Onda de xenofobia contra imigrantes africanos se espalha por Israel
Imigrante do Sudão do Sul aguarda em centro de acolhimento após ser preso em Israel
Em Israel, já há alguns meses que a tensão e o medo parecem se estender de Tel Aviv até Jerusalém. Não se trata de medo de atentados ou de um improvável ataque iraniano, mas sim de uma crescente xenofobia e desconfiança perante a comunidade de imigrantes africanos. Muitos deles quais vem de países em guerra buscando asilo político e são acusados de terem convertido o sul de Tel Aviv em um gueto.
Ao ver crianças de diferentes cores brincando juntas em um parque no bairro de Shapira, no sul de Tel Aviv, ninguém poderia imaginar a crescente tensão que se acumula nesta região, apesar de as autoridades policiais garantirem que os níveis de criminalidade na cidade não subiram com a chegada dos imigrantes na última década.
“Durante o dia, tudo está tranquilo, o problema é a noite, quando chegam os grupos de africanos,” conta Elad, de 32 anos, que viveu toda sua vida em Shapira. “Não quero dizer que eles vêm aqui para nos prejudicar, mas se não tem autorização de trabalho e ninguém te dá trabalho, acaba fazendo alguma coisa e a alternativa é roubar”, diz enquanto tenta evitar que seu cão escape.
Elad garante que, há alguns anos, a situação não era essa e que podia sair para passear com seu cão a qualquer hora da noite. Agora, sem hesitar, prefere evitar sempre que pode.
“Muitas vizinhas israelenses e amigas minhas também se queixam de não poder andar sozinhas pela rua porque os africanos andam em grupos grandes e as assaltam. Inclusive me falaram de ataques físicos, que tentaram abusar delas. A verdade é que o clima é muito mais tenso agora que em outros anos. Quase ninguém se encontra de noite no parque do bairro por que está tomado pelos imigrantes. É perigoso”, disse Elad.
O pedestre que passar pelo sul de Tel Aviv, onde está a rodoviária da cidade, umas das mairoes do mundo, terá dificuldades para encontrar israelenses locais. Muitos chamam essa região de “pequena Manila”, por conta da quantidade de imigrantes filipinos. Mas muitos também estão começando a chamá-la de “pequena Cartum”, a capital do Sudão do Norte, de onde são originados muitos refugiados africanos.
No parque próximo à estação, é possível encontrar muitos sudaneses, tanto do sul como do norte, bem como imigrantes da Eritrea, do Congo e da Etiopía. Eles se reúnem para buscar trabalho como faxineiros ou garçons, ou simplesmente para passar o tempo.
Bodes expiatórios
Esses imigrantes se converteram em um alvo perfeito para os partidos de direita, sobretudo para alguns parlamentares do Likud, que atribuem a elevação do índice de criminalidade no sul de Tel Aviv à imigração de africanos e pedem a expulsão imediata de todos eles.
Os recentes ataques sofridos pelos imigrantes africanos em Tel Aviv e Jerusalém surpreenderam tanto a opinião pública israelense que até mesmo o ministro do Exterior, Avigdor Lieberman, considerado um radical conservador, foi obrigado a intervir neste domingo para condenar a violência depois que israelenses atearam fogo a um apartamento habitado por imigrantes africanos em Jerusalém.
Um protesto da vizinhança contra os imigrantes africanos tornou-se uma espécie de “caça de negros”, na qual moradores partiram contra qualquer pessoa de cor com a qual se depararam. Em fúria, agrediram inclusive um cidadão israelense da comunidade judia etíope, também negra.
“Há uns dez anos, chegaram ao sul de Tel Aviv cerca de 30 mil africanos, a maioria do Sudão e da Eritrea, ainda que também tenham vindo do Congo e da Etiópia, fugindo de guerras e da repressão”, explica Sigal Rozen, coordenadora de uma ONG de auxílio ao imigrante, Hotline for Migrant Workers, enquanto atende um homem negro que insiste que é ela quem deve atendê-lo e ninguém mais.
“Sou muito popular na comunidade africana. Vou todos os dias aos bairros do sul da cidade e converso com eles, escuto aquilo que os preocupa. Também vou até as prisões para observar o tratamento que aqueles que estão lá recebem”, diz Sigal.
“Entendo os vizinhos que estão assustados diante do aumento de africanos em seus bairros, mas o que os políticos estão dizendo é completamente falso, a criminalidade não aumentou, não sei de onde tiram essas estatísticas que só trazem ódio e xenofobia”, explica.
Um dos políticos que assumiram a causa contra imigrantes africanos é o ministro do Interior, Eli Yishai, líder do partido ultra-ortodoxo Shas. Ele chegou a dizer que o número de mulheres israelenses abusadas por africanos é muito maior do que o registrado.
