A propósito de Gaza
“Durante
três semanas a barbárie tem sido mostrada ante um público universal, que tem
observado, julgado e, com poucas exceções, rechaçado o uso do terror militar
por parte de Israel contra um milhão e meio de habitantes bloqueados desde 2006
na Faixa de Gaza. Nunca antes as justificativas oficiais da invasão têm sido
tão claramente refutadas como agora, com a combinação de câmeras e aritmética;
nem a linguagem dos “alvos militares” com imagens sangrentas de crianças e
escolas em chamas. Treze mortos em um dos lados, 1.360 de outro: não é difícil
estabelecer onde está a vítima. Não há muito mais a dizer sobre a operação
terrível de Israel em Gaza.
Exceto para
aqueles de nós que são judeus. Em uma história longa e incerta de um povo em
diáspora, a nossa reação natural para eventos públicos têm incluído,
inevitavelmente, a pergunta: “É bom ou ruim para os judeus?”. Neste caso, a
resposta é inequívoca: “Ruim para os judeus”.
É evidente
que é ruim para os cinco milhões e meio de judeus vivendo em Israel e nos
territórios ocupados desde 1967, cuja segurança está ameaçada por ações
militares israelenses tomem em Gaza e no Líbano, ações que demonstram a sua
incapacidade de atingir os objetivos definidos e que perpetuam e intensificam o
isolamento de Israel em um Oriente Médio hostil. Desdo o genocídio ou expulsão
em massa de palestinos do que resta de sua terra natal não tem havido outro
programa prático que não a destruição do Estado de Israel, e somente uma
coexistência negociada em igualdade de condições entre os os dois grupos pode
proporcionar um futuro estável. Cada nova aventura militar, como as de Gaza e
no Líbano, fará com que esta solução seja mais difícil e fortalecerá a ala
direitista de Israel e aos colonos da Cisjordânia, que lideram a oposição a a
uma solução negociada.
Igual à
guerra do Líbano, em 2006, Gaza ecureceu as perspectivas de futuro para Israel.
Também escureceu as perspectivas dos nove milhões de judeus que vivem na
diáspora. Permitam-me que fale sem rodeios: a crítica de Israel não implica em
antissemitimismo, mas as ações do governo de Israel causam vergonha entros os
judeus e, sobretudo, dá espaço ao atual antissemitismo. Desde 1945, os judeus,
dentro e fora de Israel, se beneficiaram enormemente com a má consciência do um
mundo ocidental, que se recusou à imigração judia na década de 1930, alguns
anos antes de serem permitidas, ou não se opuseram ao genocídio. Quanta dessa
má consciência, que praticamente eliminou o antissemitismo no Ocidente durante
sessenta anos e produziu uma época dourada para sua diáspora, é hoje a
esquerda?
A ação de
Israel em Gaza não é a de um povo que é vítima da história, nem sequer é o
“pequeno valente” Israel da mitologia de 1948-1967, como um David derrotando a
todos os Golias ao seu redor. Israel está perdendo a boa vontade tão
rapidamente como os EUA de George W. Bush, e por razões similares: a cegueira
nacionalista e a megalomania do poder militar. O que é bom para Israel e o que
é bom para os judeus como povo são coisas que estão evidentemente vinculadas,
mas eenquanto não houver uma resposta para a questão da Palestina não são e não
podem ser idênticas. E é essencial para os judeus que se diga.”
Jornal GGN - O historiador Eric Hobsbawm
publicou este artigo sobre o conflito entre Israel e a Faixa de Gaza em 2009.
Cinco anos após sua publicação e dois anos depois da morte de seu autor, as
palavras de Hobsbawm, um judeu britânico, são mais relevantes do que nunca com
a nova ofensiva israelense em Gaza.
Fonte: http://jornalggn.com.br/
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