Poderio militar israelense “made in USA” esmaga palestinos.
Israel
receberá um total de US$ 30 bilhões em ajuda militar de Washington nos dez anos
transcorridos entre 2009 e 2018
O esmagador
poder de fogo israelense despejado sobre o movimento armado palestino Hamas no
conflito atual em Gaza recorda a guerra da independência da Argélia
(1954-1962), quando a França, a potência colonizadora, utilizou sua
superioridade militar para atacar a insurgência. Enquanto a força área francesa
lançava napalm sobre a população civil no campo, os argelinos recorriam a
bombas artesanais escondidas nas bolsas das mulheres que eram deixadas em
cafés, restaurantes e lugares públicos frequentados pelos franceses.
Em uma das
cenas memoráveis do clássico filme de 1967, A Batalha de Argel, o líder da
Frente de Libertação Nacional, Ben M’Hidi, é interrogado por um grupo de
jornalistas franceses extremamente parciais. “Não considera que é um pouco
covarde usar bolsas e cestas de mulheres para levar os artefatos explosivos que
matam tanta gente inocente?”, perguntavam ao líder argelino algemado. “E não
lhe parece ainda mais covarde jogar bombas de napalm sobre gente indefesa, que
causam mil vezes mais vítimas inocentes?”, respondeu M’Hidi, acrescentando:
“Naturalmente, se tivéssemos seus aviões de combate seria muito mais fácil para
nós. Nos deem seus bombardeiros e fiquem com nossas bolsas e cestas”.
No atual
conflito em Gaza, uma inversão de papéis encontraria o movimento islâmico Hamas
armado com aviões de combate, mísseis ar-ar e tanques, enquanto Israel
responderia apenas com foguetes de fabricação caseira. Mas, na realidade, o
Hamas está totalmente superado em sua luta contra um dos poderes militares mais
formidáveis e sofisticados do mundo, cujos equipamentos de última geração
chegam gratuitamente dos Estados Unidos, mediante o chamado financiamento
militar estrangeiro (FMF).
Segundo os
últimos dados, o conflito que começou no dia 8 custou a vida de mais de 620
palestinos, em sua maioria civis, entre eles pelo menos 230 mulheres e
crianças, e deixou mais de 3.700 feridos. Do lado israelense houve 27 soldados
e dois civis mortos.
“É
impossível imaginar a desproporção absoluta de poderes neste conflito, salvo
para quem esteve na rua diante das tropas israelenses em Gaza, ou tenha dormido
no chão sob um ataque aéreo, como fiz várias vezes, enquanto entregava ajuda em
1989, 2000 e 2009”, afirmou James E. Jennings, presidente da Consciência
Internacional e diretor da organização Acadêmicos dos Estados Unidos pela Paz.
“Vi jovens
que simplesmente fugiam baleados pelas costas por soldados israelenses
equipados com subfuzis Uzi e uniformes blindados, e em 2009 e 2012 fui
testemunha em Rafha da superioridade tecnológica de Israel na coordenação de
sofisticados computadores, aviões não tripulados e caças F-15”, acrescentou
Jennings. Os reiterados bombardeios apontam para os jovens que utilizam túneis
para levar alimentos e remédios à população presa pelo embargo em Gaza, mas
também atacam civis indefesos que fogem das hostilidades, destacou.
“Em meu
trabalho visitei mulheres e crianças feridas nos hospitais de Rafah e na cidade
de Gaza e ajudei a transportar cadáveres para seu enterro”, acrescentou
Jennings. “É como atirar em peixes em um barril”, prosseguiu, em uma analogia
para esta situação de capacidades militares tão assimétricas.
Os dados
estatísticos evidenciam a ineficácia dos foguetes Qassam de fabricação caseira
que o Hamas dispara, já que após mais de dois mil lançamentos apenas dois civis
morreram do lado israelense. “É muito menos do que os oito norte-americanos
mortos acidentalmente em 2013 vítimas de fogos de artifício nas comemorações do
4 de julho”, dia da independência dos Estados Unidos, destacou Jennings.
As armas
norte-americanas no valor de milhares de milhões de dólares em poder de Israel
foram adquiridas com subvenções não reintegráveis do FMF, segundo especialistas
em defesa. Israel receberá um total de US$ 30 bilhões em ajuda militar de
Washington nos dez anos transcorridos entre 2009 e 2018. O Serviço de Investigação
do Congresso norte-americano indica que Israel é o maior receptor da FMF dos
Estados Unidos, já que em 2015 receberá 55% do desembolso total dos subsídios
de Washington no mundo. Essa quantia representa entre 23% e 25% do orçamento
militar anual israelense.
Nicole
Auger, analista militar que cobre Oriente Médio e África para a Forecast
International, consultoria em assuntos de defesa, apontou à IPS que Israel
importa quase todo seu arsenal dos Estados Unidos. Segundo ela, a prioridade de
Israel é manter a superioridade aérea diante dos vizinhos da região, acima do
poderio terrestre. Israel fez um pedido adicional de caças F-15I que se somarão
aos 25 F-15ls (Ra’ams) de longo alcance que a Força Aérea Israelense já possui,
junto com 102 F-16I (Soufas) de combate polivalente, acrescentou a
especialista.
O arsenal
militar de Israel também inclui dezenas de helicópteros de ataque, como o
Sikorsky CH-53, recentemente equipado com o sistema de proteção IAI Elta
Systems EL/M-2160, que detecta mísseis com radar e ativa medidas para
desviá-los. Também atualizou sua frota de helicópteros de ataque Cobra
AH-1E/F/G/S da Bell e Apache AH-64A da Boeing. Para sua defesa conta com a
última versão do sistema antimísseis Patriot, PAC 3, e também possui bombas
guiadas por laser Paveway, bombas de penetração BLU-109 e munições antibunquer
GBU-28.
Jennings
explicou à IPS os fatos que os meios de comunicação não costumam recordar ao
cobrir a guerra entre Israel e Gaza. O direito à legítima defesa, defendido por
Israel e seus aliados em Washington, nunca é mencionado com relação ao ocorrido
em 1948, quando centenas de milhares de palestinos foram expulsos de suas casas
e de seu território para serem trancados na maior prisão do mundo que é Gaza.
Em segundo
lugar, o mundo mantém silêncio enquanto Israel, com a cumplicidade dos Estados
Unidos e do Egito, sufoca os 1,7 milhão de habitantes de Gaza com um cordão
sanitário brutalmente efetivo, o embargo quase total de bens e serviços, que em
grande parte limita a existência de alimentos e medicamentos. “Estes são crimes
de guerra, violações contínuas do direito internacional humanitário perpetuado
durante os últimos sete anos, enquanto o mundo desvia o olhar”, enfatizou
Jennings.
IPS/Envolverde
Fonte: http://www.revistaforum.com.br/blog
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