento parece muito pitoresco, quase uma afetação.

Mas não se engane, diz Ramsey Kanaan da PM Press, “os livros e a leitura continuam sendo o mais potente meio de transmissão de ideias”, e ele tem um armazém em Oakland cheio de livros para provar isto.

Com o conglomerado de corporações “blue chip” sediado em Nova Iorque, agora a publicação de livros é talvez mais praticada por pessoas com paixão por impressão. São os homens e mulheres do mundo das publicações independentes, e a PM Press, com três escritórios caseiros e um armazém em Oakland, é um grande exemplo.

O fundador Ramsey Kanaan criou a PM Press (pmpress.org) no início de 2008, das cinzas da AK Press, que ele fundou na Escócia nos anos 80. Mesmo antes disto, quando era adolescente nos anos 70, Kanaan distribuía literatura. Ele vinha para os EUA e eventualmente a Oakland, fazendo turnê com sua banda punk “Political Asylum”. Entre os burritos e o clima, ele foi facilmente seduzido e mudou para Bay Area.

Sentei para conversar com ele em seu escritório caseiro em Oakland, aonde trabalha enquanto seus gêmeos aprendem a andar, falar, e eventualmente a ler. A PM Press, ele diz, “cresceu do meu amor por literatura e meu amor por ideias”. Os bebês balbuciam em segundo plano. “Como nós transmitimos ideias? Como disseminamos ideias? Eu acho que é isso que tenho tentado fazer de uma forma ou outra. Tenho feito isso nos últimos trinta e tantos anos”.

O escritório caseiro de Kanaan oferece ainda fortes contrastes. Muito na casa é intocável, bonito e definitivamente à prova de crianças. Não é nada do que você espera do mundo das publicações, além das estantes forradas de livros. Seu escritório, por outro lado, seguramente separado por portas para crianças, é uma torrente de pacotes, papéis, computadores, cartões e envelopes. Se parece com uma zona de crise, isto é apenas um reflexo do negócio em que ele está. “Para cada década em que estive envolvido com publicações e distribuição de ideias, eles balançaram de uma crise para outra”.

As capas dos livros dão uma ideia bem clara sobre a PM Press. “Eu acho que a PM Press é indubitavelmente, explicitamente e declaradamente de esquerda, ou progressista, poderíamos dizer. Nós certamente pendemos a várias correntes radicais e mesmo revolucionárias de pensamento político, eu acho… Que seria, você sabe, Marxismo, Anarquismo, então somos definitivamente radicais neste sentido. Mas também gostaria de dizer que temos uma ênfase em qualidade e atualidade, fazendo bons livros”.

Uma visita ao armazém da editora nos confins industriais de Oakland confirma isso. Escondida em uma rua por detrás de um shopping center levemente arruinado, está um prédio de concreto esbranquiçado, pontuado por docas e portas. Na deslumbrante e acinzentada luz do sol do início da tarde, nós abrimos uma porta que levava a um longo corredor de aço, repleto de mais portas. Duas voltas, não é? E encontramos Dan Fedorenko e Steven Stothard, parceiros de Ramsey no crime da impressão, escondido em um local que deixa pouco espaço para se mover e muito para os livros, cada bloco com ideias mais perigosas do que qualquer arma.

“Enquanto as políticas, ou a arte, ou a literatura são o critério, nós definitivamente nos esforçamos para fazer bons livros”. Kanaan é bastante orgulhoso pelos mais recentes, do selvagem e pouco nítido “World War 3 Illustrated”, editado por Peter Kuger e Seth Tobocman ao “The Cost of Lunch”  de Marge Piercy, etc. O primeiro é uma enorme coleção de arte e histórias da “World War 3”, uma revista fundada em 1979, dedicada “às guerras em curso que estão sendo travadas por todo o mundo, em nossas portas, ou por vezes em nossas mentes”, explica a contracapa. O livro tem 312 páginas inteligentes em quatro cores.

Marge Piercy vai do mesmo lugar mas para uma direção oposta. Delicada e indelevelmente inteligente, a coleção de histórias de Piercy analisa as vidas cotidianas das mulheres desde dentro. Pode ser mais recatada no aspecto, mas não menos revolucionária na intenção. Piercy e sua editora buscam compartilhar ideias que não são encontradas em nenhum outro lugar no meio intimista da impressão.

“Existem sete pessoas pagas na PM Press”, diz Kanaan, “e um grupo de outras pessoas — não pagas — que doam seu tempo”. Nestes dias de romances auto-publicados e best-sellers de sucesso, Kanaan vê seu papel como “basicamente curatorial. Como você A, encontra algo bom, e então B, faz com que fique melhor”.

A PM Press está claramente fazendo um grande trabalho em ambos. Para todas as suas reivindicações de radicalismo, sua definição do termo cobre um amplo território. Sim, eles publicam “Signal”, “um jornal de gráficos políticos internacionais e cultural”. Mas também publicam a série “Outspoken Authors”, com “escritores de ficção atuais [mostrando] suas histórias mais provocativas e politicamente desafiadoras”. Os pequenos livretos incluem um conto (ou mais) pelos gostos de Ursula K. Leguin, Karen Joy Fowler, Michael Moorcock e Rudy Rucker, junto a uma entrevista com profundidade feita pelo renomado autor Terry Bisson, o editor da série. Há também uma nova linha de noir e re-impressões difíceis de encontrar do trabalho de Piercy e Moorcock.

A PM Press é de muitas formas o retrato perfeito de uma editora da “Costa Esquerda”. Eles estão correndo sob o radar e conseguindo lucro em um mundo onde a publicação é cada vez mais uma empresa sem fins lucrativos. São apaixonados por arte, políticas e qualidade. Em última instância, Kanaan confirma que: “O que matou as editoras e gerou a crise no negócio dos livros não é a mudança de formatos, cujos efeitos são altamente exagerados, mas fundamentalmente, que as pessoas não leem mais”.

Ouvir isto de um homem em uma sala cheia de livros, com dois cômodos de armazém para todo o resto, confronta a estranha realidade de nossa época. Não importa o quão rápido a tecnologia avance, livros são meios de transferir ideias complexas de forma mais eficiente do que qualquer outra invenção.

E a PM Press é uma prova de que editoras pequenas e localizadas, tão comuns aqui na Bay Area, podem ter uma influência sentida para além das fronteiras desta ou de qualquer nação.
Tradução > Anarcopunk.org

agência de notícias anarquistas-ana

Num banco de praça
a sombra de um velho assombra
o vento que passa.
Luciano Maia

Nenhum comentário: