Arrancados da natureza: Comércio de guepardos está levando espécie à extinção
Guepardos
são vendidos como símbolo de status no Oriente Médio (Foto: Piroschka Van De
Wouw/EPA)
O crescente
comércio de guepardos para serem explorados como animais domésticos “de luxo”
no Oriente Médio está levando à extinção as populações que já eram ameaçadas,
de acordo com estudo recente. O relatório do estudo também revela números
horríveis desse comércio, com mais de dois terços dos filhotes que são
contrabandeados em uma rota pela África morrendo no caminho. Finalmente, as
nações dos dois lados do comércio concordaram que é necessária uma ação urgente.
As informações são do The Guardian.
Os
guepardos, famosos como os animais terrestres mais ágeis do mundo, perderam
cerca de 90% de sua população no último século quando suas imensas faixas de
habitat na África e Ásia foram tomadas por fazendeiros. Restaram menos de 10
mil animais, e os números estão decrescendo. Há uma tradição antiga de uso de
guepardos treinados como animais de caça na África mas, mais recentemente, uma
demanda por eles como animais de companhia por serem símbolo de “status” nos estados
do Golfo reduziu ainda mais as populações.
Guepardos
são extraordinariamente fáceis de serem domesticados, especialmente quando
filhotes, e o relatório descobriu casos nos estados do Golfo desses felinos
dentro de carros como passageiros, sendo levados para passear com guias como
cães e até mesmo colocados para se exercitar sobre esteiras. Outras evidências
mostraram guepardos andando por salas de estar e se atracando com seus tutores,
incluindo crianças pequenas.
“Todo esse
comércio não foi apreciado pelo público ou pelo meio conservacionista”, disse
Nick Mitchell, que contribuiu com o relatório para a Cites (Convenção sobre o
Comércio de Espécies Ameaçadas), em uma primeira visão abrangente sobre o
comércio de guepardos. “Se nós não agirmos agora sobre esse mercado e sobre o
uso da terra, poderemos certamente perder sub populações em poucos anos”.
Os
guepardos não se reproduzem facilmente em cativeiro, e o comércio no Golfo é
suprido por animais arrancados da natureza na África. Entre as distintas sub
espécies que vivem na região, os números de indivíduos somam aproximadamente
2.500. Os animais são traficados por barcos da Somália para o Yemen, e então
levados por estradas para dentro dos estados do Golfo, incluindo a Arábia
Saudita. “Números imensos de guepardos morrem durante o percurso”, afirmou
Mitchell, que é coordenador do Programa de Conservação Ampla para Guepardos e
Cães Selvagens Africanos, um projeto de parceria entre a Zoological Society of
London e a Wildlife Conservation Society. “Com certeza, nós estamos falando de
uma população pobre do Nordeste africano e eles não estão muito preocupados com
o bem estar dos animais”. Apreensões de filhotes de guepardos geralmente
contabilizam 30 animais, com 50 a 70% morrendo no caminho. Há também uma demanda
por sapatos feitos de pele de guepardo no Sudão, onde são considerados objetos
de alto status social.
Ainda mais
ameaçadas são as sub espécies de guepardos no Irã, onde apenas 40% sobreviveram
à perda de território e agora enfrentam o contrabando. Outras sub espécies
seriamente ameaçadas vivem no norte e no oeste africanos, com menos de 250
indivíduos. No local, a ameaça principal é a demanda por suas peles para
vestuário, e ossos e partes do corpo, usadas na medicina tradicional e em
rituais de magia.
A maior
população sobrevivente dos guepardos – com cerca de 6.200 animais – está na
África do Sul. A caça de troféus, que paga entre 10 mil e 20 mil
dólares por animal, é permitida na Namíbia, em Botsuana e no Zimbábue,
totalizando mais de 200 mortes por ano. Na África do Sul, aproximadamente 90
guepardos criados em cativeiro são exportados para zoológicos a cada ano, e os
conservacionistas temem que também haja animais “ilegais” dentro desses
números.
Mitchell
diz que está “cautelosamente otimista” de que um novo grupo de trabalho da
Cites, formado em reposta às revelações do relatório, deverá coibir o comércio
ilegal de guepardos com melhor aplicação da lei. “Foi dito aos países que não
se pode ignorar o fato de que isso está sendo monitorado”, disse ele.
David
Morgan, chefe de Ciência da Cites, declarou: “Países do Oriente Médio
posicionaram-se muito claramente e esse é um sinal de progresso. O Catar, os
Emirados, o Kuait, todos reconheceram o problema”.
Morgan
disse que a demanda por espécies ameaçadas, incluindo os grandes felinos, vem
mostrando uma tendência “da saúde à prosperidade”, ou seja, uma ênfase
crescente nesses animais como símbolo de status, mais do que a exploração para
supostos usos medicinais. “Muitos países asiáticos ainda praticam o comércio de
partes dos animais para fins medicinais, mas a procura deles por motivo de
exibição parece estar crescendo”, explicou ele. “Isso vem com o crescimento das
economias desses países, o que impulsiona a demanda. Mas os pequenos números de
animais deixados na natureza não poderão suportar isso”.
A recente
cúpula da Cites, que terminou na semana passada na Suíça, também abordou o
assunto da crise da caça aos elefantes. “A Tailândia recebeu um último aviso”,
disse Morgan. “Foi feita uma nota de que eles têm que colocar a casa em
ordem, ou haverá consequências”. A menos que atue em seu comércio de marfim,
parte chave da cadeia de marfim da África para a China, a Tailândia será
barrada do comércio de toda a vida selvagem coberto pelo acordo internacional
da Cites, incluindo o comércio lucrativo de orquídeas e cactos.
A Interpol
estima que o comércio ilegal de vida selvagem movimente de 10 a 20 bilhões de
dólares por ano, o quarto comércio negro mais lucrativo depois do tráfico de
drogas, pessoas e armas. A situação já encontra-se em uma escala em que
prejudica pessoas e nações, especialmente na África, conforme John Scanlon,
secretário geral da Cites, disse ao The Guardian em 2013: “Envolve cada vez
mais sindicatos de crime organizado e, em alguns casos, milícia rebelde. Isso
representa uma séria ameaça à estabilidade e à economia dos países afetados e
rouba-lhes os seus recursos naturais. É preciso que isso pare”.
Ele
acrescentou: “O Conselho de Segurança das Nações Unidas relacionou o grupo
armado Exército de Resistência do Senhor ao contrabando de marfim na República
Democratica do Congo, enquanto o grupo al-Shabaab da al-Qaida foi ligado ao
comércio ilegal de marfim na Somália”.
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