“Muitas mulheres israelenses foram abusadas por imigrantes africanos, mas decidem não informar a polícia porque contraíram Aids e têm medo de serem estigmatizadas”, comentou Yishai há alguns dias em entrevista a um jornal local, referindo-se a um incidente recente, no qual uma israelense do sul de Tel Aviv afirmou ter sofrido um abuso em sua casa nas mãos de um africano.
“Se não fizermos algo, como colocar todos, sem exceções, em bases militares, esses infiltrados e os palestinos acabarão com o sonho sionista”, disse Yishai à imprensa.
Para Sigal Rozen, Yishai e outros políticos de direita estão usando descaradamente o medo e a xenofobia para vender votos. “Yishai, Danny Danon, do Likud, e outros, criam ataques e dados que estão repercutindo muito negativamente nesta parte da cidade. Perceberam recentemente que o medo de imigrantes rende muitos votos. Enquanto isso, o governo não faz nada para evitar tudo isso”.
Limbo legal
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou há alguns meses a construção de um gigantesco centro de acolhimento para imigrantes no deserto de Negev. O prédio terá capacidade para até 6.000 refugiados. Atualmente as prisões e os centros de acolhimento têm capacidade para 12 mil pessoas.
Agora mesmo, os 60 mil imigrantes africanos de Israel se encontram em um limbo legal. Os que pedem asilo político aguardam anos por uma resposta enquanto permanecem no país sem visto de trabalho. “Israel só concedeu 157 vistos de refugiados desde que assinou a Convenção Internacional de Refugiados de 1951. Enquanto isso, mantém a maioria dos africanos que cruzam o Sinai para entrar em Israel em um status intermediário, que permite inclusive a deportação para seus países de origem, onde provavelmente seriam mortos”, garante Sigal Rozen.
“Funciona assim: um africano cruza o Sinai, diante de todos os perigos que isso traz, cruza a porosa fronteira entre Egito e Israel, é detido pela polícia ou pelo exército e levado para alguma prisão. Ali, passam por um exame médico superficial. Eles ficarão presos por tempo indefinido, até que decidam soltá-lo no sul de Tel Aviv com uma permissão de residência temporária e com uma ordem de deportação pendente”, relata Rozen.
Ela conta que a nova lei contra infiltrados, que entrou em vigor em janeiro, permite manter os refugiados em prisões de todo o país durante três anos ou mais, sem julgamento ou possibilidade alternativa. “O que eu acho engraçado é que o governo não entende que a maioria destas pessoas prefere as prisões de Israel, pelo tempo que seja, do que permanecer em seus países, onde só há morte e miséria”, completa.
Criminalidade estável
O porta voz da Polícia israelense, Mickey Rosenfeld, assegura sem hesitações que a criminalidadeem Tel Aviv não aumentou nos últimos anos. “Não posso dar dados exatos do sul de Tel Aviv, mas sim de toda a cidade, e a criminalidade segue no mesmo nível que em anos anteriores”, explicou Rosenfeld por telefone.
Adam, um congolês que tornou-se na prática um porta voz da comunidade africana na região, se defende das acusações. Em sua casa, bem maior e espaçosa do que as moradias que a maioria dos africanos consegue pagar, todas as paredes estão cobertas de fotos de sua filha e de seu filho brincando juntos. “São grandes amigos”, sorri Adam, que parece acostumado com jornalistas e câmeras.
“Não digo que não há crimes, sempre houve e temos que levar em consideração que somos 30 mil vivendo aqui. Assim, entre tantos, é claro que vai haver alguém que seja um criminoso, mas não são todos. O que o governo deve fazer é conceder o status de refugiados aos que vem de países em guerra para que essas pessoas possam trabalhar de maneira legal por todo o país e não estar concentrados em Tel Aviv”.
“Agora há muito medo entre a comunidade africana porque a cor nos delata e não sabemos quando vai ocorrer outro episódio como o de duas semanas atrás”, sentencia Adam, enquanto se apressa para receber um cinegrafista que quer entrevista-lo sobre o incêndio do apartamento de africanosem Jerusalém.
“Antes havia muito mais harmonia, agora não sei o que vai acontecer. As pessoas deveriam entender que somos humanos e que nem todos devemos pagar pelo que faz uma minoria, Mas só escutam os políticos que não param de incitá-los à violência contra os refugiados”, lamenta.
“Há uns dez anos, chegaram ao sul de Tel Aviv cerca de 30 mil africanos, a maioria do Sudão e da Eritrea, ainda que também tenham vindo do Congo e da Etiópia, fugindo de guerras e da repressão”, explica Sigal Rozen, coordenadora de uma ONG de auxílio ao imigrante, Hotline for Migrant Workers, enquanto atende um homem negro que insiste que é ela quem deve atendê-lo e ninguém mais.
