Filósofo reacionário tenta desmontar as múltiplas possibilidades da internet
Por Cristóvão Feil, do http://www.diariogauche.blogspot.com/
Domingo passado, eu li na Folha de S. Paulo a entrevista de um certo filósofo espanhol Jesús Martín-Barbero. O cara diz coisas que são uma luva para quem - como o PIG inteiro - quer desconstituir e colocar sob suspeição a internet e suas múltiplas possibilidades.
Como qualquer artefato tecnológico novo a internet porta elementos favoráveis e desfavoráveis, carrega funcionalidades positivas e negativas. Dito isto, até aqui morreu um tal Neves. Ocorre, porém, que a web está sendo combatida no Brasil por receio de que seja um território tomado por anarquistas, esquerdistas e quetais que procuram destruir a sociedade pacífica, ordeira e amante do progresso e dos bons costumes que os nossos venerandos antepassados construíram no Brasil.
Mas quem está com receio? Ora, o partido único da mídia oligárquica brasuca. Na Globo, só para citar um exemplo singular, não tem dia que não haja pelo menos uma reprovação contra conteúdos da rede mundial de computadores.
A indisposição com a web é flagrante e começa a promover reações expressivas na grande mídia conservadora brasileira.
A reação é motivada, basicamente, por três ameaças objetivas (e que se potencializam mutuamente):
1) a fuga crescente de leitores/ouvintes/telespectadores para mídias alternativas com base na rede;
2) depressão nas audiências/tiragens e no faturamento comercial;
3) guerrilha eletrônica espontânea e maciça de novos atores críticos, baseados na web, e que disputam versões re-significadas dos fatos políticos deslegitimando/denunciando o pretenso monopólio da verdade apropriado pelo negócio midiático do arcaísmo do Brasil.
A entrevista com o filósofo espanhol, radicado na Colômbia, é parte do arsenal reativo para minar a rede e suas múltiplas derivações. Mais um "especialista" especializado em especialidades que só o PIG pode nos proporcionar. O velho truque de apresentar um porta-voz com autoridade "científica" para desmontar as ilusões dos que ousam desafinar o canto da tradição no coral dos contentes.
Martín-Barbero fala da "utopia da internet", assim: "A utopia da internet é que já não necessitamos ser representados, a democracia é de todos, somos todos iguais. Mentira. Nunca fomos nem somos nem seremos iguais. E portanto a democracia de todos é mentira. Seguimos necessitando de mediações de representação das diferentes dimensões da vida. Precisamos de partidos políticos ou de uma associação de pais em um colégio, por exemplo".
O espanhol não é tolinho, ele vai no conceito e procura desconstruí-lo com gana e determinação, ainda que sem êxito. Mas algumas afirmações deste "çábio" peninsular me confortaram, é quando ele constata que a rede "ameaça minar as práticas de representação e participação políticas reais". Que bom, agora temos a certeza de estarmos no caminho justo e correto. Nada mais confortador saber que alguém (em algum lugar) está procurando "minar as práticas de representação popular". Ou que alguém (em algum lugar) está insatisfeito com o nosso sistema eleitoral-representativo, com os exemplares de Sarneys & Yedas da vida, não é mesmo?
Fonte: http://www.novae.inf.br
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