São Paulo: Júri condena três skinheads nazi-fascista
[Três
skinheads nazi-fascistas foram condenados nesta quinta-feira (3 de julho) em
júri popular por tentar matar quatro pessoas durante um ato antifascista em
repúdio à homofobia e ao racismo, em 2011. As penas variaram de 16 anos a 21
anos de prisão. A seguir, reproduzimos o folheto distribuído pelo Movimento
Anarco-Punk (MAP-SP), durante um ato público realizado no dia 1º de julho em
frente ao Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste da capital.]
Chega de
assassinatos e agressões fascistas!
Em 26 de
fevereiro de 2011, o Movimento Anarco Punk de São Paulo sofreu um ataque de
skinheads nazi-fascistas enquanto realizava uma atividade cultural
anti-fascista na região central da cidade. Esta era parte do ciclo de
atividades “Jornadas Anti-Fascistas”, realizado anualmente desde a morte de
Edson Neris, assassinado em 2000 por dezenas de Carecas do ABC por ser
homossexual.
Neste dia,
companheiros foram agredidos com facadas no braço e cabeça e outra pessoa com
problemas de mobilidade nas pernas foi duramente agredida nas imediações do
local. Em um grupo grande, os indivíduos nazistas portavam machadinhas, soco
inglês, espingarda de chumbinho e facas, sendo uma delas com símbolos nazistas
em seu cabo.
Infelizmente
este não é um caso isolado: agressões e assassinatos de pessoas negras,
homossexuais, lésbicas, trans, migrantes, imigrantes, moradoras de rua,
mulheres, e todas que não se encaixam no padrão branco hetero-patriarcal das
elites ocorrem cotidianamente. São dezenas os grupos nazi-fascistas atuantes na
cidade. Alguns casos chegam à grande mídia ou às redes sociais, mas em sua maior
parte sequer chegam à público, sendo lembrados apenas pelas cicatrizes e
memórias da vítima sobrevivente. Em todas as situações, o descaso do Estado é
evidente. E em sua maioria, nunca são qualificados como o que realmente são:
casos de racismo, xenofobia, homofobia, lesbofobia, transfobia, machismo.
A estes
grupos, que na realidade são apenas a ponta mais visível de um enorme iceberg,
soma-se os incontáveis casos cotidianos de discriminação racial, de orientação
sexual, de gênero, etc., legitimados por uma sociedade que está fundada nas
heranças da escravidão negra, na imposição da heterossexualidade como norma
aceitável, no patriarcado e na manutenção dos privilégios de uma minoria.
Assim, ao
descaso do Estado em relação às ações destes grupos de extrema-direita que
atuam violentamente na cidade, soma-se ainda a invisibilidade total dos outros
inúmeros casos de racismo e homofobia em estabelecimentos comerciais, escolas,
instituições e locais de trabalho, o preconceito velado presente nas mais
diversas formas em discursos, imprensa, comerciais, publicações, política
institucional, “piadas”, etc., a conivência completa do Estado com o genocídio
da população negra que ocorre nas periferias por parte da polícia, as políticas
cada vez mais duras de criminalização dos movimentos e lutas sociais, retirando
de nós o direito à manifestação e organização, a falta de acesso à cidade por
parte da grande maioria da população, as políticas de higienização social que
cada vez mais empurram nosso povo para longe sem direito à uma vida digna.
Há todo um
quadro social que permite e legitima a opressão a nós, que não fazemos parte da
parcela privilegiada da sociedade. E assim, o descaso e omissão do Estado é o
mesmo, seja quando ocorre um caso de racismo em ambiente de trabalho, seja
quando ocorre um caso de assassinato protagonizado por grupos de
extrema-direita, seja quando a polícia assassina um jovem negro na periferia.
Nos dias 1,
2, 3 e 4 de julho, ocorrerá o julgamento de parte dos responsáveis pela
tentativa de assassinato de nossos companheiros em 2011. Não acreditamos na
justiça burguesa, na repressão policial ou no sistema carcerário como solução
para estas questões, porém, chamamos este ato público em frente ao Fórum como
forma de repúdio a esta e todas as outras agressões que sofremos
cotidianamente, mostrando uma vez mais que não esquecemos o sangue derramado!
Esta é uma denúncia não só da ação violenta de grupos de skinheads fascistas,
que devem ser combatidos, mas uma denúncia das políticas de Estado, e de uma sociedade
fundada no privilégio de poucos.
É
necessário que sigamos nos organizando, enquanto povo pobre, negro, periférico,
enquanto indigenas, quilombolas e povos da terra. Enquanto mulheres, gays,
lésbicas e trans. Seguimos juntas nessa jornada!
Pelo fim da
opressão dos privilegiados, pelo fim dos privilégios!
Chega de
assassinatos e agressões fascistas! Chega de extermínio nas periferias!
Movimento
Anarcopunk de São Paulo – MAP/SP
agência de
notícias anarquistas-ana
cada galho
pro seu lado
mas na cor das flores
nenhum discorda
mas na cor das flores
nenhum discorda
Alonso
Alvarez
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