Timor avança e revela que solidariedade internacional funciona
Dez anos depois de receber voluntários de todo planeta, país começa a reverter pobreza e emprega receitas do petróleo para assegurar direitos sociais e infra-estrutura
Na virada do século, quando tornou-se independente da Indonésia, Timor Leste (um país onde o português é usado residualmente) recebeu intensa solidariedade do Brasil — inclusive com deslocamento de centenas de voluntários. Desde então, tem sido representado invariavelmente na mídia como um estado frágil, sujeito a revoltas violentas (como em 1999 e 2006), tentativas de assassinato do presidente (em 2008) e pouco acesso da população à saúde e educação. Embora reais, estes fatos são apenas parte da verdade.
Segundo revela matéria recente, publicada pelo jornal britânico The Guardian, os brasileiros que se envolveram nas campanhas de apoio ao jovem país têm motivos para comemorar. Os sinais de pobreza estão sendo superados de forma acelerada e consistente. As perspectivas para as próximas décadas são promissoras. A mudança de cenário foi fortemente influenciada pela exploração de petróleo, agora apropriada pela sociedade timorense e não mais pelos ocupantes estrangeiros. Mas só se concretizou graças à adoção de políticas de sentido oposto às que estavam em vigor há dez anos.
Alguns dos dados relatados no Guardian impressionam. No começo da década passada, apenas 50% das crianças estavam em escolas; embora ainda baixo, este percentual saltou para mais de 75%. Busca-se a igualdade: o índice é de 72%, entre as famílias mais pobres, e praticamente idêntico, entre meninos e meninas.
A área da saúde também mostra avanços significativos. Em 2000, apenas 2% das crianças com menos de cinco anos em famílias mais pobres recebiam todas as vacinas necessárias. No final da década já eram 1/3. Há dez anos, somente 27% das mulheres grávidas das famílias mais pobres recebiam cuidados pré-natais. Em uma década, o percentual saltou para 75%.
Estes avanços exigiram investimentos. Ao libertar-se da Indonésia, em 20 de maio de 2012, Timor Leste dependia em quase 100% de doações internacionais. A extração de petróleo do fundo do mar (gerenciada em conjunto com a Austrália) permitiu gerar receitas próprias, manejadas pelo Estado. Para evitar que a abundância de dólares desestimulasse a produção local, constituiu-se um fundo soberano, que deverá ser empregado a longo prazo e já reúne reservas de US$ 10 bilhões. Com estes recursos, Timor planeja construir sua segunda central elétrica na próxima década, além de aprimorar o sistema de abastecimento de água e construir uma rede de estradas e um novo porto internacional.
O texto ressalta: a riqueza do petróleo só converteu-se em melhora nas condições de vida graças a política de redistribuição. Criou-se um sistema previdenciário relativamente eficiente, que beneficia os mais velhos mas também apoia mães solteiras, portadores de deficiência e veteranos das guerrilhas de independência. Nos gastos públicos há inclusive certa sofisticação. O Guardian destaca a existência de um portal de transparência do Orçamento, em três idiomas (português aqui) e considera que a qualidade e profundidade das informações disponíveis é “de classe mundial”
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