“Sou muito popular na comunidade africana. Vou todos os dias aos bairros do sul da cidade e converso com eles, escuto aquilo que os preocupa. Também vou até as prisões para observar o tratamento que aqueles que estão lá recebem”, diz Sigal.
“Entendo os vizinhos que estão assustados diante do aumento de africanos em seus bairros, mas o que os políticos estão dizendo é completamente falso, a criminalidade não aumentou, não sei de onde tiram essas estatísticas que só trazem ódio e xenofobia”, explica.
Um dos políticos que assumiram a causa contra imigrantes africanos é o ministro do Interior, Eli Yishai, líder do partido ultra-ortodoxo Shas. Ele chegou a dizer que o número de mulheres israelenses abusadas por africanos é muito maior do que o registrado.
“Muitas mulheres israelenses foram abusadas por imigrantes africanos, mas decidem não informar a polícia porque contraíram Aids e têm medo de serem estigmatizadas”, comentou Yishai há alguns dias em entrevista a um jornal local, referindo-se a um incidente recente, no qual uma israelense do sul de Tel Aviv afirmou ter sofrido um abuso em sua casa nas mãos de um africano.
“Se não fizermos algo, como colocar todos, sem exceções, em bases militares, esses infiltrados e os palestinos acabarão com o sonho sionista”, disse Yishai à imprensa.
Para Sigal Rozen, Yishai e outros políticos de direita estão usando descaradamente o medo e a xenofobia para vender votos. “Yishai, Danny Danon, do Likud, e outros, criam ataques e dados que estão repercutindo muito negativamente nesta parte da cidade. Perceberam recentemente que o medo de imigrantes rende muitos votos. Enquanto isso, o governo não faz nada para evitar tudo isso”.
Limbo legal
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou há alguns meses a construção de um gigantesco centro de acolhimento para imigrantes no deserto de Negev. O prédio terá capacidade para até 6.000 refugiados. Atualmente as prisões e os centros de acolhimento têm capacidade para 12 mil pessoas.
Agora mesmo, os 60 mil imigrantes africanos de Israel se encontram em um limbo legal. Os que pedem asilo político aguardam anos por uma resposta enquanto permanecem no país sem visto de trabalho. “Israel só concedeu 157 vistos de refugiados desde que assinou a Convenção Internacional de Refugiados de 1951. Enquanto isso, mantém a maioria dos africanos que cruzam o Sinai para entrar em Israel em um status intermediário, que permite inclusive a deportação para seus países de origem, onde provavelmente seriam mortos”, garante Sigal Rozen.
“Funciona assim: um africano cruza o Sinai, diante de todos os perigos que isso traz, cruza a porosa fronteira entre Egito e Israel, é detido pela polícia ou pelo exército e levado para alguma prisão. Ali, passam por um exame médico superficial. Eles ficarão presos por tempo indefinido, até que decidam soltá-lo no sul de Tel Aviv com uma permissão de residência temporária e com uma ordem de deportação pendente”, relata Rozen.
Ela conta que a nova lei contra infiltrados, que entrou em vigor em janeiro, permite manter os refugiados em prisões de todo o país durante três anos ou mais, sem julgamento ou possibilidade alternativa. “O que eu acho engraçado é que o governo não entende que a maioria destas pessoas prefere as prisões de Israel, pelo tempo que seja, do que permanecer em seus países, onde só há morte e miséria”, completa.
Criminalidade estável
O porta voz da Polícia israelense, Mickey Rosenfeld, assegura sem hesitações que a criminalidade
Adam, um congolês que tornou-se na prática um porta voz da comunidade africana na região, se defende das acusações. Em sua casa, bem maior e espaçosa do que as moradias que a maioria dos africanos consegue pagar, todas as paredes estão cobertas de fotos de sua filha e de seu filho brincando juntos. “São grandes amigos”, sorri Adam, que parece acostumado com jornalistas e câmeras.
“Não digo que não há crimes, sempre houve e temos que levar em consideração que somos 30 mil vivendo aqui. Assim, entre tantos, é claro que vai haver alguém que seja um criminoso, mas não são todos. O que o governo deve fazer é conceder o status de refugiados aos que vem de países em guerra para que essas pessoas possam trabalhar de maneira legal por todo o país e não estar concentrados em Tel Aviv”.
“Agora há muito medo entre a comunidade africana porque a cor nos delata e não sabemos quando vai ocorrer outro episódio como o de duas semanas atrás”, sentencia Adam, enquanto se apressa para receber um cinegrafista que quer entrevista-lo sobre o incêndio do apartamento de africanos
“Antes
Um comentário:
ESPERAR O QUE DESSES NAZISTAS!
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