Gaza e uma barbárie que é tragicamente humana.
Não é nada
simples falar da estupidez humana. Nada simples Porque de alguma maneira somos
parte desta máquina de moer carne. Deste cinza que se faz vermelho em muitas
partes. Somos cúmplices silenciosos ou barulhentos de um pouco de tudo que
estamos vivendo. Quem ainda não teve a curiosidade de jogar as letras que
completam a palavra Gaza no Google imagens não deve fazê-lo. Depois de muito
resistir o fiz. Fui lá e vi o que não queria. Entre elas a imagem de um bebê
que deveria ter no máximo um ano. Totalmente torrado e dilacerado. Enquanto
isso, alguns israelenses faziam piquenique para ver Gaza queimar. Sentados em
sofás e comendo seus lanches levados em sacolinhas de mercado. Um homem
desfrutando a tragédia do outro. É disso também que se trata quando jovens são
executados nas periferias e nas salas das boas famílias de classe média e da
elite pessoas bem nascidas e bem nutridas entre uma garfada e outra decreta-se:
um bandido a menos. Ou qualquer outra coisa do gênero. Desse gênero bizarro de
não se importar com a vida do outro. Dessa forma carcomida de humanidade cuja
mediação mais e menos sofisticada é o dinheiro. É o poder de ter. É o derrotar
o outro como forma de poder ser mais. Não importa o que eu tenho, desde que o
outro tenha menos. E ainda há o discurso que se quer lógico. Por essa lógica as
crianças palestinas são ameaças futuras. Os garotos quase todos negros das
nossas periferias são ameaças futuras. A interrupção de suas vidas, por isso, é
quase que uma ação de segurança. É o ou eles ou nós. E como eles não contam
podem ser sacrificados em nome do nosso sossego. Do nosso presente e do nosso
futuro. Como índios que não tinham alma. Não são só as indústrias de armas que
desejam a guerra. Não são só Estados terroristas. Eles também e eles mais. Mas
há muito de humano nessa destruição. Nessa maluquice de execuções e extermínio.
Há por trás disso uma humanidade imensa e que pode envergonhar. Mas que é
humana. O humano é o pai desta história. Dessa imensa barbárie. Dessa quase
sagrada estupidez.
PS: Há
pouco mais de um mês estou de licença da Fórum e só tenho atuado aqui neste
blogue. Tomei essa decisão por conta de outras atividades que decidi assumir e
que estão, entre outras coisas, tomando todo o meu tempo.
Fonte: http://www.revistaforum.com.br
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